GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por 4 redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuar o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional. Nesta edição falamos com Jessica Alves, jornalista há muitos anos e que vem fazendo um trabalho incrível no metal brasileiro.
Você é jornalista há muitos anos e tem feito uma participação muito grande na divulgação de bandas nos últimos tempos. Vc sente alguma diferença de quando começou para agora no cenário do metal brasileiro?
Jéssica Alves: Sinto que houveram ciclos de evolução sim, especialmente na questão da divulgação online, que é o campo que atuo desde 2009. O cenário brasileiro sempre teve sua força em relação a bandas, mas na questão mídia ainda dependia muito dos veículos grandes. Com a evolução das redes sociais, o contato com o público ficou mais próximo e consequentemente mais pessoas se interessaram em atuar não apenas como músicos, mas na parte de divulgação e produção. E nesta quarentena percebemos mais ainda a importância disso. Diversos veículos surgiram e ajudaram a divulgar e fortalecer o underground, e hoje também fortalecem com os festivais online. Então vejo uma mudança muito positiva. Claro que há muito a conquistar, por sermos um país onde o metal ainda não é uma cultura forte, mas o trabalho está sendo feito.
Como analisa o metal brasileiro atualmente para as mulheres?
Jéssica Alves: Atualmente creio que houve uma evolução positiva, pois vemos mais mulheres na ativa, mais pessoas valorizando e mostrando que não é porque são mulheres que não merecem reconhecimento. Claro que nem tudo são flores e ainda há pessoas que dificultam este processo apenas por não ter uma mente evoluída. É claro que ninguém é obrigado a gostar de uma banda ou musicista só porque é mulher, mas a partir do momento que apenas o fato de ser mulher é motivo suficiente para as pessoas atacarem, então é algo errado e que deve ser combatido. Mas tenho um pensamento positivo que atualmente as coisas melhoraram bastante.
Há alguma jornalista que trabalhe no Metal que seja sua inspiração?
Jéssica Alves: Quando comecei a me interessar em escrever sobre metal, eu assistia um programa chamado Stay Heavy, apresentado por Vinícius Neves e Cíntia Diniz, na PlayTV. Quando eu via ela apresentando e falando de metal, me inspirava demais o conhecimento que ela tinha. Também posso citar a chamada Ananda Chamma que é bem conhecida no Norte do país, pq apresentou um período o programa Zappeando, no Amazon Sat, onde ela deu muito espaço para bandas de rock e metal do Norte. O fato de ela conseguir um espaço em um veículo não especializado em metal, mostrando que era possível fazer jornalismo metal na Região Norte TB me inspirou, e por isso criei o blog Olhar Alternativo, para focar nas bandas de Macapá. Atualmente minha inspiração são as colegas de trabalho em especial na Roadie Metal, Daniela Farah, Mari Goé, Aline Costa, Jennifer Kelly e Jessica Da Mata, porque vejo que todas TB buscam fazer um conteúdo de qualidade e mostrando a força do metal, especialmente o brasileiro.
Já sentiu alguma dificuldade de trabalhar no Metal por ser mulher?!!
Jéssica Alves: Creio que toda mulher já sofreu algum tipo de dificuldade na questão profissional, então infelizmente sim, já sofri comentários preconceituosos e desrespeitosos, mas muito por parte do público que estava nos eventos. Agora fora do metal sofri desrespeito até por colegas de trabalho e superiores.
O que você acha que precisaria ajustar ou melhorar para que a imprensa especializada tivesse mais reconhecimento?
Jéssica Alves: Uma tecla que sempre bato é a questão da valorização não apenas nas bandas, mas de todos os envolvidos. Citei anteriormente sobre a evolução na divulgação, especialmente online, mas em muitos casos não vejo a parte disso de muitas bandas. As vezes fazemos entrevistas, marcamos, divulgamos, mas nem os músicos se importam em pelo menos compartilhar. Depois os mesmos reclamam que a mídia não liga para o metal. Mas o problema é que muitas pessoas querem sair nas mídias grandes, mas ignorando os veículos especializados, que também são underground. E para esse que todos ganhem, é preciso valorização recíproca.
Em relação às bandas, tanto do mainstream quando do underground , acredita que há algo que elas poderiam fazer para que se haja um crescimento maior de divulgação?
Jéssica Alves: Acho que a resposta anterior pode completar essa, mas se começarem a compartilhar mais as mateiras que eles saem já é uma grande ajuda. Creio que tbm investir em um trabalho de profissionais em assessoria é um ganho para todos, pq divulgar é mais do que apenas postar links nas redes sociais.
E pra finalizar que tipo de sugestão você daria para as bandas que estão começando e não sabem por onde começar um trabalhão de divulgação?
Jéssica Alves: Se as bandas não tem condições de investir em uma assessoria para dar um upgrade na divulgação, apareçam nas redes sociais. Mas apareçam com qualidade. Tirem boas fotos, se possível vídeos com qualidade, uma boa descrição e histórico, tentem colocar suas faixas em canais no YouTube e plataformas de streamings, façam contatos para serem divulgados nos sites e mantenham forte contato com o público sempre, que é o mais importante. E principalmente, não desistam porque o caminho nunca é fácil, mas vou imitar uma frase de Rocky Balboa, “Ninguém vai bater tão forte como a vida, mas não se trata de bater forte. Se trata de quanto você aguenta apanhar e seguir em frente, o quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando. É assim que se consegue vencer.” 😁