Gabriel Bonilha, vocalista da “Stoned Bulls” concede entrevista a Roadie Metal, confira

O músico e vocalista da banda Stoned Bulls, Gabriel Bonilha, concedeu entrevista exclusiva para o site Roadie Metal. No bate-papo, o músico fala sobre o primeiro trabalho, o novo álbum que está a caminho e sobre o grave problema que a cidade São João da Boa Vista (SP) vem sofrendo com o decorrer dos anos, sendo considerada estatisticamente como uma das maiores em casos de homicídios no Brasil.

Confira abaixo o bate-papo sincero e direto na fuça.

Roadie Metal: Primeiramente é uma grande honra poder bater um papo com vocês da banda Stoned Bulls. Queria que contasse um pouco sobre o inicio da banda e como surgiu a ideia de criar o grupo?

Gabriel Bonilha: Começamos com essa filosofia que tomou forma e hoje as pessoas nos apoiam e isso é muito gratificante. Estamos colhendo bons frutos, sofremos muito mas vale a pena cada segundo no palco vendo a galera pirar em nossos shows! Assim somos “BOM POR BOSTA”!

Stoned Bulls para nós foi um sopro de maturidade em 2014, tivemos outras bandas em nossas vidas, mas chegou um momento em que precisávamos fazer algo novo sem ter vergonha de nos expor, principalmente nossa filosofia que é clara: A volta da música sincera sem frescura e que possa levar esperança para as pessoas que curtem as “PEDRADAS”, o som pesado. Queremos trazer experiências nunca vistas, mudar esse pensamento de que o som pesado morreu. Somos quatro caras do interior com o mesmo ideal que se juntaram fazendo o que mais amamos, sem ligar pras m***** que esse mundo joga em nossas costas.

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RM: A banda lançou o álbum “Good For Shit” apenas em formato digital. Conte-nos um pouco sobre o processo de criação desse álbum e o porque de lançarem ele apenas em plataformas de áudio?

GB: O que nos levou ao álbum “Good For Shit” foi aquela necessidade de falar sobre sentimentos mais próximos às pessoas, aquilo que está explicito no dia-a-dia cada um. Vivemos em uma cidade interiorana. Nosso cenário não é de guerra, mas sim de vários conflitos internos e provações que passamos todos os dias. Chegamos à conclusão de que, se cada pessoa se preocupasse com aquilo que está perto dela diariamente e lutasse por mudança, isso sim poderia refletir para o mundo, e não o contrario, que é o que muitos pensam. Nossas faixas são dedicadas totalmente a nossa cultura de São João da Boa Vista “Sunset City”. O interessante é descobrir que temos muito em comum com pessoas de todo o mundo. Isso significa que não estamos sozinhos e reflete no sucesso do álbum.

Não foi uma decisão difícil. A questão foi financeira. Na época não tínhamos “grana” para lançamento físico, mas também não queríamos deixar as músicas guardadas até chegar esse momento. Por isso lançamos apenas em mídia digital para ver a reação das pessoas e se teríamos boa receptividade. Mas temos sim planos para lançar em edição física, e nela conterá várias surpresas que não podemos revelar agora!

RM: No álbum “Good For Shit” vocês falam sobre a alto número de suicídios na cidade, incluindo ela no ranking proporcional de maiores atos de suicídio no país. O que fez com que a banda escrevesse sobre o tema?

GB: Pessoalmente, é algo que sempre me incomodou, e de certa forma fez parte de mim por um triste momento na vida. Confesso que poderia não estar aqui hoje dando esta entrevista. É um tema que as pessoas odeiam falar sobre. É algo inexplicável, pessoal, intenso e doloroso. Mas afeta constantemente nossa cidade.

Nossa “roça” é regida pelo status, a grande opressão que as pessoas passam todos os dias oprime sonhos e a autocobrança faz com que o indivíduo se afogue nos próprios pensamentos. É estranho mas o clima é pesado no momento em que se começa uma simples conversa sobre a vida aqui, as pessoas têm medo de admitir elas mesmas, admitir os próprios gostos e apostar nas próprias vontades. Eles vivem pelos outros e se esquecem da própria vida.

Aqui esse tema é tratado com muita frieza e indiferença, como se fosse uma escolha pessoal de cada um, vida ou morte, então as pessoas não tentam entender o porque alguém pode tirar a própria vida, para buscar ajuda, apenas deixam de lado e fingem que aquilo não existe.

Por isso cutucamos essa ferida, queremos que as pessoas reflitam sobre seus atos e façam a vida por elas mesmas.

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RM: Existe hoje algum projeto do governo ou do município para que esse fato diminua?

GB: Esta frieza também é por parte do governo, e isso infelizmente dá a entender que a vida é cada um por si aqui. Para nós os únicos lugares que podemos nos refugiar e sentir o lado mais puro e verdadeiro das pessoas é na música (ou na arte), talvez ainda a única coisa que não está “totalmente” corrompida pelo ser humano.

Por isso muitas de nossas músicas trazem uma força, algo que emerja a vontade de viver e lutar nas pessoas do jeito que elas são e com as vontades que elas têm. Exemplos materializados disso são as músicas “Minotaur”, “First Joke” e “Good For Shit”.

Aproveito cada segundo quando estou com o microfone, um mundo onde as pessoas expressam demais suas opiniões mas não querem ouvir ninguém, certas verdades tem que ser ditas, o choque, o afrontamento ajuda as pessoas a refletirem. O Metal é isso: Goela abaixo e muita “PEDRADA”!

RM: E como você busca as inspirações para compor as letras da Stoned Bulls?

GB: Neste primeiro álbum buscamos nossa inspiração totalmente em nossa cidade. Mas o próximo já estamos com outro sentimento, mas não vamos mudar o foco, continuaremos falando do Metal escasso do interior e como é ser um headbanger “metaleiro” por essas “bandas”, mas com um diferencial agora, em português. Vimos a necessidade de passar uma mensagem mais direta agora que conseguimos público. Queremos mostrar nossas ideias de uma forma que nos shows as pessoas já saiam refletindo, ou até comentem umas com as outras enquanto o som rola.

“Nosso primeiro álbum foi para inglês ver, o segundo todos daqui, Brasil, vão entender”. Deixamos claro isso na virada do ano, mostramos nossa cultura do interior para os gringos agora queremos investir nossos ideais nos conterrâneos, que é o que está em falta! Principalmente neste cenário pobre que é a música brasileira.

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RM: Com essa alternância no idioma das letras, você não teme que isso possa ser prejudicial à banda? E será que isso não irá impedir uma visibilidade no exterior?

GB: Essa decisão se baseou em algumas resenhas e comentários sobre o primeiro álbum, nos deram ótimas notas, com média 9, porém foi aquele comentário não fugimos do “arroz com feijão”. E se a gente temer a reação do público, nunca vamos inovar, algo mais solido foi quando tocamos em dois shows da Stoned “Caipira Costa Quente”, uma das faixas do próximo álbum e a reação do público foi imediata entendo a letra, com muito bate cabeça, e aplausos no final. Somos pé no chão, o exterior ainda não está no nosso alcance, por vários motivos, até pessoais e como banda: Queremos nesse álbum abrir olhos dos brasileiros.

Mas enfim o segundo álbum será a pura essência nossa, comparar a alguma coisa será difícil, se o público irá gostar, não sabemos, mas se surpreender com certeza! Estamos todos ansiosos em saber qual será a reação…

RM: E qual será o tema principal nas composições desse novo álbum, e onde se inspirou nessas questões?

GB: Podemos adiantar que será enraizado em nossas origens e colocaremos em pauta várias questões polêmicas do cotidiano, sem perder a formula “Stoned” calcada em mais peso, ritmos extremamente cadenciados que batizamos como “Pedrada”. Vamos levar uma resposta a quem nos apoia e também para aqueles que nos criticam. Esse com certeza está ficando mais agressivo que o primeiro, além de ser em português, queremos deixar a mensagem clara e direta, sem meias palavras.

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RM: O álbum “Good For Shit” teve sua liberação apenas em formato digital, o novo álbum seguirá o mesmo conceito, ou terá formato físico também?

GB: Planejamos fazer as cópias físicas com certeza, contando também com “remasters” de todas as músicas do primeiro álbum como faixas bônus.

RM: Para encerrar, deixe um recado aos leitores da Roadie Metal.

GB: O ano de 2017 sera o ano do Metal, não só pela Stoned Bulls, mas também por varias outras bandas fodas da cena underground BR, então abram seus ouvidos e compartilhem seus fones de ouvido. Metal brazuca esta só começando! Agradecemos a todos que apoiam nosso trabalho. O segundo álbum esta a caminho e prometemos… um novo conceito do que pode ser Metal!

Mais informações sobre a banda:

Facebook: https://www.facebook.com/stonedbulls/?fref=ts

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