Countdown To Extinction: Um clássico que nasceu há 26 anos e permanece clássico

No último sábado, 14, fui lembrado por um tweet da conta oficial do Megadeth: O Countdown to Extinction completava 26 anos de lançamento, um belo álbum. Se Rust In Peace é aclamado pelos fãs como o melhor álbum da banda (eu particularmente o considero como um dos cinco melhores álbuns de Metal já lançados na história), o aniversariante da semana é o álbum mais bem sucedido comercialmente da trupe liderada pelo “Musta”.

Lançado em 1992, um ano após o “Black Álbum” do METALLICA, algumas pessoas comparam os álbuns, que são bem diferentes entre si, sendo que se a banda anterior de Dave Mustaine explodiu comercialmente, o MEGADETH, guardadas as proporções, teve seu êxito comercial. Claro que  não se tornou a enormidade e a fábula de ganhar dinheiro que a banda de James Hetfield e Lars Ulrich se tornou, mas a “tirada de pé” que a banda deu neste álbum os fizeram alcançar um outro patamar, e, consequentemente, ganhou mais público.

Countdown não deixa de ser Heavy Metal, apenas não é tão rápido quanto quanto seus antecessores, o já citado Rust In Peace e So Far, So Good…So What!, mas é um excelente disco, em que a velocidade dá lugar ao peso, às melodias e à criatividade das composições. Com a formação da banda estabilizada, o que acontecia pela primeira vez em quase dez anos de existência, e respaldado pelo sucesso do álbum anterior, que resultou em turnê que inclusive, deu aos fãs brasileiros a oportunidade de ver a banda pela primeira vez ao vivo, no Rock In Rio II, ocorrido no estádio do Maracanã. Esta apresentação, inclusive, foi lembrada por Dave Mustaine, quando da abertura do show do Black Sabbath, em 2013, na Praça da Apoteose (arrepiando este que vos escreve). Ele só errou o ano da apresentação: foi em 1991 e não em 1992, Musta. Mas nós perdoamos o ato falho.

Com 47 minutos de duração e produção de Max Norman e de Dave Mustaine, o disco, que foi gravado entre janeiro e abril de 1992, teve mais de 7 milhões de cópias vendidas (em tempos que não havia downloads, o máximo que poderíamos fazer era esperar aquele amigo comprar o álbum e então iríamos com uma mísera fitinha cassete para poder gravar e escutar no walkman – Nossa, acabei de confessar que tenho quase 40 anos) e ganhou dois discos de platina somente nos EUA. Foi lançado pela antiga gravadora da banda, a Capitol (sim, aquela em que, no último lançamento contratual da banda – uma coletânea – Mustaine batizou o lançamento de “Punição da Capitol”, em tradução livre) e alcançou o 2º lugar da Billboard, uma façanha e tanto para uma banda de Heavy Metal, sobretudo numa época em que o grunge estava em alta na terra do Tio Sam e em que muito tentou-se propagar a ideia de que o estilo estava morto. Mas NÃO ESTAVA MESMO.

O disco tem a excelente Skin O My Teeth abrindo, com um peso fantástico, a bateria estupenda de Nick Menza anunciando o novo play da banda, riffs bem rápidos se considerarmos o restante das faixas. A letra trata das tentativas de suicídio de Mustaine e é um dos destaques desta obra.

A faixa número dois é certamente a música mais famosa da banda, presença certa nas apresentações e já virou clichê os gritos dos fãs imitando os riffs da guitarra base cantando “Megadeth, Megadeth”., esta é Symphony Of Destruction. A letra conta a história de um cidadão comum como chefe de um regime fantoche. O ruim é que quando a banda toca esta música, a tristeza toma conta de todos, pois depois que ela é executada, sabemos que Peace Sells e Holy Wars anunciam o término da apresentação, há anos tem sido assim. Fantástica canção.

Na sequência temos Architecture Of Aggression, uma música mais arrastada, com riffs bem interessantes, e letra que Mustaine revelou ter sido escrita para o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, na época da composição do álbum o mundo via a dissolução do regime soviético, que culminaria com o fim da Guerra Fria, e em contrapartida, o mundo encarava com incredulidade a Guerra do Golfo.

Foreclosure Of A Dream é a faixa número quatro, num ritmo mais cadenciado, bem melódica, com um solo fantástico e a letra, inteligentíssima, tratando da desigualdade social. Seu videoclipe foi veiculado à exaustão na MTV, figurando por diversas vezes no Top 20 da emissora.

Sweating Bullets dá sequência ao álbum em um estilo invador em termos de Megadeth: a música é cantada em estilo de conversação e a letra trata da batalha travada com o “eu interior” de Dave Mustaine. Uma música densa, pesada e que é presença certa nas apresentações da banda, cantada em uníssono por todos que ali estejam presentes. O grande destaque desta música é a presença da cozinha, o ponto alto desta canção, belo trabalho de Nick Menza e Dave Ellefson.

This Was My Life é a faixa número seis e uma música em que os riffs bem produzidos mesclados com muita melodia ditam as regras, com letra que trata de uma pessoa já em fim da sua vida fazendo uma retrospectiva do que se passou ao longo dos anos. Uma das minhas favoritas deste álbum.

A segunda metade da bolacha traz a faixa título e fala sobre caçadores inescrupulosos de animais (Ted Nugent não vai gostar deste meu comentário) que matam e os mandam para empalhadores transformá-los em troféus. É uma faixa que pessoalmente não me agrada muito, não que ela seja ruim, não é, trata-se apenas de preferência, é muito melódica e é bem executada pelo quarteto. O título foi sugestão de Nick Menza ao ler um artigo na revista Time com o título de “The Countdown To Extinction”.

A faixa seguiinte com certeza é uma das minhas favoritas deste play: High Speed Dirt, que fala sobre paraquedismo. High Speed Dirt é uma expressão usada quando o pára-quedas não abre. A música é fantástica, mais rápida do que as demais, e novamente os riffs de Mustaine e Friedman nos fazem viajar. E aquele solinho meio blues no final? Que coisa fantástica é aquela. Fantástica como a música toda.

Psycothron é a música número 9 e talvez seja a música mais pesada de todo o álbum, com as guitarras fazendo o trabalho com maestria. A letra trata da invenção de um ser metade robô, metade humano assassino.

Captive Honour anuncia que o álbum está chegando ao fim com uma melodia triste, porém, não menos densa e pesada como todas as músicas anteriores, onde mais uma vez a dupla de guitarristas pôs a prova toda a sua capacidade de criação e execução. A letra trata o dia a dia de um prisioneiro, em um estilo vocal de Dave quase que conversando com seus ouvintes, o que combina muito bem com a parte instrumental, dando uma harmonia quase perfeita entre peso e melodia.

Ashes In Your Mouth traz o final da audição em uma música é ainda mais rápida do que Skin O My Teeth e High Speed Dirt, mas não sem deixar o peso de lado. É uma canção tão intensa que os seus seis minutos parecem durar metade do tempo, tamanha a complexidade na execução desta, cuja letra trata do sonho de liberdade e sucesso, típicos do estadunidense e que por vezes, mostra que as pessoas sentem-se tristes depois que chegam ao ponto alto de suas vidas. Bela canção e assim como a bateria vigorosa de Nick Menza abre o disco, ele repete o excelente trabalho nos segundos finais da pequena bolacha (ou do seu vinil).

Countdown To Extinction foi indicado ao prêmio de “Melhor desempenho de Metal” no Grammy Awards de 1993 e a faixa título ganhou a “Humane Society’s Genesis Award”, um prêmio que reconhece artistas que de alguma forma contribuem para a melhoria da sociedade humana, sendo a única banda de Heavy Metal a ser agraciada com tal honraria. E cá entre nós, poderia uma letra tão inteligente e que nos faz pensar em respeitar a vida, poderia não vencer este prêmio?

Eu, particularmente tenho uma relação muito intensa com este álbum: na minha lista de preferências, ele fica em quarto lugar, atrás de Rust In Peace, Peace Sells e até mesmo do Endgame. Tive a oportunidade de viajar do Rio de Janeiro até São Paulo para assistir, no dia 06/09/2012, na extinta casa Via Funchal, o primeiro show do Megadeth da minha vida e este simplesmente teve entre os clássicos da banda, a execução na íntegra deste álbum. Não era com a formação clássica, mas tinha um virtuoso Chris Broderick fazendo um excelente trabalho e Shawn Drover que, se não era tão brilhante quanto Nick Menza, deu conta do recado com seu feijão-com-arroz. Uma apresentação que me fez valer a pena ter passado mais tempo dentro do ônibus indo e voltando pela deliciosa Via Dutra do que, propriamente, dentro da terra da garoa. Uma história tão louca que quase me fez perder o ônibus que partiria daqui do Rio, por culpa do trânsito caótico da cidade do Rio e do meu péssimo planejamento de logística, que incluía um amigo que viajaria comigo contando com meu conhecimento da cidade paulistana e que me relatou já dentro do ônibus, depois do susto que passei para chegar na rodoviária faltando cinco minutos para o embarque, que não embarcaria caso eu não chegasse. Todos esses perrengues me fizeram valorizar ainda mais a apresentação, e o mais importante, a amar ainda mais esta bolacha, que hoje ainda permanece atual, tanto na parte lírica quanto na parte musical.

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