GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por redatoras da Roadie Metal para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuarem o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional. E nesta edição vamos entrevistar Julia Ourique, que é assessora de Imprensa da OrBe Comunicação.
1-Há quanto tempo você trabalha como assessora de imprensa?
Julia Ourique: Se contar a época que estagiei na área, faço 10 anos ano que vem. Sem contar o estágio, trabalho com assessoria de imprensa desde o fim de 2014.
2-Como é o caminho acadêmico para se chegar a assessoria de imprensa?
Julia Ourique: O ideal é fazer o curso Bacharel em Jornalismo, ou Relações Públicas. E não parar de estudar, nem que seja por meio de sites da área, workshops e livros.
3-Como é o trabalho de uma assessoria de imprensa?
Julia Ourique: É relação interpessoal, ou o famoso networking, o tempo todo. Acredito que quem é introspectivo, tímido, terá dificuldades de se desenvolver na profissão. Enviamos muitos e-mails, conversamos bastante com os jornalistas do “outro lado”, que estão nas redações dos veículos de comunicação. Mas acima de tudo, farejamos o que é notícia e que vale a pena levar para o jornalista. O assessor de imprensa é a ponte entre a informação do cliente (no meu caso, bandas e artistas independentes) e o site/jornal/TV/rádio. Apuramos as informações com os clientes, digerimos em um texto de fácil leitura e informativo, e enviamos para os jornalistas da redação. A partir daí, quem trabalha é a curadoria do veículo de comunicação, que vai decidir se tem espaço para a notícia que o assessor enviou. Quanto mais você trabalha na área, mais você entende o tipo de aproximação que funciona para cada veículo, e também constrói amizades, o que é a melhor parte para mim.
4-Além de trabalhar como Assessora de Imprensa, você desempenha alguma outra função relacionada à cena do rock e metal?
Julia Ourique: Eu tenho um blog, ainda muito novo, chamado Metal Sirius, que anda meio desatualizado, mas pretendo retornar neste fim de 2020. Mas fora isso, eu também faço pesquisa acadêmica dentro da área desde 2016.

5-Como é a reação do mercado em relação ao fato de você ser mulher?
Julia Ourique: No início eu duvidava que houvesse preconceito comigo porque sou mulher. Acreditava que era porque era nova na profissão. O tempo passou e eu já sofri boicote por não “dar mole” pra marmanjo; quando não quis dar conversa para macho, o blogueiro tentou me ofender me chamando de lésbica (o que não está correto, eu sou bi); entre várias outras coisas. O mundo é machista, mas para a mulher que gosta de rock e metal, e ainda “ousa” trabalhar com o assunto, parece ser bem complicado. O tempo todo você tem que mostrar a sua carteirinha de “metalêra”. E sinto muito informar, esqueci minha carteirinha em casa e os homens inseguros da sua masculinidade vão ter que aprender que mulher não tem que dar satisfação para eles.
6-E os artistas, como vêem esse papel ser desempenhado por uma mulher?
Julia Ourique: Os artistas sempre foram uns amores. Somente uma vez um artista deu em cima de mim, mas eu cortei e, felizmente, era um trabalho pontual. Nunca mais trabalhei com a criatura <3 No geral, eu sempre sou muito respeitada pelos músicos, produtores, roadies, toda a equipe trabalha junto, com foco na música que é o que nos une.
7-Como você vê o volume de mulheres na cena do rock e metal no Brasil, seja em cima do palco ou em funções de bastidores?
Julia Ourique: Aumentou nos últimos anos. Mas, eu quero é mais, sabe? Tá pouco! Quero mulher no baixo e bateria, e as pessoas não julgando a performance dela baseada no gênero. Quero que quando a mulher reclamar do retorno do som em um palco, e o técnico ouvir e acreditar no que ela está reclamando, resolvendo o problema, ao invés de dizer que ela está maluca. Quero que quando uma fã disser que foi estuprada pelo baterista de uma banda, esse baterista ser expulso e julgado pelo crime que cometeu. Quero mais mulher no palco e fora dele, e com respeito. A carreira na música é tão difícil, tão pouco valorizada neste país, homem ou mulher, estamos todos no mesmo barco: o amor por uma arte que faz a gente se foder todos os dias, mas com esperança de que vai melhorar.
8-Que conselhos você daria para as meninas que desejam abraçar a sua profissão ou mesmo trabalhar nos bastidores com rock e metal?
Julia Ourique: Sejam fortes. Não é fácil. Apoiem-se nas mulheres que estão passando pelo mesmo que vocês. Converse com outras mulheres, dividam os conhecimentos! O mundinho do metal e do rock tá cheio de macho passando pano pro outro, e barrando o crescimento das mulheres. Tá mais do que na hora da gente se unir e crescermos juntas. Ah, e seja a melhor no que se propuser a fazer. Vão falar coisas ruins de você, mas não vão poder falar que você não é a mais profissional, a mais talentosa que há! Não faça isso pelos outros, mas por você.

9-Se pudesse, o que diria para você mesma quando começou?
Julia Ourique: Menina, te dizer que eu amei essa pergunta! Fiquei pensando e acho que o essencial seria: não case! (risos). Mas além disso, acho que eu diria que tudo tem seu tempo, para esquecer a ansiedade. Com o tempo a gente amadurece e vê que tudo acontece no tempo certo. É difícil ter paciência para esperar as coisas acontecerem, mas elas acontecem. É o que a minha avó sempre disse: quem planta vento, colhe tempestade. Só plantar amor, que ele volta em dobro.
10-Você percebe ou encontra algum tipo de barreira ou dificuldade no exercício de suas funções, por ser mulher?
Julia Ourique: Como falei anteriormente, as barreiras até existem. Seja por achar que sou nova demais, que sou ideológica demais, ou porque sou uma mulher que opto por não perder o meu tempo com flerte. Mas quando eu sinto alguma dificuldade na área, sabe o que eu faço? Procuro outra mulher que trabalha na assessoria de imprensa e pergunto se ela já passou por isso, como ela conseguiu sair dessa situação. Sempre funciona, eu saio levinha da conversa e consigo superar os obstáculos.
11-Há espaço para melhoras? O que poderia ser feito para melhorar esse cenário?
Julia Ourique: Com certeza! Tudo se resume a respeito, sabe? Reconhecer o outro como um ser humano que merece respeito. Não precisa amar todo mundo, longe disso! Mas respeitar. Tá todo mundo no mesmo barco e se a gente não consegue nem respeitar quem está do nosso lado, curtindo o mesmo som que nós, como querer exigir que respeitem a gente?
12- Em nome da Equipe Roadie Metal, quero agradecer a você imensamente por nos conceder essa entrevista. Aproveitamos para lhe pedir para deixar um recado para as leitoras da Roadie Metal.
Julia Ourique: Evitem aglomerações, usem máscara e utilizem álcool em gel quando não for possível lavar às mãos. E quando tudo isso passar, apoiem as bandas que você ama. Compartilhe as músicas novas nas suas redes sociais, vá aos shows, compre os merchandisings. Quando você faz isso, você alimenta o sonho de alguém. E se quiser vir para a área da música, vem! Tem bolo!
