Se a história pudesse ser reescrita, com base no que sabemos hoje, o Diamond Head seria uma banda muito, muito maior.

O grupo inglês possui atualmente uma satisfatória legião de fãs, e responde à devoção desses apresentando a música de excelência que sempre lhe foi característica, mas não há como negar que a banda não embarcou no mesmo bonde que alavancou seus contemporâneos do Iron Maiden, Saxon, Def Leppard, ou mesmo de outras bandas do segundo degrau da NWOBHM, como Tank, Demon, Tygers of Pan Tang e Grim Reaper. Decisões amadoras de empresariamento foram parcialmente responsáveis por esse status insatisfatório, mas o tempo consegue fazer com que a justiça seja efetiva e dê os créditos para quem realmente merece. Tendo lançado seu antológico álbum de estreia em 1980, foram necessários quatro anos para que a banda experimentasse um upgrade em sua popularidade, e isso ocorreu quando um emergente grupo norte-americano, com o instigante nome de Metallica, lançou uma cover da música “Am I Evil?” em seu EP “Creeping Death” de 1984. A canção já fazia parte do repertório do Metallica praticamente desde seus primeiros dias, mas não apenas ela. Outras faixas do álbum eram executadas pelo grupo de Thrash que, estrategicamente, as tocava sem informar o público sobre sua autoria.

E pouco a pouco o Metallica foi registrando e lançando outras das músicas dos ingleses, chegando ao exagero de já terem coverizado quatro faixas de um álbum que possuía sete composições! Não poderia haver qualquer outro resultado que não fosse o interesse despertado em vários fãs de Heavy Metal no sentido de descobrirem o material original. Ao fazê-lo, os ouvidos mais atentos podem ter percebido que as ideias do Diamond Head poderiam ser identificadas em parte da estrutura das criações originais do Metallica. E do Exodus. E do Megadeth… Enfim, os exames de paternidade do Thrash Metal apontavam para fontes que iam além de uma releitura anfetaminada do Motorhead.

O guitarrista Brian Tatler criou uma escola e isso não é força de expressão. Daí o fato de riffs como o de “Sucking My Love” soarem tão familiares mesmo para quem nunca tenha escutado a música anteriormente. Essa faixa também traz outros elementos de reconhecimento, mas que apontam para o outro lado da moeda, ou seja, nomear quem são os influenciadores do Diamond Head, e as referências ao Led Zeppelin são várias aqui, com o vocalista Sean Harris não se furtando de emular os maneirismos característicos de Robert Plant.

A crueza e a produção precária do álbum acrescentam um impacto rude, que não poderia ser atingido de outra forma. Isso alavanca o peso de músicas como “Am I Evil?” – que bebe na mesma fonte que fez com que o Black Sabbath criasse canções como “Symptom of the Universe” – e “The Prince”, cujo riffão acelerado remete ao que o Saxon estava fazendo no mesmo período.

A onipresença do Judas Priest é inevitável e, aqui, pode ser reconhecida no resgate que “Helpless” faz de álbuns como “Sin After Sin”, criando pontos de conexão do disco de 1977 para as gerações que aguardavam a oportunidade de fazer suas próprias releituras. Gerações como a de Hetfield e Ulrich, que em 1983 lançariam “Kill’Em’All”, considerado por tantos como o marco zero do Thrash Metal. Nos quarenta anos de “Lightning The Nations”, aproveite para refletir que todo marco zero precisa ser encarado com a perspectiva retroativa, a partir de fatos, eventos ou obras que lhes precederam e aplainaram o terreno para sua construção. Se uma nova tendência surge, dê alguns passos rumo ao passado, e lá estarão as raízes que nutriram a novidade.

Lightning to the Nations – Diamond Head
Data de Lançamento: 03/10/1980
Gravadora: Happy Face

Tracklist:
1 Lightning to the Nations
2 The Prince
3 Sucking My Love
4 Am I Evil?
5 Sweet and Innocent
6 It’s Electric
7 Helpless

Formação:
Sean Harris – vocal
Brian Tatler – guitarra
Colin Kimberley – baixo
Duncan Scott – bateria

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