Garotos Podres: banda esbarra na polaridade política que toma conta do Brasil

Nos dias de hoje, em que a intolerância impera, o respeito à opinião do próximo é quase nula. Quem nunca perdeu uma amizade nas redes sociais por fazer um comentário que bata de frente com o que o amigo postou? Se o tema for político então, ai é que o caldo entorna de vez. Em um mundo em que as pessoas estão preferindo escolher suas amizades e parceiras com aqueles que tem um direcionamento ideológico igual, está se perdendo a oportunidade de dialogar, de fazer debates em alto nível, pois em uma discussão pode sim, haver um consenso.

E na música, temos um exemplo desta polarização política: os veteranos do punk paulistano, os GAROTOS PODRES segue neste caminho.

Em matéria veiculada pelo jornal ‘Folha de São Paulo’ na semana passada, o jornalista Gustavo Fioratti traz à tona essa discussão política em, torno da esquerda versus direita em que colocou o vocalista Mao de uma lado e do outro, o baixista Sukata e o baterista Caverna:

Oficialmente, a banda se separou em 2012 em um hotel em Araraquara, após a banda ter participado de um festival. A noite teria sido regada de bebidas alcoólicas, E cada lado deu a sua versão ao diário:

Mao começou a beber ainda no camarim e virou uma metralhadora giratória. Ele (Mao) me chutou durante o show”, disse o ex-baixista Sukata.

A resposta do vocalista foi a seguinte: “O chute não aconteceu durante o show, mas depois. Eu estava insistindo para que um empresário da banda prestasse contas sobre o faturamento daquela noite e com a recusa, acabei ficando furioso”.

Caverna também declarou que “Quando bebe, Mao vira um cuzão” e que “sua relação com o álcool é muito danosa,”

Sukata conta que a situação no hotel se agravou e que Mao começou a dar cabeçadas na parede enquanto xingava os colegas de banda, até que um hóspede, lutador de jiu-jitsu incomodado com aquela barulheira teria feito a seguinte pergunta ao vocalista: “Você quer que eu bata com sua cabeça na parede?”

Sukata diz ter insistido para que Mao retornasse com o restante da banda para a capital paulistana: “Era um domingo a noite e no dia seguinte iriamos trabalhar, cada um com sua ocupação, mas ele não quis. Ficamos até às três horas da manhã nessa”, conta.

Mao ainda se mostra chateado pelo fato de os ex-colegas o terem deixado “sem dinheiro a trezentos quilômetros de São Paulo”, porém, considera que o episódio de Araraquara foi apenas a gota d’água perto dos conflitos ideológicos que rondavam a banda: Ele afirma que estava desestimulado com o mal-estar gerado pelo fato de os colegas estarem simpáticos aos ideais conservadores da direita e Mao, como se sabe, é militante da esquerda, professor de história com doutorado pela USP, afirma que a censura não se dava apenas na banda e sim na política, uma vez que, segundo suas palavras “há um político líder nas pesquisas e que está preso para que seja impedido de se candidatar”.

Sukata, por sua vez, se candidatou a vereador de São Caetano do Sul pelo PEN, atual Patriota, mesmo partido em que Cabo Daciolo é candidato à presidência da República e tornou-se apoiador dos mais ferrenhos do também candidato Jair Bolsonaro. Religioso, ele se diz contra a legalização do aborto e a teoria de gênero, além de compartilhar nas redes sociais mensagens de apoio à PM.

Uma música escrita por Mao, chamada ‘Repressão Policial (Instrumento do Capital)’ teria sido rechaçada pelos colegas. Sukata deu a seguinte declaração: “Nem sei que música é essa, nunca ouvi falar nessa bosta. Por que não tocaríamos Repressão Policial? Ou repressão do Crime Organizada? Ou da esquerda? Ou da direita? Pode ser que ele tenha se sentido contrariado quando ele nos mostrou uma musiquinha que não iria nem para frente nem para trás”.

Caverna engrossa o coro contra o vocalista: “As músicas dele estavam muito infantilóides. Não vou ficar subindo no palco para dizer que vou arrotar. Sou um garoto podre, mas hoje eu tenho 50 anos de idade.”

A situação não andava boa na banda, fato confirmado por Caverna: “Eu e o Sukata nos tornamos íntimos, frequentávamos a casa um do outro, já o Mao, eu só via quando entrava na van nos dias de apresentação”, dando a entender que a banda não estava se reunindo sequer para ensaiar.

Mao, que fundou o grupo em 1982, tendo um cenário punk engajado com a causa dos trabalhadores. Ele registrou o nome logo após a briga em Araraquara e a briga hoje se encontra na justiça. Sukata e Caverna se apresentaram sob o nome GAROTOS PODRES até 2016 e anunciaram que em 2019 voltarão com o projeto, enquanto que Mao usava nas apresentações o nome O SATÂNICO DR. MAO E OS ESPIÕES SECRETOS, No final de semana retrasado, Mao se apresentou usando o nome original e tem show agendado para o dia 8 de setembro, no bairro “Oxigênio Festival”, na capital paulistana e dia 15 de setembro, em Itu, interior de São Paulo.

Ou seja, há a possibilidade de existirem duas bandas completamente diferentes utilizando o nome GAROTOS PODRES.

Avisa para o Mao que a vaga de vocalista dos GAROTOS PODRES está aberta”, disse Sukata.

Mao, por sua vez, nem cogita voltar a possibilidade: “os que apoiam Bolsonaro, eu não quero nem no meu círculo de amizade. Morro, mas não posso permitir que a banda (GAROTOS PODRES) se associe a um pensamento fascista”.

Enquanto isso nós aguardamos o desenrolar da história. Com direita ou com esquerda, que a música vença este imbróglio.

Encontre sua banda favorita