GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por 5 redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuar o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional.
A entrevistada de hoje é a vocalista Arya da banda Eve Desire, que incialmente foi uma banda de cover do Nightwish, mas após alguns shows, a banda decidiu partir para o som autoral. O sucesso da primeira demo “Vitruvia” chamou a atenção de renomados produtores e em 2014 assinou contrato com Thiago Bianchi (Shaman e Nocturnall) para a produção do primeiro álbum. A banda abriu para dois shows internacionais, Nocturnall com Mike Portnoy em 2019 e Vision Divine em 2020.
Roadie Metal: Primeiramente vamos falar das suas influências e o motivo pelo qual levou você a se tornar vocalista de uma banda de Metal.
Sem dúvida, Nightwish, Tarja. Angra, Shaman. Sempre cantei, sempre me vi cantora. Mas só na fase final da adolescência que fui atrás de estudar, e entendi que isso poderia ser uma profissão. Não sou de família de músicos, então, era um sonho muito distante da minha realidade. O rock veio depois de ouvir Nightwish. Tarja me encantou, a fusão da ópera com o rock, a paixão pelo symphonic metal foi instantânea.
Roadie Metal: Você tem uma banda (Eve Desire), que foi fundada por você e seu marido, como ocorreu essa ideia?
Eu fui procurar um tecladista na internet, e ele, do outro lado, estava procurando uma vocalista, e ambos queríamos montar um NW Cover. E assim foi. Nos conhecemos e montamos a banda como NW cover, chegamos a ser um dos top 5 cover NW Brasil. Ele também é pianista erudito e apaixonado por metal sinfônico, então, tinha que ser! Eu tenho formação em canto lírico por conservatório, também sou maestrina formada. Essa mistura é nossa vida, e nossa maior influência musical.
Roadie Metal: Qual foi motivo pelo qual você escolheu o seu tipo de vocal?
Já tentei me lembrar de onde veio essa vontade de cantar ópera, mas não lembro. Desde que lembro de mim, gostava de ópera, apesar de não ter acesso em casa. Tinha na escola, estudava num colégio de freiras bem rígido em SP e tenho flashes das aulas de música com ópera na escola. Logo as próprias freiras me incentivavam a cantar, diziam que eu tinha jeito para Música e Canto. Fui crescendo e rapidinho virei rata de biblioteca, lia os libretos de ópera, e comecei sozinha a ir assistir concertos, mas ainda era pouco.
Depois do canto lírico, estudei canto popular e agora estou estudando Canto Contemporâneo com o Ariel Coelho. É tudo muito interessante, gosto de aprender coisas novas sempre, mas minha paixão é, de fato, cantar lírico.
Roadie Metal: Quais foram suas maiores dificuldades ao longo da sua carreira como vocalista?
Lidar com o machismo, sempre. Virar a chave de cantar concerto para cantar com banda. Lidar com a rivalidade entre as próprias vocalistas mulheres. Demorou para entender como funciona e fazer amigos. Mas quanto mais a banda cresce, mais pessoas de bem aparecem.
Roadie Metal: Como você avalia a presença feminina nas bandas de Metal, principalmente no Brasil?
Acho que rola uma rivalidade sem necessidade, ao mesmo tempo que se formam grupos de apoio. Mas também acho que muito disso tudo é resultado desse mundo polarizado que vivemos, há tanto tempo previsto por Orwell no seu livro “1984”. Não gostar do estilo de uma vocal faz parte, mas sempre deve haver respeito e reconhecimento de um trabalho bem feito, ainda que não seja seu estilo preferido. Agora temos uma onda forte de vocal feminino “sujo”. Eu não me vejo fazendo, apesar de estar estudando para saber como é, mas respeito quem faz e sei o quanto é difícil de fazer.
No geral, sinto que temos mais espaço, porém, os estigmas permanecem, assim como as piadas sem graça de camarim, os pré-julgamentos, as situações chatas que passamos todo o tempo. Ainda será um longo caminho para as mulheres. Mas uma hora há de chegar o dia da tão sonhada igualmente no mercado de trabalho.
Roadie Metal: Fale um pouco sobre seus projetos futuros.
Vamos começar a trabalhar no segundo disco, e esperamos que em 2021 seja possível de fazer todos os nossos shows que foram adiados em 2020. Temos duas aberturas para o Sonata Arctica (Limeira e Curitiba) e já estávamos fechando nossa primeira tour, e caiu tudo em 2020 por razões óbvias.
Também estamos morando em Buenos Aires e vamos abrir um estúdio aqui, de gravação e produção, além de trabalharmos em alguns projetos solos. Comecei a pensar em gravar um disco solo com músicas piano e voz, bem diferente do rock. Em breve!
Roadie Metal: Quais os conselhos você poderia dar uma garota que gostaria de cantar como você?
ESTUDE! Tenha uma boa orientação vocal, procure alguém que realmente conheça o caminho e não te oriente só na voz, mas também em todo seu caminho musical. É muito importante ter um coach que estruture o seu caminho, mas, claro, é você que tem que trilhar a estrada. Não se preocupe com o futuro, os resultados vão chegar, basta você fazer a sua parte – estudar, correr atrás, ter resiliência. Não se limite, aprenda todas as técnicas possíveis, nem que seja por curiosidade. Saiba o que você quer! E vai atrás!
Roadie Metal: Por último, você acha que as mulheres apoiam a presença feminina no Rock/Metal?
Polêmica. Normalmente, penso diferente nesse aspecto. Acho que tem muita mulher que acaba querendo tanto aceitação que se comporta num homem no meio da cena. Eu prefiro deixar muito claro que sou mulher, e o entorno que se adapte, rs! Se não vai no por favor, vai no berro, mas vai. Acho que temos que ser apenas nós mesmas, uma mulher se impõe sempre naturalmente! E quantas mais mulheres apoiando mulheres, melhor sempre!
Acompanhe a banda dessa super vocalista:
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