O grupo carioca de Crust/Grind Chaotic System acaba de lançar o EP “Baixada Morta” na França via Triangle Infernal Records, em edição limitada. Este é o primeiro registro da banda na Europa. O EP foi produzido em 2018 no mesmo país pelo brasileiro Fábio Andrey (ex-Insanity). A banda, que já lançou dois EPs em 2019, prepara seu álbum pra 2020.
Criado na cidade de Duque de Caxias/RJ das cinzas do Mastery (Thrash Metal) em 2008, o Chaotic System tem como propósito fazer Crust/Grindcore com influências de bandas como Discharge, Disrupt, Extreme Noise Terror, Doom, Napalm Death entre outras. O espectro musical da banda abrange também outros subgêneros da música extrema como o Hardcore e o Death Metal, sem restrições. As letras abordam temas como caos social, política, corrupção e tudo que envolve cotidiano da classe trabalhadora e pobre no Brasil. A banda se mantém na ativa com seu fundador, o guitarrista/vocalista Magno Vieira, e com Eduardo Martins (baixo/vocais, ex-Vox Mortem) integrando os últimos lançamentos.
Batemos um papo com a banda sobre carreira, influências musicais, processo de composição e gravação, e planos futuros. Confira.
De onde vem o nome “Chaotic System”? O que levou a banda a esse nome?
Magno Vieira – Primeiramente vem do ódio a todo tipo de desigualdade, preconceito, injustiça e fascismo que esse mundo tem e em segundo, vem do primeiro disco da banda mineira Eminence, “Chaotic System”.
Como se deu o surgimento dela?
Magno Vieira – Eu fundei o Mastery em 2002 que durou até 2008. Era uma banda de Thrash Metal, nada a ver com o som do Chaotic System, aí em 2008 eu já estava meio “podre” contaminado pelo Crust/Grindcore e resolvi, antes mesmo de o Mastery acabar, montar o Chaotic System (uma espécie de projeto engavetado). Em agosto de 2008 o monstro saiu da gaveta.
Eduardo Martins – Eu entrei na banda no segundo semestre de 2018, após ter saído do Vox Mortem e o Magno terminar um projeto paralelo. Quando soube do material que ele tinha guardado, me ofereci pra produzir mas fui chamado pra fazer parte da line-up.
A banda acaba de lançar material novo. Como foi o processo de composição e gravação das faixas?
Eduardo Martins – Magno já tinha mais de 20 faixas escritas e guardadas, então o pilhei pra gravarmos tudo aqui no Rio. Produzimos inúmeras demos até a gravação, que foi um processo bastante intenso. Entre o final de janeiro e início de fevereiro gravamos baixo e bateria. Em abril, foi a vez da guitarra e dos vocais. E aí foi ódio e catarse: caiu uma chuva torrencial de vários dias aqui no Rio, meu apartamento ficou sem água, encaramos enchente… Mas no final deu tudo certo e fomos comemorar da melhor maneira suburbana: latão e churrasquinho na esquina! O Marcão (Marco Anvito) nos ajudou demais, pois ele tem uma maneira muito peculiar de produzir: enquanto o som fica muito pesado, o clima no estúdio é o contrário, pois é muito leve e divertido. Fizemos vídeos e tá lá no nosso canal no Youtube.
Magno Vieira – “Baixada Morta” (2018), “Help Brasil” e “Human Decay” (2019) que são os mais recentes trabalhos até então, são frutos de vários anos de hiato da banda, aí nada como dividir todas essas músicas em EPs e um full album que já estava mais do que na hora de sair… Modéstia à parte, está por vir muito mais lançamentos e temos músicas para vários discos e EPs. O bacana é que a mensagem soa atual mesmo com uma sonoridade “velha”. E jogamos pitadas de coisas novas e estranhas que a gente vem escutando e conhecendo. Quanto às letras, é só olhar ao seu redor. O processo de gravação foi bem fácil, porém cansativo, devido a um monte de merda que aconteceu como o Eduardo já falou. Nós estávamos tão afim de fazer essas gravações que todos os problemas com chuva e tudo mais passaram meio que batido. Só lembro que nós estávamos muito focados e bem a vontade com o Marcão e seu belo estúdio cheio de cervejas. Não tinha como não dar certo!
Os últimos discos lançados foram muito bem recebidos. Podemos esperar full album em breve?
E – O feedback positivo é muito bacana, é um dos combustíveis pra seguir em frente! Ficamos felizes e gratos por isso. E sim, com toda certeza teremos um full álbum. A previsão do primeiro disco é para a segunda metade de março ou início de abril. Estamos por conta de uns detalhes mesmo. O nome do full será “Rise”, terá 14 faixas e tem tudo a ver com o que o Chaotic System passa no momento: ressurgir das cinzas.
Suas letras passam uma mensagem muito forte, de onde vêm as ideias para as composições? Existe alguma composição que é mais especial para vocês?
Magno Vieira – Acho que eu meio que respondi essa pergunta em outra. Como eu falei, o combustível para escrever essas letras é o fato de você olhar com atenção tudo ao redor, simples assim! Em especial as que eu mais curto são: “I`m Sick”, “Hate For Hate” e “After The Epidemic”. Sem dúvidas são músicas fixas de setlist.
Eduardo Martins – Basicamente somos da classe trabalhadora condenada a uma vida de bestas sem carga de uma elite que prefere manter esse sistema de exclusão pra benefício próprio. O problema é que temos consciência de classe, rejeitamos o sistema como ele está e isso gera revolta. A diferença é que nós transformamos essa angústia, essa raiva em forma de arte, seja nas letras, nas capas e no som. É a nossa forma de reação e isso se torna fácil num país como o Brasil. Sobre uma composição mais especial, é sempre difícil escolher uma favorita, mas particularmente gosto muito de “Hate For Hate” do Baixada Morta e “Help Brasil”.
Quais as bandas e fontes artísticas que inspiram o som do Chaotic System?
Eduardo Martins – Todas as fases do Napalm Death, groove/industrial como Godflesh e Fear Factory, Soulfly (na verdade todas as bandas que o Max fez né?), Extreme Noise Terror, Disrupt, Mass Grave…Bandas antigas de Death e Thrash Metal, Hardcore… Somos ecléticos demais, nos permitimos a escutar e beber de várias fontes. Vamos do New Metal ao Pós-Punk. Nosso leque musical é gigantesco, então não se assustem quando aparecer coisas experimentais no nosso som.
Quais os planos para 2020?
Eduardo Martins – Um plano nosso é de voltar aos palcos e apresentar as faixas ao vivo pro povo. O outro plano é voltar aos estúdios pra gravar mais coisas, pois já temos material de sobra pra gravar pelo menos dois discos.
Confira o “Baixada Morta” nas redes sociais e o clip/single de “Hate for Hate” neste link: