Era fim de noite, de uma segunda-feira, e em uma das salas do HR Estúdio, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, estava ensaiando a banda Hatefulmurder, um dos nomes mais importantes da cena Death Metal carioca. Renan Campos (guitarra e vocal), Angélica Burns (vocal líder), Felipe Modesto (baixo) e Thomás Martin (bateria) lançaram seu mais novo álbum “Reborn”, em outubro do ano passado, o 3º da carreira, sucessor de “Red Eyes” (2017). Invadimos o ensaio da banda para batermos um papo com eles, para nos falar sobre sua trajetória e os planos futuros.

-Em primeiro lugar, muito obrigada por nos receber. Em tradução livre, “hatefulmurder” se refere a algo violentamente detestável, abominável. Uma expressão, de fato, bem forte. De quem foi a ideia do nome?
Renan: Quem deu essa ideia foi o nosso primeiro vocalista, Felipe Lameira. Estávamos saindo de uma banda e pensamos em começar de novo, fazer um som diferente, já pensando em algo agressivo. Estávamos brigados com o cara da outra banda, todo mundo novo, né, e a gente queria um nome que pudesse reproduzir o que faríamos na música. A vibe é de força, então pesquisamos sobre isso. Hatefulmurder é um termo usado pela perícia da cidade de Baltimore, nos Estados Unidos. Eles usam esse termo quando chegam na cena de um crime, que seja brutal, tipo um crime de ódio. Ao pé da letra, seria assassinato odioso. É um nome meio carinhoso e fofo, né (risos). Mas, ficou legal, já não dá mais pra mudar.
Thomás: São épocas, era algo que queríamos chamar a atenção pelo som brutal. Até pensamos em mudar de nome, mas não teve necessidade. Você pode pensar em outra forma, dar outro significado, meio que de transformação. Usar a energia do ódio, da angústia, da raiva pro bem, pro seu bem, sem prejudicar os outros.
-Nesses 11 anos de carreira, vocês já lançaram 2 EP’s e 3 Full-Lenght, sendo “Reborn” o mais recente, que foi produzido pelo Celo Oliveira, do Kolera Studios, onde o álbum foi gravado. Na verdade, cada trabalho de vocês acabou por ter um produtor diferente, não?
.Renan: sim, o primeiro foi o Fabiano Penna, o segundo tivemos o Renato Tribuzy na pré-produção, pra arranjar as músicas. Aprendemos muito com ele. O produtor foi o João Milliet. E agora, pra esse novo álbum, tivemos o Celo Oliveira. Na verdade, gravamos as cordas e os vocais lá. A bateria foi gravada no Family Mob Studio, em São Paulo, do Estevam Romera e o Jean Dolabella.
-Como surgiu essa parceria entre vocês e o Celo Oliveira?
Renan: Já tínhamos trabalhado com ele. Gravamos as cordas do “Red Eyes” lá, no Kolera Studios.
Angélica: Também gravamos 2 singles lá, o “Chimera” e “No class”, um cover do Motörhead.
Renan: Depois que lançamos o “Red Eyes” a gravadora europeia nos solicitou mais 3 músicas, pro álbum ser lançado lá. Então, colocamos uma gravada ao vivo, no Imperator (Méier, Rio de Janeiro), o cover do Motörhead e a nova música “Chimera”. Nós super curtimos trabalhar com ele. Além de ser meu amigo pessoal há anos, ele é bem ágil, prático. Conseguimos trabalhar lá com conforto, de forma bem tranquila. Pudemos experimentar coisas novas, novas ideias, arranjos. Tem sido legal por isso.
Thomás: Gostamos muito da qualidade, dos timbres, que conseguimos tirar lá.
– Antes do lançamento do “Red Eyes” vocês deram uma entrevista onde mencionaram elementos ainda não explorados. Que elementos seriam esses?
Modesto: Seriam coisas tipo letras em português, vocais limpos.
Renan: Tem coisas que a gente discute, sabe, assim do tipo ‘temos que fazer, por que temos que fazer?’ ‘Temos que fazer por que ainda não fizemos?’ Essas coisas. Trazemos pra avaliar. De novidade, de música, a gente tá colocando samples, recursos de teclados, efeitos, elementos de música eletrônica.
Thomás: Sempre no que a música pede. Não é colocar por colocar, tem uma razão pra fazer daquele modo.
-Músicas inteiras com vocais limpos, por exemplo?
Angélica: Não, música inteira, não, apenas alguns trechos, como ocorreu no “Red Eyes”.
-Já que estamos falando em vocais, Angélica, qual a sua principal influência?
Angélica: Sempre ouvi músicas com vocal gutural, é o que mais gosto. Estudei pra desenvolver essa técnica. Quando descobri que uma mulher poderia fazer isso, então embarquei. Minha principal influência é a Angela Gossow. Se ela podia fazer, eu também poderia. Não consigo me identificar em fazer outro tipo de canto. Cantar gutural é uma válvula de escape pros sentimentos ruins, que eu tenho.
-E a possibilidade de relançar o material antigo, existe?
Não pensamos nisso, não vemos essa necessidade.
-Como foi a recepção do álbum “Red Eyes”, aqui e fora do Brasil?
Renan: Muito boa. Na verdade, a Angélica tem recebido muitas mensagens lá de fora. Tem um pessoal muito doido (risos). Eu, quando leio as mensagens, vejo o pessoal pedindo pra gente ir lá, assim, América do Sul, Europa. Pedem muito.
Angélica: Muitos da Europa e Estados Unidos.
Thomás: Aqui dentro do Brasil também. Conseguimos fazer um som que é só nosso. Até os artistas mesmo nos dão esse apoio. Luís Mariutti deu uma apadrinhada na banda. Andreas Kisser também. Fizemos um programa com ele, no “Pegadas de Andreas Kisser, na 89FM. Tem o Jimmy London também.
-O que vocês podem nos dizer sobre “Reborn”, o novo álbum?
Thomás: Fizemos um álbum só nosso. Bem o que a gente queria fazer. Acho que deu muito certo.
Renan: Artisticamente, é maravilhoso. Eu o escuto pra curtir.
-Como foi a experiência de gravar em português? Podemos esperar mais lançamentos do tipo, no futuro?
Angélica: Talvez tenha sido mais fácil de escrever. Mas, ao vivo, cantando, é mais difícil pra encaixar o gutural, porque a gente tem que cantar de uma forma que a plateia entenda. Preciso articular mais, tem mais vogais, uma fonética que não existe em inglês. Fica mais complicado, mas achei o resultado muito bom.
Renan: Na minha opinião, ela interpretou mais. Eu escrevi pensando nela cantando. É diferente, deu muito trabalho. No novo álbum tem uma música inteira em português e outra só com o refrão. Se no futuro teremos mais isso, não sei. Todo mundo tem que curtir. Thomás compôs uma música em português, mas nós vimos que não daria certo. Pedi a permissão dele pra mudar a letra pro inglês, mantendo a ideia original, deixando só o refrão em português.

-Temos aqui no estúdio, a presença do fã Marcelo Prudêncio, que tá curtindo muito. Como tem sido essa relação de vocês com os fãs?
Renan: Nosso som é assim, pra curtir ao vivo, de você poder colocar seus demônios pra fora. Essa sensação, energia, se a gente perceber que o público conseguiu isso, saiu cansado, se divertiu, tá valendo. Eles nos dizem que nos escutam muito pra malhar.
-Onde a Hatefulmurder tem mais fãs?
Angélica: Rio de Janeiro e Minas Gerais. Lá fora temos muitos fãs na Europa, principalmente no leste europeu.
Renan: Chile também, Alemanha e alguns países da Europa. Costumamos receber mensagens de lá também.
-Desde o lançamento do álbum “Reborn” a banda já fez diversas apresentações. Podem nos falar um pouquinho sobre esses shows?
Renan: O álbum foi lançado em outubro do ano passado e fizemos vários shows no Rio de Janeiro, depois, em dezembro, rodamos o sul e sudeste com 6 shows, numa tour conjunta com a banda espanhola de Trash Metal Angelus Apatrida. Estivemos em Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Santos, Bueno Brandão, que é sul de Minas Gerais e fechamos em São Paulo. Nesse ano, tínhamos muitos planos para a divulgação do novo CD, mas…
-Pois é, a pandemia derrubou a todos.
Renan: Sim, infelizmente. Em abril, nós iríamos fazer uma tour pelo nordeste, que teve que ser adiada. Em outubro, nossos planos era de ir pra Europa, pela primeira vez.
-Mas, mesmo assim, a banda não está parada, né?
Renan: Ah, não. Nesse meio tempo, lançamos o clipe oficial do single “Reborn”, que dá nome ao CD, gravamos entrevistas, fazemos áudio, ou seja produzimos conteúdo. Como banda, nós não nos vemos presencialmente desde março, mas estamos sempre ativos.
-Isso que é importante, né, não deixando cair no ostracismo e mantendo sempre os fãs alimentados. E por falar no clipe da faixa “Reborn”, já são mais de 10 mil visualizações em pouco mais de um mês de seu lançamento!!! Parabéns. Em breve tudo isso vai passar e veremos a Hatefulmurder novamente levantando poeira. Pessoal, adorei nosso bate-papo. Vocês tem uma vibe muito legal, forte. Desejo a Hatefulmurder todo o sucesso do mundo. Vocês são maravilhosos e fofinhos. Obrigada.
Hatefulmurder: Nós que agradecemos. Todo o sucesso pra você também. Adoramos a entrevista.
Nota da redatora: A entrevista foi realizada de modo presencial antes da pandemia e as informações da situação atual da banda foram obtidas via WhasApp.