Desde seu início imediato, a faixa que abre a lista de composições que preenchem o álbum é repleta de uma estrutura rítmico-melódica emotiva ao ponto de flertar com uma dramaticidade de comportamento melancólico. Ainda que seus pulsos percussivos tenham, em si, um desenho linear, o sobrevoo da guitarra solo é o elemento que entorpece o ouvinte em meio ao seu sentimentalismo sofrido. Dividida entre momentos de um estanque na dor e outros em que as lágrimas não são capazes de serem contidas, What Could Have Been destaca a presença de uma voz masculina nasal que, na posse de Neil Potter, constrói todo o enredo lírico de forma a manter a intensidade sensorial transpirada pela sua arquitetura.
Demasiadamente introspectiva em relação à faixa anterior, a presente composição se desenvolve em meio a uma postura que mistura conformação e consciência. Delicada em meio às suas brisas sensuais, a faixa, quanto mais se desenvolve, mais se permite extravasar a sua natureza inclinada para com os universos tanto indies quanto alternativos. De escopo rítmico preciso e consistente, é interessante perceber como a faixa caminha por entre brisas frescas sem deixar escapar seu sentimentalismo. Não é de se espantar, portanto, que Shipwrecked seja agraciada por momentos em que sua harmonia conjuntural rememora aquela alcançada em Torn, single de Natalie Imbruglia.
Uma nova porta se abre. Um novo mundo se anuncia. O explorador se vê em meio ao novo, mas não ao ponto de se amedrontar. Em Musica El Idioma Del Amor (My Sweet Senorita), Potter se aventura não apenas em um ecossistema ibérico, mas ele se apropria de sua sensualidade com nuances levemente latinas para dar, à melodia da obra, um toque sensual irresistível. Combinando a sensorialidade inerente ao suspense com a provocação do flamenco, o ritmo acústico se une ao violão na criação de um ambiente que, acima de tudo, transpira sedução – e em última análise – se perde em uma boa camada de romantismo.
A presente faixa mostra que o mundo que abriga Potter é repleto de portas. Nessa nova abertura, Potter leva o ouvinte pela mão para vivenciar o expansivo em sua máxima forma. Vibrante e com uma sensualidade de patamares generosamente elevados, a presente composição tira o ouvinte da Espanha e o leva aos Estados Unidos para viver o embalo solar do funk. Com a presença marcante e necessária dos metais para construir um ecossistema perfeitamente funkeado, a união do saxofone, do trombone e do trompete faz de Da Funk Outta Here uma faixa irresistível. Ainda assim, a obra é capaz de surpreender o ouvinte uma vez mais em virtude de uma subdivisão que o leva a um momento sonoro-narrativo pautado na MPB com brisas sambadas.
Eis aqui um álbum que representa uma casa. E nessa casa, existem muitas portas. Cada uma delas, quando abertas, leva o ouvinte para um mundo sonoro-sensorial completamente diferentes entre si. Essa é a magia de Out Of The Fjords And Into New Found Lands. Sem um único gênero musical que o defina, o álbum é marcado não apenas pela inovação, mas, especial e essencialmente, pela versatilidade.
Apresentando e destacando tanto a sensibilidade quanto a musicalidade vasta de Neil Potter, o disco oferece, ao ouvinte, um cardápio de sabores vastos e exóticos. Um menu que caminha por diferentes continentes enquanto tira, deles, as suas particularidades. Do flamenco espanhol, o disco alça voos para o funk estadunidense e ainda se propõe a fretar uma curta viagem para a MPB e o samba brasileiros.
Por essa razão é que o disco dá maior destaque às suas quatro primeiras canções. Elas, melhor que qualquer outra, escancaram essa versatilidade quase libidinosa que molda a identidade de Out Of The Fjords And Into New Found Lands. Invariavelmente, porém, o álbum é, em sua totalidade de 13 títulos, uma irresistível aula de música. Um produto que, definitivamente, transcende a paixão de Potter pelo universo musical.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/3n5Gie6Jal9lC8qDnpPqhK
Site Oficial: www.neilpottermusic.com
