GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por 4 redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuar o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional.
A entrevista dessa edição é com a Tamy Leopoldo, baixista da banda de Thrash/Crossover, Eskröta! A banda acabou de lançar seu mais novo disco nomeado de “Cenas Brutais“, que aborda temas sociais altamente necessários, como violência a mulher, machismo, desigualdade social e racismo.
O disco contou com participações de nomes como Fernanda Lira, da Crypta, e May Puertas, do Torture Squad.
Quando começou o seu interesse na musica e como foi a escolha do baixo como seu instrumento?
Tamy: Eu comecei criança, com uns 5 ou 6 anos, aprendi a tocar teclado, fiz algumas aulas, mas eu gostava mesmo de tocar “de ouvido”, foi quando meus pais notaram que eu levava jeito com a musica. Com 10 anos eu ganhei uma gaita do meu primo, e fiquei o dia inteiro assoprando ela e deixando minha mãe louca rsrs, quando meu pai chegou do serviço eu tinha tirado uma musica do Creedence na gaita! Dai eu comprei uma gaita melhor, conheci outros estilos como o blues, fiz aulas e acabei até dando aulas de gaita. O Baixo veio quando eu tinha 13 anos, eu gostava desse instrumento pois ele era muito presente em todos os estilos de musica que eu ouvia e era extremamente importante, então meu pai trocou um celular daqueles “tijolão” com um amigo que tinha um baixo, e me deu de presente. Eu tenho ele até hoje, é meu xodó… também aprendi a tocar sozinha, e desde então eu nunca mais parei.
Quais foram suas principais influências na música?
Tamy: Comecei a gostar de rock ouvindo o cd “The number of the beast” do Iron Maiden, aquele cd foi o começo de tudo, depois eu me apaixonei por Metallica e fui conhecendo as demais vertentes. Conheci Kittie, que foi uma representatividade imensa pra mim pois nunca tinha visto uma banda formada só por mulheres e parecia um sonho!!! Então eu decidi que queria uma banda formada só por mulheres, e foi ai que consegui montar a minha primeira banda, isso eu tinha uns 15 anos!! Também tinha como referencias bandas como L7 e Hole.
Quais dificuldades você sentiu/sente na sua carreira?
Tamy: Eu acredito que todo mundo que queira viver de música encontra grande dificuldade. Eu por exemplo, trabalho na área administrativa, e geralmente o horário é comercial, trabalhando de sábado até meio dia, e devido a agenda da banda as vezes shows em outros estados, eu preciso de flexibilidade no horário, o que não rola muito na minha área, então eu tive que fazer uma escolhe e preferi apostar tudo na banda, saindo do trabalho. Hoje em dia sou garçonete freela, onde posso conciliar minha agenda da banda com o trabalho, eu passo uns perrengues financeiros, mas foi uma escolha né?! Fora isso, por ser mulher a gente se depara com situações machistas o tempo todo, que já tiro de letra… situações que me fazem ser cada dia mais forte e me motivam a continuar o trabalho com a minha banda!
A Eskrota lançou recentemente o álbum Cenas Brutais, que aborda temas bem reais da sociedade, e extremamente necessários. Como foi a composição dele?
Tamy: A composição do nosso álbum foi bem natural, a gente procura escrever as letras juntas, geralmente sobre temas que precisam ser discutidos. No atual cenário caótico desse desgoverno, não faltou pautas para composições. A gente procura abordar situações que fazem as pessoas refletirem, ou mesmo informar assuntos relevantes porém desconhecidos, como no caso da Grita, que fala sobre a mutilação genital.
Qual a sua visão sobre o cenário feminino no metal? Temos alguns rostos novos aparecendo na cena, como acha que deve ser a recepção dessas pessoas por parte dos homens e das próprias mulheres?
Tamy: To amando muito ver tantas mulheres maravilhosas na cena. A mulher tem mesmo que ocupar os espaços, seja ele na produção, como técnica de som, roadie, no palco tocando, fotografando, na imprensa…enfim, Tivemos o prazer de dividir o palco com muitas bandas promissoras com mulheres incríveis, e espero que muitas outras mulheres se inspirem e sigam em frente. Quanto aos headbangers conservadores, sentem e chorem… foi-se o tempo que a mulher era vista apenas como groupie, aceitem que dói menos! haha
Se pudesse dar um conselho pra Tamy no início da carreira, qual seria?
Tamy do passado: PARE DE SER PREGUIÇOSA E ESTUDE MAIS CONTRA BAIXO!! kkk Se eu fosse mais dedicada, estaria muito mais técnica, mas ainda dá tempo de correr atrás, estou tentando!
O que as mulheres podem fazer pelas mulheres da cena?
Incentivar, produzir, valorizar, se espelhar, dividir experiências..enfim, é o que eu procuro fazer!
Tem alguma história marcante ou engraçada sobre sua carreira pra contar? Algum perrengue na estrada, sei la
Nossa, a gente tem tantas histórias engraçadas, mas acho que um dia que ficou pra história foi na ultima tour no Nordeste, ficamos quatro dias de folga, e decidimos conhecer Itamaracá, em Pernambuco. Ficamos numa casa de praia de um amigo, e estava infestada de baratas, baratas enormes, umas baratas de coqueiro, elas pareciam mutantes, e a gente não conseguia dormir de medo! Nem matar elas… e foi engraçado e aterrorizante. Também sofremos com as pererequinhas lá no MMM (Festival Maniacs Metal Meeting), em Rio Negrinho/SC! Pior que pensamos que com a entrada do John na banda teríamos um cara capaz de ajudar a gente nessas horas, mas ele é mais medroso que a gente!
E pra finalizar, um conselho pras meninas que estão tentando seguir no meio da música.
Meninas, vocês podem tudo!! Acreditem e sigam firme…vão ter obstáculos sim… muita gente dizendo que não vai dar certo… mas não desistam!!! ❤️ Estamos aqui pro que precisarem!! 🙂