Girls On The Front: Pamela – Carcadia “Ainda há muito preconceito com mulheres no Rock e isso interfere diretamente nas oportunidades para a banda”

GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuarem o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional.

Nessa edição, conheceremos mais sobre a Pamela, vocalista da banda Carcadia de Santa Rita do Sapucaí – MG. Em 4 anos de atividades, Carcadia já possui dois discos lançados, sendo o primeiro intitulado “1st Album” lançado 2017 com riffs sujos e psicodélicos e “Age Of Reason” lançado em 2020, com o proposito de continuar seguindo as pegadas sônicas das décadas de ouro do Rock.

Roadie Metal: Olá Pamela, seja bem vinda a Roadie Metal, primeiramente me fale sobre suas influências e o motivo pelo qual levou você a se tornar vocalista de uma banda de Rock.

Pamela: O meu gosto pela música vem desde a primeira infância. Minha família sempre foi muito ligada a música.
Cantar por horas e horas nas viagens, em casa e em festas é rotineiro e o rock’n’roll sempre esteve no meio dessa roda. A sua importância se tornou mais marcante quando minhas amigas e eu dividíamos sons e montávamos a nossa banda imaginária no meio da rua, com vassouras e rodos substituindo guitarras e contrabaixo, a banda das DSL’S. Depois disso meu pai me comprou um violão e eu fui praticar.
Todos esses prazeres e encontros que a música me trouxe e continua me trazendo com certeza são a minha maior influência e o principal motivo para ir atrás. Sempre gostei da sensação que me dá ao cantar, então me tornar cantora era uma questão de tirar a vergonha e fazer o trem acontecer, rs.

Roadie Metal: Fale um pouco sobre sua banda. Como você se tornou integrante e quais são suas contribuições no Carcadia?

Pamela: Carcadia é pura paixão pelo som! A gente gosta, a gente faz, mete as caras sem medo (às vezes com medo também) e corre para o mundão. É fácil? Não é. Mas a gente vai mesmo assim!
Carcadia surgiu principalmente pelo amor e fascínio pelo blues e rock’n’roll sessentista e setentista. Essa época de ouro é realmente fascinante e temos como forte influência.
Eu estou no projeto desde seu nascimento. Eu fazia parte de outra banda antes, a Coqfou, junto com a maioria dos outros membros da primeira da formação da Carcadia. Aí gente acabou saindo do projeto e montamos a Carcadia.
A contribuição e construção da Carcadia é feita toda em conjunto. Se surge um riff ou alguma ideia em uma jam eu já corro pra colocar uma melodia e as vezes a letra já fica ali querendo sair para o papel, caso não, a gente vai construindo aos poucos. Além dos integrantes da banda, temos amigos que nos ajudam nessa construção também. Então tem letras que ganhamos, melodias e riffs que surgem de presentes e aí vamos moldando na proposta da música e da banda.
Acho interessante trabalhar dessa forma compartilhada. Com todo mundo dando seus pitacos podemos evoluir como banda e a música construída fica totalmente refletida nessa união.

Roadie Metal: Quais são as pessoas que te inspiram como vocalista e qual a ideia que você quer passar a seu público quando está no palco?

Pamela: Aretha Franklin me inspira pela potência na voz, Janis Joplin pelo sentimento que coloca na música, Joni Mitchel pela simplicidade genuína no modo que canta e escreve, Baby Consuelo pelo jeito exótico, Rita Lee pela rebeldia, Gal Costa pelo tesouro na voz e Elis Regina por ser a interprete mais irreverente do pedaço. Todas quebram paradigmas, são perfeitas em suas propostas e fora delas também!

Agora o meu redor, aqui pelo Sul de Minas, tem uma galera massa em que me inspiro muito! A Karina Mury com certeza é a primeira delas, cantora completa, me ensina muito e é uma amiga querida. Ainda dentro desse universo temos artistas completas que estão na batalha e construindo seus sons, como a Laís Tibúrcio, Pamela Dauzuck, Tátila e Nita Rodrigues. BR a fora temos a Deborah da Final Disaster, com sua voz incrível e a Desiréé Rezende da Fenrir’s Scar, ambas que sigo o trabalho e entram nessa caixa imensa de inspiração.

Falando de vocalistas masculinos, Milton Nascimento e Fred Mercury são os meus favoritos por inúmeros motivos, depois deles tem uma porrada de gênios.
Tenho também como influência os músicos aqui da cidade e região, como Fernando Carneiro, que foi o primeiro a me dar um ponta pé pra entrar na música e me ensinou muita coisa, Caio que é meu professor e que tem uma voz fantástica, Edilson – o menino da voz ouro, Lucas Paduan (Tuba) que além de ajudar a Carcadia em inúmeras coisas, bota pra quebrar no canto. Thiago Abranches, João Abraham, Paulista, Eron César e Ted Bertoloni são alguns que estão nesse meio de inspiração também. Acho muito legal ver pessoas próximas construindo suas músicas e sonhos e eu pego de inspiração pra continuar.
No palco a principal ideia que desejo passar é que naquele momento o portal mágico da música tá aberto, então é momento de cantar, de gritar e dançar.
As músicas da Carcadia, principalmente do segundo disco, o Age of Reason, tem uma atmosfera mais política, então além de toda essa energia de show é importante falar sobre conscientização política e levantar pautas importantes como o empoderamento feminino.

Roadie Metal: quais foram suas maiores dificuldades desde que você participa da banda?

Pamela: Primeiro eu tive banda e depois fui estudar música, rs. Os atropelamentos da vida não me possibilitaram estudar afundo e só agora, depois de adulta, estou tendo a chance de me dedicar. Acredito que essa foi e é a minha maior dificuldade, mas aos poucos vou aperfeiçoando.

Roadie Metal: como você avalia a presença feminina nas bandas de Rock/Metal, principalmente no Brasil?

Pamela: Ainda há muito preconceito com mulheres no Rock e isso interfere diretamente na questão de oportunidade para a banda.
A presença feminina no Rock/Metal vem aumentando ao longo dos anos, mas em questão de números ainda é pouco. A nível Brasil, sinto que ainda falta espaço e reconhecimento para bandas com mulheres. Em festivais, por exemplo, a presença é pouca ou nenhuma. O cenário ainda é dominando por homens.

Roadie Metal: fale sobre seus projetos futuros na cena Underground.

Pamela: Com a Carcadia estamos nos coçando para a criação do terceiro disco.
As ideias já estão borbulhando, algumas músicas já estão prontas e já já ele cria forma.
Lançamos nosso último disco, o Age of Reason, em maio, que foi quando estourou a pandemia no Brasil, e não tivemos a oportunidade de sair para apresentar o som, apenas em festivais online. Então um dos projetos ainda é tocar muito esse disco por aí.

Roadie Metal: você acha que a presença das mulheres no Rock, seja como vocalista ou qualquer outro tipo de função nas bandas ou até mesmo nas divulgações contribui para igualdade de gêneros?

Pamela: A igualdade de gênero é um ponto muito importante para que a sociedade avance e seja mais justa, continuar vivendo em uma sociedade que discrimina mulheres pelo seu gênero é continuar boicotando as oportunidades que poderíamos ter e isso respinga diretamente nas mulheres da música, principalmente no Rock/Metal onde a cena é de maioria homem.
Acredito sim que a presença da mulher no cenário contribui para alcançarmos essa igualdade, mas nessa caminhada também é necessário que os homens se envolvam na luta, porque eles são parte da sociedade e precisam entender e moldar o seu papel.

Roadie Metal: você acha que as mulheres apoiam a presença feminina no Rock/Metal?

Pamela: Com certeza! Há uma carência na representatividade feminina no Rock/Metal sim e acredito que o que vem quebrando essa barreira é justamente o apoio dessas mulheres querendo mais mulheres na música e se sentindo representadas nos rolês.

Roadie Metal: na sua opinião, quais são as maiores dificuldades de uma mulher para se destacar no Rock?

Pamela: Durante séculos a misoginia e o machismo tentaram consolidar a ideia da inferioridade da mulher em relação ao homem e junto com isso suas aptidões e talentos foram banidos, desperdiçados e ignorados e em resultado disso a mulher sempre tem que provar o dobro, seja na música ou em qualquer trabalho fora do padrão, para ter destaque.
A mulher tem que sempre se sobressair de alguma forma pra ter alguma visibilidade dentro da cena, isso por conta do sistema patriarcal em que vivemos. O cenário tem melhorado bastante, mas tem muito para avançar…

Siga a banda Carcadia nas redes sociais:
Facebook: https://www.facebook.com/carcadia.banda
Instagram: https://www.instagram.com/bandacarcadia/?hl=pt-br

“Baixe nosso aplicativo na Play Store e tenha todos os nosso conteúdos na palma de sua mão.
Link do APP: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.roadiemetalapp
Disponível apenas para Android”

Encontre sua banda favorita