Philip Hansen Anselmo está com chegada marcada para o Brasil. O cantor vem pela primeira vez ao país com sua banda solo, The Illegals. São Paulo recebe o primeiro show, no dia 26 de janeiro, seguido por Brasília dia 27 e Porto Alegre dia 29. Em entrevista para a Roadie Metal, ele falou sobre a banda, a vinda ao Brasil, como surgiu a ideia de um show dedicado ao Pantera, o que inspira a criação de músicas e possíveis planos futuros.

Este é o seu segundo álbum com o The Illegals. Dessa vez, o processo de criação foi em grupo. Como foi isso? Como foi o processo de criação deste álbum?

Phil Anselmo: Eu acho que foi fantástico. Eu acho que foi ótimo. Os caras que estão na banda são uns queridos, eles são pessoas maravilhosas, eles são ótimos, eles trazem uma ótima energia para o ambiente e trabalhar com eles realmente me inspira. Até hoje eu sou sinto que ainda sou um fã de música, e eu realmente sou um fã de música e é isso que eu sou, e esses caras por perto me inspiram todos os dias.

Você acredita que no metal é mais fácil ou mais aberto falar sobre assuntos que as pessoas não falam muito? Como a doença mental, por exemplo.

Phil: Eu não acho que o heavy metal já citou ou discutiu a doença mental necessariamente. Eu acho que muitos de nós sofremos de doença mental. (Risos) Para mim, o que eu faço com o sofrimento é pegar toda a negatividade e transformar em algo positivo. Esta tem sido minha luta em toda minha carreira, foi tudo o que eu fiz. É uma batalha, mas ei, eu não estou na cadeia, sabe. Pelo menos eu descarrego minhas frustrações através da música e eu me sinto muito afortunado, muito muito afortunado. E não é todo mundo que pode fazer isso. Então as pessoas precisam encontrar algo, as pessoas que sofrem de depressão, ansiedade e todas aquelas coisas que pega cada um de nós, quando se sentem assim, eles se sentem sozinhos e isso não é verdade. Existem tantas outras pessoas que se sentem da mesma forma. Nós precisamos falar abertamente e conversar uns com os outros. E sermos gentis.

E você acha que fazendo isso através da arte, da música no caso, seria a coisa certa, juntaria as pessoas?

Phil: Não existe certo ou errado na terapia. Eu não vou ser arbitro da moral de nada. Tudo que eu sei é como criar música. Eu escrevo música e isso é muito terapêutico, por assim dizer. Novamente eu me sinto muito sortudo de ter a música, sabe, eu fui muito sortudo em descobrir o talento quando eu era novo e quando eu digo isso é porque eu sei, novamente, que não é todo mundo que tem a música para se voltar, nem todo mundo descobriu o seu talento específico e as vezes você precisa trabalhar para encontrar o mínimo. Muitas pessoas fazem isso e até eu mesmo, eu tenho a música, mas a música não supre todas as faltas, você precisa ter outros interesses e se esforçar em modos diferentes. Então, é um assunto complexo, mas eu acho que somos todos seres humanos, e acho que queremos com isso ter um pouco de paz de espírito, e paz na mente e, ei, falar sobre as reais coisas que nos incomodam é um grande começo. E não é uma resposta para a pergunta, mas sobre a arte, honestamente eu não consigo controlar como isso sai. Eu já estive em tantas bandas diferentes, em tantas expressões diferentes de um só gênero do heavy metal. Eu tive em bandas de thrash bands, black metal, death metal, todas ligadas ao heavy metal, então, eu devo tudo ao heavy metal no fim do dia, sem o heavy metal eu estaria morto, estaria na cadeia, em algum lugar ruim ou morto.

Você está vindo para o Brasil semana que vem. O que os brasileiros podem esperar desse show?

Phil: Boa música, pés no chão, sem arrepios, sem conversa fiada, eu e minha banda, os amplificadores, a bateria, o palco, o público, direto e boom, vamos lá.

O modo de consumir música mudou ao longo dos anos por causa da tecnologia. Você acha que a tecnologia mudou o jeito de fazer música?

Phil: Claro que sim.

De que jeito?

Phil: Bem, quando eu comecei a gravar discos era analógico, então não tinha nenhum tipo de corte, então você tinha que cantar cada linha perfeitamente. E eu ainda gravo discos assim, bem old school. Mas hoje você pode cantar um verso, e depois pegar os arquivos, vocais e depois outro verso e outro verso e vai muito além disso. Antes se você quisesse um solo de guitarra você ligava direto do seu amplificador e aí então para gravar o som, para um só amplificador. Gravar uma fita poderia ser uma tarefa difícil. Então hoje acho que você aperta uns botões e tem o som da guitarra que você quer. Tem coisas que são mais fáceis hoje, mas ainda acho que tem muitos modernos engenheiros e criadores de música que fazem um excelente trabalho inovador.

Bem, você tem uma carreira bem longa e sua música faz parte da memória e da referência musical de tantas pessoas. Incomoda o fato de as pessoas pedirem as músicas antigas no seu show novo? Ou tudo bem criar uma set list que consiga abranger esse público?

Phil: Ah, cara, eu sou fácil como uma manhã de domingo. (Risos) Se as pessoas querem ouvir música não me incomoda nem um pouco, não me incomoda mesmo. Eu estive em tantas bandas. O que eu vou fazer, reclamar? Eu não vou reclamar.

Mas quando você está montando o set list de um show, você procura colocar todas as suas músicas?

Phil: Eu não posso fazer isso. Down ainda é uma banda então, claro que eu tocaria qualquer uma e o mesmo com Superjoint e o mesmo com outras bandas. Mas eu acho que o que você está perdendo aqui, mas não por muito tempo, eu vou te dizer como tudo aconteceu. Quando eu estava para sair em turnê com o The Illegals ano passado, foi quando eu descobri que Vince se foi. E foi um grande impacto, foi inesperado, no mínimo, e muito triste e trágico. Então muitas pessoas me pediram para fazer um tributo com as músicas do Pantera. E pela primeira vez na minha vida, por qualquer razão, isso me pegou, isso é importante tocar e celebrar a vida dos irmãos Abbott. E então eu conversei com o Rex e ele concordou que o que estávamos fazendo com o The Illegals era genuíno e bonito. Ele veio ver um show uma noite e foi legal e ele deu nossa benção e talvez tenha me sentido ainda melhor com isso. Mas a verdade é que os caras do The Illegals vem de bases de death metal ou bases musicais muito únicas, mas não o Pantera. Então eu nunca, em um milhão de anos, eu pensei que teria que pedir: ei, aprendam. Pedir algumas músicas seria uma coisa, mas todo um set de coisas do Pantera é muito a se pedir. Mas como eles são incríveis, eles me ouviram e entenderam a importância disso e deram uma chance. Aos poucos começou a sair e soar muito bom. Claro, nunca vai ser perfeito, só tem um Dimebag e só tem um Vinnie Paul e só um Rex. Mas então tem eu. Eu sou o cara que assina aquelas músicas, eu escrevi aquelas músicas com os caras. Essas são as minhas músicas, as suas músicas, as músicas de todo mundo que cresceu com Pantera. Eu estou fazendo isso em tributo, e os dou muito crédito por terem aprendido as músicas e aprendido tão bem e colocado tanto esforço nisso. E eu tenho que dizer que os shows tem sido fenomenais. Tem pessoas da minha idade, pirando e curtindo com as coisas que eles cresceram, é uma viagem. Mas a melhor parte é o público mais jovem, crianças que nunca em um milhão de anos pensaram que eles iriam imaginar ouvir essas músicas ao vivo, de ter uma chance de ver ao vivo. O entusiasmo é incrível, a energia disso tudo é inspiradora e bonita e do jeito que as coisas acontecem na vida você não pode controlar. Cabe a nós fazer o que fazermos com as cartas, de lidar com isso. E para mim, tocar essas músicas em tributo aos irmãos Abbott e todos os fãs do Pantera que não tiveram uma chance de sair e ver os shows é uma benção, parece maior do que só eu, então é lindo.

Quais são seus planos para o próximo ano?

Phil: Você diz 2019?

2019 e 2020.

Phil: Bem, eu estou indo para a América do Sul na semana que vem, espero que o meu time de futebol (americano) ganhe o Super Bowl, para que eu possa comemorar no Brasil.

Qual é o seu time?

Phil: O New Orleans Football Saints.

Vamos torcer então, para que você possa comemorar.

Phil:Vamos descobrir no dia. Mas você sabe o que é engraçado sobre isso? É que nos anos 90, quando o Sepultura estava em turnê com a gente, Pantera, Sepultura e Biohazard, eu acho que o Brasil ganhou a Copa do Mundo aquele dia, eles ficaram loucos. Então eu espero que eu possa ter uma chance de retribuir o favor.

Falando em comemoração. A data do show em São Paulo vai fazer um ano do lançamento do álbum. Teremos algum tipo de comemoração?

Phil: Eu acho que todos os shows vão ser uma comemoração Mas sabe. Voltando a sua outra questão, Eu tenho a América do Sul, e eu tenho Austrália em março e eu tenho a Europa para tocar no verão. Em 2020, cara, tem muita gente me pedindo para lançar um álbum que eu fiz alguns anos atrás, com uma banda chamada En Minor, não é heavy metal, é muito muito dark, música ambiente. Eu não sei o que as pessoas vão pensar, cara, mas ei eu gravei isso e as pessoas podem ter, eu não me importo. É uma questão de programação, como quando podemos soltar porque é uma banda muito louca. Porque eu tenho um cello, um piano, é uma banda muito diferente. Então marcar algo assim é muito estranho e especialmente agendar shows. Eu nem sei. É o tipo de banda que seria, Gosh, não festiva, seria uma banda fúnebre. (Risos) Eu não sei onde vamos tocar. Muita gente quer esse álbum, quer que eu toque ao vivo. Mas o que eu quero mesmo é fazer um álbum com o Illegals. Eu quero fazer algo um ótimo álbum de heavy metal e eu talvez cante novamente. Em vez de fazer diferentes estilos. Claro, é legal fazer mas é o que eu fiz nos últimos álbuns. Eu devo cantar, talvez, eu não sei. Depende do meu humor. Mas eu sinto que deveria fazer um álbum sólido de heavy metal onde eu cante de novo. Então veremos para onde vai.

Você disse um ótimo álbum de heavy metal. O que é um “ótimo álbum de heavy metal” na sua opinião?

Phil: Um álbum com riffs memoráveis, solos, vocais, acordes imensos, e atitude. A porra da atitude que eu levo, eu sou único, pelo amor de Deus.

Você acha que as novas bandas estão em falta com essa atitude que o heavy metal talvez deveria ter?

Phil: Eu não sei, eu não sei de quem você está falando. Para mim, eu prefiro, e isto sou eu, porque eu tenho amigos que tocam em bandas que tem “imagem”, por assim dizer. Eles tem um palco, persona do que eles fazem. Por mim, eu gosto de ser eu mesmo no palco, eu gosto de ser o Phil, cara. Eu não uso nenhuma máscara. Não que seja bom ou ruim, é só minha preferência. Isso é minha atitude, isso é o que qualquer corte de cabelo que eu estiver no momento, ou qualquer camiseta que eu usar e um par de calças. E é isso, cara. Direto ao ponto. É isso que eu prefiro.

Vocês tem um novo baixista para a turnê na América do Sul. Como está esse processo? Vocês estão ensaiando e? (essa repórter que vos fala deu uma enroladinha na língua na hora de falar “in rehearsal” e repetiu a palavra.)

Phil: E ensaiando, e ensaiando, e ensaiando, e ensaiando, é assim que é. Você disse certo. (Risos)

Deve ser difícil ele começar agora e vocês já estarem em turnê. Ou foi tranquilo?

Phil: Não. Derek (Engemann), nosso baixista, eu estou em uma outra banda com ele, chamada Scour. Então Derek toca guitarra no Scour e Scour é o bebê dele, entende? É a banda dele. Nós estamos acostumados um com outro e já fizemos música antes. Então é difícil trazer alguém sem nenhuma experiência cara a cara antes. Mas como eu disse nós já tocamos antes e a intimidade ajuda na coesão da banda.

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