A banda Gangrena Gasosa é única dentro da música pesada brasileira que toca o chamado Saravá Metal, com letras incomuns dentro do cenário do Rock e do Metal. Com quase 30 anos de uma história única, eles sempre focaram suas letras em temas tidos como intocáveis. Afinal, despacho e saravá eram palavras proibidas dentro da música pesada. Seu show é repleto de figurinos e é uma experiência única de ser vivida. E o público curitibano terá oportunidade de presenciar isso em show que acontece dia 19 de outubro (sábado), no Hangar – A Casa do Ócio.

Em entrevista para a Roadie Metal, o vocalista Angelo Arede falou sobre o processo de crowdfunding, músicas que definem os tempos atuais e já avisa que show em Curitiba terá “Sangue nos olhos e muita diversão”.

Em uma entrevista, você citou uma fala da Nina Simone de que o artista deve refletir o seu tempo. Que música do Gangrena você usaria para definir os tempos atuais?
Angelo Arede: ‘Fiscal de Cu’. Homofobia ainda que não fosse crime é cafona e careta. Uma das armas que os idiotas usam pra esconder suas inseguranças. Entenda-se por insegurança a vontade incubada que todo homofóbico(a) tem de sair do armário.
Acrescentaria também ‘Chuta que é Macumba’, que faz um paralelo do quanto os evangélicos enchem o saco do Povo de Santo. Já era assim na época do seu lançamento em 2011 e piorou bastante com a escalada do plano de poder do maior demônio brasileiro, Edir Macedo.

Gente Ruim Só Manda Lembrança Para Quem Não Presta” foi concebido através de crowdfunding. O que você achou desse processo para a produção do álbum?
Angelo Arede: Achei incrível. Já colaborei com alguns financiamentos como fã e é uma iniciativa interessante pra ambos os lados. Imagina ter seu nome estampado na obra da banda que você curte.
Já o processo foi ótimo mas de certa forma tenso, como não poderia deixar de ser com a Gangrena. Quando estávamos prestes a começar ficamos sem vocalista e tivemos que andar vários passos pra trás atrasando em quase um ano o começo das gravações. E não eram somente as músicas do disco, estávamos com vários shows marcados e além das músicas novas o novo Omulu teria que pegar o repertório quase todo. O lado bom foi que o processo de seleção foi feito pelas nossas redes sociais, teve bastante repercussão – foi chamado pelo público de “The Voice Gangrena” chamando a atenção até da grande imprensa – e incorporamos o Eder Santana, baita vocalista. Chegou, matou a bola no peito e saiu jogando. É muito Axé, maluco.
Sem contar que certamente foi o estúdio mais foda que a banda já gravou, o Dissenso em São Paulo. Ainda tive produzindo junto comigo o Iuri Freiberger, que trabalhou com uma banda que eu sou fã, o Bongar. Ele é foda e tudo ficou exatamente do jeito que imaginamos pro disco.

Gangrena Gasosa – Fotografia: Diego Padilha

O álbum mais recente foi lançado, ano passado, em 2018, sete anos depois do último. Dizem que sete é um número de transformação. Quais as principais mudanças para o Gangrena Gasosa?
Angelo Arede: Profissionalismo e sintonia. Teve um tempo em que orbitava pela banda um monte de gente babaca e isso atrapalha pra caramba na parte profissional. Graças a Exu as composições do “Se Deus é 10 Satanás é 666” funcionaram apesar disso e todos os projetos que rolaram posteriormente foram muito bem sucedidos graças ao núcleo duro da Gangrena, comigo, com a percussionista Ge e com o guitarrista Minoru Murakami, que já estava na banda na época mas não participou das gravações em 2010 por conta dessas instabilidades internas. Não ter forçado a barra pra ele gravar foi uma das poucas coisas que me arrependo na banda até hoje, mas enfim…
Pelo menos depois disso as coisas foram melhorando e produzi junto da Ge e do Fernando Rick da Blackvomit Filmes, o DVD duplo “Desagradável” (que tem o documentário na grade do Canal Brasil até hoje), lançamos revista, gravamos uma trilha sonora pro curta “O Terno do Zé” e outra pra um longa- metragem, o “Fábulas Negras”, do Rodrigo Aragão, que teve participação e codireção do Mestre Mojica, o Zé do Caixão.
A melhor mudança na Gangrena Gasosa é a banda agora ter uma energia foda e tudo rolar na maior sintonia. Isso se reflete no lado profissional. Tanto que nesse período tocamos em todas as regiões do Brasil, coisa que nunca tinha acontecido em quase 30 anos de banda.

O que os curitibanos podem esperar do show no dia 19 de outubro no Hangar, A Casa do Ócio?
Angelo Arede: Sangue nos olhos e muita diversão. O Paraná é um dos estados que mais curtem a Gangrena e vamos levar uma Gira insana pra vocês dia 19.

Qual a sua opinião sobre o cenário do Metal no Brasil?
Angelo Arede: Está bem forte mas poderia estar mais. Acho que isso vai começar a acontecer quando as bandas se misturarem mais, participarem mais das produções uns dos outros. Já vem acontecendo como fenômeno recente mas tem muito caminho pela frente. Mesmo assim ainda é melhor do que a cena dos anos 90 e infinitamente superior à cena dos anos 2000 aqui em Pindorama.

Quais os planos futuros para o Gangrena Gasosa?
Angelo Arede: Lançamentos ainda em 2019 e disco novo ano que vem, inaugurando os anos 20. Se contar o resto vira spoiler.

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