Primavera e verão na Europa é sinônimo de muito mais do que dias ensolarados, são os dias perfeitos para aquilo que os headbangers mais apreciam, festivais, são portas abertas para todos os tipos de bandas em performances espectaculares.
Este foi realmente o cenário encontrado por aqui em diversos pontos durante estes últimos meses, e agora chegou a hora de passarmos por detalhes sobre alguns dos principais festivais da Europa, do Inferno Metal Festival norueguês até o aclamado Wacken Open Air alemão que comemorou este ano sua trigésima edição.
Partindo da minha primeira parada, o papo agora é sobre um dos mais pesados festivais da Noruega, estamos falando dos extremos do Death e Black Metal em Oslo, a casa do Inferno Metal Festival que este ano aconteceu durante os dias 18 a 21 de abril e sem dúvida foi um dos festivais mais abrangentes em que eu já estive, não apenas por integrar vários pontos de shows interligados através da cidade mas também por proporcionar interessantes palestras e interações alternativas ao público e imprensa, o que é um grande “trunfo” na minha opinião considerando que o evento movimenta muito mais do que apenas músicos e público mas também gera conectividade atraindo representantes de todas as áreas da indústria da música mundial.
Encabeçados nesta edição por Dimmu Borgir, Taake, Opeth, Hypocrisy e 1349 o festival se espalhou por toda a cidade sediados pelas casas ‘John Dee‘ e ‘Rockefeller‘ que funcionam no mesmo prédio mas que igualmente dividiram o foco com o ‘Inferno Music Conference‘, uma arena disposta para uma ampla conferência com seminários, debates e apresentações exclusivas em uma colaboração entre o Music Norway, o Møst (Uma organização que visa fortalecer, desenvolver e compartilhar conhecimentos no campo da música) e o The Ministry of Foreign Affairs(Ministério dos negócios estrangeiros).
Uma coisa é fato, o festival movimentou toda a cidade, pelo menos 50% do público era de estrangeiros e não foi uma surpresa encontrar hotéis lotados e muita gente circulando pelas ruas, mesmo ainda estando as vésperas da Páscoa com dias um pouco mais frios para os não adaptados mas todo o público pode aproveitar todos os momentos em ambientes fechados então não me lembro de ouvir nenhuma reclamação sobre isso.
O primeiro dia contou com a banda americana The Black Dahlia Murder, e apesar de terem executado uma apresentação incrível que mesclou os clássicos as faixas do novo álbum eu e muitos ficamos um pouco decepcionados por eles serem colocados como banda de abertura mas que por outro lado encantou o público com uma performance surpreendente que aqueceu suficientemente a todos para o Au Dessus e seguidos por Aura Noir e seu Thrash metal negro e explosivo. Uma pena que devido a problemas de saúde o vocalista tenha necessitado permanecer todo o show sentado em uma cadeira, uma cena que dificilmente esqueceremos, mas que representou o alto profissionalismo destes músicos em cumprir a agenda.
O primeiro dia ainda contaria com um pouco de Psycho Rock com a banda Witchcraft, o projeto de Doom/Black metal atmosférico Urfaust e a lenda Dimmu Borgir que não me impressionou muito desta vez com um início de apresentação um pouco desanimado mas ainda assim com um show repleto de efeitos e várias das melhores músicas da banda, como “Progenies of the Great Apocalypse“.
No segundo dia uma arrasadora performance de puro Black metal foi entregue pela banda Ragnarok seguidos por Caronte e Tribulation, e embora algumas dissonâncias de som devam ser mencionadas ainda assim foram ótimas apresentações.
Este é sem dúvida um festival que necessita de um pouco mais de dedicação do público se o interesse for estar presente no máximo possível das atrações, então eu admito que um certo cansaço já aparecia no meu radar quando passei ao John Dee para ver Skogen e também não posso dizer que esta foi uma das melhores apresentações deles mas rendeu um pouco mais de energia para MGŁA, The Ruins of Beverast e finalmente os suecos do Hypocrisy em uma dos melhores shows do dia.
Outro ponto muito positivo do festival é a responsabilidade de horários que é cumprida sem falhas e eu realmente fiquei impressionada com o profissionalismo de todas as equipes envolvidas, toda a sinalização e informações tanto nos locais de apresentação como nos hotéis, então tudo possibilitava um fácil acesso, a única dificuldade era manter a energia que já começava a reduzir drasticamente para o terceiro dia.
Eu tenho certeza que você deve estar pensando “Mas você é muito jovem pra já estar cansada“, bem, aqui eu vou mencionar outro ponto excelente e a principal diferença que eu notei em relação aos festivais do Brasil, os horários antes e pós shows são acrescidos com muitas opções de lazer em toda a cidade e a facilidade de encontrar muitos dos músicos e bandas circulando por todos os lugares é grande, então acredite, se você realmente quiser se fartar de restaurantes, bares e muitos pontos de reuniões então você terá isso mas será preciso muita energia, não apenas por shows e diversão mas também para adquirir novos contatos, conhecer muita gente e aprender muito mais sobre música do que você imagina.
É preciso reconhecer que mesmo com muitos shows na sua lista se você é um admirador dos gêneros mais pesados do metal a Noruega já é por referência um berço de bandas mas que o Inferno Metal Festival vai ampliar radicalmente. Entre todos os festivais na Europa atualmente este é o que mais trabalha a parte profissional de forma geral e com muita competência levando a experiência musical a um patamar muito elevado de empreendedorismo, sendo assim é preciso muita disposição.
Seguimos pelo terceiro dia com uma invasão atmosférica cintilante pelos alemães do Der Weg Einer Freiheit, e consideravelmente um dos melhores vocais em todo o festival. Não posso dizer o mesmo do Acârash que mantém um linha Doom que eu não considero tão agradável para show, a sonoridade ao vivo me parece muito artificial, diferente de Impaled Nazarene que explodiu todo o recinto em uma das apresentações mais brutas e ferozes até aquele momento.
Encontramos Avast com seu post metal com ótimas definições mas eu não sai convencida sobre a performance ao vivo e acho que posso culpar um pouco o ambiente pequeno e a dissipação inadequada do som. Talvez este seja um ponto a ser considerado no próximo ano.
Daqui pra frente as coisas se tornam mais negras com a aguardada apresentação da lenda Gaahl’s Wyrd que embora ainda naquele momento não tivesse lançado um álbum com seus novos músicos mas ainda desbancou o público com um encarte do Gorgoroth e covers de outras bandas. Eu nem preciso mencionar que neste ponto o espaço estava realmente lotado então músicas como “Incipit Satan” foram ferozmente apreciadas.
Mork foi outra fascinante apresentação deste dia e posso dizer que uma das que mais cativou o público que se manteve atônito com a sequência de Taake e Cor Scorpii.
Na sequência recebemos outra aguardada banda, Bloodbath, e embora muitos tenham esperado por esta super banda sueca ansiosamente eu estava decepcionada, encarar um longo set list naquele momento foi bastante exaustivo e encontrar um cantor com uma considerável experiência, Nick Holmes(Paradise Lost), lendo as letras através de um Ipad no chão foi o tipo surpresa negativa que eu não esperava. Mas por sorte o clássico Eaten começou a ser executada e um fã foi convidado para acompanhar no vocal, o nome do fã era Sindre, mas não apenas um simples fã, se tratava de Sindre Wathne Johnsen, o potente vocalista da banda Deception, e eu acho que por essa ninguém imaginava porque gloriosamente este cara salvou a música e eu sou obrigada a dizer “preferiria que ele pudesse ter permanecido no palco“.
Eu comentei sobre cansaço e chegando ao quarto dia esta é uma condição que se aplicava a todos, um pouco pelo longo roteiro e locomoção entre lugares e escadas, outro por toda a carga de informações, mas contrariando tudo nos adentramos o quarto dia de festival com a épica performance da banda Cult of Fire, e eu posso afirmar que eles transformarão todo o ambiente em um culto memorável, então acho que nem preciso dizer que estávamos atordoados quando o ganhador da competição do festival assumiu o palco. Vingulmork é uma banda norueguesa com uma linha enegrecida de Thrash metal mas eu estava mais interessada no que viria a ser as novidades do novo EP dos caras, Avgrunn.
Os finlandeses do Archgoat foram os próximos mas apesar de um show excelente eu não senti que pude aproveitar apropriadamente, talvez o cansaço tenha sido o culpado ou a quantidade de performances tão enérgicas, mas eu ainda pude descansar enquanto Altar assumia o comando. Com certeza eles mantém raízes fincadas no puro Black Metal mas não posso dizer que me impressionou, uma apresentação bastante fraca na minha opinião, e cantar parabéns a mãe falecida de um dos guitarras não foi exatamente muito agradável.
Nos ainda teríamos a irritante sonoridade do Carach Angren e todo o sangue falso e absurdos antes que DVNE pudesse energizar novamente o público.
Todos retornamos ao palco principal para os noruegueses do 1349 em uma literal performance de explosões e fogo que impressionou. A banda também manteve um set list seguro além de manterem uma sonoridade excelente considerando o ambiente.
Finalmente chegamos ao encerramento com o tão esperado Opeth e embora eles tenham trago muito das músicas dos anos anteriores a sonoridade fria em combinação com excelentes músicos não poderia ter sido melhor para fechar este enigmático festival.
O que eu posso concluir é que o Inferno Metal Festival continua sendo o expoente dos gêneros extremos na Noruega, o que mantém a fama musical do país em foco, mas além disso o festival também é uma grande organização musical impulsionando todo o setor e facilitando a conexão entre todos os tipos de representantes, de gravadoras a promotores, de público a músicos, em uma experiência compensadora, então esta é a maior diferença do Inferno Metal Festival para todos os outros festivais europeus e no que depender deles os setores extremos continuaram crescendo cada vez mais fortes do que nunca.
Bandas
Taake/1349/Vomitory/Gaahls Wyrd/Carach Angren/Tribulation/Misþyrming/Archgoat/The Ruins of Beverast/Der Weg einer Freiheit/The Black Dahlia Murder/Avast/Acârash/Impaled Nazarene/Mgła/Dimmu Borgir/Ragnarok/Svarttjern/Aura Noir/Witchcraft/Bloodbath/Opeth