Apesar do Kamelot ser uma referência no segmento Power / Prog Metal, este redator até o momento nunca denotou a devida importância ao trabalho da referida banda estadunidense. Tive rápido acesso os dois primeiros discos da banda – Eternity e Dominion – que, comparando ao trabalho apresentado no disco resenhado de hoje, “Epica”, logo percebemos a intensa (r)evolução que o Kamelot teve em sua sonoridade: uma musica poderosa e intensa invadiu meus ouvidos logo à primeira faixa, e a audição foi extremamente agradável e empolgante durante os aproximados 50 minutos de música.

Epica é o sexto trabalho de estúdio do Kamelot, banda que teve seu surgimento no ano de 1991 na cidade de Tampa, no estado da Florida / Estados Unidos. Como mencionado anteriormente, diante dos primeiros trabalhos da banda podemos discernir uma mudança “radical” no quesito vocais, sendo que o vocalista Roy Khan conseguiu direcionar a banda em um caminho de sucesso imediato. Não que eu esteja desmerecendo o primeiro vocalista, Mark Vanderbilt, apenas, faço valer que o Kamelot encontrou uma personalidade mais forte com Khan, e que se havia algum empecilho para uma alavancada derradeira da banda, com Roy Khan estes obstáculos seriam mais facilmente superados.

DISSECANDO O DISCO: Tomei conhecimento básico e fugaz de que o disco é inteiramente baseado no poema alemão de Fausto, sendo, portanto, um trabalho conceitual. A faixa de início trata-se de um prólogo, com um minuto de duração, a qual, faz as honras para a entrada sublime de “Center of the Universe”. Esta track conseguiu arrancar suspiros deste redator, uma canção com uma batida monumental, orquestrada, que incita o verdadeiro espírto do Power Metal. Com uma grande quantidade de variações (muito criativas), a música encanta e força o ouvinte a prosseguir a jornada. “Farewell” se inicia com velocidade, dando continuidade ao bom desempenho de sua antecessora. Neste momento, o bom apreciador de Power se ve “arrependido” por ter perdido tanto tempo longe desta obra prima. Roy Khan desfere vocais poderosos, e consegue captar inteiramente a atenção do ouvinte. Os coros são muito bem articulados e envolventes. A produção do disco tem grande parcela de crédito, uma vez que é possível ouvir cada batida de cada instrumento colocado na line.

Um interlúdio separa o ouvinte do golpe final: “The Edge of Paradise”, com corais entoados em voz grave e um riff de guitarra fulminante, transformam o que era dúvida, em agora certeza total – Kamelot merece o título e crédito que lhes foram atribuídos. A música é a primeira que denota visível e descarada influência do Prog Metal, com uma cadência empolgante, e riffs característicos. Os coros aparecem novamente no meio da música, elevando o sentimento de encontrar-se absorvido pela atmosfera musical. “Wander” é a sexta faixa, e a primeira com um ar mais “balada”. O clima permanece bem ameno até próximo dos dois minutos da faixa, quando temos o característico ápice do refrão. A track serve para provar que a banda sabe mesmo “compor uma balada”. Mais um interlúdio surge, e apresenta “Descent Of The Archangel”, que se inicia misteriosa, com uma mescla de vocais ferozes e angelicais em meio a uma atmosfera soturna de piano. As batidas vão crescendo até capturarem o ouvinte em um saraivada de guitarras. E por falar em guitarras, temos ninguém menos que Luca Turilli (Rhapsody) para descarregar energia na primeira parte do solo nesta incrível canção. Percebe-se um trabalho primoroso nesta faixa, com crescentes e decrescentes da sonoridade até a chegada do refrão. O interessante é que conforme a música avança o ouvinte pode se atentar a novos elementos inseridos, criando uma experiência impossível de tornar-se monótona. Mais um pequeno interlúdio surge. Importante destacar que esses “interlúdios” criam um contexto muito interessante à “estória” criada pelo disco, que preferencialmente deveria ser acompanhado com o encarte em mãos, para o aproveitamento lírico. Confesso que não tive tal oportunidade, mas, futuramente, me prometo tal prazer.

“A Feast for the Vain” da prosseguimento ao disco, rápida, melodiosa, empolgante. Inicialmente, até denota um certo “mais do mesmo no disco”, mas, com o seguir da música, percebemos que cada faixa no álbum encontra seu devido lugar, e toma a devida posição de importância no conjunto da obra. A faixa apresenta até “um clamor de palmas”, algo que soou aos ouvidos como um toque “hispânico”. Enfim, isto foi apenas uma percepção… “On the Coldest Winter Night” é a segunda balada no disco, e se inicia com um toque muito bem articulado entre percussão e cordas. O vocal de Khan é suave, e eleva a melodia conforme esta se transforma ao acrescentar mais elementos ao conjunto. É bem sabido que muitos headbangers possuem certa “aversão” a baladas metal, mas, penso que tal “opinião” deveria ser reavaliada diante de músicas tão bem elaboradas e compostas como a que desfrutamos neste momento. A atmosfera muda, um piano inicia a introdução a “Lost & Damned”, que recupera as poderosas guitarras e o “bate-cabeça”. A música denota novamente características sonoras peculiares, com a admissão de instrumentos poucos usuais. “Helena’s Theme” seria o mais longo dos seis interlúdios encontrados no disco. Temos aqui uma “trama operística” bem interessante, com vocais penosos acompanhados por cordas clássicas. O último deles (interlúdios) vem na sequencia, e apenas dá continuidade, muito embora possa também considerar-se como uma boa apresentação a faixa seguinte “The Mourning After (Carry On)”. Aqui temos um descanso ao pescoço, que à esta altura deve estar já calejado. A faixa possui uma cadencia mais lenta, porém é igualmente pesada como suas antecessoras. O disco se encerra com “III Ways To Epica”, que é uma daquelas faixas que empolgam a ponto de fazer o ouvinte dar o play novamente ao final, para mais uma vez se fazer apreciar do bom material que detém em suas mãos.

OPINIĀO: o Power e o Prog Metal talvez tenham sido (juntos e / ou separados) dois dos segmentos que, após o próprio Heavy Metal, mais angariaram adeptos ao longos dos anos, ao grande número (ainda crescente) de bandas que se aventuram por este estilo tão peculiar e primoroso. Evidente que distante torna-se compararmos gostos e estilos musicas, mas, dentre todos, este é um dos segmentos que mais devem ser respeitados, devido à sua complexidade musical, por absorver em grande escala a essência musical da musica erudita e da música clássica medieval. Somando-se ainda ao exposto, a preparação vocal dos cantores é também deveras invejável a todo adepto de cantor, pois, indubitavelmente, temos aqui neste segmento grandes profissionais, que em nada podem “mascarar” uma habilidade tão facilmente detectável frente à fãs cada vez mais exigentes (para não acusar de intencionalmente perversos em algumas classes). A um headbanger já moldado pelo tempo, este que vos escreve, tão martelado por centenas e centenas de bandas antigas, novas e emergentes, o Kamelot, com este disco Epica ainda conseguiu expôr um trabalho de importância considerável ao Metal Mundial.

CONCLUSÃO: este talvez seja um daqueles grandes discos, que nunca obtiveram o alcance que merecem. Digo talvez porque nao tenho conhecimento deste dado, se caso isto for uma inverdade, terei meu sono mais tranquilo esta noite. Dito posto, Epica é certamente um disco clássico e obrigatório tanto aos fãs de Prog Metal como os de Power Metal, vez que incorpora perfeitamente os elementos de ambos os estilos musicais, não de modo “bagunçado”, como poderia-se até supor, mas em uma união marital de perfeita harmonia.

Kamelot – Epica
Lançamento: 13 de Janeiro de 2003
Gravadora: Noise International

Tracklist:

“Prologue” – 1:07
“Center of the Universe” – 5:26
“Farewell” – 3:41
“Interlude I (Opiate Soul)” – 1:10
“Edge of Paradise” – 4:09
“Wander” – 4:24
“Interlude II (Omen)” – 0:40
“Descent of the Archangel” – 4:35
“Interlude III (At the Banquet)” – 0:30
“Feast for the Vain” – 3:57
“On the Coldest Winter Night” – 4:03
“Lost and Damned” – 4:55
“Helena’s Theme” – 1:51
“Interlude IV (Dawn)” – 0:27
“Mourning After” – 4:59
“III Ways to Epica” – 6:16

Formação (no disco):

Roy Khan – Vocal
Thomas Youngblood – Guitarra
Glenn Barry – Baixo
Casey Grillo – Bateria

Músico Convidado:
Luca Turilli – solo de guitarra em Descent of the Archangel