O dirigível R101 foi construído no final da década de 20. Coberta pela relva da grandeza, R101 representava o orgulho do império Britânico.

A aeronave era a maior embarcação rígida já construída, com exorbitantes 220 metros de comprimento, foi desenhada para que seus tripulantes tivessem o maior conforto e luxo possível, o papel principal do R101 era fazer viagens distantes como, por exemplo, Índia e Canadá.

circa 1925:  The lounge of the airship R101.  The passenger quarters are the most spacious ever provided in an airship.  (Photo by Hulton Archive/Getty Images)

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Devido a diversas alterações no projeto original, a aeronave demonstrou ter problema de peso, e por mais que os engenheiros tentassem, nada foi resolvido, as inúmeras “soluções” acabavam por deixar a aeronave ainda mais pesada.

A pressão política sobre o Ministro do Ar, Lorde Christopher Thompson, era muito grande devido aos gastos, o fator político decidiu que o R101 faria seu vôo inaugural durante a conferência Imperial de 1930, a pressa fez com que testes em altas velocidades e condições climáticas desfavoráveis não fossem realizados com satisfação. Então em 04 de outubro de 1930 o R101 faz seu primeiro vôo com destino a Karashi.

A musica começa neste ponto, uma linda melodia enche os ares com uma calmaria quase que poética, descrevendo perfeitamente o clima calmo daquela manhã de 1930.

Para cavalgar a tempestade, para um império nas nuvens

Para cavalgar a tempestade, eles subiram a bordo de seu fantasma prateado

Para cavalgar a tempestade, para um reino que virá
Para cavalgar a tempestade, e dane-se o resto… esquecimento

Bruce recita um canto majestoso, como se o próprio céu se curvasse a grandeza daquela aeronave, então a próxima linha musical desenha seu enredo narrando o vôo e seus tripulantes, estes que celebravam a viagem e riam diante a possibilidade da aeronave cair, “uma em um milhão” ironizava a realeza, para a índia o “tapete mágico” deveria seguir.

Realeza e dignitários, Brandy e charutos

Gigante Dama Cinzenta dos Céus

Você os acolhe a todos em seus braços

A milionésima chance, eles riram

De derrubar o dirigível de Sua Majestade

‘Para a Índia’, eles dizem, ‘Tapete mágico, vá voando’

Em um funesto dia de Outubro

A névoa nas árvores

As pedras suam com o orvalho

O nascer do sol, vermelho antes do azul

Pendurado no mastro

Esperando pelo comando

A aeronave de Sua Majestade

O R101

A musica vai ganhando peso e um clima carregado e preocupante, as guitarras e bateria tecem climas mais densos. Ao ponto que enaltece o gigante no ar Bruce recita e antecede a fúria que estava por vir.

É a maior embarcação feita pelo homem

Um gigante dos céus

Para todos os incrédulos

O Titanic cabe dentro

Rufem os tambores, apertem sua pele de lona

Prateada no sol

Nunca testada com a fúria

Com a surra que estava por vir

A fúria que estava por vir

O peso toma conta , como se o peso excessivo do próprio R101 descrevesse sua historia, relembrando com perfeição da tempestade vista a oeste, lamentando pelo ego da tripulação que decide prosseguir mesmo desconhecendo seu “calcanhar de Aquiles”, a força política era gigantesca, medido centímetro a centímetro com a própria marca da aeronave, porem o destino fazia ali sua alquimia.

Reunidos na penumbra

Uma tempestade se levantando a oeste

O timoneiro observou

Em seu equipamento de previsão do tempo

Temos que ir agora

Temos que arriscar nossa chance com o destino

Temos que ir agora

Por um político, ele não pode se atrasar

A tripulação da nave, acordada por trinta horas de trabalho seguido

Mas a nave está em seu sangue, cada músculo, cada polegada

Ela nunca voou a toda velocidade

Um teste nunca realizado

Sua frágil cobertura externa

Seu Aquiles se tornaria

Um Aquiles que ainda viria

Marinheiros do céu, uma guarnição endurecida

Leais ao rei, e ao credo de uma aeronave

Os motores batem

O telegrafo soa

Soltem as cordas

Que nos prendem ao chão

Com uma expressão quase que teatral, Bruce encarna o timoneiro como se vivesse através dos olhos do mesmo, uma parte linda e histórica perfeitamente destrinchada, uma poesia em forma de musica.

Disse o timoneiro ‘senhor, ela é pesada’

‘Ela nunca fará este voo’

Disse o capitão ‘dane-se a carga’

‘Seguiremos nosso caminho esta noite’

As pessoas em terra exclamaram, maravilhadas

Enquanto ela se afastava do mastro

Batizando-se em sua água

De seu lastro, da frente para trás

Agora, ela escorrega para dentro de nosso passado

A cadencia toma conta dos acordes, deslizando junto ao primeiro vôo do gigante, e é neste momento que o Iron Maiden genialmente, através das guitarras, baixo e bateria, exatamente aos 6 :55 reproduzem um sinal de código morse , S.O.S, alertando todos sobre o pedido de socorro dos tripulantes , ESPETACULAR .

Um riff lindo e climático é executado, quase que se ouve os lamentos da guitarra, então mais uma vez o sinal de S.O.S é reproduzido, e se transforma numa digitação que nos remete aos tempos áureos de Hallowed be thy name, a musica decorre e o turbilhão de problemas da aeronave é representado pelo instrumental , culminando no solo de Dave Murray.

A tensão volta com o riff pós solo( que coisa linda), neste momento é inevitável a queda do R101, porem a cadencia também parece representar a luta da tripulação para evitar a tragédia.

Lutando contra o vento enquanto ele te assola

Sentindo os motores a diesel que te empurram para frente

Vendo o canal abaixo de você

Mais e mais baixo dentro da noite

As luzes estão passando abaixo de você

O norte da França dormindo em suas camas

A tempestade está rugindo ao seu redor

‘Um milhão para uma’ é o que ele disse

Após cruzarem a costa Inglesa, chegando ao norte a França (que por sinal era bem longe do ponto pretendido), chega-se a região de Beauvais, famosa pela péssima condição climática.

Um riff diferente quebra o clima, a orquestração é envolvente e carregada por uma cortina tragicamente estendida sobre o tema. Bruce continua narrando magistralmente o fato, sua voz afiada parece comungar junto ao rasgo existente na aeronave que inundada pela água da chuva ceifa a vida de homens experientes.

O ceifador está parado ao seu lado

Com sua foice, corta até os ossos

O pânico de tomar uma decisão

Homens experientes dormem em seus túmulos

Sua cobertura está rasgada, e ela está se afogando

A chuva está inundando o corpo da nave

Sangrando até a morte, e ela está caindo

Gás flutuador está se esgotando

‘Estamos perdidos, companheiros’, veio o lamento

Neste ponto os pianos voltam a ressoar, agora com acordes de tristeza e tensão, até o cume em que Bruce recita versos dolorosos de perda.

Mergulhando numa curva, vindos do céu

Três mil cavalos silenciaram-se

Enquanto a nave começava a morrer

As chamas para guiar seu caminho

Acesas no fim

O Império das Nuvens

Apenas cinzas em nosso passado

Apenas cinzas, no final

Resumido a cinzas pouco restou do R101 , apenas uma carcaça esparramada no norte da França, era o fim da primeira era britânica de desenvolvimento de aeronaves, enterrando não somente um sonho, e sim 48 de seus 54 passageiros, incluindo oficiais de alto escalão e o ministro Britânico do ar, a musica se encerra com tristes frases poeticamente seguidos por um triste e real acontecimento.

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Aqui jazem os sonhos

Enquanto estou parado embaixo do sol

Na terra onde eles foram construídos

E os motores realmente funcionaram

Para a lua e para as estrelas

Agora, o que foi que nós fizemos?

Oh, os sonhadores podem ter morrido

Mas os sonhos continuam vivos

Os sonhos continuam vivos – os sonhos continuam vivos

Bruce faz sua despedida entre os acordes finais da musica, sua voz amarga trasborda tristeza, porem resplandece em respeito ao R101 e principalmente aos 48 mortos que fizeram historia junto ao IMPÉRIO DAS NUVENS.

Agora uma sombra na colina

O anjo do leste

O Império das Nuvens

Descansa em paz

E em um cemitério pequeno, na igreja

Deitados de frente para o mastro

Quarenta e oito almas

Que vieram a morrer na França.

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Simplesmente incrível, mais que uma musica uma obra de arte fora do comum, demorei um pouco para absorver a musica, até mesmo por ela ser tão grande quando o R101, porem é indescritível o quão épico é essa musica, vou encerrar esse texto com as frases de Bruce a respeito do R101:

“Os sonhadores podem ter morrido, mas os sonhos continuam vivos”


 

 

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