GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por 4 redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuar o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional.
E hoje vamos falar sobre Cacau Pinheiro, a grande vencedora do Concurso Soulspell – Quarentena King.
Cacau nasceu em 2 de março de 1996, na cidade de Santos (SP). Sua paixão pela música iniciou bem cedo, aos cinco anos, por influência da família. Seu pai, que também é cantor, a incentivava com rock e bandas clássicas dos anos 70, como Deep Purple, Yes e Grand Funk Railroad. Já na adolescência, nasceu o sonho de ter uma banda.
E o Nu Metal virou paixão, ao lado do grunge e punk. Mais tarde, o peso do metal entrou na lista de Cacau, incluindo bandas como Megadeth, Slayer, Lamb of God, entre outros.
Paixão por cantar
A vontade de de cantar despertou em Cacau ainda na infância. Além de grandes nomes do rock, cantoras como Mariah Carey, Celine Dion, Whitney Houston influenciaram na jornada da jovem cantora. Desde então, usou a voz plena por sua carreira. Mas aos 21 anos, descobriu sua habilidade com o vocal gutural, que logo incorporou em seus projetos, dando uma versatilidade.
Além de vocalista, Cacau também é guitarrista. Ela aprendeu a tocar violão aos 15 anos, onde ela começou as suas primeiras composições. E mais tarde, iniciou na guitarra e aos 17 anos, adquiriu a sua Gibson Les Paul Tribute ’50, que a acompanha até hoje.
Quarentena King
A paticamente autodidata cantora, recebeu muitos elogios dos jurados e público, com sua performance surpreendente. Cacau se destacou entre 221 candidatos de todo o Brasil, com 15 finalistas na terceira e última etapa.
Foi alternando vocais guturais a voz limpa, que Cacau mostrou sua amplitude e versatilidade na voz, que conquistou o primeiro lugar no Quarentena King, que coroou uma Queen.
Em entrevista à Roadie Metal, Cacau falou mais sobre sua participação no Quarentena King, além de relembrar a carreira, suas influências, além de outros assuntos, como a presença feminina na cena heavy metal. Confira na íntegra.
Entrevista com Cacau Pinheiro
Roadie Metal – Em primeiro lugar te parabenizo pela ótima colocação no concurso Quarentena King, do Soulspell. E aproveitando o assunto, nos conte mais sobre essa conquista, o que representa para você e sua carreira?
Cacau Pinheiro: Obrigada! Fiquei muito feliz com essa conquista ❤️. Isso representa uma grande porta que se abre, pra mim, além de estar próxima de músicos e cantores incríveis!
2 – Conte mais sobre sua participação. Como soube do concurso? E como foi sua preparação e estratégias para chamar a atenção dos jurados e do público?
Cacau – Eu fui marcada por um grande amigo – que também já foi meu professor de guitarra e companheiro de bandas noturnas – em um post no Facebook que anunciava o concurso. Confesso que entrei despretensiosamente, quando enviei o primeiro vídeo não sabia quem eram os jurados e nem o quão sério era isso tudo. Na segunda fase eu já estava ciente hahaha A primeira música – Carry On My Wayward Son (Kansas) – eu realmente quis começar com o melódico e também mostrar um pouco do drive. Já na segunda eu trouxe o gutural – My Curse (Killswitch Engage) – misturado com melódico. E a última – Perennial (Jinjer) – eu me dediquei mais no geral e realmente pensei no conceito que essa música traz. Além da versatilidade vocal (gutural e melódico) que a música transparece, a mensagem que ela transmite é um grande impacto e combina perfeitamente com o que estamos vivendo nesses tempos de vírus.
3 – Cacau, você imaginava chegar tão longe, em um concurso com mais de 200 vocalistas de todo o Brasil?
Cacau – Confesso que não hahaha Eu realmente não esperava isso! Eu me preparei psicologicamente pro que viesse, por isso não entrei com espírito de competição. Inclusive amei conhecer todas as outras vozes e personalidades incríveis do nosso Brasil. É aquela história… Se eu ganhasse ótimo, se não, seria aprendizado e experiência. Pra mim foi um prazer participar – mesmo com a pressão de fazer os vídeos – eu realmente curti esses momentos e amei o fato de que nós participantes pudemos escolher as músicas!
4 – Agora gostaria de saber mais de sua trajetória. Conte como você começou na música? E como despertou a paixão pelo rock e heavy metal?
Cacau – Comecei através da influência familiar – meu pai e meu tio por parte de mãe também são cantores – desde os 4/5 anos de idade estou nessa jornada! Durante esse percurso tive algumas bandas e projetos distintos, tanto autorais quanto covers mas nenhum foi pra frente rs. Meu pai sempre gostou de rock e através dele pude conhecer várias bandas incríveis do anos 70 e 80, como o Deep Purple, Yes e Grand Funk Railroad – lá pelos meus 16 anos meu sonho era ter uma banda nesse estilo. Mas desde pivete eu amava Nu Metal, inclusive a mistura de Rap com Rock/Metal. Na minha pré-adolescência eu destrinchei bastante o grunge! Alice in Chains, Nirvana, Pearl Jam, entre outros. Depois eu acabei me apaixonando pelo punk e logo em seguida vieram outros sub-gêneros do metal. As bandas que me introduziram nessa fase foram o Medageth, Slayer e também o Lamb Of God. A partir daí só veio peso hahaha
5 – Quais suas influências? Alguma figura, masculina ou feminina, em especial que fez você pensar “É isso que eu quero, ser cantora”?
Cacau – Tive muitas influências em diversos gêneros. Mas no rock posso dizer com certeza que foi a Joan Jett. Pelo fato dela tocar guitarra/cantar e pela coragem que ela teve, primeiramente por ter uma das poucas bandas de mulheres daquela época em que o rock era majoritariamente masculino. Segundo, pelas letras e pela coragem – ela sempre falou o que pensa e se expressa – na forma de cantar, falar e se vestir – sem se importar com as críticas. Incentivou muitas mulheres a começarem seus projetos. E por último, por seguir carreira solo e abrir sua própria gravadora mesmo depois do primeiro disco do seu projeto solo ser rejeitado por 23 gravadoras! Mulher foda demais!
6 – Sua voz mescla uma doçura e leveza com a agressividade no gutural. Você começou primeiro na voz plena e depois partiu para o gutural, ou foi o contrário? E como foi aprender dois estilos completamente diferentes?
Cacau – Comecei pela voz plena! Desde os 4 anos como eu tinha dito, além da influência do meu pai no rock, ele também me mostrava bastante as cantoras “divas” tipo Mariah Carey, Celine Dion, Whitney Houston etc. Sempre me acompanhou e tentou me passar um pouco do conhecimento que tem por conta de algumas aulas que ele teve quando tinha iniciado a carreira dele há anos atrás. Lá pelos 8 anos eu comecei a ser autodidata, amava fazer gravações caseiras. Já tentava harmonizar em cima da minha própria voz e lembro que nessa época eu não tinha acesso à nenhum software de gravação e mixagem de áudio decente hahaha usava o Gravador de Som que podia gravar no máximo 1 minuto! Então eu abria várias janelas, gravava um pedaço de voz em cada uma e depois corria pra dar o play em todas tentando acertar a sincronização hahahaha Mais tarde eu fui ter acesso à programas melhores e comecei a brincar mais de me auto produzir. Até hoje tenho gravações antigas no meu SoundCloud! Já o gutural comecei a aprender com 21, em 2017, sozinha em casa e vendo alguns vídeos no youtube. De começo foi difícil achar a região, eu usava uma região super errada da garganta e não conseguia por muito tempo porque coçava e depois ficava doendo hahahaha Mas logo depois eu consegui aprimorar e quando me senti segura berrando, aí introduzi o melódico na mistura! Várias bandas já faziam isso, como por exemplo o Killswitch Engage. Mas também novas bandas foram surgindo desses anos pra cá e muitas com vocais femininos no front – o que me possibilitou treinar mais e melhor na minha região vocal.
7 – Você também é guitarrista. Aprendeu a tocar antes de cantar, ou o contrário? E como tocar um instrumento contribui na sua evolução musical? Aproveitando, você compõe?
Cacau – Comecei no canto e só bem depois aprendi a tocar violão. Fui autodidata também, com 14 pra 15 anos comecei a tocar. Meu pai também toca mas ele me mostrou apenas como tocar um D (ré maior), depois meio que lançou o “se vira” pra mim e graças à internet eu aprendi bastante também hahahaha A partir do violão comecei a compor músicas instrumentais (já compunha letras desde os 8). Eu fui realmente “forçada” a aprender pra começar a desenrolar minhas ideias líricas! Um tempo depois, quando peguei numa guitarra pela primeira vez eu me apaixonei… e falei “é isso que eu quero”. Pirei na distorção rs Lá pelos 17 fui ter minha primeira e única guitarra, uma belíssima Gibson Les Paul Tribute ’50 – Sunburst Fosca <3 Cheguei a fazer 1 ano de aula com o Luiz Oliveira – o cara que me instigou a entrar no concurso Quarentena King – e depois nunca mais fiz aula (quero voltar a fazer, com certeza). A partir daí, fui criando meus primeiros riffs. Com certeza, o instrumento se torna um grande aliado na evolução de qualquer cantor/compositor!
8 – Mulher e cantando heavy metal. Isso é uma grande representatividade Cacau. Como é poder ser uma voz representando estas bandeiras que ainda enfrentam muitas lutas?
Cacau – É uma HONRA e uma RESPONSA ao mesmo tempo. Isso foi tudo o que eu sempre quis fazer mas confesso que com a exposição as pessoas acabam criando expectativas e isso gera uma leve pressão – além da autocrítica, porque eu quero dar o meu melhor, sei também que pra isso vou ter que estudar muito pra manter a qualidade vocal. Porém, também é uma honra poder representar e quem sabe inspirar muitas minas por aí. Ainda temos preconceito neste meio e eu sinto que unidas podemos quebrar qualquer barreira!
9 – É inevitável falar de mulheres no heavy metal sem citar o preconceito, pois infelizmente ainda vivemos em uma cena bastante machista, não importa os feitos das mulheres, citando aqui como maior exemplo a banda Nervosa. E você Cacau, imagino que também tenha sido alvo de preconceito no metal. Como é enfrentar isso? O que motiva você a continuar?
Cacau – Ainda não enfrentei muitas críticas por não ter um material autoral pronto mas eu sinto que quando isso tiver em pauta, talvez as críticas mais estrondosas venham à tona – o que é super normal. Óbvio que já li comentários negativos pelo fato de ser mulher (não só em relação à mim mas à várias outras bandas e mulheres) e principalmente por eu ter a cabeça aberta, aquela longa história do metaleiro crítico que só ouve metal e nada mais hahahaha Eu mudei bastante meus conceitos mas não deixei de amar o metal só porque sei que outros gêneros também podem ser bons – lógico que nem tudo eu curto escutar e o que escuto mais no meu dia-a-dia é metal ou rock. Porque eu amo pouco né! hahahaha O que me motiva é a minha vontade de espalhar minha mensagem pro mundo, eu sinto que estou aqui com esse propósito… Através da música, há cura! Há sabedoria e informação!
10 – Como você vê a cena do metal hoje? O que poderia ajudar o underground a ter mais destaque?
Cacau – Apesar de muitas pessoas acharem que a cena tá fraca porque o metal não é algo mainstream, que costuma tocar nas rádios hoje em dia… Eu sinto também que muitos falam isso por não conhecerem as bandas. A internet está aí à nossa disposição e é através dela que bandas undergrounds ganham espaço e conseguem fazer clipes e shows. Nós já tivemos um grande avanço nesse último ano quando o Nervosa e o Torture Squad tocaram no Rock in Rio mas o que definitivamente ajudaria o underground a ter mais destaque seria ter mais eventos grandes voltados pra isso e também uma abertura na mídia pra que esse tipo de som possa ser mais ouvido. Sempre teve um pré-conceito em relação ao metal, por ser extremo, mas eu acho interessante quando as pessoas se permitem escutar e tentar entender, porque parece uma bagunça quando se escuta por som de celular, mas se tiver um fone de ouvido ou uma caixa boa envolvida, aí a coisa muda de figura. Na verdade é muito difícil construir uma música nesse gênero e geralmente o que ninguém vê é a dificuldade e a técnica que os músicos enfrentam pra proporcionar um som de qualidade.
11 – Voltando a falar de mulheres, elas têm ganhado mais destaque a cada dia. Além da banda Nervosa, outros grandes nomes, como você, a Hanna Paulino e a Nina Guimarães, que tiveram boas colocações, sendo as mulheres a maioria no top 5 no concurso. O que você acha desse movimento de destaque das mulheres no metal?
Cacau – Eu AMO o fato de ver mulheres se destacando na cena. Elas estão vindo com tudo atualmente e isso inspira todas nós com certeza – além da possibilidade de podermos fazer futuras collabs e feat.’s incríveis hahahaha Foi como eu disse, unidas vencemos qualquer barreira!
12 – E quais os seus planos a partir de agora? Já tem novidades ou projetos, após a pandemia acabar?
Cacau – Sim, estou ansiosa pra dar continuidade ao projeto SoulSpell e entrar em studio com eles. Futuramente quero desenrolar meu projeto de banda só com mulheres de Groove Metal/Thrash Metal/Hardcore. Por enquanto sou só eu (guitarra e voz) e a Bruna Almeida (baixo). Estamos à procura de uma baterista mulher que goste muito de metal e saiba tocar pedal duplo pra dar aquele peso ao som!
13 – Qual conselho você dá para as meninas que estão na batalha ou sonham em seguir carreira no metal, seja cantando ou tocando?
Cacau Meu conselho é ser quem vocês são. Não tenham medo das críticas e façam aquilo que vocês acreditam! Se puderem estudar pra aprimorar, ótimo. E quanto às oportunidades, não as deixem irem embora… agarrem com força! E não deixem de treinar em casa porque isso também é muito importante.
14 – Pode deixar um recado para os nossos leitores e também para todos os que te apoiaram e seguem os seus trabalhos, Cacau.
Cacau – Agradeço à todos que votaram em mim e estão me acompanhando. Isso me dá forças e me incentiva ainda mais a percorrer esse caminho! E aos que estão nesse mesmo barco, muita sorte. Espero trombar vocês em shows, studio e futuras tour’s hahahaha Obrigada também à Roadie Metal pela oportunidade dessa entrevista ❤️
Conheça mais o trabalho de Cacau Pinheiro.
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