Girls On The Front: Daniela Farah-“As mulheres sempre participaram, ainda que por trás dos panos. Digo isso porque vejo mulheres que estão há mais de dez anos na cena e seria injusto a gente não levar isso em consideração”.

GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por redatoras para falar sobre mulheres e encorajar outras a continuarem o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional. Nesta edição, teremos o prazer de bater um papo e conhecer mais sobre a jornalista e redatora da Roadie Metal, Dani Farah.

Sobre – Daniela Farah

1-Roadie Metal: Olá Dani,obrigada por ter aceitado o convite, gostaria de saber de você, quando você se interessou pelo rock?

Dani Farah: Obrigada por ter me convidado para participar desse quadro que eu gosto tanto e tenho um carinho grande. Bom, minha relação com a música começou de maneira afetiva, meu pai costumava cantar pra gente, geralmente clássicos da MPB. Eu tenho dois irmãos mais velhos, e o rock veio muito por conta deles. Meu irmão mais velho tocava guitarra e teve banda durante algum tempo. Mas a primeira música que eu me lembro de ter ouvido e achado muito interessante foi o Jimi Hendrix. Eu me lembro de ter entrado no quarto do meu irmão e pensado: Uau, isso é muito legal. A MTV ajudou muito nesse processo, eu me lembro de ter visto Sepultura, Pantera, Ozzy, Pearl Jam.

2-Roadie Metal: Quem são suas referências neste mundo do rock?

Dani Farah: Soundgarden, Pearl Jam, Foo Fighters Metallica, Led Zeppelin, Kiss, Pink Floyd, The Beatles, Black Crowes, Ramones, The Offspring, Janis Joplin, Alanis Morissette, No Doubt, Bikini Kill, The Donnas.

3-Roadie Metal: Enquanto você cursava jornalismo, você pensou vou usar esse talento para me dedicar a isso, já tinha em mente se tornar uma redatora?

Dani Farah: Sim e não. (risos) Eu jamais pensei que escreveria sobre música, sempre fui muito ligada à arte, escrevo poesia e faço teatro desde pequena, mas nunca imaginei que faria o que faço hoje. Até porque quando fui fazer jornalismo, muita gente me dizia que eu não serviria como jornalista porque sou muito tímida. Por conta disso, eu quis largar o curso muitas vezes, mas aprendi muito com a faculdade de Jornalismo. Realmente isso sempre um grande desafio e eu fico muito feliz com tudo que conquistei.

4-Roadie Metal: Qual a reação das bandas quando eles vêm que serão entrevistados por você? Já teve um certo preconceito quanto a isso ou é natural?

Dani Farah: No começo, quando eu ia cobrir os festivais underground aqui de Curitiba eu sempre ia atrás das bandas para conversar, pegar uma declaração e o setlist e sempre fui bem tratada. Também logo tratei de fazer um crachá pra mim, assim acho que passa mais profissionalismo e fica mais fácil das pessoas identificarem quem e de onde você é. O que talvez a gente possa dizer que é preconceito, é que eu escuto muito que sou “fofinha” pra gostar de metal, porque eu realmente não me visto dentro do estereótipo de metaleira. A reação das bandas eu já não saberia falar, acho que ficam felizes de ter alguém que vai falar sobre o trabalho deles.

5-Roadie Metal: Quanto tempo está na roadie metal?

Dani Farah: Completei três anos de Roadie Metal, no dia 25 de outubro de 2020. Um amigo viu o anúncio e disse: Dani, é a sua cara! E aí mandei e-mail para o Gleison, ele me ligou, conversamos e entrei pro time.

6- Roadie Metal: Como é ser redatora de um site só voltado ao rock/heavy metal? Teve alguma dificuldade no início?

Dani Farah: Eu gosto bastante e confesso que antes da Roadie Metal, isso nunca tinha me passado pela cabeça. Sabe, no começo eu pesquisava e lia muito antes de escrever, porque não me sentia capaz. Eu sempre gostei de rock e metal, mas eu nunca fui exatamente do meio antes da Roadie Metal. Claro, eu ia nos bares de rock daqui e muitas vezes até ia sozinha quando tinha uma banda que eu gostava de ouvir, mas eu sempre foquei na música. E quando eu passei a escrever sobre, acho que as pessoas têm uma ideia, uma expectativa de que quem escreve sobre metal precisa ser de um determinado jeito, e eu nunca me encaixei nisso. Até o dia que uma pessoa que eu admiro muito me disse que esse era exatamente o meu trunfo, o de trazer uma visão diferente sobre as coisas, e a partir daí fui me sentindo mais confiante para ser eu mesma, e para trazer essa pitada de poesia nas minhas análises. Outra coisa que eu senti muito por conta de tudo isso é que parece que por ser mulher, você precisa estudar mais e ter mais conhecimento que um colega homem. Já vi colegas homens falarem besteiras e serem relevados e colegas mulheres serem extremamente cobradas. Antes eu me chateava demais quando recebia alguns comentários como “vai lavar louça”, “você não sabe do que está falando” e “tinha que ser mulher”, por isso agora, quando vou publicar algum texto polêmico eu leio antes para ter certeza de que vou estar em paz com ele, não importa qual seja o comentário.

7- Roadie Metal: Alguma cobertura de show te deu dor de cabeça, a ponto de você querer sair fora?

Dani Farah: Eu e a Angela Missawa, que é a fotógrafa da Roadie Metal fomos cobrir um show do underground aqui em Curitiba que atrasou demais. Estava marcado para acabar à uma da manhã e acabou às três. Eu já estava dormindo na mesa e aí a gente combinou que assim que ela tivesse uma foto boa da última banda, íamos embora.

8-Roadie Metal: Fora escrever para sites, blogs e redes sociais, você trabalha em outro ramo?

Dani Farah: Eu já venho trabalhando como freelancer há algum tempo, então escrever é o meu trabalho, e eu amo escrever. Já escrevi para revista de empresa, de arquitetura, blog de relacionamento, site de escola de inglês, site de eventos, venda de passagens, para uma editora. Cada vez que pego um projeto diferente eu aprendo muito e isso é uma das coisas que acho mais divertido nessa profissão.

9-Roadie Metal: Como você tem visto a participação das mulheres na cena do rock e metal em geral? Sabemos que ainda existe um certo preconceito quanto a isso, o que você acha que é preciso fazer para que haja uma união mais igualitária entre os gêneros?

Dani Farah: As mulheres sempre participaram, ainda que por trás dos panos. Digo isso porque vejo mulheres que estão há mais de dez anos na cena e seria injusto a gente não levar isso em consideração. Porém, agora as mulheres estão recebendo os holofotes merecidamente. Vemos mais mulheres nas bandas, mas também em outras áreas como os sites especializados. É importante termos mulheres escrevendo sobre e analisando a cena, as bandas, as músicas, com quadros de opinião, acho que isso de produzir conteúdo sobre a cena enriquece essa questão do gênero, porque a mulher vai sim levar o olhar dela e ele é tão importante quanto o do homem. Acho difícil falar disso porque confesso que quando fundamos esse quadro Girls on The Front, com a Aline, a Jéssica e a Mari, a gente discutia bastante sobre essa questão da mulher e isso me fez aprender muito e até mesmo mudar meu olhar para algumas coisas.

10-Roadie Metal: Quais as características mais marcantes sobre o seu trabalho e como você definiria elas para nós?

Dani Farah: Pergunta difícil. Acho que seria nunca deixar de estudar. Porque eu sempre procuro ler coisas tanto da música e do metal quanto relacionadas ao jornalismo. Sou perfeccionista então sempre estou buscando um jeito de melhorar meus textos, minhas resenhas e meus artigos. Por exemplo, quando o Gleison me chamou para assumir as lives do Instagram da Roadie Metal, eu fui buscar o material da faculdade sobre entrevista, passei horas assistindo diversas entrevistas online e também fui buscar entender o funcionamento das lives. Ainda hoje eu sempre fico antenada ao que está acontecendo para poder fazer entrevistas melhores. Esses dias estava assistindo a algumas aulas da Berklee College of Music e estou lendo alguns livros sobre música. Então, acho que uma característica é que aprendo constantemente, além de ter um cuidado com as palavras, uma delicadeza nos meus textos e sempre me posicionar da maneira com que eu acredito.

11-Roadie Metal: Agora que os shows estão paralisados por conta do covid, e não há como fazer coberturas de shows, como você tem feito para manter contatos mais próximos das bandas?

Dani Farah: Procuro manter os contatos online, observando o que eles tem feito, o que tem divulgado. Alguns viraram amigos então acabam sempre me mandando o material novo. As lives do Instagram da Roadie Metal são uma ótima maneira também, já que toda semana eu entrevisto uma banda do cenário nacional. E eu adoro conhecer bandas novas, então é uma super oportunidade e eu aproveito para deixar o convite aqui para todo mundo que está lendo a gente. Assistir as lives também é uma forma de apoio e eu fico muito feliz quando as pessoas assistem e comentam.

12-Roadie Metal: Quais são os seus planos daqui para frente?

Dani Farah: Sobreviver conta? (risos) Eu confesso que não sei responder a essa pergunta. Muita coisa mudou na minha vida do ano passado para cá, então acho que estou me recuperando e entendendo o meu momento antes de poder planejar alguma coisa.

13-Roadie Metal: Qual sua visão sobre a atual cena de heavy metal em no Brasil?

Dani Farah: A cena do metal no Brasil tem dois tipos de pessoas: as que reclamam e as que fazem acontecer. Temos mercado sim, tanto que muita gente de fora investe para vir pra cá, porém não é fácil. Para uma banda se destacar ela precisa ser muito boa, acreditar no que faz e investir em si mesma, aprender como criar uma comunidade, e inovar. É aquela história de que você não consegue fazer resultados diferentes fazendo a mesma coisa, então acho que talvez falte um pouco mais de inovação, no sentido de ações diferentes. Até porque temos muitas bandas com qualidade extrema, que dá banho em muita banda famosa lá de fora. Então, acredito muito nas bandas que temos aqui, mas falta um pouco mais de inovação nas ações.

14-Roadie Metal: Quais conselhos você daria para as meninas/mulheres que se inspiram em você?

Dani Farah: Primeiro preciso dizer que ficaria muito honrada em saber que alguém se inspira em mim. Segundo eu diria vai lá e deixa sua marca no mundo, vai atrás do que você gosta e do que acredita e não deixa ninguém te dizer o contrário, nem por um segundo. Muita gente vai te dizer para desistir, mas aí você respira e segue em frente! Temos redatoras maravilhosas e tem espaço para mais sim! Outro conselho que eu daria é estude sempre. Desejo sucesso a todas!

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