Covers Melhores que Originais #1: The Man Who Sold The World

Existem várias músicas que são regravadas por outras bandas, outros cantores que, em sua performance, acabam superando as originais. Hoje começaremos uma série de textos que trarão opiniões e argumentos para mostrar por que algumas covers conseguiram superar as gravações originais.

Quando Kurt Cobain foi encontrado morto (dia 08 de abril de 1994) o mundo perdia um dos maiores ícones do Rock de todos os tempos. Apesar de todos conhecerem o estilo de vida de Kurt, a surpresa de sua morte fora inevitável: muito choraram ao perceber que o “porta-voz” de uma geração havia morrido.

No final do ano anterior, a MTV gravava um show memorável: o Nirvana, conhecido por sua ferocidade nos palcos e por suas músicas com guitarras distorcidas, havia gravado um show acústico. Este show seria unido a outro gravado ao vivo (também pela MTV) e seria lançado como um disco duplo: de um lado o Nirvana que todos conheciam, com suas guitarras e performance de palco; do outro, o mesmo Nirvana trocando os equipamentos elétricos pelos acústicos (tudo bem que Kurt utilizou um violão com certa distorção, mas convenhamos que já era um passo e tanto ser um violão) e fazendo um show como “meninos comportados”. O show acústico fora chamado de “Nirvana Unplugged in New York” e acabou sendo considerado por muitos o melhor acústico produzido pela MTV.

A história por trás do show é um pouco engraçada. A MTV queria muito gravar o show acústico, mas sabia que convencer uma banda que utilizava muito dos recursos elétricos e tinha uma performance “pulsante” e ativa no palco a trocar tudo por um show de violões e “mocinhos comportados” não seria fácil. A proposta fora feita a Kurt, que aceitara se a MTV concordasse com algumas condições. Dentre elas, haviam três principais que Kurt não abriria mão: a primeira era que a banda escolheria todo o repertório, sem interferência do canal televiso; a segunda era que a banda faria o show do começo ao fim, não repetiria nenhuma música a fim de selecionar a melhor performance para ir para o CD e, posteriormente, DVD (Kurt gostava do instantâneo, acreditava que a emoção captada uma vez não tinha como ser repetida); a terceira era que a banda escolheria algumas participações especiais. A MTV queria muito o show, então aceitou.

Quem não queria ver o Nirvana tocando seus maiores sucessos em uma versão acústica? Todos queriam, pena que Kurt não pensava assim. Dentro da seleção da banda, algumas músicas famosas ficaram de fora: “Smells Like a Teen Spirit” e “Heart-shaped Box”, por exemplo, não faziam parte dos planos. A banda optou por alternar músicas que todos conheciam com músicas que faziam sentido para a própria banda; músicas que os motivavam a tocar, a fazer música. Esta tal seleção incluía algumas bem famosas como “Come as You Are” e “Polly”, porém incluía, também, alguns chamados “Lado B” como “Pennyroyal Tea” e “Dumb”, além de algumas covers.

É normal que bandas em shows especiais utilizem músicas de outros cantores e façam versões diferentes das originais. Algumas até escolhem estes covers para encorporar seus trabalhos de estúdio, porém, geralmente, as bandas selecionam uma ou duas; o Nirvana selecionou seis músicas covers para o acústico! Sim, seis covers em um show com apenas quatorze músicas!
Se ainda as covers escolhidas fossem músicas de bandas que faziam do Grunge um movimento inovador, todos entenderiam, mas estamos falando de Kurt Cobain e, para ele, isso não era relevante.

É agora que chegamos onde queríamos: a música escolhida. Para você que não sabia, aqui vai: “The Man Who Sold The World” não é do Nirvana. Surpreso? Com certeza alguns ficaram, pois a música tem todos os elementos que fazem com que se pareça com algo que Kurt certamente iria compor. Talvez porque a banda tenha colocado tanta vontade, tenha colocado tanta verdade na performance, talvez por tudo isso pareça que ela realmente seja da banda, mas não, não é.

Ela foi gravada originalmente por David Bowie. Não fazia parte nem das mais conhecidas do “Camaleão do Rock”, mas para Kurt ela fazia muito sentido e deveria entrar no show.
A performance surpreendeu a todos. Ninguém esperava que a música ficasse tão boa. Ela não apenas superou a original como, também, fez com que muitos acreditassem, como já fora comentado, que fosse do próprio Nirvana e escrita por Kurt Cobain.
Já ouviu a versão original da música cantada por Bowie?

Como já fora dito anteriormente, a MTV pretendia lançar um produto com dois shows do Nirvana lado a lado (um acústico ao vivo e outro apenas ao vivo). Em 2013 a MTV acabou lançando o show com ao vivo que deveria compor o material duplo. Este show foi chamado de  “MTV Live and Loud”. E adivinha que música faz parte do show? Ou seja, vinte anos após a gravação do show (de 1993 a 2013) ainda não se tinham registros (pelo menos em alta qualidade) da música sendo tocada pela banda de Seattle com seus instrumentos mais comuns, apenas com os violões. Muitos nem sabiam da performance da música neste formato. E sim, mais uma vez o Nirvana conseguiu surpreender e fazer com que ela parecesse ser escrita por Kurt, fez com que parecesse ser uma música da própria banda.

Fazer um cover parecer ser uma composição própria não é fácil. Fazer isso duas vezes, é mais difícil ainda. Agora, selecionar uma música que nem era conhecida, fazer com que torne-se famosa e ainda pareça sua, não é para qualquer um. Sim, o Nirvana conseguiu tudo isso, por isso não tem como falar de covers sem citar o Nirvana e a “The Man Who Sold The World”.

Para quem nunca ouviu a performance, não deixe de acompanhar. De qualquer forma, não tem como ouvir “The Man Who Sold The World” e não se lembrar do Nirvana. Será mesmo que não foi feita para Kurt? Mesmo sabendo que não, gostaria de acreditar que sim: agora e para sempre será “uma música do Nirvana”.

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