O Sepultura está com show marcado em Curitiba. A banda é uma das principais atrações do Curitiba Motorcycles que acontece dia 09 de fevereiro na Live Curitiba. Em entrevista exclusiva para a Roadie Metal, o baixista Paulo Xisto Pinto Júnior falou sobre o álbum “Machine Messiah” e a questão da tecnologia, os planos futuros e como será o show em Curitiba.

O ‘Machine Messiah’ é considerado pela crítica e pelos fãs como o melhor álbum da ‘Era Derrick’. Na sua opinião o sucesso é resultado da consolidação e/ou amadurecimento da última formação da banda?

Paulo Jr: É, pode se dizer que sim, né. É o conjunto da obra (risos) que acaba tendo esse resultado final. É um pouco a coisa do Eloy já estar mais junto da gente, se conhecer melhor internamente, musicalmente, estar trabalhando junto há quase 8 anos com ele. Isso aí ajudou a amadurecer esses pontos e eu acho que também o que acaba tendo um resultado final bom é ter uma direção, quando você acha um conceito que você acredita, isso te dá uma direção quando você planeja, acho que esse planejamento acaba tendo um resultado super positivo. O Machine Messiah ele foi pensado, escrito para como se fosse um vinil, realmente ele foi pensado nesse formato, foi realmente voltado para esse formato. Então eu acho que esses conceitos, essas ideias todas na hora de você por tudo no conceito geral, ajudar a formatar e engrandecer todo o projeto. Então o resultado na maioria das vezes acaba sendo bom. E você falou das críticas, a gente tem recebido bastante crítica positiva em relação a esse disco, isso é super importante. 

O que motivou a escolha de trabalhar com o produtor Jens Bogren, na Suécia?

Paulo Jr: Quando você vai produzir um disco, a gente tem sempre essa ideia, já pensando em quem poderia participar do projeto. E ele, entre outros produtores estavam sendo cogitados. Logicamente, a gente vê o histórico do cara, com quem ele já trabalhou, a gente conversa para ver se tem essa afinidade. Que na verdade o produtor, quando você entra no estúdio para gravar um disco, o produtor se torna parte da banda. Ele tem que entender todo o projeto, ele é o nosso, digamos assim, ele seria um tipo de um maestro, o cara que vai captar, que vai ajudar, vai enxergar as escolhas que a gente não enxerga. Ele se torna realmente o quinto elemento, no caso do Sepultura. Esse processo é importante. Aí a gente a oportunidade de encontrar com ele antes, conversou sobre o tema do disco, todo o projeto em sim, a gente mandou algumas demos para ele, para ele entender o direcionamento das músicas e em cima disso tudo foi desenvolvendo. Foi um conceito, um projeto que realmente funcionou essa parceria. Acho que tem grandes possibilidades de a gente trabalhar com ele no futuro, depois desse trabalho que o resultado final ficou acima do que a gente esperava. Temos grandes possibilidades de poder trabalhar no futuro com ele.

O tema do ‘Machine Messiah’ é extremamente atual e tem um conceito bem específico: a robotização da sociedade moderna. Como foi a ideia de escolher esse tema específico para trabalhar?

Paulo Jr: É o que a gente tem visto hoje em dia durante as nossas turnês. Nessas andanças pelo mundo, a gente começa a enxergar, captar e é um assunto que realmente está influenciando hoje em dia todos nós. Essa robotização, você vê as pessoas até muito cegas, você pega o metrô, o ônibus e todo mundo olhando o telefone, essa escravização da robótica, isso tudo influenciou. Tem que mostrar todos os lados. A gente não está falando que a tecnologia seja ruim, mas ela tem que ser dosada, e não pode esquecer da parte humana. A tecnologia está aí, é um fato, faz parte do nosso dia a dia, mas a gente não pode esquecer de onde a gente veio, a gente é feito de carne e osso.

É uma conscientização do que está acontecendo.

Paulo Jr: A gente vê isso no dia a dia, em bares ou restaurantes o pessoal fica na mesa com o telefone na mão. A gente vai em show, em vez do cara ficar assistindo e deixar de fotografar para interagir, o cara fica com o telefone na mão e esquece. Ele tá preocupado em postar uma foto na mídia do que curtir o show. Ele está mais interessado em receber curtidas do que o curtir o que ele está fazendo. É um paradoxo muito esquisito isso, mas é uma realidade, é o que está acontecendo hoje.

Falando em tecnologia, cada vez mais usuários optam por ouvir música em aplicativos de streaming. Ou seja, o modo de consumir música mudou muito nos últimos anos. Esse fenômeno tem alguma alteração relevante na produção de um álbum ou na produção de uma música?

Paulo Jr: Eu utilizo a tecnologia de forma produtiva. O Machine Messiah por exemplo, ele foi escrito para um formato de vinil. A gente pensou no formato antigo. Você vê que ele é um disco mais compacto, ele tem menos música que os anteriores. Ele foi realmente pensado, a capa, na arte, foi combinado com essa volta do vinil. Na verdade a explosão de volta do vinil. Eu acho que essa parte digital ficou meio saturada. Então é um ciclo vicioso, de tempos em tempos ele renova. O vinil nunca deixou de existir, principalmente na Europa. Praticamente todos os discos do Sepultura, mesmo quando ele (o vinil) estava em baixa, meio esquecida, mas não tinha acabado. Mas eu gosto de usar a tecnologia. Por exemplo, antigamente você carregava uma mala cheia de fita cassete e cd. Dava um trabalho desgraçado para você escutar música quando você viajava. Hoje em dia você está com seu telefone, e essa é a parte boa da tecnologia. Eu tenho mais de 20 mil músicas no meu telefone, um aparelho que eu posso carregar para qualquer lado do mundo, um simples aparelhozinho. Eu posso escutar todos os estilos de música, eu posso ter uma ferramenta de pesquisa, que fica mais fácil, você tem essa comodidade de conseguir pesquisar mais rápido as coisas. Logicamente, quando eu gosto de uma coisa, aí eu vou atrás do vinil. É como a tecnologia é usada né, é não virar escravo dela. A gente falou desde o Mediator (The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart), não esquecer de onde você veio, que você é feito de carne e osso, e que você tem coração. É bem por aí.

Você comentou que vocês optaram por trabalhar na estrutura do vinil. Você acredita que essa estrutura é um dos fatores que compõem o sucesso do Machine Messiah?

Paulo Jr: Acho que sim. Acho que ajuda, né? Quando a gente começa esse momento de inspiração, de trabalhar um material novo, a gente procura ter um conceito, procura achar um tema, procura pensar nesses detalhes todos porque isso te ajuda a direcionar a música e desenvolver melhor. Quando você tem um tema, uma direção, você sabe mais ou menos onde você vai caminhar. Então te ajuda a desenvolver mais rápido em vez de você ficar fazendo música aleatoriamente e se desgastando. Quando você tem um objetivo e uma direção fica tudo mais fácil. Então você consegue focar sua energia na direção certa. No fim das contas tudo se acaba dividindo mais e o resultado acaba sendo muito mais satisfatório.

No dia 09 de fevereiro, o Sepultura será uma das principais atrações do Curitiba Motorcycles. O que os curitibanos podem esperar desse show?

Paulo Jr: Muito rock. (Risos) Eu acho que a gente vai tentar representar o máximo possível da história do Sepultura né. Eu não sei exatamente o repertório que faremos, a gente decide dias antes. Mas a gente tem feito um repertório cronológico, pelo menos uma música de cada disco, tentando fazer essa leitura da história da banda. Então temos usado um repertório diferente, mas isso depende do dia, do tempo que temos para estar no palco, essas mudanças podem acontecer. Somos abertos a sugestões. Eu acredito que seja baseado nesse repertório cronológico, mas nunca se sabe. Essa banda é um mistério.

Este ano, os organizadores do Rock in Rio decidiram voltar com um dia dedicado ao metal. Qual sua opinião sobre a line-up escolhida? Podemos ter esperança de mais eventos grandes dedicados ao Metal?

Paulo Jr: Eu acho que sim. O Rock in Rio eles sabem o que estão fazendo. Desde a primeira edição os dias de Rock foram muito fortes. Eles sempre tiveram essa tradição de misturar. Na primeira edição tinha Ney Matogrosso, B52, Nina Harley e até Iron Maiden. Então essa mistura eu acho muito saudável sim. Mas o rock, o heavy metal não pode ser esquecido. E querendo ou não, o rock é a base do pop e vários segmentos, é a base de tudo. Isso não pode ser esquecido. O Rock in Rio sabe disso e por isso essa decisão de trazer de volta o dia do rock. É uma decisão super importante, não só para o festival em si, mas para a música no contexto geral.

O Sepultura tem 35 anos de carreira e é uma lenda do metal. O que ainda falta ser conquistado?

Paulo Jr: Ixe. Não sei. Tem muita coisa ainda! Agora em abril a gente tem uma tour marcada para a Rússia, para o Cazaquistão, Uzbequistão, são países que a gente ainda não visitou. Depois dessas datas, se eu não estiver enganado, a gente vai atingir a meta de 81 países para a nossa carreira. E é sempre bem vindo, apesar da gente ter esses 35 anos, a gente quer mais. Tem vários lugares ainda que a gente não conhece, ainda não visitou, gostaria de ir. Eu brinco assim com meus amigos, enquanto a gente tiver essa força, saúde na banda e nos indivíduos. A gente vai continuar, até quando não der mais. Vai chegar ao fim, mas a gente não sabe quando. Tudo chega ao fim, não é? Espero que demore um pouquinho ainda. (Risos)

Ah, também espero.

Paulo Jr: (Risos)

Quais os planos para o futuro? Para o ano que vem2020/2021?

Paulo Xisto: A gente está na entressafra agora, como eu gosto de dizer. Então a gente tem shows esporádicos aqui no Brasil, shows picados, tirando essa turnê da Rússia, que vamos ficar um mês fora, vamos estar montando e trabalhando no material novo. Os planos são para entrar em estúdio no segundo semestre, tem Rock in Rio este ano, tem algumas surpresas que a gente preparou para o Rock in Rio. E deixar preparado e finalizado esse material novo para o começo de 2020 ser lançado e a gente voltar ao ciclo de turnês. De acordo com os nossos planos, se tudo der certo, 2020/2021 eu espero que 2022 sejam anos de turnê. Revisitar todos os lugares que a gente já conhece e tentar conquistar novos lugares. Esses são os planos.

Muito obrigada pela entrevista!

Paulo Jr: De nada. A gente se vê em Curitiba dia 09.

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