Em outubro, a banda Legacy of Kain estava se preparando para a segunda perna da turnê internacional. Eu e a Angela Missawa tivemos uma conversa muito honesta e divertida com Karim Serri e Markos Franzmann sobre o álbum “Paralelo XI”, a gravação com a Fernanda Lira, do Nervosa, o processo de composição da banda, como é fazer metal no Brasil, como são as turnês na América do Sul e quais os planos futuros. A Legacy of Kain é formada atualmente por Markos Franzmann no vocal, Karim Serri na guitarra, Joao Lavinas no baixo e Tiago Rodrigues na bateria.

Confira como foi a entrevista:

Vocês lançaram recentemente o “Paralelo XI”. Como foi a preparação do álbum?

Karim Serri: Então, quando a gente vai compor ou preparar algum material a gente não pensa muito, cara, a gente não faz um planejamento “ah, vamos fazer dessa forma”, a gente vai fazendo, as músicas vão saindo e, para este Paralelo, na verdade, quase no começo assim, a gente tinha feito acho que umas três ou quatro músicas, e aí tocava com a gente aquela época o Felipe, que era do Tritura, o baixista, e ele tinha essa ideia de fazer um disco com esse tema, do Paralelo XI. Ele passou pra gente, falou do tema, falou da ideia de fazer o disco.

Markos Franzmann: Uma música na verdade. Uma música específica sobre isso.

Karim: Daí a gente meio que roubou a ideia. (risos) A gente conversou com ele, lógico. A gente roubou a ideia dele e falou “Ó Felipe, vamos usar esse teu tema aí então”. (risos)

Markos: Pouca criatividade, né? (risos)

Daniela: Você convenceu tanto a gente, que a gente vai fazer. (risos)

Karim: Aí você não pode fazer mais, tá bom. (risos)

Markos: Foi tipo isso. (risos)

Fotografia: Angela Missawa.

Karim: Mas daí a gente começou a pesquisar, a procurar material sobre isso, sobre esse tema. E a gente acabou que não achou muita coisa não. Assim, é um negócio meio velado, você começa a procurar sobre o assunto, tem vários tipos de informações, algumas bem contraditórias, mas a gente meio que se virou com o que tinha disponível na internet, procuramos algumas coisas oficiais, e de oficial quase não tem nada mesmo, né?

O que é o Paralelo XI?

Karim: O Paralelo XI é que nos anos 60, tem uma tribo chamada Cinta Larga, que tem um território no, entre o Mato Grosso e Rondônia, não sei bem a região. Eles tem um território grande lá e a tribo deles é dividida em três partes ali naquele território. E lá tem muita atividade de extração de madeira, de minério, e nessa época, nos anos 60, assim, se hoje já não tem muita fiscalização nesse lance da questão indígena, naquela época tinha menos ainda, né. Então, tem um grupo de mineradores, de grileiros, que queriam explorar a terra, explorar madeira e o minério, e eles começaram a invadir essas terras indígenas e, meio que disseminaram a tribo. Foram quase 3 mil índios mortos nesse episódio Paralelo XI porque é a localização geográfica do território. Isso aí, não foi com a permissão do governo, mas o governo sabia o que estava acontecendo e não fez nada e a coisa foi rolando, e tem umas coisas bem macabras no meio do caminho e no final das contas, hoje, sobrou uns 500 índios, só. Então Paralelo XI é uma referência a esse período dos anos 60, 67 68, que teve esse episódio aí que praticamente extinguiu essa tribo. E aí o Paralelo XI não é um disco conceitual, ele tem umas 4 ou 5 músicas que falam sobre isso, mas ele tem outras músicas também, com outros temas. Sempre tema social, político, a gente gostou de usar esse tema indígena para dar como referência no disco, mas não é um disco conceitual. Ele fala de alguns episódios esporádicos.

Markos: É tem episódios mais recentes também, igual aquele índio que foi queimado na rua também.

Karim: Em Brasília, né.

Markos: Em Brasília. A gente tratou disso também em algumas músicas. Tipo assim, a gente fez outras músicas também, falando de outras coisas porque é da gente mesmo querer fazer críticas sociais a respeito de outras coisas, até porque o Paralelo XI, se a gente quisesse fazer todas as faixas falando sobre isso, a gente não ia conseguir porque não tem tanta informação. Não por isso, né, mas a gente queria tratar de outras coisas, mas o Paralelo XI é um caso que tem que fuçar muito para conseguir entender as coisas que aconteceram de fato, mas ele acabou rendendo metade do cd, só de letras falando a respeito disso.

Vocês também, no álbum, tem casos sobre Brumadinho, Mariana. Isso?

Karim: Isso, tem uma música que fala sobre isso, né, é a sétima faixa, “Beneath the Mud”. Aí fala sobre esse caso de Mariana e Brumadinho também. E tem outras coisas que falam sobre coisas sociais também, coisas do dia a dia, problemas sociais. A gente gosta de abordar esse tipo de tema aí que é, na verdade, as pessoas precisam continuar falando dessas coisas. Por exemplo, esse de Mariana e Brumadinho é uma coisa que, cara, a qualquer momento, a gente vê reportagem toda hora que as barragens continuam mal cuidadas, e com sistemas errados de contenção. E isso é uma tragédia que, meu, esse lance vai acontecer de novo. E, claro, a gente não tem assim uma representação tão grande, não é que o cara vai ouvir a nossa música e não é um milhão de pessoas que vai ficar falando do acontecido por causa da nossa música, mas se a gente puder continuar falando desse assunto e deixando em evidência até que, ah, não vai acontecer, mas até que isso seja resolvido, acho que o nosso dever é esse. Querendo ou não, a gente é influenciador, seja segmentado, seja com poucas pessoas, mas o fato da gente estar falando disso toda hora é um assunto que, pelo menos no nosso meio, vai estar sempre em visibilidade. Então, acho que o nosso dever é esse mesmo.

Também nesse álbum vocês começaram a cantar em inglês. Como foi esse processo de mudança de língua?

Karim: Quando a gente começou, que foi em 2016, né. Eu tinha uma banda antes que era bem nesse mesmo estilo do Legacy e também cantava em português. Nessa época 2015/2016, eu, pelo menos, tava com uma esperança bem grande que esse mercado nacional de música pesada, cantada em Português fosse crescer, né. Tinha um monte de banda em São Paulo fazendo esse corre de fazer música pesada, cantando em português, e assim, sei lá, naquela época a gente tinha uma esperança que a coisa fosse funcionar, principalmente o Project(46) lá, né, Marcola?

Markos: O Project foi influência pra caramba né. E foi a prova de que em português também dava pra fazer e podia fazer, ter uma repercussão legal. O que batia na trave era a questão de levar nosso som pra fora, porque o português acaba.

Karim: Limita, né?

Markos: Limita pra caramba, assim, sabe. E inglês é, infelizmente é isso, a língua inglesa é padrão para todo mundo, é onde se tocar no Japão vai dar certo, se tocar na Europa vai dar certo, se tocar… e infelizmente, tipo, o português já não é assim. Então a gente optou por uma forma mais comercial, também.

Karim: O mercado não desenvolveu, não saiu do lugar. A gente achou que a coisa ia andar, e no final das contas, se for olhar hoje, a maioria dessas bandas acabou, as que não acabaram continuam a bater.

Markos: Foi uma fase assim, fogo de palha né, infelizmente.

Karim: E até o Project, né. Uma banda espetacular, que a produção dos cds são gigantes, os shows são enormes, mas a gente vê que infelizmente eles estão patinando pra caramba. Não que a gente não esteja, né, só que a gente optou por fazer essa mudança justamente. A gente pensou assim, pô, se a gente fizer em português o lance, a gente vai continuar trabalhando legal, com facilidade no mercado nacional. Se a gente fizer inglês, não vai mudar nada aqui no Brasil, a gente vai continuar com essa mesma facilidade de fazer o trampo, só que aí pelo menos a gente tem oportunidade de mandar música para fora e ela ser mais bem aceita do que antes, né. Eu prefiro na verdade, se pudesse escolher, faria em português mesmo, mas como a gente viu que a coisa não desenvolveu, não saiu do lugar, e, cara, continuou o mercado super amador, super difícil, deficiente pra caramba. Não que a gente vai conseguir alguma coisa lá fora também, mas, pelo menos, a gente abriu um espaço, sei lá. A gente vai tentar né.

Fotografia: Angela Missawa.

Bom, vocês tem uma boa relação com os países vizinhos. Como é isso? Como começou?

Karim: Eu já tô indo pela quinta vez. Com todas as bandas que eu tive, eu fui, fiz esse corre aí. É que eu gosto de fazer. Esse é um lance que eu curto fazer, a gente não faz só porque precisa. Assim, precisa fazer, toda banda tem que fazer esse tipo de coisa né. Nem todo mundo consegue, nem todo mundo quer ou se planeja para isso, mas toda banda deveria fazer. Eu gosto pra caramba. A gente pega uns roles muito roubada né. Tem uns negócios ruim demais. Na hora a gente se arrepende.

Markos: Faz parte.

Karim: Mas eu gosto de fazer isso aí.

E as condições de show? Como é fazer show fora? Os lugares?

Karim: Depende. É mais ou menos que nem aqui, não muda muita coisa. A realidade deles não é muito diferente da nossa. O legal de tocar pra fora é que o respeito é um pouco diferente. Os caras te tratam muito melhor, eles sabem que você está num puta corre enorme, viajando de longe, cansado, então você é bem tratado, eles se esforçam mais para fazer a coisa acontecer legal assim. A gente estava falando, aqui no Brasil tem muita gente amadora, não que lá não tenha, lá também tem, mas aqui parece que o cara faz questão né, de não querer fazer a coisa bem-feita, de não querer te tratar bem. E lá o cara faz questão de te tratar bem. Nem sempre os caras conseguem fazer, porque a cultura deles é diferente, a maneira deles enxergarem as coisas é diferente. Então as vezes o cara tá fazendo um negócio todo fodido e zoado e pra ele é o melhor que ele consegue. Mas a gente vê que os caras se esforçam para fazer a coisa bem-feita. Em La Paz dessa vez a gente ficou cinco dias. O cara pagou cinco dias de hotel pra gente, levou a gente almoçar, jantar, ia buscar a gente. Tem uma banda que tocou com a gente no show, os caras também iam buscar a gente para dar uma volta, passear, para ir tocar. Então o respeito é bem diferente. Não sei se é porque a gente é de fora, ou se lá também é assim.

Markos: É massa assim que a estrutura deles, comparada com a nossa aqui, é bem menor. Tipo a gente sabe que aqui tem condições melhores de fazer os shows, mas a boa vontade dos caras aqui muda, entende? As vezes a gente vai no bar e não tem equipamento legal pra caramba, mas você vê que os caras realmente se esforçam para fazer um show legal. Isso é legal, isso é massa. O jeito que eles acolhem a gente é bom pra caramba.

E o público lá, como que é a recepção do público?

Karim: A gente não consegue ter uma noção muito boa disso porque a América do Sul tem o lance que tem muito. o público de metal extremo é muito grande. e tem muitas bandas de metal extremo e tem muitas poucas bandas de metal mais moderno que nem a gente faz. Então a gente não conseguiu, por exemplo, nessa tour inteira, acho que teve esse sei lá, duas bandas que tocaram com a gente que são um pouquinho mais modernas. O resto é tudo banda de black, de death, de thrash oitentista. Então o público é um pouco diferente e a gente vê que tem muita gente que tem dificuldade de entender o que a gente toca, qual o som que a gente toca. Em Cusco, por exemplo, o cara que fez, organizou o festival lá, tava legal pra caramba, lugar bom, som bom, dois palcos. Acho que tinha sei lá umas 250, 300 pessoas. O cara tem uma banda de metal tradicional, dai o cara chegou no final do show e falou “nem imaginava que o metal moderno era igual ao que vocês fazem, vou começar prestar mais atenção nesse tipo de música”. Então os caras não conhecem esse tipo de som que a gente faz. Então a gente não teve ainda um role que tivesse só banda de metal moderno, com público de metal moderno.

Markos: Da mesma forma recepcionaram bem, você via que os caras se esforçavam para ver o nosso som, assim, eles estavam curtindo, eles estavam entendendo. No começo do shows eles ficavam “que é isso?” Porque é muito diferente do estilo deles. E depois eles curtiam, batiam cabeça, eles são mais tradicionais, sabe, parece que é um role que tá muito nas antigonas ou é aquele blackzão. Eles são dos dois extremos. Mas o lance mais moderno parece que tá chegando aos poucos ainda no role.

Como é o processo de criação de vocês? No geral, não precisa necessariamente ser para esse álbum.

Markos: No começo, simplesmente o instrumental começa a vir, com as ideias, guitarra, bateria e tal e daí eu já vou tendo uma ideia de vocal para isso só que o conceito em si das letras ele vai vir um pouco depois. a gente não pega e fala assim: vamos fazer um álbum sobre isso e aí começa, né, o instrumental e tudo mais. Primeiro geralmente é o instrumental e depois as letras. Mas assim, a gente espera ter uma base de umas 3 ou 4 músicas e aí a gente pensa, pô, que a gente vai falar dessa vez, mas aí a gente nem pensou no próximo assunto. Mas é assim que funciona, e a gente vai deixando rolar, tipo surge uma ideia, que nem o do Paralelo, surgiu uma ideia que era para ser cogitada em colocar em uma música, e no fim a gente falou: putz, esse aqui é um contexto que a gente pode usar para mais músicas, pode usar como um conceito do álbum mesmo, né. E acaba que vai fluindo essas coisas, sabe? Você vai descobrindo uma outra história, putz, essa história aqui podia dar uma letra e aí vai indo, assim, aos poucos.

Karim: A gente não tem uma regra assim, né. A gente tem uma maneira de fazer que é como a gente faz, mas não tem uma regra. A gente só não consegue, pelo corre de todo mundo. O Markos tem 28…

Markos: 27

Fotografia: Angela Missawa.

Karim: …bandas. O Tiago tá dando aula direto, nosso baixista mora em Ribeirão Preto, então a gente não consegue se juntar para compor o álbum. O que a gente faz é, por exemplo, eu chego com a ideia lá, meio que monto a música inteira na guitarra já e mando para os caras: ó, meu, música nova aí. Aí os caras ouvem, o Tiago coloca uma batera eletrônica na música, o Markos pensa numa linha de voz, aí a gente grava isso tudo, faz uma pré-produção disso, escuta e vê se tá bom. A partir daí a gente vai dando as mexidas, né. Mexe numa linha de batera, mexe no vocal, métrica, mas a gente não começa do zero junto, sempre chega com, pelo menos, uns 70% da música, alguém já traz ela meio pronta pro grupo. Aí pro próximo disco, eu até estava pensando essa semana, da gente planejar. É uma vontade que eu tenho, a gente vai ter que conversar, né. De planejar já, pensar num assunto, uma temática, por exemplo, a gente não precisa fazer um disco conceitual, mas a gente podia pensar numa temática para a gente poder desenvolver todo o projeto né. Tanto visual, quanto musical do esquema.

Markos: Sim, sim. A gente ainda quer fazer isso, né. A gente ainda está se descobrindo em certos aspectos, assim, por exemplo, visual e tal. A gente não quer fazer nada forçado, a gente não quer pegar, ah, vamos fazer um uniforme da banda. A gente está se descobrindo ainda. Eu creio que é normal, um processo natural que daqui, sei lá, no próximo cd pode ser que a gente já se ache, nesse sentido. Mas a ideia é que a gente chegue, que um todo combine, as letras, o conceito do cd, o nosso visu de palco, o palco em si essas coisas. Acho que a gente vai conseguir chegar nisso ainda.

Karim: É que a gente é meio aceleradão né. Não sei se você viu, mas a banda tem três anos. Fez três anos agora, esse mês, e a gente já fez um monte de coisa, EP, dois discos, então a gente não para muito para planejar com muito, minuciosamente, o que a gente vai fazer. A gente está planejando o que vai fazer ano que vem. Ano que vem a gente vai fazer a tour em SP, a gente vai se concentrar em compor um disco novo, aí se pintar um ou outro show mais longe a gente vê se pode fazer ou não. Mas a gente não tem um super planejamento. Então, a gente sabe que precisa fazer, continuar produzindo, né. Banda hoje em dia, se você não estiver produzindo material toda hora, meu, daqui um mês vem outra, outra e outra, então a gente sabe que tem que ter conteúdo direto, né, gerar conteúdo direto. E não podemos parar de tocar porque, pô, banda que não toca não tem né, cara. Leva por hobby ou uma brincadeira, beleza, aí você pode fazer uma vez por mês, uma vez a cada três meses, mas a gente não, trabalho com música há 30 anos, ele (apontando para o Markos) tem um monte de banda, o Tiago é professor de música, então a gente gosta de fazer isso aí mesmo. Então a gente sabe que tem que produzir, cara, mas a gente nunca parou: vamos planejar o próximo disco como vai ser. Então a gente vai fazendo, fazendo e a coisa vai se moldando durante o processo. Mas vamos ser o próximo a gente organiza um pouco melhor. Não que esteja mal feito, não é isso, mas é que a gente não tem isso. E como é só a gente que faz mesmo, é na raça o lance, tudo que a gente faz é só a gente, né. A gente tem o Márllon (Matos) que trabalha com a assessoria com a gente.

Markos: Márllon sempre lança as ideias também.

Karim: É, ele tá sempre dando ideia também. Porque é difícil a gente pensar em tudo, né? Mas é tudo a gente que faz. É tudo na raça. Então a gente não consegue fazer um planejamento mais minucioso. Mas tem funcionado bem, né cara?

Markos: Pra caramba.

Karim: E como a gente que faz, a gente não tem um produtor, não tem um manager. A gente vai aprendendo com as roubadas. Na Bolívia, por exemplo, a gente sabe que não pode fazer nada de ônibus. (risos)

Markos: Será? (risos)

Por isso que você sempre dá umas broncas para os metaleiros de rede social?

Markos: Reconhecido já.

Karim: Muita banda, muito músico não tem noção de como é que funciona o mercado. O cara acha que é só. Tem nego que me manda mensagem, cara, vou te mandar o material da minha banda, vê se você consegue armar uns shows para mim na América do Sul, no Brasil. Cara, aí você começa a falar, meu, beleza, a gente pode até tentar ver um esquema né cara, não vou fazer de graça porque dá um trabalho. Armar uma turnê dessas aí, não vou nem te falar o que é…

Karim: Meses não, uma semana. Armar um negócio desses, a logística é um pesadelo mesmo. Porque a gente vai na raça. A realidade deles é igual à nossa. Então se aqui a gente faz um som autoral e tem 80 pessoas, lá também vai ter. Se você consegue cobrar R$ 500 aqui, você consegue cobrar R$ 500 lá. E os R$ 500 não cobrem o custo para você ir e voltar, de Curitiba para lá. Você vai ter que ir tocando, né. Porque não tem como ir, tocar em Santiago e voltar. Tem que ir tocando durante o caminho e na volta tem que vir tocando também, senão fica muito caro, né. Não tem jeito. Então quando o cara manda mensagem, funciona assim, você vai ter que sair daqui, 20 dias no mínimo, você tem que ir tocando, não tem jeito, você não vai de avião, você vai de ônibus, vai dormir onde o cara te colocar para dormir, porque não tem como você cobrar do cara um custo de um show de R$ 1500, se ele vai colocar 50 nego a R$ 10 ou a R$ 15. Não tem como. É show após show, é dia após dia, não tem jeito. Os caras não entendem isso.

Markos: Aí as vezes o cara resolve desmarcar tipo meses antes, e agora?

Fotografia: Angela Missawa.

Markos: Eles acham que não vai ter problema.

Karim: Mas é culpa nossa, né cara, a gente só posta coisa boa. Aí na hora que você fala pro cara como é, eles desistem. Conta nos dedos quantas bandas fazem? Torture Squad faz, mas também se fodem pra caramba, nível um pouquinho diferente, mas…

Markos: Nível do Legacy não tem. É o extremo.

Karim: A gente chegou a viajar 36 horas de busão, do norte do Chile para Santiago. A gente não está fazendo nada de diferente do que as grandes bandas fizeram. O caminho sempre foi esse. Claro que a gente tem o azar de estar na América do Sul, que é muito mais complicado, né. Mas os caras fazem isso nos Estados Unidos, com vanzinha, fazem na Europa. A gente está fazendo a mesma coisa, meu, esse é o caminho. Sempre foi esse, sempre vai ser. Agora você precisa tocar muito mais do que antes, porque você não consegue mais renda, com cd, com material físico, né, streaming não dá dinheiro nenhum, então você tem que tocar mesmo, as bandas tem que tocar. E aqui no Brasil, além da gente não ter essa cultura de sair tocando que nem as bandas lá fora tem, é tudo mais complicado, mais caro, mais difícil de fazer e pô, a gente está muito atrasado, em relação aos caras lá fora, a gente está muito atrasado nesse ponto. Que nem eu falei, se tivesse umas 30 ou 40 bandas fazendo o que a gente faz todo ano, teria um circuito muito maior, um mercado muito maior, um espaço muito maior, né. Talvez as pessoas tivessem indo mais nos shows, porque está cada vez mais difícil de tirar os caras de casa para ir no rolê. Infelizmente.

Karim: eu estava falando com um amigo meu outro dia. Eu não tenho saco nenhum de sair hoje, ir lá na Pedreira, duas horas da tarde, ficar esperando o show começar as dez da noite, cara, daí ficar até as duas da manhã, aí você não come direito.

Markos: Levar granizo ainda. (risos)

Karim: Quando você tem vinte anos é meio que obrigação fazer isso aí.

Bom, já que você tocou nesse assunto, como você vê o cenário do metal aqui no Brasil?

Karim: Eu vou falar por mim e você (Markos) fala por você. A gente tem umas visões diferentes, é legal aqui no Legacy que eu conheço muito mais a galera das antigas e ele conhece muito mais a galera mais nova. Eu vejo que no Brasil falta mais pessoas para passar experiência de como fazer a coisa, sabe? Porque tem muita banda querendo fazer, querendo tocar, que tem vontade de seguir esse lance de música, só que a nossa realidade é diferente da realidade dos Estados Unidos e Europa, né? Lá os caras conseguem fazer o que a gente está falando que tem que fazer, só que lá ainda entra uma grana, os caras conseguem um cachêzinho, aqui se a gente chegar no zero a zero, a gente está feliz da vida, né? Então aqui a gente precisa planejar um pouco diferente né o jeito de fazer isso aí. Planejar a tua vida para que você possa fazer isso, né? Tem que ter um planejamento né? Você quer ter uma banda, você quer tocar, você quer que a coisa estoure? Hoje mais do que nunca, as gravadoras não quer pegar um artista, tipo, vou pegar a banda do Markos que tem quatro caras, a banda é legal, o som é legal. Os caras não vão pegar a banda dele, se a banda já não estiver fazendo a coisa rodar. Vão gastar 50 mil dólares lá, fazer um disco, promoção, aí vamos armar uma turnê na Europa para vocês. São dois meses, ou quarenta dias. Aí os caras não posso, não tenho tempo, trabalho, casamento da minha sogra. Então os caras querem pegar que nem as minas do Nervosa. Pô, as minas estão conseguindo porque é mulher. Não é cara, estão conseguindo porque elas estão num corre fodido.

Markos: A guitarrista trabalhava em banco, né?

Karim: Elas largaram para fazer o negócio, elas já estão fazendo a coisa acontecer. A hora que a gravadora Napalm chegou nelas para fazer o negócio elas já estavam prontas para isso. As gravadoras querem pegar as bandas prontas, e as bandas acham que é o contrário. Não vou nem falar o nome. Mas os caras pô, com o disco pronto, estamos esperando pintar uma gravadora. Não vai acontecer, cara. A gravadora não quer pegar a banda, investir cem mil dólares na banda para daí começar a funcionar, começar a tocar, e ficar na incerteza se os caras vão poder fazer o corre ou não. Eles querem pegar a banda pronta. A banda já está fazendo turnê na Europa, já está fazendo turnê na América do Sul. Já estão tocando direto. Os caras da gravadora pensam: vou ter que só dar uma empurrada. As bandas brasileiras acham que é o contrário, que a gravadora tem que fazer sua banda explodir. E não é cara. Na hora que você estiver prontinho, fazendo corre com material bom, tocando, o cara vai ver que se ele pegar tua banda, ele vai ter que injetar pouca grana para fazer a coisa deslanchar. Eu acho que o mercado brasileiro tem esse problema aí. Antigamente era assim, né? A gravadora chegava e gostei do material da banda, vou lançar o som. Hoje em dia não né. Se você estiver pronto para cair na estrada e fazer um trabalho profissional e competente, ai entra o fator sorte, do cara realmente te achar lá.

Fotografia: Angela Missawa.

Markos: Essa realidade de gravadora é um bagulho que eu acho que está tipo, nossa, tá tão lá na frente que as bandas aqui, sei lá. É o sonho que você fala que é só sonho, porque não vai rolar. Mas eu acho que é desmotivador como é difícil você conseguir as coisas aqui. Pô, você quer tocar, você quer ter um instrumento legal, é um absurdo de caro. Piazada, é muito difícil você ter um instrumento legal, ter um cd massa, gravar música com qualidade legal. É um sonho muito distante para a galera, pelo valor, pelo custo que isso tem. A gente está na mesma realidade. A diferença é que a gente falou: vamos lá, vamos gastar com passagem, bancar isso e aquilo e vamos. A gente só tem essa diferença do resto da galera, porque a gente sofre igual. Mas é caro pra caramba, é difícil, o cenário de metal, rock, aqui no Brasil é uma bosta. Não to falando das bandas. É desmotivador porque é difícil para você fazer merch, é difícil para você fazer tudo, cara. Se você não tem realmente esse espírito de falar eu vou fazer o negócio, nem que eu tenha que ir lá pra longe. A gente está descobrindo ainda o rolê certo. Tem cidades que a gente pensa: pô, o que a gente está fazendo aqui?

Karim: Tem lugar que a gente chega e se pergunta. O que a gente está fazendo aqui? (risos)

Markos: Ninguém sabe. (risos) Demora anos, várias turnês, vários sacrifícios, só que o lance é esse. Quanto você está disposto a fazer esse corre? É difícil.

Karim: Planejamento errado. Não tem como o cara querer ter banda e o cara querer ser advogado. São duas coisas que não combinam. Ou o cara vai ter banda e vai ter um trampo que permita ele ter banda, ou o cara vai ser advogado e vai tocar por hobby. Não tem como ele fazer as duas coisas profissionalmente. Impossível. “Vou me formar aí, vou ganhar uma grana, daí eu posso tocar”. Beleza, você vai fazer isso aí, você vai levar teu lance como hobby sempre. Se você vai tocar, você cria ou estuda para ter um trampo que te permita fazer isso daí. Que nem eu fiz aqui. Eu não tenho estúdio porque ganha dinheiro pra caralho. Não ganha dinheiro nenhum. A gente sobrevive. Aí você fala, pô, o estúdio é legal, né, bonitão. Cara isso aqui é pra sobreviver. Tem um milhão de estúdios em Curitiba, cada um querendo comer o outro, tudo com preço baixo pra caramba. Mas com isso aqui eu consigo tocar, consigo fazer meus corres.

Vocês estavam falando de cidades de rolê ruim para tocar, né? Mas teve alguma cidade que surpreendeu vocês positivamente? Vocês falaram pô, essa cidade tem um público legal?

Markos: Tem cidades.

Karim: A gente foi tocar dois anos atrás em Francisco Beltrão. Tem o festival lá em julho que chama Beltrão Rock, a gente chegou lá um dia antes. Fomos comer um lanche a noite e, pô, vai ter um festival gigante, não tem ninguém nessa cidade, ninguém na rua, cidade deserta. Chegamos no show tinham seis mil pessoas.

Markos: Dois palcos. Um espaço gigante. Terminava o show lá num palco e começava no outro palco.

Markos: Acho que foi o melhor show que o Legacy fez até hoje.

Karim: Pelo que a gente viu um dia antes, uma sexta feira a noite não tinha ninguém na rua. A gente achou que ia ser fiasqueira, mas foi legal pra caramba.

Karim: Em Cusco também, é uma cidade pequena, extremamente turística. A gente achou que não ia dar legal e pô estava super bem organizado. Acho que de público foi o mais legal da tour inteira, de organização foi o mais legal. Sempre tem cidades pequenas que as vezes você acha que não vai dar e surpreende mesmo.

Fotografia: Angela Missawa.

Vocês comentaram da Nervosa. Teve a participação da Fernanda no disco, como foi essa participação?

Karim: Na verdade assim, a gente resolveu gravar um cover. Não sei como a gente escolheu essa daí. Um dia eu estava no carro escutando e pô, essa música dá pra fazer um som pesado legal, né? A gente fez o arranjo. Aí o Márllon veio com a ideia: pô, podia colocar uma mina para cantar essa parte melódica né. Ele deu a ideia da Fernanda. Falei, cara, mas vai ser difícil, né, achar ela, conseguir falar com ela, ela é de sp, está sempre viajando. E realmente foi difícil achar ela. Pô, falei com uns caras aí que eu sei que conhecem ela, saca. Falei se não der não tem problema, daí a gente procura outra coisa, ele falou ah, as minas estão viajando pela Europa e só voltam no final do ano. Só que a gente não é idiota né. A gente tem Instagram, a Fernanda também tem, a gente vê ela na cachoeira tomando banho no interior de São Paulo. Aí eu falei com o Luciano que faz o programa com o Andreas lá, e ele falou: deixa eu mandar um WhatsApp pra ela, ela demora para responder, mas se ela topar fazer eu te dou um toque. Ela topou, ele me passou o WhatsApp, falei com ela direto. Meu, super acessível, tranquilo. Ela topou na hora, gosta da música, ficou superinteressada. A split foi meio que na hora. Ela escutou a música e a gente falou como era, o que era a ideia, e ela pegou na hora, foi cantando na hora, legal pra caramba. Bem massa mesmo.

Vocês tem uma criatividade na hora do merchandising né?

Markos: Tem que ter, né? A gente falou, meu o que a gente vai fazer de diferente, né? Isso a um tempo atrás agora, cara, nem sei como que surgiu a ideia do taco.

Karim: Acho que foi o Tiago, né, cara?

Markos: O Tiago é meio loco.

Karim: O Tiago é o batera. Ele viu que o cara fazia taco, ele fez um taco, acho que para ele mesmo. E ele falou: “ow, podia fazer um taco do Legacy, né?”. Po Tiago, boa ideia hein. A gente tenta fazer coisa diferente. É legal camiseta, é legal (ter) coisas normais.

Markos: boné…

Karim: Aqui no Brasil também tem essa dificuldade de achar coisas diferentes para fazer. É tudo sempre caro, né? Tudo que é diferente é caro. O taco também não é barato. Apesar de que a gente vendeu bem, a gente fez uns dez tacos, a 150 pila, e a gente vendeu todos eles rapidão. Vendeu legal até, pelo produto que é. É difícil achar coisa diferente para fazer né? Por mim a gente vendia de tudo, cueca, tornozeleira eletrônica. (risos)

Markos: A gente fez shape de skate do Legacy, de capa do álbum tudo.

Angela: Não rolou?

Karim: Pior que não, bicho.

Markos: Esse tá aí. O que os black metal tem a ver, né velho? Os caras olham o shape do skate e falam: quê?

Mas teve taco, shape de skate e o quê?

Karim: Taco, shape de skate, as toucas.

Daniela: Mas touca é essencial em Curitiba.

Karim: Sim. A gente vendeu até em Porto Velho, bicho. E a gente falava, não compra cara, é muito quente aqui. O que você vai fazer com a touca?

Markos: Touca com lã, quente pra cacete. Deve estar lá numa gaveta do cara, certeza.

Karim: A gente vendeu umas quatro lá, né cara?

Fotografia: Angela Missawa.

Qual ou quais foram os momentos mais marcantes na carreira até agora?

Karim: Eu acho que o show de Beltrão foi um dos mais marcantes, não só pela quantidade de gente que tinha, mas porque a galera interagiu assim, impressionante. É difícil num show assim de som pesado você ter a galera curtindo o show inteiro. Geralmente você começa lá, tem uma galera na frente que curte, aí fica a maioria do povo lá trás, olhando com medo de levar porrada. Aí tem umas horas que tem mais gente interagindo né, mas na maioria das vezes tem um público menor lá na frente. Em Beltrão era tipo, cara, todo mundo, umas rodas de mosh gigantes o show inteiro, desde a primeira até a última música. Foi assim, realmente, impressionante.

Markos: A gente fez um wall of death lá, uma hora e pensei:

Karim: Os caras vão morrer. (risos)

Markos: Teve um cara lá que ele caiu lá e sei lá o que rolou depois. Juntaram o cara lá. Assim, o show de Beltrão, pra mim, até hoje é o melhor show que a gente fez, e o massa é que assim até hoje tem muita gente que manda inbox para gente, pergunta quando que vai ter. muita gente. foi o que mais repercutiu e cobra a gente pra tocar de novo. A gente está esperando o cara lá chamar a gente de novo.

Planos para o futuro?

Karim: No carnaval do ano que vem, a gente já estava planejando de, sempre que tem uns feriados assim, a gente tenta armar um. É difícil tocar longe, é caro para se tocar longe, aqui no Brasil tudo é difícil, né. Gasolina é cara, passagem é cara, então quando tem feriado a gente tenta pegar um ponto um pouco mais distante, marcar um show e ir tocando no caminho, na ida e na volta. E no carnaval, a gente está programando de fazer uma tour no interior de São Paulo, da sexta-feira, dia 25, até o dia 1 de março. Vão ser dez dias, e a gente está armando shows no interior de São Paulo.

Karim: Em 2021 a gente quer lançar o disco novo e armar uma turnê na Europa, vamos ver se a gente vai conseguir financeiramente isso aí, porque no Legacy, não é um problema, mas, ao mesmo tempo, em que a gente se cobra de ter e fazer as coisas, tem o outro lado né, se a gente tem tempo de viajar um mês, 15 dias, 45 dias, isso quer dizer que nenhum de nós tem um emprego sólido, financeiramente todo mundo meio que se vira. Então a grana é sempre um problema porque a gente tem que ir pra Europa, por exemplo. Só de passagem é uns 3 pau por cabeça, aí assim, os caras que vão pra Europa não fazem na raça como a gente faz. O cara contrata um booker lá, marca 15, 17 shows lá e os caras vão. Só que esse booker custa 3 mil euros. É o plano, mas não sei se a gente vai conseguir fazer. Mas a vontade que a gente tem na raça mesmo. O plano para 2020 é a gente dar uma segurada mesmo, tem essa do carnaval que já vai ser legal.

Markos: Acho que o lance do ano que vem é mais produzir material. Tanto de áudio quanto vídeo. A gente quer fazer um clipe legal também, tem várias músicas aí que a gente planeja fazer clipe. Tem um cara aqui de Curitiba que tem um drone e tá loco para fazer um clipe com a gente, em algum lugar específico, com bastante espaço, e a gente quer bolar uma ideia para fazer isso. Então acho que o ano que vem vai ser um ano que a gente mais produzir assim, do que estar nessa loucura de turnê.

Karim: Tocar a gente não vai parar porque a gente não acredita que não possa dar certo se não tocar. Não tem como. Hoje em dia, comercialmente falando, se você não tocar, pros parceiros, não é interessante. A gente tem algumas parcerias com algumas marcas, e sempre que a gente quer tentar uma coisa nova, a primeira coisa que entra em discussão é a quantidade de datas que vocês tem. Quantas vezes vocês tocam por ano? Tem marca nos Estados Unidos que nem é grande, e na hora que você vai conversar com os caras eles te mandam formulário e a primeira pergunta sempre é quantas datas você tem no ano. E tem nego que te fala, os caras mandam formulário com texto e assim, se você não tiver tantos seguidores no face, no insta, e não tiver 160 datas no ano, nem precisa preencher o formulário, pode descartar.

Fotografia: Angela Missawa.

Tem alguma coisa que a gente não comentou, que vocês gostariam de comentar, ou um recado que vocês gostariam de deixar?

Karim: Ah, acho que não. Única coisa que é uma coisa que eu gostaria de ver aqui no futuro é mais bandas fazendo isso. Acho que se tivesse mais bandas dispostas a encarar essa realidade, sair, ir pra estrada e tocar. Das pequenas né, porque de médio porte até que os caras estão fazendo, mas banda pequena não tem. E esse circuito que a gente toca é um pouco diferente das bandas maiores. Então se tivesse mais banda fazendo isso talvez movimentasse um pouco mais, né. E o problema que nem todo rolê é legal né. Tem uma banda aqui que a gente fazia uns roles juntos, e aí os caras deram uma desanimada, porque a gente pegou uns roles ruins mesmo de fazer. Não sei como a gente não desanima, né cara?

Markos: Se você não traçou isso para sua vida e realmente não tem, assim, esse tipo de coisa ele já te afeta a ponto de você largar mão, não tem como.

Karim: A gente acha que é tudo legal, que você vai viajar, conhece países diferentes, cidades diferentes, pessoas diferentes, mas essa é a parte boa, né. A parte ruim, que é aquela que ninguém vê é foda pra caramba né. Então se o cara não gostar muito de fazer, desanima. Ele pode até gostar de música, de ter banda, gostar de tocar, mas essa parte de fazer a turnê é outra realidade, é outra história. Você conviver 30 dias com os caras bicho, com pouca grana, dormindo as vezes muito mal, comendo muito mal ou sem comer. Ele tem que gostar de tocar, de ter banda, mas ele tem que gostar de estar na estrada. E gostar de estar na estrada é topar qualquer coisa, né?

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