Girls on the Front: Tainá Bergamaschi, guitarrista da banda CRYPTA nos contou sobre carreira e a nova banda

GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por 4 redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuar o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional. Hoje será a vez de conhecermos mais sobre a guitarrista Tainá Bergamaschi.

Quando começou seu interesse pela música e porquê da escolha da guitarra?
Tainá: Desde muito nova eu pensava que eu seria baterista, por ter sempre a mania de ‘’batucar’’ as músicas em qualquer lugar e quase ter estragado o sofá de casa por fingir ser uma bateria, além das várias latas de tinta amassadas por fazer bandinhas na garagem. Mas me lembro bem que na escola quando eu estava na quinta ou sexta série um dos colegas de classe tinha um MP4 daquele com tela que passava clipes e ele tinha alguns do Iron Maiden, sempre que eu tinha uma chance na escola eu pegava com ele emprestado, assim, acho que meu interesse de verdade pela guitarra começou aí. Eu queria ter uma só para poder fazer os famosos bends ligada em um amplificador, porém a partir daí eu vi que eu poderia me interessar por muito mais do que isso no instrumento.

Quais foram as suas influências musicais e o que te levou a decidir seguir essa carreira?
Tainá: Pouco antes de eu ter a minha primeira guitarra eu ganhei um DVD com alguns clipes de metal, na qual tive o primeiro contato com metal extremo. Lembro que o primeiro clipe que assisti dele foi do Children Of Bodom – In Your Face, não demorou muito para que eu e minha irmã começássemos a bater cabeça. Mas o que me chamou bastante atenção foi ver Christopher Amott (ex-Arch Enemy) tocando naqueles clipes e depois em Tyrants of the Rising Sun Live in Japan. Dois anos depois comecei a juntar com amigos e ter algumas bandas, era o que eu mais gostava de fazer, definitivamente, e com o tempo fui tendo a certeza de que seria isso a minha carreira. Hoje em dia tenho como maior influência Hypocrisy, Gojira e a banda Death. 

As mulheres estão conquistando um espaço maior no Heavy Metal, qual sua visão sobre isso?
Tainá: O que me deixa alegre em relação a isso é poder encorajar cada vez mais mulheres a pegar um instrumento e tocar. Eu acredito que ainda há muitas com essa vontade, mas não tiveram espaço e incentivo para erguer isso. Poxa, no Rock In Rio de 2019 eu CORRI para ver a Nervosa tocando. E eu não consegui, cheguei na última música, chorei por ter perdido o show, mas ao mesmo tempo chorei de ver um pedacinho e já ter sido muito intenso para mim, eu corri não só por gostar da Nervosa, mas porque eu toco, eu sou musicista, eu toco metal, eu queria sentir elas no palco, eu queria olhar para aquilo e falar ‘’um dia eu vou estar ali’’ entende? Hoje eu estou tocando com duas delas. É sobre isso que eu falo, o quanto fortalece outras mulheres a se entregarem a isso, e que um dia possamos deixar de ser vistas como diferentes, menos merecedoras e até mesmo inferiores, que um dia isso possa ser o mais comum no Heavy Metal, e sinceramente, em qualquer área de trabalho, qualquer escola, qualquer casa de família na nossa sociedade.

Chegou a sofrer algum tipo de preconceito (ou machismo), por ser guitarrista?
Tainá: Sim, com certeza. Até mesmo antes, quando eu tocava violão clássico, aos 10 anos de idade! Essas coisas acontecem desde a hora em que você está aprendendo a tocar o instrumento, que você está carregando os seus equipamentos, até onde você está no seu momento que é o palco. Meio que a gente se sente sem espaço. Como já presenciei caras aglomerando na minha frente, enquanto a banda inteira fazendo seu trabalho em palco, homens me pedindo em casamento, chamando de linda, gostosa, isso não é legal, eu estou tocando guitarra, eu estou trabalhando, eu estou fazendo música. Eu particularmente prefiro não dar atenção, mas na hora é um pouco difícil, a gente se sente envergonhada, perdemos a concentração. Mas isso não deixa a gente abalar, pode vir gente falando que não damos conta porque somos mulheres, que a gente vai dar conta em dobro.

Como foi o seu convite para entrar na CRYPTA?
Tainá: Muitas pessoas vieram me perguntar como elas me descobriram, como me chamaram para a banda, mas, o engraçado é que foi a famosa ‘’cara de pau’’ da minha parte *risos*, eu fui até elas. A Crypta foi fundada em junho de 2019, pela Fernanda e Luana e então convidaram a Sonia. Eu entrei para a banda em maio deste ano, 2020. Mas deixamos bem claro que a intenção de ser duas guitarristas já existia desde o início, foi apenas um pouco difícil para elas encontrarem outra guitarrista por questão de locação, dedicação, ideologia, etc… E então em Abril deste ano que eu vi a movimentação nos posts da Fernanda e da Luana que haveria um novo projeto de Death Metal. Não entendi muito bem se havia outra guitarrista, ou se a Prika também estava envolvida então resolvi mandar uma mensagem para a Fernanda perguntando sobre. Eu na verdade jurava que ela não ia ver, nem me responder, tanto que era bem no momento da saída dela da Nervosa, eu também queria mandar uma mensagem de apoio para elas, mesmo imaginando que iriam estar recebendo mil mensagens por hora. Mas poucas horas depois a Fernanda me mandou uma mensagem de volta, foi surpresa para mim, e começamos a conversar fluidamente, enviei alguns vídeos meus, ela mandou para as meninas, até que recebi um email com alguns riffs já da banda para gravar. Algumas horas depois mandei o material e um dia me convidaram para um chat. Todas nós conversamos em uma ligação de vídeo, foi super legal, foram super atenciosas, nos demos bem, as ideias se encaixaram e assim, eu me ingressei na banda.

Como está sendo o processo de criação das músicas da banda, pode nos contar um pouco? O que podemos esperar das guitarras?
Tainá: Há algumas músicas prontas, outras em andamento, já teríamos o suficiente para um disco na real, mas queremos fazer tudo com calma e ter um material de qualidade, claro. Como citei anteriormente elas começaram a compor já desde o ano passado em trio. Algumas linhas de vocais estão sendo acertadas ainda, é um momento de muito estudo para a banda agora. Nas guitarras entraremos com bastante técnica e fast picking, além dos duetos que sempre tive vontade de abusar dentro do estilo assim como a Sonia demonstrou estar bem empolgada também. 

Qual diferencial podemos esperar da CRYPTA ?
Tainá: A Crypta tem bastante influência no old school, mas, sobre o diferencial é o que vamos descobrir ainda. Vamos ver no final das gravações, na hora em que pudermos nos juntar pessoalmente. Mas é sobre juntar as influências de cada uma e fazer sair um som mais original. 

E para finalizarmos, além de agradecer sua atenção e desejar muito sucesso a todas vocês, pois estamos ansiosos para todas as novidades que estão por acontecer, deixe um recado para os leitores da Roadie Metal.
Tainá: Agradeço à Roadie Metal pelo apoio e por essa oportunidade de me conceder essa primeira entrevista, e para todos que estão acompanhando nosso trabalho, nós estamos fazendo tudo aos poucos, estamos trabalhando muito para trazer um material de qualidade para vocês, além da situação que estamos vivendo também que pode atrapalhar um pouco nesse processo, pedimos paciência, mas prometemos que toda espera vai valer muito a pena. Se cuidem. Muito obrigada.

Encontre sua banda favorita