Considerado um dos grandes guitarristas brasileiros, Andre Hernandes mais conhecido como Zaza, começou seu interesse pela música ainda na infância e com 17 anos dava aulas para amigos e colegas, começando assim sua trajetória na música.

1 – Como foi o seu início na música? Já houve influência na família de músicos ??

Andre Zaza Hernandes: A música sempre esteve muito presente em minha vida, e desde muito cedo. Meus três irmãos, todos mais velhos que eu, ouviam musica o tempo todo. E o meu pai cantava e tocava pandeiro em rodas de choro e samba  com seus irmãos. Então acredito que estar imerso nesse ambiente musical foi a faísca que acendeu em mim o interesse em tocar um instrumento musical.

2 – Houve algum tipo de “insight” para se tornar o guitarrista, algo tipo: é isso que eu quero para minha vida toda.

Andre Zaza Hernandes: Sim, houve. Eu já estava estudando violão por mais ou menos dois anos quando assisti na televisão o videoclipe da música Dance the Night Away do Van Halen . Na verdade, a minha intenção sempre foi de tocar guitarra, mas naquela época existia a cultura de que primeiro se aprende o violão para então partir para a guitarra. Então, ao assistir o clipe ficou muito claro para mim que ou eu partia de uma vez para guitarra, ou eu partia de uma vez para guitarra. 

3 – Você chegou a gravar com algo no começo do Angra, nos conte mais sobre.

Andre Zaza Hernandes: Gravamos algumas, demos caseiras. No período em que toquei no Angra, a banda estava em processo de produção e arranjo de cinco músicas que seriam posteriormente gravadas em estúdio, com produtor, etc. Esse material seria enviado a uma gravadora. As músicas eram Carry On, Angels Cry, Evil Warning, Time e Queen of the Night. Essa demo foi gravada um tempo depois já com o Kiko na banda. Não toquei na banda por muito tempo, mas foi bacana, intenso, e acredito que pude deixar alguma contribuição musical nessas musicas. Tenho muito orgulho de alguma forma ter feito parte do Angels Cry. Que além de ser um disco fantástico, foi o disco que abriu as portas para o Angra, e colocou mais uma banda brasileira no cenário mundial. 

4 – Anos depois você foi convidado a ser guitarrista da banda solo de Andre Matos, como foi esse convite?

Andre Zaza Hernandes: Como disse anteriormente, o tempo com o Angra foi curto, porém intenso e produtivo. E ficou de lá uma admiração mútua. Porém, pouco tempo depois me mudei para Curitiba, e então só nós encontrávamos quando a banda ia lá fazer shows. Em 2003 voltei para São Paulo e então pude voltar a ter mais contato com todos. Um dia o telefone tocou e era o Hugo me contatando que o Andre estava montando sua banda solo, e queria dois guitarristas. Me perguntou se eu queria fazer algumas gravações com eles. Topei no ato. Naquele momento eu tinha acabado de terminar um projeto pessoal que levou anos de preparação e execução, e onde fiz quase tudo sozinho. Isso me deixou com muita vontade de voltar a tocar numa banda com amigos, e que se fosse de metal melhor ainda. Então foi uma surpresa muito boa receber esse convite, eu realmente não sabia se algum dia teria a oportunidade de voltar a tocar metal, e ainda mais com aqueles caras. Foi um grande presente dos deuses do metal. (risos)

5 – Impossível não falar sobre o maestro, quem acompanhou a Banda via nitidamente o entrosamento de vocês. Pode parecer clichê, mas na sua concepção o que O André deixou de ensinamento a vocês que trabalharam com ele?

Andre Zaza Hernandes: Muita coisa! Bom, falar da genialidade do músico e artista Andre Matos é “chover no molhado”.(risos). É evidente que ele foi e sempre será um dos maiores artistas do estilo. Portanto, tocar, compor, gravar, ensaiar, etc, ao lado dele era sempre uma experiência musical enriquecedora. Mas além de todo esse lado da música, existia ou ser humano Andre Matos. Uma pessoa encantadora, que tinha inúmeras qualidades, mas que como todo mundo também tinha seus defeitos, problemas, e cometia seus erros. Enfim, olhar para trás e ver a forma como algumas coisas aconteceram vejo que até quando o André não acertou numa decisão, aquilo se tornou uma lição, um aprendizado, que me ajuda a conduzir minha carreira, e até a minha vida.

6 – Se você pudesse voltar no tempo diria algo a ele?

Andre Zaza Hernandes: Eu disse isso a ele no meu show de despedida no momento em que comunicamos ao público a minha saída da banda. Mas eu repetiria. Obrigado por tudo, ainda iremos fazer música juntos algum dia.

7 – Recentemente a Banda fez uma despedida que foi impossível não ter emoções afloradas. Como foi para você naquele momento? Há como nos descrevem o que se passou na sua cabeça quando começou os primeiros acordes do show?

Andre Zaza Hernandes: É difícil pensar nele sem que me venha um misto de emoções. Elas migram muito rapidamente de um estado de gratidão, saudades, boas lembranças, satisfação e orgulho pelo que fizemos, pelo que vivemos, para a tristeza e até um pouco de indignação. Para mim ainda é muito confuso pensar que ele morreu.

8 – Agora falando mais sobre sua carreira no momento atual. Você mudou para Portugal e como é em relação à música? Há mais apoio? Tem muita diferença do público brasileiro?

Andre Zaza Hernandes: Na verdade, minha mudança para Portugal não teve relação com meu trabalho como músico. O motivo foi mesmo a busca por um lugar melhor para viver com minha família. Gostamos muito daqui. Portugal nos acolheu e hoje sou muito grato ao país e aos meus novos amigos. Inclusive vou torcer para uma seleção deles, na proxima copa. Que eu nem sei quando é! (risos). Aqui de modo geral existe um bom apoio as principais atividades culturais. E as pessoas frequentam e prestigiam os eventos. Porém, o país é pequeno geograficamente falando, e claro, isso acaba refletindo no mercado musical de modo geral. Porém, estamos na Europa, então podemos transitar com mais facilidade por esse grande mercado. E ainda estamos no meio do caminho para o Japão, outro mercado grande para o metal.

9 – Como é a Pandemia para vocês? O que você acredita que pode tirar de positivo no meio musical com essa situação?

Andre Zaza Hernandes: Aqui na Europa estamos no início de uma segunda onda da pandemia. Portugal se saiu relativamente bem na primeira, e esperamos que aconteça o mesmo agora. Eu quero acreditar que tiraremos algo de positivo dessa situação, e estou trabalhando para isso. Porém, só o tempo dirá. É difícil se manter positivo o tempo todo, mas é importante não deixar a sensação de incerteza tomar conta do nosso psicológico nos deixando pouco produtivos. Então o que faço é trabalhar, estudar, e ter algum lazer. Com isso tenho conseguido me manter equilibrado e produtivo, e assim vou tentando passar aos outros um pouco de energia positiva.

10 – Quem te acompanha sabe que está em um novo projeto, nos conte mais sobre a banda Capella. Como foi esse processo de formar uma nova banda?

Andre Zaza Hernandes: A banda Capella foi mais uma das incríveis surpresas que o heavy metal vem me proporcionando ao longo da vida. Como eu disse anteriormente, minha vinda para Portugal não foi por motivos  profissionais. Pelo contrário, a ideia era “pisar no freio” e começar a levar uma vida mais “normal”. Porém, a vontade de produzir música não demorou a voltar. Foi quando eu soube através de Rafael Rosa (baterista que gravou o Time to be Free) que o Fernando, baterista do Scenes From a Dream (Dream Theater Cover), que já era um conhecido meu, também estava morando aqui em Portugal. Nos falamos pelo telefone sobre fazer algo juntos, foi então que mencionou o Jota Fortinho. Deixamos uma semente plantada ali, mas que não evoluiu muito por um tempo. Cheguei a fazer alguns vídeos e participações em projetos com o Fortinho, mas nada relacionado ao projeto que viria a se transformar no Capella. A coisa toda começou a andar quando Fortinho e Fernando me procuraram já com Pablo e Gabriel engatilhados no projeto, e então decidimos montar a banda. Dali para frente tudo vem acontecendo de forma surpreendentemente rápida, e o que produzimos até aqui muito nos agrada. A banda funciona como um motor alinhado. Uma equipe de pessoas que jogam no mesmo time. Às vezes tenho a impressão de que selecionamos a dedo, um por um, através de um processo seletivo árduo que visava encontrar pessoas com habilidades distintas para unirem suas caixas. E sabe o que é mais louco? Nunca teríamos formado a banda no Brasil. Nem sequer teríamos nos conhecidos. Pois, Gabriel e Pablo são de Recife, eu e Fernando de São Paulo e Fortinho de Blumenau. 

11 – Qual o diferencial dessa nova banda? O que os fãs podem aguardar?

Andre Zaza Hernandes: Pegue cinco músicos experientes e trabalhadores. Vivendo longe de seus familiares e amigos. Cada um vivendo uma realidade diferente, mas todos enfrentando algum tipo de dificuldade. Saudades de alguém, incertezas sobre o futuro, desejo de fazer acontecer, criar música, tocar, vencer, junte a todos esses sentimentos (e mais alguns que não me veio à cabeça agora) um potencial musical brutal. Olha, eu não sei se temos algum diferencial, mas posso prometer a vocês músicas feitas com muito sentimento, e shows no esquema “sangue nos olhos”. No Capella só tem sangue ruim! No bom sentido, é claro! 

12 – Assim que passar toda essa situação, há hipóteses de uma tour no Brasil?

Andre Zaza Hernandes: Seria um sonho. E as chances existem sim. Sabemos que não é fácil viabilizar uma turnê no Brasil uma vez que estamos desse lado do oceano.   Mas não mediremos esforços para fazer acontecer.

13 – Agora para finalizarmos, gostaria que você pensasse em toda a sua trajetória e me respondesse: o que o Zaza de hoje diria para o Zaza do início da carreira?

Andre Zaza Hernandes: “Zazinha. Coma menos pizza e chocolate nos camarins. De resto, se prepare porque a aventura vai ser grande. ”

14 – Deixe um recado para a galera que te acompanha e curte seu trabalho. J

Andre Zaza Hernandes: Amigos, quero principalmente agradecer de coração por te-los comigo nessa jornada. Eu e meus amigos do Capella estamos trabalhando duro, e com o coração, para dar a vocês a música, o show, na altura de todo o carinho e apoio que vocês nos dão. Estamos juntos nessa! Nos vemos em breve! Por favor, se cuidem. Um forte abraço do amigo Zaza.

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