Um dos músicos mais importantes do estado do Pará, Saulo Caraveo, tem passagem importante pela banda Soledad e vem marcando seu nome na história da música pesada, com a criação do importante grupo de Heavy Metal, a Rhegia.
Após apresentar um trabalho sólido, polido e extremamente bem produzido, o músico fala abertamente sobre como foi criada a banda Rhegia, o álbum “Shadow Warrior”, as influências, temática e novidades que estão por vir.
Confira o bate-papo exclusivo que Saulo Caraveo concedeu para a Roadie Metal:
Roadie Metal: Como surgiu a ideia de criar a banda Rhegia?
Saulo: Com o fim da Soledad, minha antiga banda, da qual eu fazia parte desde 1997, ficou pelo caminho algumas lacunas em minha carreira. Eu tinha muitas composições e ideias que não haviam sido aproveitadas pela banda. Tanto Shadow Warrior quanto Dream War são composições de uma época em que eu ainda morava em São Paulo – entre 2001 e 2004 – período em que me formei no IG&T. A Rhegia surgiu exatamente para preencher as lacunas.
Lembro de ter chamado Moadias Branco para conversar e falei sobre minha proposta. Eu disse: eu tenho um projeto guardado há anos. Quer fazer parte junto comigo? Ele topou na hora. Sua primeira pergunta foi: Quem vai ser o baterista? Eu disse: eu conheço um cara que não é desse planeta. Foi assim que o Sávio Souza participou do início da Rhegia. Na verdade, ele sempre assinalou que não gostaria de fazer parte na banda mas que gravaria e faria os shows que pudesse fazer. Ilvan Bambam, por ser meu amigo praticamente de infância e por já tocar comigo em outros projetos, incluindo a Soledad, também aceitou o convite.
Foi com esta formação que fizemos o primeiro show. Nessa época, tanto Sávio quanto Branco quiseram chamar a banda de Caraveo. Eu não curti muito (hahahaha). Tanto que insisti para pesquisarmos outro nome. Como sempre tive uma pegada regional, tanto nas linhas das músicas da Soledad quanto no meu projeto solo, a Rhegia surgiu em meio a alguns nomes selecionados.
RM: Com o fim do Soledad seu companheiro de banda, o vocalista Moadias Branco foi chamado para ser a voz do Rhegia, porque a escolha dele para a banda, e não a reformulação e continuidade do Soledad?
Saulo: O fundador da Soledad é Ricardo Smith, um gênio. Eu entrei na banda depois. Acredito que tenha sido a formação mais emblemática para a cena do heavy metal local. Fizemos muita coisa boa por aqui. Mas eu queria fazer um som mais pesado, tanto nos riffs, bases quanto nas variações do vocal.
Branco é um fenômeno da natureza. Acho que nasce um em pelo menos quinhentos mil com a tessitura vocal dele. Um cara que escreve rápido, pensando tanto no conteúdo quanto na métrica musical. Não havia outro cara melhor para fazer esse projeto em Belém. Tivemos e ainda temos muitas divergências ao longo de todo o processo no qual a banda está inserida – o início, composição, gravação, lançamentos – mas acho que faz parte.
RM: A temática lírica da Rhegia em “Shadow Warrior” fala sobre histórias do folclore indígena Amazônico, como você definiu esse conceito para as letras do primeiro registro?
Saulo: Como falei anteriormente, sempre fui muito ligado a cultura paraense – nortista e/ou amazônica – desde criança. Tive contato com todas as artes – música, teatro, literatura e etc. – em Belém do Pará. Muitas de minhas composições instrumentais têm esta abordagem e quis levar pra Rhegia este conceito. Quando falei para o Branco sobre a temática que gostaria de implementar o cara ficou eufórico, pois ele tem ancestralidade indígena.
O cuidado que temos é de não forçar a barra. Somos uma banda de Heavy Metal que fala de sua própria cultura, utilizando a linguagem literária e musical.
RM: Os próximos trabalhos da Rhegia irão manter essa proposta temática?
Saulo: Sim, vamos manter a temática. Vou revelar um segredo. Já estou trabalhando nas composições do segundo disco e toda a construção do enredo. O nome das faixas e a maioria das letras já está pronta e claro que o Branco ainda vai ajustar muita coisa para adequar ao seu estilo, mas está caminhando bem. Algumas músicas já estamos tocando nos shows. Inclusive a Juliana Salgado já está fazendo parte do processo de construção dessas músicas. Está pesadíssimo!
RM: Como funciona o processo de composição de letras e arranjos da banda?
Saulo: Até o momento, eu componho a parte estrutural das músicas – harmonia, arranjos, solos e algumas ideias melódicas para os vocais – O branco faz uma parte importante que é definir as melodias. As letras geralmente fazemos juntos a partir de um tema.
Em Shadow Warrior foi uma loucura. Imagina uma banda almejar entrar em cena apenas com uma ideia na cabeça? Hahahah.
Cara, me tranquei na minha sala de aula, na qual tenho um pequeno Home Studio e comecei a pesquisar, compor e fazer arranjos a todo o vapor. Branco foi ao meu encontro várias vezes para definir os vocais e letras. Foi muito estressante. Isto aconteceu em julho de 2017 e em agosto entramos no estúdio. Gravamos até rápido incluindo até mesmo as percussões pois já havíamos feito toda a pré-produção. Aí algumas ideias surgiram bem no meio do caminho: a entrada do Coral e a gravação de Sand Of Time.
Lembro de Branco ter falado: toda grande banda tem uma balada. Lamentando. Fui pra casa e voltei com Sand Of Time. Gravamos.
Os corais foi uma porrada. Branco não queria. Hahahahaha. Eu disse: te acalma, deixa a gente gravar e depois a gente ouve. Se não ficar bom, retiramos. Fiz os arranjos, contei com alguns amigos cantores aqui em Belém, gravamos e acabou ficando. Ficou muito bom.
Não tivemos as melhores condições para gravar Shadow Warrior – agenda pessoal de cada integrante, falta de tempo no estúdio, atrasos na mixagem – quem arrumou a casa foi Brendan Duffey. Somos muito gratos pelo trabalho que ele realizou com a gente.
Para o próximo disco pretendemos ter melhores condições de maneira geral.
RM: Você é um dos guitarristas mais renomados e reconhecidos de seu estado, conte-nos um pouco sobre sua trajetória na música e o que faz além de guitarrista e principal compositor da banda Rhegia.
Saulo: Eu comecei a tocar e estudar música bem tarde para os padrões do mercado. Eu já tinha 21 anos quando entrei na Soledad. Eu aprendi a tocar guitarra para entrar na banda e eu nem tinha guitarra, pedia emprestado por não ter condições de comprar uma. Tive uma semana para tirar as músicas da Soledad. Ricardo Smith me deu uma fita K-7 e um VHS e disse te vira. Nos encontramos depois uma ou duas vezes e ensaiamos com a banda toda uma vez se não me engano. Músicas difíceis e enormes. Hahahahahah. Não sei o que deu na cabeça do Ricardo para me chamar pois até o Branco era contra minha entrada. E foi assim que eu comecei. Eu estudava Engenharia Elétrica nessa época.
Estudei violão clássico no Conservatório Carlos Gomes em Belém, tranquei meu curso de engenharia no último ano e passei no vestibular de música em 2000. Cursei um ano e por razões pessoais fui para São Paulo (esta é uma parte longa de minha vida) em 2001. Tentei transferência para as universidades de lá, mas não consegui. Eu tinha problema cardíaco, fiz um procedimento cirúrgico no Hospital São Paulo sem que minha família soubesse, quase morri. Aliás, acho que bati nas portas do céu e voltei. Experiência incrível e assustadora. Estudei com Mozart Mello e me graduei em Guitarra Fusion em 2004 no IG&T e logo depois retornei a Belém. Fundei minha escola de música em 2007 – Escola G2 Muhsica – na qual dou aulas até hoje. Sou mestre e faço doutorado em Artes na Universidade Federal do Pará. Ser pesquisador me ajuda no processo de composição. Resumidamente é isso.
RM: Como você tem visto a aceitação do público de fora de sua região ao álbum “Shadow Warrior”.
Saulo: Isto tem sido incrível. Fizemos alguns shows em algumas cidades aqui na região e a receptividade tem sido excelente, mas saber que existe uma crítica positiva fora de Belém e do Brasil realmente isto é a realização de um sonho. Talvez a nossa maior dificuldade esteja no fato de estarmos fora do centro mercadológico do heavy metal. No Brasil o Sul e Sudeste e no mundo a Europa. É muito difícil fazer as coisas acontecerem aqui em Belém, acho que no norte do país como um todo. Não foi fácil para a Rhegia chegar até aqui, mas estamos muito felizes pelo alcance, repercussão e críticas favoráveis em relação a este primeiro trabalho. A crítica da RoadieCrew foi fantástica, acredito que a nota 8 reflete exatamente todas as dificuldades que enfrentamos. Outras resenhas pelo mundo e sites especializados que têm publicado nosso trabalho vem nos animando bastante. Por isso já estamos trabalhando no segundo disco. Acredito que seja uma questão de tempo até começarmos a fazer shows fora de nossa região. Nosso trabalho está incrível e precisamos de produtores que deem a oportunidade. Estamos preparados para tocar em qualquer lugar do mundo.
RM: Quais as próximas novidades acerca da banda?
Saulo: Com o disco lançado tanto nas plataformas quanto fisicamente, o vídeo clipe de The March que já está em nosso canal no youtube, além dos shows que estão agendados aqui no norte do Brasil, as novidades giram em torno do show oficial de lançamento de Shadow Warrior. Ainda estamos estudando e aguardando algumas propostas de datas e local. Outra coisa é a pré-produção do segundo álbum da banda que já está em andamento. É um projeto gigantesco.
RM: Deixe uma mensagem para o leitor da Roadie Metal em nome da Rhegia!
Saulo: Primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade de compartilhar um pouco da trajetória da Rhegia com todos vocês e dizer que estamos achando ducaralho todo o apoio que estamos recebendo do público local, nacional e internacional e que saibam que daqui do norte do Brasil estamos trabalhando para levar o melhor para a cena heavy metal no mundo. Muito obrigado, abraço a todos e nos vemos “além da última curva do rio”. Saulo Caraveo.
RHEGIA É FORMADO POR:
Moadias Branco – vocais
Saulo Caraveo – guitarras
Ilvan Pimenta – contrabaixo
Juliana Salgado – Bateria
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