Após terem proporcionado um grande clássico do Grindcore/Death Metal, os músicos do Brujeria retornam dois anos depois com um novo petardo em mãos, “Raza Odiada”, o segundo álbum de estúdio da banda, lançado em 22 de agosto de 1995, através do selo Roadrunner Records. Gravado em cerca de duas semanas, essa segunda entrega traz um Brujeria ainda mais diversificado e criativo. Primeiramente, é necessário dizer que ainda que tenhamos composições vorazes e direcionadas ao Grindcore, “Raza Odiada” flerta muito mais com o “groove” do que o trabalho antecessor da banda, “Matando Güeros”. O resultado é um disco mais abrangente e que mesmo caminhando numa direção diferente do “debut”, proporciona diversão total aos ouvintes e em momento algum soa como um material comercial, muito pelo contrário!

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Novamente retratando temas como satanismo, narcotráfico, revolução e imigração ilegal, esse segundo trabalho também reserva para si algumas curiosidades bem interessantes, a começar pela sua capa, que traz uma foto de Subcomandante Marcos, porta-voz do Movimento Zapatista no México. O álbum se inicia com uma introdução muito engajada, narrada pelo genial Jello Biafra (Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine, ex-Dead Kennedys). Assim que a introdução se cessa, o “riff” inicial grudento e recheado de groove “Raza Odiada (Pito Wilson)” entra em cena. Contando com um refrão de fácil assimilação e vocais perfeitamente agressivos de Juan Brujo, a composição evidentemente faz uma crítica ao parlamentar estadunidense Pete Wilson, que na música é referenciado como “Pito” Wilson, devido ao fato deste ter apresentado uma proposta contra a imigração ilegal em 1994 (Proposição 187) e outra relacionada à segregação racial (Proposição 209), na Califórnia. Isso é bem evidenciado na introdução da faixa e o resultado final é sensacional. Uma faixa direta, bem construída e um dos grandes destaques do álbum e da carreira da banda.

Palhetadas frenéticas e intensas rapidamente dão lugar a uma “cozinha” avassaladora, iniciando assim a fantástica “Colas de Rata”, outro grande destaque do disco. É a primeira faixa do disco a trazer uma sonoridade mais direcionada ao Grindcore. Tal qual a primeira faixa, é outro som obrigatório nas apresentações da banda. O baixo e a bateria dão o tom de abertura para “Hechando Chingasos (Greñudos Locos II)”, um som recheado de “groove” e um trabalho de guitarras simples, porém muito eficiente e grudento. Na sequência, uma nova introdução ecoa pelos alto-falantes:

“[Brujo:] Cunto quiere ese coyote?
[Mexicano:] Diez mil pesos
[B:] Pa todos
[M:] No, Jefe, Pa cada uno
[B:] Pinch coyote ladron, hay que joder al guey”

Quando o dialogo termina, eis que temos “La Migra (Cruza la Frontera II)”, que não é apenas um dos grandes pontos desse segundo álbum de estúdio, como é simplesmente um dos maiores hinos e êxitos da carreira da banda. Possuindo uma letra que retrata sobre imigração ilegal, trata-se de uma composição calcada no Hardcore, extremamente energética, dona de um “riff” inicial altamente grudento, Também temos “backing vocals” bem inseridos, que deixam a música ainda mais empolgante. Impossível passar indiferente a esse som! Obrigatória em qualquer show do grupo.

“Revolución” é uma canção pró-Exército Zapatista e traz novamente um andamento mais arrastado e cadenciado, porém também é um ótimo som. O “groove” desenvolvido pela banda é simplesmente matador e contagiante. Igualmente balanceada, “Consejos Narcos” claramente aborda o narcotráfico em sua letra e mantém o mesmo padrão das composições, jamais deixando o disco enfraquecer. Truculenta e furiosa, “Almas de Venta” traz o bom e velho Grindcore de volta, proporcionando bons momentos para o “mosh” comer solto, contudo, também temos variações de andamentos bem encaixadas e repletas de “groove”.

Na sequência, temos a ótima “La Ley de Plomo”, outro clássico da banda. A canção se inicia com um “riff” potente e uma levada de bateria bem construída. Segundo depois somos conduzidos a um andamento arrastado e que convida todos a “banguearem” no mesmo ritmo das guitarras. Também não faltam mudanças criativas de andamento e todos os integrantes se destacam individualmente. A faixa seguinte, “Los Tengo Colgando (Chingo de Mecos II)”, se inicia com um andamento completamente desvairado e veloz, intercalando alguns trechos cadenciados com a levada Grindcore que marcou o matador álbum de estreia da banda.

“Sesos Humanos (Sacrificio IV)” mantém o mesmo padrão da composição anterior, ou seja, trata-se de um som moedor de ossos e tímpanos! Mais uma vez, os “greñudos locos” decidem pisar no freio e prosseguem com “Primer Meco” e “El Patrón”, duas composições cadenciadas, porém não menos criativas. Aliás, muito pelo contrário! “El Patrón” é um grande clássico da banda e tem uma letra totalmente focada em Pablo Escobar, o mundialmente conhecido narcotraficante colombiano, morto em 02 de dezembro de 1993. No final da canção, temos um discurso exaltando as virtudes de Escobar e como ele ajudava os pobres. O discurso é narrado como se estivesse sendo feito à época da morte de sua morte e o narrador, o baixista e vocalista “Fantasma”, cita que milhares estão indo ao seu enterro e indaga “¿Y ahora, quien nos va a cuidar?” (E agora, quem vai cuidar de nós?).

“Hermanos Menéndez” novamente combina a brutalidade do Grindcore com trechos mais cadenciados. A letra dessa composição fala dos irmãos Lyle e Erik Menéndez, que em 20 de agosto de 1989 assassinaram os próprios pais na cidade de Beverly Hills, na Califórnia (EUA). Na época, foi um crime muito explorado pela mídia. Uma voz gutural profere os seguintes dizeres: “¡Siente la muerte de Satanás!” (“Sente a morte de Satanás!”) e assim se inicia a pesada e arrastada “Padre Nuestro”, uma faixa que não é nada excepcional, mas cumpre o seu papel com exímio. Encerrando o disco de forma completamente satisfatória, temos “Ritmos Satánicos”. Essa faixa conta com um trecho meramente instrumental, que traz um “riff” simples, direto, arrastado e empolgante. Também inseriram um coro ao fundo que proporciona uma atmosfera única, soturna e intrigante. Por sua vez, a segunda metade da faixa traz uma narrativa proferida pelo integrante “Fantasma”.

Trazendo uma produção superior ao trabalho de estreia da banda, além de composições tão criativas como ao do trabalho antecessor, “Raza Odiada” pode não ser um disco puramente de Grindcore/Death Metal, entretanto isso nem de longe é um ponto negativo. O trabalho é consistente, tem faixas poderosas e é diversão garantida para os apreciadores de música extrema. Merece ser ouvido diversas vezes, sem qualquer moderação!

♫ “La migra la migra!
Te chingan los pollos
La migra la migra
Te coje en el hoyo!

La migra, la migra, la migra, la migra!” ♫

BRUJERIA

Integrantes:
Juan Brujo (Juan Lepe) (Vocais)
Pinche Peach (Vocais)
Asesino (Dino Casares) (Guitarra/Baixo)
Hongo (Shane Embury) (Guitarra/Baixo/Bateria)
Güero sin Fe (Billy Gould) (Baixo/Guitarra)
Fantasma (Pat Hoed) (Baixo/Vocal)
Greñudo (Raymond Herrera) (Bateria)

Faixas:
1. Raza Odiada (Pito Wilson)
2. Colas de Rata”
3. Hechando Chingasos (Greñudos Locos II)
4. La Migra (Cruza la Frontera II)”
5. Revolución”
6. Consejos Narcos
7. Almas de Venta
8. La Ley del Plomo
9. Los Tengo Colgando (Chingo de Mecos II)
10. Sesos Humanos (Sacrificio IV)
11. Primer Meco
12. El Patrón
13. Hermanos Menéndez
14. Padre Nuestro
15. Ritmos Satánicos

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