Girls on The Front – “O preconceito só serve para atrapalhar, não acrescenta em nada.”, diz Cristienne Graciano, vocalista da Mitsein

GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por 4 redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuarem o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional. Nessa edição, conheceremos mais sobre a Cristienne Graciano, vocalista da Mitsein.

Ela concedeu uma entrevista exclusiva para a Roadie Metal em que fala sobre seu início na música, suas referências, mulheres na cena do metal e mais.

Conta pra gente um pouco da sua história. Quando você se interessou pela música?

Cristienne Graciano: Olá, Roadie Metal, olá pessoas! Primeiramente, é um prazer enorme poder compartilhar um pouco da minha história com vocês.

Minha mãe me contou que fui uma bebê que reagia com entusiasmo ao escutar músicas, mas era demais, eu fui uma criança bem musical, quando percebi que era alguém no mundo, lá pelos 5 anos, a coisa que mais me encantava era escutar as mais variadas e belas melodias oitentistas (ou não) que passavam nas rádios. Meus pais tinham muitos discos e cassetes dos anos 60, 70, 80, de vários artistas que eu nem fazia ideia de quem eram, mas o meu lance era descobrir mais e mais bandas. Eu estraguei várias agulhas das radiolas(precisava trocar com frequência) e arranhei muitos discos, de tanto que escutava, era o meu mundo, onde muitas travessuras que tramei na infância, na adolescência(e até hoje) tem um trilha sonora particular. Então, cresci escutando de tudo, mas minha preferência era por sons em inglês, até uma rádio de música clássica que tinha na época. A salvação para entender algumas músicas eram os programas de tradução que os locutores faziam, onde iam falando “por cima das músicas”.

As rádios, elas eram o que tínhamos para nos conectarmos com os mais variados estilos de música. Através das rádios conheci Scorpions, Whitesnake, A-ha, Tears For Fears, Ramones, Guns N’ Roses, Roxette, Led Zeppelin, Nazareth, Kiss, Journey, Pink Floid, Bon Jovi, Duran Duran, The Cure, Non Blondes, Heart, tantas bandas de estilos diversos… Cresci nos anos 80 e por isso eu adoro Flash Back. Aos 15 me atrevi a aprender tocar teclado, mas não continuei porque não tinha um professor na cidade, era tudo muito difícil, então desanimei, e continuei a cantar no quarto, que era mais acessível no momento como sempre fazia… Depois por um sorteio fui parar na escola de música de Brasília, mas foram outros tempos difíceis e tive que abandonar. Seguia a vida cantando na minha…

Quais as características mais marcantes sobre o seu trabalho?

Cristienne Graciano: Primeiro, paixão pelo o que faço. Como sempre fui detalhista, tive umas brigas internas comigo mesma para conseguir expor uns pensamentos nas letras das músicas, porque nunca estava bom, sempre queria mudar alguma coisa.

Gosto de ser honesta, busco sempre ter equilíbrio emocional para ter uma postura decisiva sobre o que eu faço, e sempre fazer o meu melhor.

Qual artista feminina te inspirou e/ou inspira?

Cristienne Graciano: Nossa, eu tenho tantas que daria uma lista gisgantesca. Madonna, Cindy Lauper, as belíssimas irmãs Ann e Nancy Wilson da banda de rock Heart, Marie Fredriksson do Roxette, que eu não poderia deixar passar em branco, pois fizeram músicas que marcaram minha infância e adolescência.

Mas a que me inspirou pra valer foi a Amy Lee do Evanescence. O modo como ela surgiu fazendo um rock dramático e obscuro, tendo uma voz doce definitivamente me despertou, porque eu descobri o que eu poderia fazer com a minha voz que tem características semelhantes, já que eu tinha escolhido o rock para desenvolver minhas próprias músicas. Consequentemente na época descobri também Tarja Turunen, Cristina Scabbia, Floor Jansen e Helen Vogt. São as minhas favoritas. Aí definitivamente foi um leque de influências para que eu pudesse ter um norte e buscar desenvolver minhas habilidades vocais.

Na sua opinião, o que é necessário para ser uma boa cantora?

Cristienne Graciano: Primeiramente, amar o canto, e buscar extrair o melhor que você pode alcançar com ele, como um diamante a ser lapidado, respeitando os seus limites até atingirmos nosso objetivo. É importante estudar, se aperfeiçoar.

O que você falaria para a Cristienne do início da carreira?

Cristienne Graciano: Seja forte e corajosa, não se importe com coisas que te puxam pra baixo e siga em frente!

O que acha que deveria melhorar no underground?

Cristienne Graciano: Nesses últimos três anos, conheci várias bandas aqui de Brasília, de diferentes estilos. Todas elas têm algo a acrescentar para a cena. Bandas veteranas já tem um público, mas as iniciantes estão busca por um espaço para mostrarem a sua música. Acho que o respeito por todas elas tem que existir. O que movimenta um evento sempre será um conjunto. As bandas tem que buscar fazer um som de qualidade, e o público tem que dar uma chance para escutá-las, afinal, todas as grandes bandas clássicas que conhecemos passaram por essa fase, de buscar o seu público, mas para isso elas precisaram mostrar as suas músicas. Como isso acontece se essas pessoas não forem aos shows? É isso que faz nascer novas bandas e faz com que elas encontrem o seu público. Claro que hoje temos as redes sociais, ficou mais acessível, mas até conseguir fazer com que as pessoas parem para ver o seu trabalho também é uma longa caminhada. Mas são nos shows ao vivo que realmente vemos a cena acontecer, onde nos encontramos e somamos nossas energias.

Os produtores que se empenham em manter a cena na ativa lutam para conseguir um espaço para realizar os shows, acolhem essas bandas, e são imprescindíveis, bem como as pessoas que se interessam por fortalecer cena e comparecem. A união sempre será a ferramenta mais forte para manter o underground vivo!

As mulheres estão conquistando um espaço maior no Heavy Metal, qual sua visão sobre isso?

Cristienne Graciano: Isso é uma realidade, e se está acontecendo, é porque as bandas que tem mulheres em suas formações tem potencial, tem quem goste e apoia, isso é maravilhoso! Para mim as mulheres que quiseram fazer música foram lá e fizeram, sem se importar com o que pensariam delas, e muitas fizeram e fazem muito pela música, e no Heavy Metal não deve ser diferente.

A arte é um direito para todos que usam dela para expressarem seus ideais.

Quando as bandas de Heavy Metal surgiram, sempre tiveram as minas para apoiar os caras, as que comparecem aos shows, as que compram o material da banda. Agora, quando elas querem estar em cima de um palco, produzir suas músicas, isso realmente é tão complicado assim de entender e respeitar? O preconceito só serve para atrapalhar, não acrescenta em nada. Isso já está mais que ultrapassado, e é lamentável que às vezes ainda o preconceito e machismo por parte de alguns possam estar vivos dentro de muitos, isso só fere o ideal de liberdade que o próprio estilo Heavy Metal propõe.

E quais os planos para o futuro?

Cristienne Graciano: Simplesmente continuar fazendo músicas, enquanto puder, me aprimorando, evoluindo e tendo a esperança de que nossas músicas possam tocar os mais diversos seres, com suas almas, consciências, emoções, corações…

Você pode deixar uma mensagem, para os seus fãs e leitores da Roadie Metal?

Cristienne Graciano: Bom, eu sempre quis ter uma banda, se tem uma coisa que lamento é de não ter feito antes. Mas antes que tudo estivesse perdido, antes que jogasse tudo para o alto e desistisse, consegui resgatar o que eu, lá nos meus 5 anos de idade, já sabia, o que queria fazer. Então, nunca deixem os seus ideais, busquem sempre fazer o que te dá o sentido de existir neste mundo, é tudo muito passageiro, não percam tempo, cuidem de vocês mesmos, dos sonhos, de quem está a sua volta. Isto é ser Mitsein…

Obrigada pela oportunidade, escutem as velhas bandas preferidas, mas também ouçam as novas bandas, o show tem que continuar!

Roadie Metal, é uma honra e sempre será!

Encontre sua banda favorita