Desde que foi demitido do Candlemass no ano de 2012, o vocalista Robert Lowe (Solitude Aeturnus, Concept Of God) tem se mantido afastado dos holofotes e das notícias, tendo somente feito uma participação numa Metal Opera chamada Gathered In Darkness em 2015, cujo álbum sequer foi lançado ainda. Até que, em 2017, Lowe foi anunciado como o novo vocalista da banda Tyrant, um dos nomes mais importantes do Metal norte-americano oitentista. Nesta entrevista, concedida exclusivamente à ROADIE METAL, Robert Lowe, reconhecidamente uma das maiores vozes do estilo, fala sobre esta nova fase de sua carreira e revela vários detalhes e curiosidades de sua história em prol do Doom Metal que vem construindo desde os anos 80. Com vocês, A Voz do Doom!

Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer por poder conversar com você, em nome da Roadie Metal. Você foi anunciado recentemente como o novo vocalista da veterana banda Tyrant. Como se deu o contato da banda com você para que isso se tornasse possível?

Robert Lowe: Foi mais ou menos no começo de 2017. Greg (May, baixista do Tyrant) entrou em contato comigo dizendo que estava preparando um novo álbum do Tyrant. E ele perguntou se eu não estaria interessado em gravar os vocais deste álbum. Ele conhecia meus trabalhos anteriores, chegou para mim e perguntou se eu não toparia. Eu disse: “claro”! Tyrant é uma grande banda que está retornando, então por que não eu aceitar?

O Tyrant é uma banda de Heavy Metal tradicional, apesar de, em algumas músicas, haver algumas partes bem Doom. Como foi a reação de seus fãs ao saberem de seu ingresso, um vocalista de Doom Metal, no Tyrant, uma banda de Metal tradicional?

Robert: É, não houveram muitas reações além de “Nossa, que legal!”, ou “Tyrant soará ainda mais pesado” (risos)! Mas, até onde eu vi, as reações foram bem positivas!

O Tyrant se pronunciou dizendo que você entrou para iniciar uma nova era para a banda e que você não está lá para cantar as músicas antigas. O Tyrant está disposto a deixar de lado quase 40 anos de história para se dedicar exclusivamente a esta nova era com sua chegada?

Robert: Sim, de algum modo está começando uma nova era para o Tyrant. Neste novo álbum que estamos trabalhando, a sonoridade está mais ou menos em uma vibe Doom, bem pesado. Não deixa de ser um típico álbum do Tyrant, com a sonoridade clássica que os fãs da banda esperam. Mas será, como você disse, uma fusão entre Doom e Metal tradicional. De fato, está surgindo uma nova criatura.

Como estão as atividades da banda neste momento? Existe alguma previsão de quando o novo álbum será gravado ou lançado?

Robert: Não, eu não tenho ainda uma ideia de quando o álbum será lançado. Isto está sendo resolvido entre Greg e a gravadora. Estamos ainda trabalhando no novo material, estarei em breve na Califórnia trabalhando no álbum. Mas uma data precisa eu ainda não tenho.

Você participou de um projeto de Metal Progressivo chamado Gathered In Darkness, juntamente com o baixista Michael “Dr. Froth” Millsap. Como foi participar de uma Metal Opera pela primeira vez juntamente com vários outros cantores?

Robert: Foi ótimo! Gathered In Darkness foi um projeto bastante divertido comigo e Michael. Nós morávamos em Houston, no Texas, e conversávamos um com o outro, “deveríamos trabalhar em algum material em estúdio”… Foi um projeto empolgante e divertido. E também foi um choque de estilos, o Doom encontrava o Metal Progressivo. Eu mesmo compus algumas músicas para este projeto, que inclusive tinham um direcionamento mais Doom, o que era esperado (risos)! Mas eu ainda estou aguardando o lançamento deste álbum. O que foi disponibilizado foi um single que saiu em uma coletânea no meio do ano passado.

Você também fez algumas participações ao vivo como baixista na banda Muthalode. Como você é reconhecido pela sua voz, poucas pessoas sabem de seu lado instrumentista. Lado este que você trabalhou em suas primeiras bandas, The Holy e Graven Image. Como era a sonoridade destas bandas antes de você ingressar no Solitude Aeturnus?

Robert: Uau, The Holy! Esta foi uma de minhas primeiras bandas, quando eu tinha 14 ou 15 anos de idade. Na época eu tinha uma guitarra e eu sonhava em ser um Rockstar. Pouco tempo depois eu cheguei a tocar em uma banda de Punk Rock, no qual me apresentei em algumas casas de show. Mas chegou um momento em que pensei: “não quero mais saber dessa história de Punk Rock. Eu sou do Heavy Metal!” Na época eu estava ouvindo muito Mercyful Fate, Manowar… Então, The Holy se tornou Graven Image, onde eu tocava guitarra, escrevia música e fazia alguns vocais. Um amigo meu, Lyle (Steadham), tocava bateria em uma banda chamada Solitude. Ele veio até mim e perguntou se eu não queria ser o novo vocalista do Solitude, logo após a saída de Gabehart (Kris Gabehart foi o primeiro vocalista do Solitude). Lyle perguntou: “Você toca guitarra. Também sabe cantar?” Ao que eu respondi (Lowe finge um tom de voz receoso) “É… Eu faço isso também…” E foi assim! Poucas pessoas sabem, mas eu também sou guitarrista, baixista e baterista, eu só não falo muito sobre isso (risos)!

Solitude Aeturnus

Os Estados Unidos sempre foram um forte representante do Doom Metal, dados nomes como Pentagram, Saint Vitus, Trouble e The Obsessed. Mas o Solitude Aeturnus foi a primeira banda norte-americana de Doom Metal a se tornar conhecida tocando Epic Doom Metal, no estilo do Candlemass. Naquela época, vocês tinham a real noção de que vocês estavam começando um novo estilo de Heavy Metal nos Estados Unidos?

Robert: Falando por mim, eu não enxergava que estávamos fazendo algo novo ou diferente. Desde a época do Graven Image o que eu sempre busquei foi compor e tocar aquilo que eu queria. Obviamente na época eu conhecia o Candlemass, Black Sabbath, bandas de som mais pesado e obscuro. Então eu, Lyle e John Perez (guitarrista do Solitude Aeturnus) juntamos estas influências com nossas formações musicais, que eram os mais diferentes estilos. Ao juntarmos nossas influências, no final nós tínhamos aquele som fantástico! Não, eu não diria fantástico… (risos)! Mas o fato era que nós cinco queríamos tocar aquilo que nós queríamos. Se uma pessoa ouvia e gostava, ok! Se não gostava, ok também! Nossas raízes eram o Punk Rock, e nós introduzimos o Doom Metal nelas.

Os primeiros álbuns do Solitude Aeturnus, “Into The Dephts Of Sorrow” e “Beyond The Crimson Horizon” são clássicos da história do Doom. Vocês exibiam um Epic Doom Metal com muita personalidade, incluindo passagens Thrash e forte uso de escalas orientais, típicas de Oriente Médio, o que se tornou marca registrada tanto da banda como de sua voz. Quais influências vocês tinham na época para forjar a sonoridade característica do Solitude Aeturnus?

Robert: Durante a minha infância, minha mãe era dançarina-do-ventre. Então eu cresci ouvindo música de todas partes do mundo! Música da América do Sul, música do Oriente Médio… E John Perez também tinha o mesmo passado musical. Então todas estas experiências musicais que tínhamos do passado vieram a tona no Solitude.

Depois deste período, a sonoridade do Solitude Aeturnus começou a passar por algumas mudanças, com menos foco na agressividade e mais preocupação com partes mais acessíveis. Além disso, você abandonou sua abordagem vocal predominantemente aguda e começou a cantar em regiões mais graves. O que a banda queria mostrar ou provar com estas mudanças?

Robert: Novamente vem aquela ideia; não nos sentávamos e ficávamos pensando “vamos fazer um som mais acessível”, ou “agora vamos tocar algo mais complicado”. Falando de um modo simples, as coisas aconteciam de uma forma orgânica. Obviamente que nós nos sentávamos e debatíamos sobre as músicas. Nós enquanto banda, todos os cinco tinham algo a dizer sobre as composições, o que era algo ótimo! Sobre meus vocais, eu ainda poderia cantar em tons agudos, mas, para as músicas que estávamos criando, eu não queria mais passar muito coisas agressivas, mas sim algo mais introspectivo, emocional, e também queria que isso andasse de mãos dadas com nosso som pesado junto com algo mais melódico, assim como era o Heavy Metal nos anos 80. Eu penso que meu estilo de cantar a partir do nosso terceiro álbum foi uma forma sair daquela coisa que eu fazia antes, que era cantar com a voz na estratosfera o tempo todo.

Nos anos 2000, você e outros integrantes do Solitude Aeturnus, com exceção de John Perez, fundaram o Concept Of God. Vocês queriam mostrar sua musicalidade e seus lados compositores sem a influência de Perez, que sempre foi o principal compositor do Solitude Aeturnus?

Robert: Bem, naquela época o Solitude Aeturnus, por algum motivo, estava separado, não sei porque, mas aconteceu (risos)! Nós tínhamos vários planos de compor novos álbuns e eu queria continuar a cantar, a me apresentar em clubes… Então Moseley (Steve, guitarrista do Solitude Aeturnus, na época, baixista) pensava da mesma forma. Ele pensava: “Se John não pode fazer nada agora conosco, vamos nós mesmos criar algo junto”. John Covington (ex-baterista do Solitude Aeturnus) também queria continuar a fazer música, e eu convidei James Martin para o contrabaixo. Eu já tinha algumas letras prontas e as aproveitei no Concept Of God. Mas este projeto não foi criado com a intenção de ser uma banda fixa, onde poderíamos estar tocando até hoje. Tudo que nós queríamos era tocar e compor a música que queríamos, só isso.

O último álbum do Solitude Aeturnus, “Alone”, foi lançado em 2006, 11 anos atrás. A banda desde então saiu dos holofotes e nunca mais lançou material. Qual é o status atual do Solitude Aeturnus? A banda acabou ou existem planos para um retorno? Algo que é bastante aguardado, diga-se de passagem.

Robert: Não, não! Solitude Aeturnus nunca acabou oficialmente. Eu estou morando aqui em Phoenix, Arizona. Todo mundo agora mora em um lugar diferente, e John Perez trabalha como tour-manager, ele está sempre viajando com bandas em turnê. Mas nunca ninguém chegou e disse “está acabado”! E eu continuo mantendo contato com os demais membros. Mas eu adoraria participar de uma reunião da banda… Eu não gosto de falar “reunião” porque dá a entender que a banda acabou, o que não é verdade…  Adoraria compor novo material com o Solitude Aeturnus, voltar a tocar ao vivo com eles. Mas, vindo de mim, eu posso dizer que o Solitude Aeturnus não acabou. Estamos em uma espécie de “limbo” (risos)!

https://www.youtube.com/watch?v=ifyTi8w06io

Eu gostaria de abordar também sua passagem pelo Candlemass. Todos sabemos que as composições do Candlemass são totalmente criadas por Leif Edling. Porém, sabendo de seu talento vocal e seu histórico como instrumentista, você tinha alguma liberdade para ajudar Leif nas composições, mesmo que somente em algumas partes?

Robert: Não, se bem que na época ele até foi legal em me dizer que eu não deveria me preocupar em compor material. Ou seja, eu basicamente iria e gravaria meus vocais. Nas minhas outras bandas, no Solitude Aeturnus, no Concept Of God, eu estava sempre envolvido no processo de composição de arranjos, de letras, então no Candlemass eu posso dizer que tive um descanso quanto a isso. Por outro lado, nós sempre nos reuníamos por um bom tempo debatendo sobre o material, onde poderíamos rearranjar alguma coisa, ou então ele me pedia alguma opinião sobre como expressar alguma ideia em inglês (Leif é sueco), mas somente estes pormenores. Tomávamos algumas cervejas discutindo material, mas, essencialmente, posso dizer que 98% do material já estava pronto quando eu chegava em Estocolmo para trabalhar nele.

Como você enxerga a atual situação do Candlemass? E você já ouviu a nova banda de Leif Edling, The Doomsday Kingdom?

Robert: Não, ainda não ouvi The Doomsday Kingdom. Mas, sobre o Candlemass, eu ainda mantenho contato com os integrantes, ainda tenho contatos em Estocolmo, mas sobre os materiais mais recentes deles, não tenho muito o que dizer, eu não tenho uma opinião, até porque eu não ouvi tanto.

Candlemass

A atual safra de bandas de Epic Doom Metal é bastante inspirada pelo Solitude Aeturnus, até mais do que pelo Candlemass. Além disso, os cantores destas bandas têm você como a maior referência vocal, tentando emular seu timbre e melodias. Como você se sente sendo o expoente de toda uma cena de bandas e de cantores de Heavy Metal atualmente?

Robert: É, honestamente, há um tempo atrás eu vivi em uma espécie de buraco. Confesso que nos últimos anos eu não tenho pesquisado tanto novas bandas para ouvir, então eu também não tenho uma opinião formada sobre isso.

Eu li em uma entrevista sua um tempo atrás que você é um grande fã de Nevermore. Sabemos que Warrel Dane faleceu no fim do ano passado aqui no Brasil, em São Paulo. Como você se sentiu quando soube da morte de Dane?

Robert: Sim, sou definitivamente um grande fã do Nevermore. Eu fiquei muito triste quando eu soube da morte de Warrel Dane: “mas que filha da puta!” Mas essas coisas acontecem e você não espera por isso, você pensa que ele vai estar ali para sempre! Ele era um grande amigo, um grande músico. Nós inclusive conversamos um tempo atrás sobre fazermos um projeto juntos…

Você e Warrel Dane?

Robert: Sim, conversamos sobre isso algumas vezes. Eu até estava planejando ir a Seattle (cidade onde vivia Warrel Dane), mas… Ele se foi. Conversamos sobre isso por volta de 2012 ou 2013. Mas nunca aconteceu de fato.

Você conseguiu me deixar completamente devastado agora (risos)!

Robert: Sim, me desculpe, irmão (risos)! Mas infelizmente foi assim.

Esta entrevista é para um site brasileiro. O que você conhece do Heavy Metal do Brasil, em especial do Doom Metal?

Robert: É, mais uma vez terei que voltar a uma de minhas respostas anteriores. Um tempo atrás eu vivi numa espécie de buraco, então eu não conheço muito sobre o Heavy Metal do Brasil.

Robert Lowe, mais uma vez, eu agradeço pela sua disponibilidade em responder minhas questões. Para mim foi uma honra imensa poder conversar com você, a quem eu sempre me refiro como “A Voz do Doom” em minhas matérias. Por favor, deixe um recado final para os seus fãs que estão lendo esta entrevista.

Robert: É, sobre “A Voz do Doom” eu acho que isso é verdade (risos)! Estou brincando, eu agradeço seu reconhecimento! Aguardem pelo novo material do Tyrant. Posso garantir a vocês que está bastante pesado! Agradeço a você pela entrevista, foi realmente muito proveitoso. A todos que estão lendo, mantenham-se “dark”, mantenham-se Doom!

Encontre sua banda favorita