Funarte: edital de 2020 proíbe a participação de bandas de rock?

Saiu nessa quarta-feira, dia 22, o edital da Funarte para o “Prêmio de Apoio a Bandas de Música 2020”, e durante todo o dia, se alardeou que o Rock teria sido o único estilo proibido de participar do mesmo. Mas até onde isso corresponde a realidade, e até onde não passa de clickbait oportunista?

O trecho em específico do edital em que há a restrição está escrito: “4.2.1 Não poderão participar deste Edital “fanfarras” ou “bandas marciais” ligadas ou não a instituições do ensino regular público ou privado, “bandas de pífanos”, “bandas de rock”, “big-bands”, bem como conjuntos musicais assemelhados, conjuntos musicais de instituições religiosas, bandas militares e bandas de instituições de segurança pública.”. Realmente, não dá para negar, está bem claro ali, “bandas de rock”, mas nem sempre as coisas são o que parecem ser em um primeiro momento.

Em primeiro lugar, no Edital anterior, de 2013, já constava essa mesma proibição, exatamente com o mesmo texto. Uma rápida pesquisa no site da Funarte, para acessar o Edital antigo, e isso já se comprova. Em segundo, voltando ao Edital de 2020, que é praticamente uma fotocópia do anterior, temos o seguinte em seu início:

“1.1 Constitui objeto deste edital, premiar conjuntos musicais denominados “Banda de Música”, “Banda Municipal”, “Banda Sinfônica”, “Banda de Concerto”, “Banda Filarmônica”, “Sociedade Musical”, “Orquestra de Sopro”, em âmbito nacional, com a finalidade de reconhecer e propiciar a melhoria da qualidade técnica e artística desses conjuntos musicais, com a distribuição gratuita de instrumentos de sopro com a finalidade de ampliação ou reposição do instrumental.”

Além disso, logo depois nos deparamos com o seguinte trecho:

“4.1. Poderão participar deste Edital as bandas de música constituídas sob a forma de instituição pública ou privada sem fins lucrativos, cadastradas na Receita Federal (CNPJ – Pessoa Jurídica) há pelo menos seis meses, e em efetivo funcionamento por igual período.”

Lendo isso, fica bem claro que o objeto alvo do Edital é muito específico, e isso se comprova quando olhamos o resultado de 2013. Designações como “Filarmônica” , “Banda Sinfônica”, “Sociedade Musical”,”Lira” e “Banda Municipal” foram os premiados. Sabe aquelas bandas que tocam no Coreto das pracinhas das cidades interioranas, ou em eventos de inauguração de Prefeituras, ou em festas de escola, etc? Então, é para elas, e só para elas, que o Prêmio de Apoio a Bandas de Música é voltado.

O Rock foi nominalmente excluído no Edital? Sim, mas nem precisaria ter sido citado, já que o Edital em si deixa claro que uma dupla sertaneja, um grupo pop, um artista de MPB ou de qualquer outro estilo musical tem sua participação vetada, assim como, vale lembrar, ocorreu no de 2013. Então, porque todo esse estardalhaço em cima da premiação desse ano? Aí entra o “x” da questão.

Para quem não se recorda, o Presidente da Funarte é o Maestro Dante Manotvani, que assumiu a pasta em dezembro de 2019. O mesmo, em seu canal de YouTube, atacou o Rock com declarações bizarras como “rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo” e “A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo.”, dentre outras pérolas, onde consegue unir Beatles, Elvis Presley, o festival de Woodstock, comunistas infiltrados na CIA e um complô da antiga União Soviética para destruir o modo de vida ocidental.

Se não tivéssemos em um posto tão importante, um nome de pensamento tão pequeno e retrógrado, toda essa polêmica não estaria ocorrendo.

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