Formada em 1985 no ABC paulista a banda MX foi uma das pioneiras do Thrash Metal no Brasil e entre idas e vindas já lançaram cinco álbuns no mercado, sendo o último, “Re-Lapse”, uma coletânea regravada com as músicas mais relevantes dos quatro álbuns anteriores segundo escolha dos fãs.

Formada por um Décio e três Alexandres (Cunha, Morto e Dumbo) a banda completou 30 anos de existência e está em fase de composição de um novo álbum de inéditas que deve sair do forno em 2016.

Eu conversei com um dos Alexandres, o Cunha, que além de tocar bateria é vocalista da banda e o resultado desse bate papo você confere abaixo:

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O MX faz parte de uma geração que ajudou a solidificar a cena underground no Brasil e vivenciou as mudanças ocorridas nos últimos 30 anos. O que era melhor ontem do que é hoje e o que é melhor hoje que faltava ontem?

RESP: Sim o MX vivenciou todo o começo da cena no Brasil, realmente algo histórico e que nos deixa bastante orgulhosos. Era outra época e eu sinto falta daquele lance todo de tribo mesmo que existia, de união, de todos estarem extremamente entusiasmados com tudo aquilo que acontecia no Brasil.

Grandes bandas surgindo, material de fora vindo para o Brasil em forma de fitas cassetes, LPs, vídeos raríssimos em VHS, entre outras coisas. Acho que é disso que sinto falta. Por outro lado hoje tudo está interligado, se você der um passo em falso logo todos estarão sabendo. A velocidade das informações, a qualidade dos instrumentos e equipamentos, isso é o que é melhor atualmente na minha opinião.

 

Muitos saudosistas afirmam que a infraestrutura meio capenga dos anos 80 era o que fazia do metal algo tão diferenciado. Hoje é comum se tocar com um backline de primeira, num palco bem iluminado e com instrumentos importados. Você acha que a união surgia em torno da dificuldade vivida no início da cena metal no Brasil?

RESP: Em minha opinião o Mambembe era um grande local para shows, tinha uma estrutura um pouco melhor que algumas casas da época, mas nunca parei pra pensar nisso, dessa forma. Tínhamos também o Rainbow Bar que era muito tradicional e histórico mesmo sem ter a estrutura do Mambembe.

Naquela época conseguíamos lotar casas grandes aqui em SP como Projeto SP, Projeto Leste, Dama Xoc, Clube dos Aeroviários, Aeroanta um pouco mais pra frente.

A união se fazia por ser algo novo, algo que para todos os envolvidos era viciante no sentido de existirem muitas dificuldades para tudo, era como preencher um álbum de figurinhas, e nessa época a maioria das figurinhas (Shows, LPs, Vídeos, Amplificadores, Bateria, Pratos, Pedais, Guitarras, estúdios) eram raras e difíceis de conseguir. Com isso todos davam muito mais valor a tudo, era um estilo de vida mesmo.

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“Simoniacal” de 1988 está certamente entre os 10 álbuns mais emblemáticos da história do metal brasileiro. Conte nos como foi o processo de gravação deste trabalho e como o público o recebeu. Você acredita que hoje ele é mais reverenciado do que foi na época de seu lançamento? 

RESP: O Simoniacal tem papel muito importante para nós do MX e para a cena toda, um álbum gravado nas condições que tínhamos na época, sem frescura, tudo no suor mesmo. As músicas foram feitas por adolescentes apaixonados pelo metal pesado, se destacaram e é foco de atenções até hoje. Na época do lançamento foi um dos álbuns de metal pesado mais vendidos no Brasil, teve uma aceitação impressionante pelo país todo e pelo exterior também, mesmo com todas as dificuldades para o material ser enviado para fora, coisa que a gravadora fazia, nunca fizemos isso. Lotávamos os locais que passávamos para shows e isso foi a resposta que o Simoniacal deu na época. Atualmente ainda é venerado pelos amantes do metal de forma um pouco mais contida, mais ainda sim de forma espetacular. O CD Simoniacal lançado anos atrás está SOLD OUT. Foram vendidas mais de 4000 só neste relançamento, em breve teremos novidades incríveis sobre novos REVIVALS “SIMONIACAL”.

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Logo após abrirem para o Testament a banda encerrou suas atividades temporariamente. Baseado no alto conceito que vocês tinham com público e crítica nessa época é possível supor que se a banda não tivesse se separado hoje vocês teriam internacionalmente uma carreira tão sólida como o Sepultura, Krisium e Angra? 

RESP: Eu sou bem sincero em falar deste tema, não me incomoda mais (risos). Antes disso que você citou, ainda em 1988, estávamos em um nível de aceitação muito grande no Brasil e despertamos interesse fora também. Naquela época era algo inédito! Nós não acompanhávamos nada, éramos um bando de muleques largados, ficava tudo centralizado no selo FUCKER RECORDS e quando surgiam assuntos relacionados nunca dávamos sequência. Em 1989 quando saiu o MENTAL SLAVERY ai sim as especulações se tornaram concretas. Tínhamos contatos oficiais recebidos pela Fucker para TOUR no exterior, contatos com selos importantes, etc. Neste momento tínhamos que decidir e dar a guinada em nossas vidas. Tínhamos 18, 19 anos e isso pesou um pouco, faltou maturidade. Com tudo isso o Décio foi o primeiro a expor que estaria deixando a banda e em seguida nós paramos de ensaiar e a banda literalmente acabou naquele momento. Eu acredito sim que o MX teria tido uma carreira de porte, aquela era a época, o momento para isso.

 

Depois de lançarem quatro álbuns de estúdio era de se esperar um novo só com inéditas, no entanto vocês optaram por gravar uma compilação de canções dos álbuns anteriores com uma roupagem atual e escolhida pelos fãs. O resultado agradou e é unânime que foi a escolha certa. Qual a razão dessa opção?

RESP: Na verdade quando retornamos a ideia era lançar um álbum de inéditas, mas todos na banda queriam ter a oportunidade de mostrar as músicas que fizemos a 28 anos atrás de uma forma mais audível mas sem alterar as composições , seria a forma de mostrar ao público mais novo e aos antigos fãs que nos pediam isso. Foi uma atitude corajosa de nossa parte regravar composições que foram feitas há tanto tempo, o resultado foi alcançado e fica o registro do RE LAPSE.

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Quem acompanha a carreira do MX sabe que existe uma conexão histórica muito forte entre a banda e a cidade de Manaus. É possível explicar o motivo de tanta empatia entre vocês?

RESP: Tem sim. Em 1988 foi feita uma pesquisa em MANAUS para saber quais bandas queriam ver por lá, pois NUNCA havia acontecido um show de metal até então. O Resultado foi um empate técnico entre Sepultura e MX. O Sepultura foi o primeiro a pisar em Manaus e o MX o segundo. Desde o Simoniacal temos história por lá, já foram 4 ou 5 shows e vem mais por ai com certeza. O MX adora tocar em Manaus, temos amigos lá que fizemos no show de 1988, temos a nova geração fantástica de bangers por lá que também aprenderam a gostar do MX, RESPEITO MÚTUO!!!!

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Falando em público, recentemente vocês tocaram em festivais na Bolívia e Peru. Existe alguma diferença comportamental entre os headbangers latino americanos? E como você avalia a infraestrutura desses locais para eventos de metal?

 RESP: Tocamos nos dois países, na Bolívia fomos headliners ao lado do TOXIK (USA) e recebemos realmente um tratamento diferenciado, desde estrutura do show, alimentação, passeios, van 24hs disponível, tratamento VIP em todos os sentidos. O público conhece nossas músicas, Simoniacal, Mental Slavery e até os menos conhecidos AGAIN e Last File são bem difundidos por lá. No Peru idem, tratamento especial estávamos entre as três principais bandas do FEST que tinha cerca de 20 atrações com muitas bandas gringas e isso nos deixou muito felizes! Foi um FEST com uma mega estrutura, no Estadio San Marcos, realmente de primeiro mundo. Nesses dois shows que fizemos a aparelhagem foi impecável.

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Agora uma curiosidade: Vocês abriram os shows do Exodus em 97 e agora em 2014 tendo a oportunidade de dividir os camarins com duas personalidades do metal, Steve Zetro Souza e o lendário Paul Baloff. Em cima do palco cada um tem seu estilo próprio, e no backstage?

RESP: Na primeira TOUR deles fizemos 4 shows juntos, conheci os 5 da banda numa festa que teve antes dos shows e tive o prazer ao lado do DUMBO (guitarrista) de apresentar a “caipirinha” ao Baloff e ele literalmente ficou louco e bebeu copos e copos! Um cara simples, louco, e com carisma incrível. Passei grandes momentos com os eles, passamos som juntos, bebemos muita cerveja. O técnico de som deles fez um de nossos shows, pois o nosso estava muito doente, tudo isso na camaradagem, nunca me esqueço.

Com o Zetro apesar de termos feito apenas um show foi bem equiparado, guardada as proporções, pois com a idade você começa a beber menos antes de tocar (risos), mas foi receptivo demais também, inclusive chamaram a gente pra ficar no mesmo camarim pra beber, grande pessoa. Já vestiu a peita do MX assim que viu e após o show e começou a abraçar todos. Duas lendas meu velho, não tem o que falar.

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Eu sei que vocês já responderam essa pergunta dezenas de vezes, mas nunca pra mim. Como foi a experiência de abrir a internet e dar de cara com a notícia de que a banda Ghost D.C. tem o MX como influência? Rolou algum contato com os suecos?

 RESP: Essa notícia foi bem legal de receber, eles deram a entrevista pro G1 e isso pesou mais ainda. Citaram o MX como influência e banda que gostam, e detalhe, o MX tinha retornado há pouco tempo. Realmente muito importante para nós e mostra que estamos bem vivos. Com relação a contatá-los vou ser sincero com você e confessar que pensei em contatar sim, mas não fizemos.

 

Aproveitando este gancho vamos falar de Europa. Tendo em vista que até uma banda europeia do naipe do Ghost D.C. se assume influenciada pelo MX é de se supor que uma parte do público europeu conheça o trabalho da banda e tenha curiosidade de assisti los ao vivo. Existe alguma possibilidade de rolar uma turnê por lá a curto e médio prazo?

RESP: Sim, existe. Para nós não é tão simples conciliar agendas, família, etc. Mas isso vai ter que acontecer. O que queremos é ter a chance de fazer uma TOUR estruturada, dentro do possível, claro e queremos ver se despertamos a vontade em alguém de lá em fazer esta TOUR, não nós mesmos nos juntarmos e ir simplesmente . Respeito e acho legal quem fez ou faz isso, mas queremos de outra forma, ser chamado e contratado pra tocar. Isso seria o ideal e assim que queremos fazer, vamos aguardar.

 

Ainda focando neste assunto. Recentemente a banda Executer nos concedeu uma entrevista honestíssima dizendo que o retorno advindo da turnê que eles fizeram pela Europa foi zero e que valeu mais pela viagem e pelo sonho do que pelo marketing que isso agregou à imagem da banda. Até que ponto vale a pena para uma banda investir no sonho de se apresentar no Velho Mundo correndo o risco da turnê virar apenas um passeio?

 RESP: Sim é isso, o EXECUTER é uma banda experiente, além de serem parceiros. Eles falaram a verdade com certeza. Serve sim como experiência, sonho realizado e logicamente passeio, É isso que respondi na questão anterior, mas com certeza valeu a pena pra eles! Dá lhe EXECUTER!

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O thrash metal é reconhecidamente um estilo que não aceita bateristas fora de forma já que além do peso é preciso velocidade para se apresentar ao longo de quase uma hora de show. No seu caso em particular é ainda mais complicado já que você, além de tocar, é responsável pelo vocal. Você faz algum exercício vocal/respiratório pra conseguir cantar sem ofegar?

RESP: Esse tema me interessa (risos). Realmente é muito puxado. As viradas que existem nas composições do MX são constantes e é difícil pra eu conter a força dos braços quando se toca na adrenalina. Eu gosto de tocar com o braço mesmo e isso dificulta ainda mais! Mais cansaço! Estou aprendendo a me poupar um pouco mais para não sofrer tanto ao vivo (risos). O que mais pega são os vocais que comem todo o fôlego, é uma questão de achar o equilíbrio, estaria mentindo se falar que é fácil.

Não faço exercícios específicos, apenas aqueço e alongo um pouco antes dos shows e um aquecimento vocal também, porém o correto seria fazer um condicionamento físico para auxiliar. Quem sabe um dia (risos).

 

A banda pretende lançar um novo álbum de inéditas num futuro próximo? Como andam as novas composições?

RESP: Sim, esse é o ponto, o foco. Neste momento estamos finalizando algumas composições, o tempo é fator limitante para nós, infelizmente não temos todo o tempo do mundo para compor. As músicas estão em um novo patamar em minha opinião, músicas estruturadas com linhas de vós, e refrãos muito marcantes. Estão agressivas, pesadas e técnicas. Tenho confiança que será nosso melhor trabalho! Previsão de lançamento para 2016!

SOM NOVO

Como é escolhida a temática das letras: aleatoriamente ou a partir de um conceito?

 RESP: A temática é livre, nada imposto ou combinado. No Simoniacal eu acho que apenas duas letras não são minhas, no Mental estão dividido entre minhas e do Morto (baixista), AGAIN e LAST File todas minhas, e nesse novo álbum teremos uma divisão: eu e o Dumbo estamos escrevendo. Apesar dos temas serem livres sempre acabamos nas letras voltadas para protestos, situação atual do planeta e da humanidade, guerras, política, religião, comportamento social, etc. Tudo que a humanidade faz que não presta! Tem muita coisa né (risos).

 

Uma pergunta que é praxe de minha parte: no caso das composições do MX o que vem primeiro, a letra ou o riff?

RESP: Às vezes um ou outro aparece com uma base ou um riff que é lapidado e começa a criar um contexto para a música, mas ultimamente estamos fazendo algumas linhas de voz primeiro e depois adequando em uma base compatível. Acho que isso será um grande diferencial. Nossas linhas de voz serão mais marcantes, estamos dando mais atenção a isso.

Um show inesquecível? Por quê?

RESP: Tivemos vários. No passado, em 1989 com o Testament e na volta do MX aos palcos da capital no Carioca Clube em 2012. Além destes tivemos outros históricos como todos os shows em Manaus, dois no Aeroviários (SP), Projeto Leste em 1988 (12.000 pessoas), 4 com Exodus, Peru, Bolívia, etc.

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Um show pra se esquecer? Por quê?

RESP: Sei qual foi, mas esqueci do nome do local (risos). Foi em São Paulo e tinha 15 pessoas pq na época a divulgação era o boca a boca e cartazes colados (não havia internet) e os cartazes foram impressos com data errada. Literalmente um show para se esquecer!!!!

 

Uma banda da nova geração que te impressiona?

RESP: Slayer e Exodus (risos)

 

Que CD está tocando no player do seu carro hoje?

RESP: Repentless – Slayer

Que músico “não rock” você curte que vai deixar o headbanger mais radical horrorizado ao saber?

RESP: PQP não curto nenhum (risos). Todos que curto desde os menos pesados se enquadram em “rock”. Poderia citar alguns bateras, mas sei que esta não é a intenção da pergunta, vou falar algo que respeito e não é rock e o povo vai rir pelo menos: Tonico e Tinoco! Raízes!

 

ISSO É MX:

Alexandre Cunha – Bateria e vocal

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Alexandre “Morto” – baixo, guitarra e vocal

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Alexandre “Dumbo” – baixo e guitarra

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Décio Jr. – guitarra

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WEB SITE OFICIAL: http://bandamx.com.br/ptbr/

FACEBOOK: https://www.facebook.com/MX-Brasil-640424862656712/

 

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