O dirigível R101 foi construído no final da década de 20. Coberta pela relva da grandeza, R101 representava o orgulho do império Britânico.
A aeronave era a maior embarcação rígida já construída, com exorbitantes 220 metros de comprimento, foi desenhada para que seus tripulantes tivessem o maior conforto e luxo possível, o papel principal do R101 era fazer viagens distantes como, por exemplo, Índia e Canadá.
Devido a diversas alterações no projeto original, a aeronave demonstrou ter problema de peso, e por mais que os engenheiros tentassem, nada foi resolvido, as inúmeras “soluções” acabavam por deixar a aeronave ainda mais pesada.
A pressão política sobre o Ministro do Ar, Lorde Christopher Thompson, era muito grande devido aos gastos, o fator político decidiu que o R101 faria seu vôo inaugural durante a conferência Imperial de 1930, a pressa fez com que testes em altas velocidades e condições climáticas desfavoráveis não fossem realizados com satisfação. Então em 04 de outubro de 1930 o R101 faz seu primeiro vôo com destino a Karashi.
A musica começa neste ponto, uma linda melodia enche os ares com uma calmaria quase que poética, descrevendo perfeitamente o clima calmo daquela manhã de 1930.
Para cavalgar a tempestade, para um império nas nuvens
Para cavalgar a tempestade, eles subiram a bordo de seu fantasma prateado
Para cavalgar a tempestade, para um reino que virá
Para cavalgar a tempestade, e dane-se o resto… esquecimento
Bruce recita um canto majestoso, como se o próprio céu se curvasse a grandeza daquela aeronave, então a próxima linha musical desenha seu enredo narrando o vôo e seus tripulantes, estes que celebravam a viagem e riam diante a possibilidade da aeronave cair, “uma em um milhão” ironizava a realeza, para a índia o “tapete mágico” deveria seguir.
Realeza e dignitários, Brandy e charutos
Gigante Dama Cinzenta dos Céus
Você os acolhe a todos em seus braços
A milionésima chance, eles riram
De derrubar o dirigível de Sua Majestade
‘Para a Índia’, eles dizem, ‘Tapete mágico, vá voando’
Em um funesto dia de Outubro
A névoa nas árvores
As pedras suam com o orvalho
O nascer do sol, vermelho antes do azul
Pendurado no mastro
Esperando pelo comando
A aeronave de Sua Majestade
O R101
A musica vai ganhando peso e um clima carregado e preocupante, as guitarras e bateria tecem climas mais densos. Ao ponto que enaltece o gigante no ar Bruce recita e antecede a fúria que estava por vir.
É a maior embarcação feita pelo homem
Um gigante dos céus
Para todos os incrédulos
O Titanic cabe dentro
Rufem os tambores, apertem sua pele de lona
Prateada no sol
Nunca testada com a fúria
Com a surra que estava por vir
A fúria que estava por vir
O peso toma conta , como se o peso excessivo do próprio R101 descrevesse sua historia, relembrando com perfeição da tempestade vista a oeste, lamentando pelo ego da tripulação que decide prosseguir mesmo desconhecendo seu “calcanhar de Aquiles”, a força política era gigantesca, medido centímetro a centímetro com a própria marca da aeronave, porem o destino fazia ali sua alquimia.
Reunidos na penumbra
Uma tempestade se levantando a oeste
O timoneiro observou
Em seu equipamento de previsão do tempo
Temos que ir agora
Temos que arriscar nossa chance com o destino
Temos que ir agora
Por um político, ele não pode se atrasar
A tripulação da nave, acordada por trinta horas de trabalho seguido
Mas a nave está em seu sangue, cada músculo, cada polegada
Ela nunca voou a toda velocidade
Um teste nunca realizado
Sua frágil cobertura externa
Seu Aquiles se tornaria
Um Aquiles que ainda viria
Marinheiros do céu, uma guarnição endurecida
Leais ao rei, e ao credo de uma aeronave
Os motores batem
O telegrafo soa
Soltem as cordas
Que nos prendem ao chão
Com uma expressão quase que teatral, Bruce encarna o timoneiro como se vivesse através dos olhos do mesmo, uma parte linda e histórica perfeitamente destrinchada, uma poesia em forma de musica.
Disse o timoneiro ‘senhor, ela é pesada’
‘Ela nunca fará este voo’
Disse o capitão ‘dane-se a carga’
‘Seguiremos nosso caminho esta noite’
As pessoas em terra exclamaram, maravilhadas
Enquanto ela se afastava do mastro
Batizando-se em sua água
De seu lastro, da frente para trás
Agora, ela escorrega para dentro de nosso passado
A cadencia toma conta dos acordes, deslizando junto ao primeiro vôo do gigante, e é neste momento que o Iron Maiden genialmente, através das guitarras, baixo e bateria, exatamente aos 6 :55 reproduzem um sinal de código morse , S.O.S, alertando todos sobre o pedido de socorro dos tripulantes , ESPETACULAR .
Um riff lindo e climático é executado, quase que se ouve os lamentos da guitarra, então mais uma vez o sinal de S.O.S é reproduzido, e se transforma numa digitação que nos remete aos tempos áureos de Hallowed be thy name, a musica decorre e o turbilhão de problemas da aeronave é representado pelo instrumental , culminando no solo de Dave Murray.
A tensão volta com o riff pós solo( que coisa linda), neste momento é inevitável a queda do R101, porem a cadencia também parece representar a luta da tripulação para evitar a tragédia.
Lutando contra o vento enquanto ele te assola
Sentindo os motores a diesel que te empurram para frente
Vendo o canal abaixo de você
Mais e mais baixo dentro da noite
As luzes estão passando abaixo de você
O norte da França dormindo em suas camas
A tempestade está rugindo ao seu redor
‘Um milhão para uma’ é o que ele disse
Após cruzarem a costa Inglesa, chegando ao norte a França (que por sinal era bem longe do ponto pretendido), chega-se a região de Beauvais, famosa pela péssima condição climática.
Um riff diferente quebra o clima, a orquestração é envolvente e carregada por uma cortina tragicamente estendida sobre o tema. Bruce continua narrando magistralmente o fato, sua voz afiada parece comungar junto ao rasgo existente na aeronave que inundada pela água da chuva ceifa a vida de homens experientes.
O ceifador está parado ao seu lado
Com sua foice, corta até os ossos
O pânico de tomar uma decisão
Homens experientes dormem em seus túmulos
Sua cobertura está rasgada, e ela está se afogando
A chuva está inundando o corpo da nave
Sangrando até a morte, e ela está caindo
Gás flutuador está se esgotando
‘Estamos perdidos, companheiros’, veio o lamento
Neste ponto os pianos voltam a ressoar, agora com acordes de tristeza e tensão, até o cume em que Bruce recita versos dolorosos de perda.
Mergulhando numa curva, vindos do céu
Três mil cavalos silenciaram-se
Enquanto a nave começava a morrer
As chamas para guiar seu caminho
Acesas no fim
O Império das Nuvens
Apenas cinzas em nosso passado
Apenas cinzas, no final
Resumido a cinzas pouco restou do R101 , apenas uma carcaça esparramada no norte da França, era o fim da primeira era britânica de desenvolvimento de aeronaves, enterrando não somente um sonho, e sim 48 de seus 54 passageiros, incluindo oficiais de alto escalão e o ministro Britânico do ar, a musica se encerra com tristes frases poeticamente seguidos por um triste e real acontecimento.
Aqui jazem os sonhos
Enquanto estou parado embaixo do sol
Na terra onde eles foram construídos
E os motores realmente funcionaram
Para a lua e para as estrelas
Agora, o que foi que nós fizemos?
Oh, os sonhadores podem ter morrido
Mas os sonhos continuam vivos
Os sonhos continuam vivos – os sonhos continuam vivos
Bruce faz sua despedida entre os acordes finais da musica, sua voz amarga trasborda tristeza, porem resplandece em respeito ao R101 e principalmente aos 48 mortos que fizeram historia junto ao IMPÉRIO DAS NUVENS.
Agora uma sombra na colina
O anjo do leste
O Império das Nuvens
Descansa em paz
E em um cemitério pequeno, na igreja
Deitados de frente para o mastro
Quarenta e oito almas
Que vieram a morrer na França.
Simplesmente incrível, mais que uma musica uma obra de arte fora do comum, demorei um pouco para absorver a musica, até mesmo por ela ser tão grande quando o R101, porem é indescritível o quão épico é essa musica, vou encerrar esse texto com as frases de Bruce a respeito do R101:
“Os sonhadores podem ter morrido, mas os sonhos continuam vivos”