(04 de maio de 2025 – Memorial da América Latina – São Paulo/SP)
Em três anos, evento já conquistou um público fiel
Por Vitor Franceschini
Fotos: Vitor Franceschini e César Guerra Filho

A primeira coisa que temos que ressaltar sobre a edição de 2025 do Bangers Open Air, a estreia com o novo nome (antes representando o Summer Breeze no Brasil) é que se trata de superação. Sim, porque o evento passou por essa mudança de nome, o que naturalmente gera uma certa desconfiança por parte do público, mesmo sabendo que os moldes seguiriam o que foi apresentado nas edições anteriores sobre a alcunha de Summer Breeze Brasil.
E, deste molde, mantiveram o melhor e deixaram melhor ainda alguns quesitos. As opções de alimentação e as lojas para comprar produtos relacionados ao rock e metal, além de seus derivados, nos mais variados formatos e adereços, foram mantidos, assim como a localização dos dois palcos principais, o Hot e o Ice Stage, além do Sun Stage. Já o Waves Stage, onde se apresentaram as bandas brasileiras, ganhou uma melhoria, sendo alocado para dentro do auditório Simón Bolívar do Memorial da América Latina, dando um ar mais intimista e conforto ao público, além de ser um diferencial e servir até como um momento de relaxamento (para o corpo, porque a mente permanece pilhada no metal).
O acesso também melhorou bastante, com menos afunilamento nas transições, principalmente com a retirada da grade entre os palcos Hot e Ice Stage, além de um ponto de hidratação mais acessível e visível próximo ao Sun Stage, os banheiros continuam bons, principalmente em se tratando de eventos deste porte. E, o que virou marca registrada no que concerne à qualidade do agora Bangers Open Air, é a falta de filas, o que prova que organização levada à risca dá muito certo. Não se via praticamente nenhuma no evento, nem pra pegar bebida e comida, nem pra ir ao banheiro, abastecer a garrafinha de água, quiçá na entrada que, quando se acumulava algo, o fluxo ia bem, dispensando demoras. Até mesmo nas Signing Sessions, atividade extra e organizada para pegar autógrafo com algumas bandas do evento, tudo fluía muito bem.
Desta vez, em mais uma parceria com o site Roadie Metal, o Arte Metal esteve presente apenas em um dos dias, no domingo, dia 4 de maio. Dia que foi suficiente pra confirmar a consolidação do festival. Com uma visão realmente de público, circulando por todos os cantos do Memorial da América Latina, conversando com muita gente e tirando diversas impressões, percebemos o quanto o público vem se tornando mais fiel ao evento, incluindo alguns, ainda no meio do dia de encerramento, já fazendo alguma previsão do ano seguinte (se deixar fazem até bolão para adivinharem quais bandas virão). Evento, aliás, que já está confirmado (informações aqui).
Foram 21 atrações, das quais conseguimos ver praticamente 16 (nem todos os shows completos, mas suficientes para podermos tirar a melhor impressão de cada) e ficou claro que o sarrafo alto do Bangers Open Air pode trazer uma boa complicação para a organização na hora de escolher as atrações de 2026.

A começar pelos alemães da Beyond The Black, que abriram as honrarias no Ice Stage. A carismática Jennifer Haben e Cia. subiram ao palco quando o sol começava esquentar e a brisa ainda era fresca, e surpreenderam. Não porque a banda é desconhecida, longe disso, são cinco ‘fulls’ no currículo, mas pela energia e a entrega melhor que a oferta, ainda mais se imaginarmos que tinham a responsabilidade de abrir um dia de um mega evento, recheado de bandas similares ao symphonic metal que apostam e tudo deu certo. Com um bom som, público cativado, destilaram grandes músicas de seu repertório com destaques para “In The Shadows”, “Hallelujah”, “Heart of the Hurricane” e “Reincarnation”.
Antes mesmo dos alemães terminarem, subimos ao Sun Stage, pois a maior sensação do rock e do metal independente nacional começava o massacre por lá. O Black Pantera, que em meio à resistência e polêmicas, ganhando cada vez mais corações e partindo outros odiosos, fez seu show típico. O público fiel é tão característico quanto à banda que, além do seu tradicional groove metal, hoje expandiu sua sonoridade e vai agradar até mesmo os ‘seculares’, com direito a baladas rockers e muita consciência de classe. Nem precisa dizer que “Padrão é o Caralho” e “Fogo Nos Racistas” foram os ápices, mas é bom ressaltar como o rock alternativo de “Perpétuo” soa bem ao vivo!
Antes mesmo do Black Pantera encerrar sua ‘doutrinação’, partimos pro Hot Stage (dá-lhe passarela) para conferir o que, para esse que vos escreve, foi uma grata surpresa. O Lord Of The Lost é uma banda bem legal, com uma mescla de gothic e industrial metal, porém, algo dizia que ao vivo eles num iam pegar, ainda mais em um ambiente aberto. Ledo engano. Comandado pelo emblemático Chris Harms, o grupo alemão transformou ou dia em noite e entregou um show enérgico, aliás, mais pesado do que se imagina. Já na abertura, com “The Curtains Falls” deram o recado, visivelmente despertando a curiosidade de quem ainda não conhecia a banda e estava chegando ao festival. A presença de palco é forte e eles destilaram mais de uma dezena de clássicos, com destaque para “Loreley” (um dos grandes momentos do show) e a que me chamou particularmente atenção, “Six Feet Underground”.
Corrida para o Waves Stage e uma conferida de duas músicas do Hatefulmurder, porque essa banda tem chamado atenção demais no cenário nacional, com seu melodic death metal característico, sendo a principal do estilo no Brasil. E, ficou evidente o porquê, sendo que a pegada dos cariocas é intensa, não à toa lançaram um dos melhores discos nacionais de 2024, “I Am That Power”, do qual destilaram algumas músicas. Adendo para o quanto ficaram bacanas os shows no auditório, dando um clima intimista, num ambiente diferente do restante do festival, entregando mais variedade nesse quesito.

Mas, teríamos que voar pro Sun Stage, que fica a uns bons metros do auditório, porque ali seria um momento histórico para o Bangers Open Air, para o metal nacional, para o público e, em particular, para mim. Afinal de contas, estariam lá Carlos ‘Vândalo’ Lopes e a Dorsal Atlântica, uma das instituições do metal nacional, com seu som único, onde o thrash metal, o punk e o rock se unem numa identidade que talvez nenhuma banda nesse país tenha criado. E valeu cada segundo dedicado a um set curto e grosso, com direito a um Carlos Lopes muito feliz por estar ali, brincando e ‘vandalizando’ no palco. Impossível não ouvir “Guerrilha” e “Caçador da Noite” e ficar incólume. E o que mais se ouvia no meio da galera era a frase: ‘eu esperei tanto por isso!’.
Sem tempo de recolher a memória afetiva e a emoção de ver a Dorsal, outra banda do coração invadia o Ice Stage com um sol tão forte na cara dos integrantes que nos remeteu ao show do Carcass, conterrâneos do Paradise Lost que sofreram ali, com a estrela mãe, naquele mesmo lugar no ano passado. Tanto que Nick Holmes ofereceu “No Hope In Sight” a ele (o sol), ironizando a situação. Mas, não teve chororô (a não ser dos fãs emocionados), pois o Paradise Lost é incontestável e, mesmo com um som um tanto embolado (talvez pelo volume alto demais no início), destilou aquilo que tinha de melhor pra entregar dentro do prazo. Só para citar, uma sequência com “Faith Divides Us – Death Unites Us”, “Eternal”, “One Second”, “The Enemy”, “As I Die” e já própria por ‘usocapião’ “Smalltown Boy” (cover do Bronski Beat) resumem um pouco do que os caras de Halifax aprontaram no Bangers Open Air.
Por falar em aprontar, o Vader já estava aprontando no Sun Stage. E que como aprontaram, que show de death metal de vanguarda, com direito ao visual ‘old school’ de Piotr Paweł Wiwczarek, também conhecido como Peter, e Cia. Com um show impecável, entregaram, em cerca de uma dezena de clássicos, sua essência, como em “Black To Blind”, “Carnage” e “Silent Empire”.
O Kamelot veio para fazer um show extra, já que tinha se apresentado no sábado. A maior banda norte-americana de symphonic metal de todos os tempos, substituiu o I Prevail no domingo. Como não vi o show de sábado, não posso diferenciá-los, mas posso dizer que, tanto para a banda, quanto para os fãs, nem pareciam que estavam se apresentando pela segunda vez em pouco mais de 24h. Sem dúvidas, Tommy Karevik, que está na banda desde 2012, ocupando uma vaga difícil de Roy Khan, hoje pode ser considerado um integrante clássico. Afinal de contas, o carisma do cara (recíproco do público, aliás), a presença de palco e o talento, só acrescentaram à banda, que fez um show de seguro para épico.
Já podemos considerar Kerry King mais uma celebridade do metal que transformou o Brasil em sua segunda casa? Assim como o saudoso Paul Dianno e Blaze Bayley? Pois bem, ele mesmo mostrou que estava em casa e com sua seleção de músicos do thrash metal, quase colocou o Ice Stage para baixo, sem frescura, sem tentar soar diferente, afinal de contas ele é o Kerry King do Slayer. Por isso, o thrash metal que ele ajudou a moldar nos últimos 40 anos estava lá, puro, agressivo e direto. Várias músicas de seu álbum solo de estreia foram feitas para o palco (não decorei os nomes ainda) e ele ainda presentou os fãs com “Disciple”, “Rainning Blood” e “Black Magic” (precisa falar de quem?), além de “Killers” do Iron Maiden, homenageando o citado Dianno. Impossível não focar em Paul Bostaph em boa parte do show, que é um dos bateristas mais agressivos e técnicos do thrash metal.

Deu tempo de dar uma corrida (e perder mais uns gramas na passarela) para ver o fim do show do Haken, e que contraste com a apresentação de Kerry King. Não no sentido pejorativo, mas depois de botar a fúria pra fora, um pouco de rock progressivo com o peso do metal baixou os batimentos e invadiu a mente dando aquela relaxada. Os britânicos entregaram um show seguro, com bom som e sem exageros, já que a proposta já contém seus excessos. Vale destacar que tinha muita gente pra ver a banda, já que camisas do grupo eram vistas por todo o festival, mostrando que estão crescendo muito por aqui.
Antes de ir conferir o Blind Guardian, que já tinha começado no Hot Stage, uma passada para ver o Hibria no Waves Stage, que estava de vento em poupa com seu heavy / power metal poderoso. Interessante notar que muitos conterrâneos da banda gaúcha estavam lá para apoiá-los. Destaque para o vocalista Ângelo Parisotto, que chegou agora e já se mostrou apto para assumir a linha de frente do grupo.
E, depois de mais um pique atravessando o Memorial da América Latina, mais um momento especial para este que vos escreve, pois, o Blind Guardian já começava seu show. E que show… apesar de Hansi Kürsch falar um pouco demais (risos – acho que caberia mais umas músicas se juntasse todos os discursos dele, ainda mais num festival), a melhor banda de power metal da história fez um show seguro, conseguindo distribuir bem seu repertório em sua carreira no tempo que tinha disponível (cerca de 1h15). Chamou atenção o retorno de “Mordred’s Song” ao repertório, além dos clássicos “Bright Eyes”, “And the Story Ends”, o momento ‘isqueirinho’ para “The Bard’s Song – In the Forest”, além, é óbvio, do encerramento fantástico com “Mirror Mirror” e o hino “Valhalla”. Adendo para “Violent Shadows”, do excelente e mais recente disco “The God Machine” (2022) que funcionou muito bem ao vivo.
Pegando a passarela pela última vez, era preciso conferir o final do show do Nile. Sinceramente, a curiosidade às vezes é muito útil, pois confesso não ser o maior apreciador do death metal dos caras da Carolina do Sul, mas, fomos surpreendidos novamente. Que show magistral de Karl Sanders e companhia! Aliás, há muito tempo não via um show de death metal tão pesado, honrando o estilo, com brutalidade e morbidez, como este. Uma pena não ter podido conferir inteiro, pois é inumano num festival dessa magnitude, até porque o W.A.S.P começava a fazer um dos melhores shows do Bangers Open Air no Ice Stage.
Sim, a polêmica banda do não menos polêmico Blackie Lawless calou a boca de muita gente, ainda bem! Isso porque antes do show, a banda tinha uma má fama de shows no Brasil, inclusive com aval de muitos especialistas que classificavam as apresentações do W.A.S.P. como decepcionantes por aqui. Mas, graças aos deuses (ou ao diabo), detonaram no palco, com energia, pouco papo e coesão. Foi simplesmente destilado o primeiro disco inteiro, autointitulado de 1984, um de meus preferidos em todos os tempos. Difícil conter a emoção, até porque fiquei sabendo disso um dia antes do show apenas… Não bastasse tocarem na íntegra um dos melhores, talvez o melhor, álbum de hard n’ heavy da história, ainda escolheram para o bis um cover para “The Real Me”, do The Who e mais quatro clássicos absolutos da banda, com um medley entre “Forever Free / The Headless Children”, além dos hinos “Wild Child” e “Blind in Texas”. O discurso emocionante de Aquiles Priester, hoje baterista contratado do grupo norte-americano, antes do bis, só deixou tudo ainda mais histórico.
E, a reta final estava chegando, tendo dois gigantes alemães se apresentando praticamente juntos, um no Sun Stage e o outro no Hot Stage, sendo um deles o principal headliner da noite. Bom, a decisão foi dividir o começo pelo Destruction, que arrasava tocando seu clássico disco de estreia “Infernal Overkill”, que completa 40 anos em 2025. Apesar de atualmente contar apenas com Schmier (vocal/baixo) da formação clássica, um dos ‘big four’ alemão não decepciona, entregando um show único, que a banda moldou com o tempo e ficou muito conhecido dos brasileiros. Claro, o bis teve mais clássicos, e não poderia faltar “Curse The Gods” e “Mad Bucther”, mas foram destilados mais seis clássicos, para delírio dos ‘thrashers’ ali presentes.

Por fim, o time com mais torcida no Bangers Open Air encerrava o festival da forma que ele merece ser encerrado, epicamente! É incrível como Tobias Sammet, que já fazia uma carreira considerável com o excelente Edguy, conseguiu transformar o Avantasia em algo gigante e isso ficou provado no palco. Com o público na mão, depois de mais de duas dezenas de shows excelentes, ainda arrancava suspiros (tinha bastante gente chorando ou com cisco nos olhos, aliás). Momentos como “The Scarecrow”, com Ronnie Atkins (Pretty Maids) e “Shelter from the Rain”, com Jeff Scott Soto, além de “Farewell”, chamaram atenção, em um show que ainda contou com as ilustres presenças de Tommy Karevik (Kamelot) e o lendário Eric Martin (Mr. Big), entre outros. Destaque também de como é bom ver Sascha Paeth (guitarra, ex-Heavens Gate, Virgo) no palco, um dos grandes responsáveis (fora do palco) pela consolidação do cenário do power metal no mundo. O encerramento com “Sign of the Cross / The Seven Angels”, com todos no palco, emocionou o mais cético e fez jus ao que representou o Bangers Open Air em 2025.
Se, como dito no início, o Bangers Open Air causou alguma desconfiança, única e exclusivamente pela mudança de nome, essa desconfiança foi por água abaixo em mais uma edição que provou que o festival se consolida, ao menos pela sua proposta dentro do rock e metal, além de provar que o Brasil é capaz de realizar um evento de primeiro mundo, basta querer. Sugestões para acrescentar no evento? Há aos montes e o público está aí para isso, mas pode ter certeza que críticas quanto aos principais quesitos (estrutura, organização, acessibilidade, qualidade do som e cast) são as mínimas, talvez exceções, pois o evento atende elas sempre com níveis acima da média. Não à toa o Bangers Open Air já criou um público fiel, vide as vendas de ‘blind tickets’ (ingressos vendidos antes mesmo de apresentarem as futuras atrações, que aliás já estão disponíveis no link no final da matéria). E isso faz do Bangers Open Air um festival tão bom, pois não dá tempo de ficar triste quando acaba, afinal, eles já anunciam a próxima edição antes mesmo do último dia terminar. Que venham mais, Bangers!
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