Dica do Grunge é um quadro criado por mim, Helton Grunge, e que vem com o intuito de sugerir algum trabalho ou alguns trabalhos dentro do Rock, mas sem possuir apenas um tema específico. Cada dia terá uma temática e um contexto, porém sempre ressaltando o nosso bom e velho Rock n’ Roll em todas as suas vertentes. Então bora conferir a dica de hoje!
A dica de hoje, que irá inaugurar o quadro, é para apresentar o trabalho solo do músico Will Vasconcellos.
Will Vasconcellos é um músico de Ribeirão Preto – SP, líder e vocalista da banda Verbo Perfeito, mas que também possui um trabalho solo autoral que possui 2 álbuns: Mesmo Assim Me Perdoa (2015) e Funeral (2019). Ambos podem ser ouvidos no canal oficial da banda Verbo Perfeito no Youtube.
O trabalho solo de Will apresenta uma temática um pouco diferente do trabalho que produz junto da Verbo Perfeito. A temática aqui apresenta algo bem mais introspectivo e reflexivo, onde ressalta muito a angústia e as reflexões do ser humano no seu cotidiano. Questões como saudade, amor, cotidiano e vida são bem disseminados em sua obra.
Além de uma temática bem mais específica que o trabalho com a Verbo Perfeito, a sonoridade do trabalho de Will Vasconcellos também é bem mais livre que o da sua banda, permitindo que experimente estilos que não aparecem no seu outro trabalho. Em seu trabalho solo, seu ar introspectivo é bem mais evidente, casando perfeitamente com os instrumentos e apresentando um produto final bem complexo e denso.
Outra particularidade da obra de Will Vasconcellos solo é o fato de ser ele mesmo que grava em seu home studio, que fica em sua casa, na cidade de Serrana – SP, próxima a Ribeirão Preto – SP; além, claro, de compor todas as músicas e criar todos os arranjos sozinho.
A sua liberdade criativa faz com que o trabalho saia exatamente como ele criou, soando exatamente com suas características emocionais e apresentando a sua temática de forma bem forte, definida e densa.
Para conferir o primeiro álbum do músico, Mesmo Assim, Me Perdoa, basta clicar abaixo.
Confira abaixo a tracklist do álbum Mesmo Assim, Me Perdoa (2015).
01 – Vermelho
02 – Insensatez
03 – Serial Killer Love Song
04 – Pennyroyal Tea (Cover de Nirvana)
05 – Tu És
06 – Para a Menina do Poente Enluarado
07 – Nós2
08 – Igualdade Sexual
09 – Aha
10 – A Praça
11 – Longe do Meu Lado
O álbum Mesmo Assim Me Perdoa alterna peso e melancolia, sendo bem diversificado em sua sonoridade, apresentando a oscilação do estado de espírito do ser humano.
Músicas como Vermelho, que apresenta o nome do álbum em seu refrão, Tu És e Para a menina do Poente Enluarado merecem destaque neste trabalho.
A faixa Vermelho abre o álbum e começa com uma fala de alguém para o eu lírico que canta no álbum, algo simplesmente genial, misturando a arte e a vida; a faixa soa inteira como um pedido de desculpas e a revolta de não conseguir voltar no tempo para consertar tudo o que, porventura, fez de errado. Ela alterna peso e calmaria, como se fora a convivência com esta ausência sentida de forma intensa durante todos os dias.
Já a quinta faixa, Tu És, revela o medo de viver do eu lírico e o quanto seu cotidiano chega a assustá-lo. O trecho “Tu és a mais saudosa da minha coleção de perdas” resume do que se trata a música: a saudade explícita em uma pessoa.
A sexta faixa, chamada Para a Menina do Poente Enluarado, é um adeus para um amor marcante e intenso, mas que não tem como voltar. Aqui é o fim da esperança, pois o eu lírico percebeu que a pessoa que ama acabou encontrando alguém. O que era amor, agora virou saudade e esta música trata de uma despedida, mesmo que triste, amigável, pois relembra os momentos felizes.
A última música do álbum tem em seu final, um recado da mesma pessoa que abriu o disco. Aqui ela deixa claro que jamais abandonará o eu lírico, que ela o ama e que ele poderá contar com ela, mesmo que não estejam juntos. O ciclo se encerra como começou. Tudo o que é cantado é para ela, é para dizer que a ama, que sente saudade e, principalmente, para pedir perdão.
Para conferir o segundo álbum do músico, Funeral, basta clicar abaixo.
Confira abaixo a tracklist do álbum Funeral (2019).
01 – Velho Homem de Ferro
02 – Deserto
03 – Bright
04 – O Jogo
05 – Melodrama
06 – Acabou
07 – Quem Foi
08 – Carnaval
09 – Funeral Preto
O disco Funeral ainda mantém algumas questões durante o decorrer do álbum, porém, diferente do primeiro, ele não tem um destinatário específico, é mais amplo para quem o eu lírico diz.
Para falar um pouco do disco, vamos separar aqui três músicas: Velho Homem de Ferro, Deserto e Acabou.
A primeira música, Velho Homem de Ferro, fala sobre aguentar os problemas e seguir em frente. Mas, principalmente, a música fala sobre envelhecer e o que acontece quando já atingiu uma idade, antes distante.
A segunda, Deserto, trata sobre o vazio que há dentro das pessoas; mesmo tentando preencher de várias formas e lutar para não se sentir sozinho, torna-se impossível ao carregar para todo lugar o vazio, uma vez que ele se encontra dentro de cada um.
A faixa Acabou é a sexta música do álbum e apresenta um eu lírico quase nu emocionalmente, dizendo que se alguém quiser segui-lo terá que aceitar o que ele se tornou. Ele deixa claro o que possui, do que abriu mão na vida e o que terão que enfrentar. A música fala em aproveitar a vida que está mais perto do fim do que do começo, exaltando que o eu lírico já está ficando velho, mas que gostaria de ter um final mais feliz e menos solitário.
A sonoridade deste trabalho num todo é bem mais dramática, calma e sombria do que o primeiro álbum. Aqui não apresenta as alternâncias de peso e calmaria que se apresentaram no Mesmo Assim Me Perdoa, a sonoridade é bem mais lenta e leve instrumental, apesar de tão densa quanto ou até mais.
O nome Funeral apresenta a morte daquela pessoa. É como se ao finalizar a obra o eu lírico quisesse enterrar a pessoa que costumava ser e quer se libertar, tornando-se, finalmente, alguém melhor.
“É um disco difícil, introspectivo, melancólico, reflete um pouco do que o país vive hoje em dia apesar de serem letras bem pessoais e não serem de temática política. É uma citação muito grande e eu não esperava de verdade. Estou muito feliz com isso”, relata o músico sobre o lançamento de seu segundo trabalho solo.
Por fim, o artista lançou estes 2 álbuns, a priori, como manifestação artística, sem maiores pretensões. Mesmo sendo trabalhos de alta qualidade, foram gravadas e lançadas como Will Vasconcellos por apresentarem um conteúdo bem mais pessoal do músico e por não casarem muito com o que a banda Verbo Perfeito costuma apresentar em seus trabalhos.
Mesmo assim, o trabalho ainda é muito bom e merece ser ouvido pelo público. Afinal, não é todo dia que músicas que não se encaixam no trabalho de uma banda saem com tanta qualidade e têm o privilégio de serem lançadas.
Esta foi a primeira matéria da série Dica do Grunge. Fique por dentro para acompanhar as todas os Dica do Grunge, pois terá muita coisa interessante e cada dia uma temática diferente. Sucesso!