Marco Donida é guitarrista, letrista, ilustrador e compositor. Era responsável pela composição das canções do grupo Matanza e, por conta disso, o desdobramento da Matanza Inc. A nova banda recebeu o mesmo nome (no estilo do Venom Inc) por conta do seu estilo de Donida, que vai continuar produzindo suas obras de acordo com o que acredita. Ele falou sobre isso em entrevista exclusiva.

1) Antes do lançamento de “Crônicas do Post Mortem: Guia Para Demônios e Espíritos Obsessores”, saiu a informação de que a sonoridade do novo trabalho seria mais puxada para o estilo do “Horror Punk”. O som do Matanza Inc vai seguir esse caminho? Ou qual seria a principal diferença entre o som do Matanza Inc para o produzido no Matanza?

O som do Matanza INC segue o curso evolutivo que vínhamos desenvolvendo ao longo da carreira do Matanza. Sempre trabalhei pensando que um disco deve ser uma resposta ao disco anterior e que a discografia de uma banda precisa contar uma história. Nesse sentido, não pretendemos fazer algo totalmente novo como também não queremos repetir soluções. A questão do Horror Punk se aplica mais à temática das letras do que exatamente ao estilo musical.

2) Você sempre esteve à frente da produção dos álbuns. As letras, especialmente do “Crônicas do Post Mortem: Guia Para Demônios e Espíritos Obsessores” são extremamente poéticas. Como é o seu processo criativo?

É um processo ininterrupto. Eu levo muitos meses fazendo uma música e escrevendo uma letra. Na verdade, costumo trabalhar em várias ao mesmo tempo, pensando no álbum como um todo, na forma como as músicas conversam entre si e como fazer para que cheguem a uma unidade. Pra mim um disco é como um filme: pra que a história seja contada é preciso que todas as cenas sigam uma coerência e atendam a uma linha narrativa.

3) 22 anos de carreira e mais de dez álbuns lançados. Qual álbum ou música te deu mais satisfação em produzir e por quê?

Em se tratando da minha carreira, diria que o primeiro álbum do ACABOU LA TEQUILA foi realmente marcante porque ter sido a minha primeira experiência em um estúdio profissional (AR Studios) que na época gravava todos os grandes nomes da Música Brasileira. Do Matanza tive ótimos momentos gravando no estúdio da DECKDISC (Tambor) sob a produção do meu amigo Rafael Ramos. Mas devo dizer que nunca estive tão feliz gravando um disco como agora com o “Crônicas…” O clima na banda estava incrível e por conseguinte, tiramos um som maravilhoso!

4) Viver na sociedade da Internet, com muita tecnologia e relações virtuais, ajuda ou atrapalha na hora de criar?

A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas o que realmente interessa é o esforço dedicado ao trabalho criativo. Isso é algo que nenhum computador ou app pode fazer por você.

5) Falando em tecnologia, cada vez mais usuários optam por ouvir música em aplicativos de streaming. Ou seja, o modo de consumir música mudou muito nos últimos anos. Esse fenômeno tem alguma alteração relevante na produção de um álbum ou de uma música?

Pra mim não faz diferença porque continuo pensando em compor álbuns. Existem artistas que trabalham música por música, fazendo singles porque isso é algo que voltou a funcionar com as plataformas digitais, mas não é o meu caso. Estou feliz com esse formato que exige um ano de composição, alguns meses de ensaio e uma semana de gravação pra se ter um álbum.

6) O disco novo conta com participações especiais de Rodrigo Lima (Dead Fish), Marcello Schevano (Patrulha do Espaço) e Vladimir Korg (The Mist). Como surgiram esses convites?

São todos amigos muito queridos que agora tivemos a liberdade de convidar a participar do disco. Cada um em seu estilo engrandeceram enormemente as músicas nas quais participaram.

7) Marco, você comentou em algumas entrevistas que Vital Cavalcante sempre foi um nome forte no cenário underground. A escolha foi por voltar às raízes ou, na sua opinião, apesar do sucesso conquistado com o Matanza, vocês nunca deixaram o underground?

Havia na banda um conflito muito sério em relação ao Underground, inclusive um dos motivos que levaram ao fim da antiga formação. Eu nunca vi o Matanza fora do Underground porque nunca enxerguei o meu trabalho como algo que fizesse sentido no Main Stream. Eu tive a sorte de frequentar o Underground desde a minha adolescência, nos shows do saudoso Caverna II no Rio de janeiro e sempre tive uma ligação muito forte com o que se faz fora dos grandes canais de divulgação. Por isso estamos tão felizes agora com o Matanza INC. Não somos mais obrigados a ouvir que o Underground é uma merda.

8) Falando em cenário, há muita reclamação em relação ao cenário do metal no Brasil. O discurso de “é preciso fortalecer a cena” vigora em discussões que buscam uma solução para o problema. Qual a sua opinião?´

Posso estar sendo extremamente pessimista, mas pra mim esse é o grito agonizante de um cadáver em decomposição. Eu sinceramente não vejo o Rock como uma resposta adequada aos anseios da sociedade em que vivemos. Tenho consciência que estamos todos regurgitando ideias que nasceram no século passado, quando nem sequer havia internet. A última grande banda de Rock com potencial de abalar as estruturas foi o Nirvana, 30 anos atrás. É óbvio que os valores serão eternos e ainda muito pertinentes, mas são velhos, são antigos e as pessoas precisam de novas ideias porque vivemos em um mundo que se renova cada vez mais rápido. E o Rock está preso aos ícones dos anos 70, 80…

Estou respondendo à essa entrevista escutando “Heaven and Hell” porque sou velho. Agora me diga, porque as novas gerações deveriam buscar inspiração na música feita tanto tempo atrás?

O Jazz nos anos 20 tinha esse caráter transgressor, tinha o poder de questionar as normas, levava as pessoas a romper com o que estava estabelecido. Quando perdeu essa função, virou objeto de adoração para arqueólogos da música. Acho que o Rock não tem como escapar desse ciclo de nascimento, ascensão, declínio e ostracismo.

Por esse motivo entendo que cada vez menos pessoas busquem os shows pra se conectarem umas às outras. A tecnologia permite que qualquer um grave um disco e ainda que ele seja muito bom, é muito difícil que consiga conectar as pessoas porque o Rock perdeu esse atributo. A morte da ‘Cena” passa por aí…

9) Quais os planos futuros para o Matanza Inc?

Continuar fazendo o nosso Rock porque isso nos faz muito felizes e seguimos dividindo essa experiência com quem curte. Arte pela arte, sem pressão, nem prazos, nem stress. Só alegria.

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