Colaboraram: Fábio Miloch (page Epicus Doomicus Metallicus) e Ioca Tapioca, que diretamente da Romênia se disponibilizou a ceder um pouco de seus conhecimentos para esta coluna, a quem dedico meus agradecimentos.
Confira a segunda parte desta coluna aqui.
Prossigamos em nosso cortejo fúnebre. Afinal, esta coluna não seria digna de ser chamada de Funeral Doom Metal se ela não fosse composta de várias partes, tal qual uma suíte daquelas bem longas.
Ainda a procura de nomes relevantes e de destaque na cena Funeral Doom, fui apresentado à banda norueguesa Omit. Fundada no ano de 2009, a banda aposta numa sonoridade atmosférica, na marcha ultralenta do Funeral Doom, mas com os adornos do Metal Gótico, sob responsabilidade dos arranjos melódicos e tristes de guitarra e dos vocais líricos da cantora Cecilie Langlie. Há momentos soturnos e frios como as montanhas daquele país, em contraponto a passagens belas e etéreas, tudo muito bem emendado, de forma que o ouvinte mal percebe que uma só música dura quase meia hora, como é o caso das faixas do segundo full-length do Omit, Medusa Truth, Part 1 (2014), que são somente três, que juntas somam quase 50 minutos.
Abre parênteses: Pode-se considerar a Noruega como polo forte do Doom Metal, não só do Black Metal. Além do Omit, já destacamos a banda Funeral dentre os pioneiros do estilo que seu nome batiza. Sem contar o Theatre Of Tragedy, The 3rd And The Mortal, Trial Of Tears, The Sins Of Thy Beloved, Tristania e Sirenia, isto é, a nata do Gothic Metal, um dos filhos do Doom. Fecha parênteses.
Já que estamos na Noruega, vamos conhecer mais um importante nome do Doom Metal daquele país, a banda Fallen. Surgida como uma espécie de projeto paralelo de membros da banda Funeral em 1996, o Fallen hoje se resume apenas ao baterista Anders Eek. Apesar de ter sobrado sozinho no Fallen, o músico declara que a banda ainda não encerrou suas atividades. Em seu único full-length, A Tragedy’s Bitter End (2004), o Fallen apresenta um Funeral Death/Doom arrastado, grave e sombrio, potencializado por vocais limpos graves à la David Gold e camas de teclado baixas, mas que causam um efeito tão denso quanto uma nevasca na Noruega às onze da noite.

Omit: quando o Funeral anda de mãos dadas com os anjos

Somente o baterista Anders Eek (à esquerda) sobreviveu a queda dos membros do Fallen
Saindo da Noruega, passemos por cima da Suécia e vamos ao berço do Funeral Doom, a Terra Dos Mil Lagos, a Finlândia, conhecer dois dos nomes mais casca-grossa do Funeral Doom: Wormphlegm e Tyranny.
O primeiro foi fundado em 2000 e logo encerrou suas atividades em 2006. Acumulou dois trabalhos em sua discografia, a demo de 2004 In An Excruciating Way Infested With Vermin And Violated By Executioners Who Practise Incendiarism And Desanctifying The Pious (Não, não é título de música do Nile) e o full-length Tomb Of The Ancient King (2006). O Wormphlegm praticava um Funeral Doom que trazia em suas entranhas uma dose do maldoso Black Metal finlandês. Ouvir a única faixa da demo citada (que supera a marca de 32 minutos) é uma experiência altamente excruciante e angustiante. Não existem superlativos aptos para descrever a sensação de tortura que esta composição causa na mente. Basta ouvir os vocais gritados de sofrimento alternados com guturais graves, mais parecendo um carrasco a maltratar um condenado cheio de remorso. Outrossim, há quem diga que os membros do Wormphlegm se mutilavam em estúdio para que os gritos de desespero característicos de seus vocais fossem mais realistas. Eu, heim…!?
Já o Tyranny, formado por alguns dos ex-membros do Wormphlegm, foi fundado em 2001 e continua em atividade até hoje, tendo conseguido sacramentar seu nome como um dos mais lembrados da safra Funeral Doom dos anos 2000. Apesar de não repetir o clima altamente torturante da última banda, o Tyranny consegue criar verdadeiros monólitos sonoros graças as paredes densas de guitarras e timbres orquestrais de teclados, tornando sua audição em uma verdadeira viagem cósmica. Há momentos em que suas músicas lembram o gênero Drone/Doom, devido ao minimalismo e o peso dos arranjos. Seu mais recente lançamento é o álbum Aeons in Tectonic Interment, de 2015.
O Descend Into Despair, da cidade de Cluj-Napoca, na Romênia, é uma das melhores e mais interessantes bandas que ousaram encarar o desafio de tocar Funeral Doom nos últimos anos. Se este escrivão que vos reporta tivesse que apresentar uma banda de Funeral Doom a quem ainda não conhece o estilo, certamente o Descend Into Despair seria a minha primeira sugestão. Depois que eu mostraria Skepticism ou Shape Of Despair, ou mesmo o popular Ahab. Estes romenos de formação ostentosa com três guitarristas e dois tecladistas conseguem, desde 2010, criar um Funeral Doom melódico, repleto de variações de âmbito climático e de vocais, bem alternados entre limpos e guturais cavernosos. Não obstante o ritmo sorumbático do Funeral Doom, o Descend Into Despair cria músicas empolgantes, que se tornam palatáveis para quem está travando um primeiro contato com o gênero. Há pouco mais de um mês, o Descend Into Despair lançou seu segundo full-length, intitulado Synaptic Veil, que traz cinco amostras do que a própria banda chama de Introspective Doom Metal.
Por que destaquei essa característica do Descend Into Despair?
Ora, digamos que você vai apresentar o Heavy Metal a quem ainda não o conhece. Pressuponho que você não irá começar por Vital Remains, Darkthrone ou Napalm Death, apenas na intenção de mostrar o quão extremo o Metal consegue soar. Por isso mesmo que tais nomes são enquadrados no Metal Extremo! Extremo é o que fica na outra ponta, depois que você atravessa vários estágios. Quanto ao Funeral Doom, que é um estilo altamente duro de se digerir, Skepticism já é mórbido demais. Descend Into Despair consegue trafegar tranquilamente de climas soturnos a passagens calmas e limpas.
E olhe lá! Funeral Doom não é para todo mundo! Não fique com raiva de alguém que não vai se agradar do ritmo fortemente arrastado do estilo. Lembra o que eu ponderei na primeira parte da coluna? Brasileiro gosta de colocar os demônios para fora com agressividade e rapidez.
Não assim…

Funeral Doom mosh-pit
Seguindo as mesmas intenções melódicas do Descend Into Despair, porém com um foco no trabalho de guitarras similar ao dos australianos do Mournful Congregation, temos os russos do Comatose Vigil. Aliás, tínhamos, pois esta banda encerrou de vez suas atividades em 2016, após treze anos de serviços prestados ao aspecto mais extremo e arrastado de Doom Metal. Seu último full-length, Fuimos, Non Sumus…, é uma colossal obra de uma hora e quinze minutos de duração. Tempo este dividido em três músicas com média de comprimento de 25 minutos. A menos da megalomania temporal (algo comum no Funeral Doom), este álbum mostra a banda russa em plena forma de composição e execução de tristes e melódicas peças fúnebres, de sonoridade bem produzida.

Comatose Vigil: em prol do trabalho de guitarras
Para encerrar por esta parte, a dica nacional da vez é a banda paulistana Au Sacre Des Nuits, que pratica um Funeral Doom agressivo (é?), com abordagens Black Metal que remetem a nomes como Coldworld, Strid ou Burzum. Formada somente pelo músico de vulgo Necrophelinthron (Abske Fides), o Au Sacre Des Nuits nos faz remeter a banda dinamarquesa Nortt, que terá seu parágrafo na parte IV desta coluna. Seu full-length Anti-humain, de 2009, é sujo e mal produzido, de propósito, assim como o clássico Filosofem, da banda de Vark Vikernes. Tudo na intenção de que as faixas do disco soem grotescas, arrepiantes e agonizantes. Ou seja, um caminho diferenciado para manter os rigorosos padrões que o Funeral Doom exige.