Ao ouvir pela primeira vez, o punk rock parece bastante fácil para um baterista. Mas ao descobrir a intensidade, criatividade, velocidade e resistência necessária para criar sua batida, você descobrirá rapidamente o respeito por esse gênero.
A assinatura distinta e criativa que André Prates imprime no Explain Away vai além da associação de noções simplistas que cerca o gênero musical, e demonstra que os bateristas de punk são os criadores de ritmos, a espinha dorsal da banda. Com uma performance otimista, rápida e precisa, o músico leva reconhecimento a banda que só tem a crescer dentro da cena punk internacional.
O grupo Explain Away que foi formado em 2014, mistura punk, grunge e alternativo dos anos 90 com uma pegada própria e visceral. Letras realistas e reflexivas sobre as consequências do nada fácil cotidiano das grandes cidades e saúde mental, com um instrumental agressivo que correspondem aos temas tratados. Lançaram seu primeiro trabalho de estúdio no final de 2017, intitulado “Collective Loneliness”, com 9 faixas que demonstram isso do começo ao fim, e apresentações potentes e altas, resgatam o espírito do bom e velho underground independente com uma equação diferencial de boas referências em cada acorde.
No primeiro semestre de 2020 marcando a nova fase do power-trio, Explain Away lança o single da faixa “Cause We” via Electric Funeral Records em todas as plataformas de streaming, mostrando um caminho de composição, melodia e reflexão diferente, criando combinações melódicas com sua pegada punk rock californiana, apresentando um som maduro e sincero.
Conversamos com André Prates sobre sua trajetória na banda, influências musicais, processo de composição, backline, entre outras curiosidades. Confira!
Você e o Explain apresentam uma sintonia e criatividade fora do comum. Como que funciona a parceria de vocês como músico e amigos dentro do projeto? Como a banda surgiu?
Meu início na banda foi meio por acaso. Eu recém tinha vindo de Floripa pra morar em SP (2013) e volta e meia vinha o pensamento de montar uma banda aqui. Achava que SP era o lugar certo pra além de trabalho, eu ter uma banda, mas como eu era novo na cidade, ainda não conhecia quase ninguém. Quase 1 ano depois apareceu o Cattuzzo (antigo baixista do EA). Ele foi trabalhar no mesmo lugar que eu tava na época e, indo direto ao assunto, um dia fui conhecer a banda dele em um ensaio no Estúdio Texmix. A banda era nova, eles estavam ali pra se divertir. Gostei da vibe. No fim do ensaio perguntaram se eu queria tocar alguma coisa com eles, obviamente todo esse tempo sem tocar, tava sedento por isso né? Toquei. Gostei e senti que eles gostaram. Uma semana depois perguntaram se eu queria entrar na banda hahaha. De lá pra cá a gente sempre esteve junto, não só nos ensaios e shows mas também saindo pra outros lugares para beber, trocar ideia e tal. É uma família que ganhei.
Dentro do cenário do rock alternativo e punk rock nacional, você costuma acompanhar bandas com trabalho autoral? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado a atenção?
Tem as bandas que acabam virando nossos amigos e consequentemente a gente acompanha mais de perto, tenho receio de escrever aqui e esquecer de alguma, mas uma que eu amo muito (inclusive eles), é o Running Like Lions. Uma que me chamou bastante atenção recentemente é o All the Postcards, do RJ. E sobre banda gringa é difícil, cada fase eu vicio em alguma. The Menzingers, AM Taxi, Red City Radio são bandas que quando descobri não consegui parar de ouvir… Uma banda que ando viciado no momento nem é de rock, mas é o SOJA.
Que dica você daria a músicos brasileiros da cena, que tem medo de experimentar e inventar coisas novas em suas músicas?
Não sou a pessoa mais corajosa, mas as coisas que faço boto bastante sentimento nelas, então acho que já é metade do caminho. Aí se vc encontra pessoas abertas a novas ideias e que incentivam um ao outro acho que o caminho fica perfeito.
Qual modelo e marca de bateria, pele, baqueta e estantes que você usa? Conta pra gente a relação de amor com seu instrumento.
Sou meio desligado pra essas coisas, até pq nunca tive uma bateria. Sempre toquei nas dos estúdios ou das casas de shows. Mas o que não consigo trocar são minhas baquetas Vic Firth American Classic 5B. Sempre que algum amigo vai pra fora do Brasil eu peço pra trazer uns pares pra mim hehehe. Meu pedal é um simples da Pearl. E minha última aquisição foi um prato que fiquei apaixonado, um Ride de 24″ da Paiste modelo Giant Beat, o mesmo que o John Bonham usou uma época. O crash dele é lindo demais. A bateria pra mim é o reflexo dos meus sentimentos e uma terapia também. Quando toco, me concentro só ali e esqueço de tudo, se eu tô com raiva é ótimo tocar, se tô feliz também. Por isso adoro ver bateristas que tocam com vontade, com emoção.
Quais são as suas maiores influências musicais? Pra você qual é o maior baterista de todos os tempos?
Na adolescência eu era mais fechado no punk rock/hardcore californiano: Pennywise, NOFX, Lagwagon e Cia. Meu sonho era morar na Califórnia e só conseguia ouvir isso. Só depois que fui me abrindo pra outras coisas. Fora o punk, sempre fui doido por Rockabilly, sempre tive a sensação que vivi naquela época. Se eu pudesse viajar no tempo iria direto para os anos 50. Hoje escuto um pouco de várias coisas, curto muito reggae, blues e até uns emos que eu tanto criticava quando era jovem hahahah. Recentemente comecei a gostar de Tim Maia. Tem muita coisa ainda que deixei pra trás e quero conhecer melhor, principalmente brasileira.
E sobre baterista, primeiro vou falar do mais óbvio que é o Travis. Acho que esse aí influenciou muito baterista de punk rock, né? Depois eu fiquei maluco pelo Byron, do Pennywise. O jeito que ele toca sempre foi uma influência pra mim, é tipo um caminhão sem freio descendo um morro a toda velocidade. Outro batera que eu sou maluco é o Brooks Wackerman, principalmente quando ele tocava no Bad Religion. Tenho a impressão que ele e a bateria são uma coisa só. Outro que gosto de ver tocando é o Atom Willard, do Against Me!, é muito estilo! hahah. Já fui muito maluco pelo Graham (ex-Belvedere), pelo Paolo, do Beerbong… Putz, são tantos, não dá pra escolher um não!
Suas linhas de bateria demonstram uma combinação de técnica, criatividade e de muita emoção ao tocar. Você sempre compõe de forma natural ou tem a tendência em analisar metodicamente tudo que compõe?
Sou metódico pra várias coisas na vida, até demais. Mas na música a emoção grita. Eu realmente gosto de botar sentimento quando tô tocando. Nas criações, gosto de sentir o que a música tá pedindo. Por isso adoro tocar levemente ‘alterado’ e deixar a música me levar hehehe. É mais emoção do que técnica.
Como a música surgiu em sua vida?
Na minha família não tem nenhum músico, mas meu pai sempre ouviu bastante música. Desde criança eu tenho gosto pela coisa. Desde novinho eu pegava as agulhas de crochê da minha mãe e ficava tocando nas panelas, almofadas… Lembro até hoje de um dia, quando eu era bem novinho, que minha madrinha brincou dizendo: “Um dia o André vai ser baterista, tá sempre batucando”. Não sei pq mas isso nunca saiu da minha cabeça, quer dizer, sei sim, mas acho que comecei a tocar brincando com os amigos da rua tocando samba.
Qual foi o melhor show da história do Explain Away? Conta pra gente.
Cada show tem uma coisa diferente, mas um que gostei bastante foi o que fizemos no Teatro Sérgio Cardoso, apesar de eu ter tocado sentado em vários livros empilhados e escorregando toda hora, foi um dia legal pq tinha bastante amigo presente e tinha bastante luzes e gelo seco e eu amo isso hahahah. Mas a energia tava muito boa. E outro especial também foi o que fizemos no NiMBUS STUDiOS, um lugar muito foda, que já foi casa de gravação de vários artistas renomados do Brasil. Nesse a gente tava com formação nova na banda (Italo, no baixo). A vibe tava bem diferente, fizemos alguns amigos lá, foi um show muito foda também!
Qual é a sua faixa favorita da banda?
Sou fã de Each Day.
Quais os planos para 2020?
Agora com a pandemia, os planos mudaram, pra todo mundo né. A gente ia entrar em estúdio para gravar material novo, acho que já temos umas 7 músicas novas, não lembro bem. Mas por enquanto meu plano é fazer o que um monte de bunda mole não tá fazendo: ficar em casa e esperar o controle deste vírus maldito.