Girls On The Front: Jennifer Kelly – Vejo com muita alegria o número cada vez maior de mulheres atuando, com muita competência, seriedade e talento

GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por redatoras para falar sobre mulheres e encorajar outras a continuarem o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional.

Nesta edição, conheceremos mais sobre a Jennifer Kelly, redatora da Roadie Metal, colunista da Rádio Catedral do Rock, escritora e criadora do canal de YouTube “Jenny On The Rocks”.

Roadie Metal: Olá querida Jenny, nossa redatora super talentosa e pessoa maravilhosa. Em primeiro lugar, gostaria de saber como foi a sua entrada para o Underground? Como e porque começou a gostar de Rock/Metal?

Jennifer: Olá, querida Jessica, em primeiro lugar é um prazer poder participar do quadro Girls on the Front. Bem, vou te responder de forma invertida. Como e por que comecei a gostar de rock e metal remontam há uns 40 anos atrás, lá no final dos anos 70 (Tia Jenny já passou dos 50. Rsrsrsrs) . Na verdade, desde sempre eu ouço rock e suas vertentes. É uma paixão que atravessa décadas. Não tem muita explicação, sabe. Sei lá, amo. Em relação ao underground foi meio interessante, porque não escolhi isso, simplesmente aconteceu. Comecei a frequentar shows de diversas bandas daqui do Rio de Janeiro, tanto de covers, quanto autorais e fiz amizade com os músicos. Quando me dei por mim, estava ‘morando’ no underground.

Roadie Metal: o que te motivou a apoiar as bandas e o movimento Underground?

Jennifer: Estando mais próxima das bandas e dos artistas underground, acabei me envolvendo mais e percebi que podia fazer a diferença, tanto em consumir os trabalhos desses artistas, quanto em divulgar. É uma troca, sabe, e isso me motiva.

Roadie Metal: de que forma o Rock/Metal contribuiu na sua vida e quais são suas maiores inspirações no cenário?

 Jennifer: Interessante essa pergunta. Acho que a contribuição vem de duas formas, primeiro vem a questão do consumo, de você poder curtir shows e música de qualidade, muito escassos hoje na mídia em geral. Quando você gosta de algo, deseja estar mais próxima daquilo e isso te faz bem. Segundo, que quando damos o nosso apoio, todos ganham, nós porque teremos sempre algo bom pra ouvir e o artista, claro, que se sentirá motivado a continuar, mesmo que não seja uma tarefa fácil. Minhas inspirações no cenário? Sabe que nunca parei pra pensar nisso?! Deixa eu ver, bem como redatora, eu procuro me inspirar na forma como diversos outros redatores e veículos escrevem. Dessa forma aprendo muito. Meus colegas na Roadie Metal, por exemplo, cada um com suas características, são inspiradores. Eu amo me cercar de pessoas inteligentes, isso faz com que eu me exija mais. A alegria que os artistas sentem quando eu escrevo para divulgar seus trabalhos são igualmente inspiradores e motivadores.

Radie Metal: como você avalia a presença feminina no Rock/Metal, principalmente no Brasil?

Jennifer: Eu fico admirada em ver tantas mulheres na cena, tanto artistas, quanto produtoras, jornalistas, assessoras, etc. Apesar de o meio ser ainda muito dominado pelos homens, vejo com muita alegria o número cada vez maior de mulheres atuando, com muita competência, seriedade e talento.

Roadie Metal: você acha que a presença das mulheres no Rock, seja como vocalista ou qualquer outro tipo de função nas bandas ou até mesmo nas divulgações contribui para igualdade de gêneros?

Jennifer: Sem dúvida. Eu penso assim, quanto mais você vê mulheres em determinado círculo, que era originalmente dominado por homens, menos você pensa na questão homem-mulher e passa a pensar em pessoas, como um todo. É o que nós somos, pessoas, independentemente do gênero.

Roadie Metal: como mulher trans, você sente alguma dificuldade em participar do cenário Underground, seja com suas opiniões, matérias escritas em nosso site e no seu canal do YouTube?

Jennifer: Isso é uma coisa que me surpreende, sabe. Não vou negar que o medo existe, principalmente se você está presente fisicamente em determinado lugar, porque querendo ou não chamamos atenção. Se eu disser pra você que não sinto medo, estaria mentindo, assim, não medo propriamente dito, mas certa apreensão. Já fui vítima de cyberbuyiling por ser trans e não é fácil lidar com isso. Porém, isso nunca me impediu de fazer o que faço, apenas retardou um pouco certas coisas, em determinados momentos. Mas, tanto nos grupos relacionados com música, em que participo, quanto nos trabalhos que faço, tenho tido muito respeito, carinho e apoio das pessoas. Toda a equipe da Roadie Metal me acolheu de forma amável e carinhosa, assim como na Rádio Catedral do Rock, inclusive foi o Alexandre Barros, da Rádio Catedral do Rock que me apelidou de Rainha do Submundo, por causa do meu trabalho no underground. O pessoal das bandas tem uma relação de carinho e confiança para comigo. A banda paulista 5th Machine me nomeou madrinha deles, não dá pra mensurar isso, que muito me gratifica. Tudo isso acontece pelo meu trabalho, levado à sério e feito com profissionalismo. Não sou julgada por ser trans. Além de ser vista como mulher, sou reconhecida como profissional. Tenho meu canal, que apesar de novo tem tido boa visibilidade e tenho sido convidada em participar como apresentadora de festivais online, como o Caio Indica Fest, que na sua terceira edição, agora em março fará uma homenagem às mulheres no rock e metal, também o Bode Metal Fest e várias lives. E claro, também tenho tido boa aceitação como escritora, com meu livro lançado “A Herança dos Chacais” sendo distribuído pelo Brasil. Como uma mulher trans, acho isso uma grande vitória, um espelho para outras pessoas trans também surgirem e mostrarem seus talentos.

Roadie Metal: você acha que as mulheres apoiam a presença feminina no Rock/Metal?

Jennifer: Pelo menos, no meu caso, eu diria que sim, elas têm me dado muito apoio e eu a elas. Acho que esse apoio é importantíssimo pra nós. Existem, claro mulheres que desdenham, mas acho que é uma pequena parte, que sente ameaçada por mulheres que se destacam. A grande maioria abraça a causa, porque sabem que unidas fazemos a diferença pra todas.

Roadie Metal: na sua opinião, quais são as maiores dificuldades de uma mulher para se destacar no Rock?

Jennifer: Com certeza, o machismo arraigado. Apesar de vermos uma mudança significativa nessa postura, ainda existe muita resistência por boa parte dos homens. A gente só consegue derrubar essas barreiras não se deixando intimidar, sendo sempre muito competentes naquilo que fazemos, sendo o mais profissional possível.

Roadie Metal: você tem algum projeto futuro além dos que já está fazendo atualmente?

Jennifer: Sabe, eu tinha planejado atuar na cena, mas meu planejamento era mais pra frente, fazer as coisas mais devagar. Porém, de 2019 pra cá a coisa tomou uma proporção que eu não imaginava e hoje alcancei um patamar que me permite ser mais atuante. Pretendo ampliar as atividades do meu canal no YouTube, o Jenny on the Rocks, que ainda está embrionário, para que este se torne um canal de referência e reconhecido de apoio ao underground, bem como assessorar melhor as bandas e artistas que me procuram para divulgar seus trabalhos. Hoje já tenho até algumas bandas gringas, que me procuram pra fazer divulgação. Quero ampliar isso e ajudar ainda mais a fortalecer a cena.

Roadie Metal: quais conselhos você poderia dar a outras mulheres que desejam expressar suas opiniões sobre o Underground em sites, blogs e YouTube?

Jennifer: O mais curioso é que entrei nisso sozinha, sem apoio ou conselhos de ninguém. Fui movida pelo meu amor ao rock e o metal. Como sou estudiosa, sempre procurei buscar informações sobre a cena e deixei a timidez de lado. O conselho que eu dou, eu até poderia dizer o meu legado é esse. Primeiro, tenha amor pela cena, envolva-se, interaja, mesmo que tenha medo ou receio, siga em frente, de cabeça erguida. Mostre que você sabe o que está fazendo, estude e seja o mais profissional que puder. Busque apoio e orientação de outras mulheres que já estão a mais tempo na cena, inspire-se nelas. Quando temos domínio do que fazemos chegamos onde queremos.

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