O Grindcore é um estilo que passou a ser adorado por uma centena de admiradores com o passar dos anos. Com seus “riffs” viscerais, suas levadas frenéticas de bateria, principalmente de “blast beats” e vocais urrados e guturais, esse estilo de música extrema se propagou mais e mais com o lançamento de trabalhos como o seminal e cultuado álbum “Scum”, do Napalm Death, que é tido por muitos como um dos pilares do movimento e cresceu mais e mais com o passar dos anos.
Com um nome que significa “bruxaria” em espanhol, o Brujeria foi fundado em 1989 por Juan Brujo, Fantasma, Billy Gould (Faith No More, Fear And The Nervous System, Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine) e Dino “El Asesino” Cazares (Fear Factory, Asesino, Divine Heresy). Pouco depois, novos membros passaram a integrar a banda. Suas músicas, que são completamente cantadas em espanhol, são focadas em temas como satanismo, anticristianismo, sexo, imigração, tráfico de drogas e política. A banda já passou por diversas formações e já contou e conta com artistas de peso do Metal. Os integrantes do Brujeria tocam utilizando pseudônimos e alegam ser uma banda latina supostamente constituída por traficantes de drogas. Esse seria o motivo pelo qual esconderiam seus rostos com bandanas, além de seus verdadeiros nomes. Segundo os membros, eles são procurados pelo FBI. Obviamente tudo não passa de uma brincadeira dos músicos.
Lançado em 06 de julho de 1993, através da gravadora Roadrunner Records, “Matando Güeros” é o álbum de estreia do Brujeria. O disco possui como temática principal a morte de estadunidenses brancos e a travessia da fronteira Estados Unidos-México, além de satanismo e tráfico de drogas. “Güero”, para quem não sabe, é uma gíria mexicana para alguém muito branco ou loiro. A foto da capa do disco mostra uma pessoa desconhecida segurando uma cabeça decapitada, que foi retirada do jornal sensacionalista mexicano ¡Alarma!. A temática violenta e ofensiva do álbum, bem como a sua grotesca capa fizeram o disco ser banido em muitos países. Um fato bastante curioso é que a cabeça decapitada que aparece na capa do disco foi apelidada de “Coco Loco” e terminou por se tornar uma mascote da banda. Como já era de se esperar, algumas lojas norte americanas e de outros países se recusaram a vender o álbum devido a sua capa controversa e devido a isso, a Roadrunner Records providenciou prensagens censuradas cujas capas apenas apresentavam o logo da banda e o título do álbum. Sem mais delongas, vamos dissecar esse que é um dos discos mais importantes da música pesada da década de 90.
Uma curta introdução, “Pura de Venta”, que simula um tráfico de drogas com um final não muito feliz abre as portas para a pancadaria de “Leyes Narcos”, que já se inicia com os vocais furiosos de Juan Brujo e “riffs” sujos e nervosos, acompanhados por uma “cozinha” altamente destrutiva. Como se vê, um começo realmente brilhante e que já deixa o ouvinte preparado para todo o caos que está por vir na próxima meia hora. “Sacrificio” tem um começo arrastado e alterna entre momentos rápidos e “paradinhas” mortais, que por sinal deixam o baixo em evidência nesses momentos. A quarta faixa é a curta e brutal “Santa Lucía” que conta novamente com uma levada feroz de bateria e “riffs” impiedosamente sujos. Uma marcação de baixo dá início a faixa título e hino da banda, “Matando Güeros” que possui um andamento mais cadenciado, contando sempre com a afinação baixíssima nas guitarras tão característica do Grindcore. Como mencionei anteriormente, é simplesmente um hino, dono de um refrão infame e altamente contagiante.
Em seguida, é a vez de “Seis Seis Seis”. Apresentando uma das muitas letras da banda com foco no satanismo, é uma faixa que possui um andamento cadenciado, mas que possui passagens rápidas e levadas mais rápidas de bateria próximo ao coro da música. “Cruza la Frontera” é uma das mais furiosas do disco e conta com “blast beats” esmagadores, “riffs” abominavelmente pesados e vocais rasgados. Vale lembrar que a sequência dessa faixa é “La Migra (Cruza la Frontera II), o maior êxito comercial da banda, lançada no álbum seguinte, “Raza Odiada”. Logo após é a vez de “Greñudos Locos” que ainda que mais cadenciada, é mais uma pedrada e atinge os ouvintes em cheio com sua pegada forte de bateria, suas palhetadas sempre sujas e intensas e os vocais sempre agressivos de Juan Brujo. Sem dar fôlego para respirar, recebemos mais um soco na boca do estômago, “Chinga de Mecos”, que nos espanca com “blast beats” desvairados, guitarras enraivecidas e vocais descontroladamente irados. “Narcos Satánicos” traz novamente um andamento arrastado e balanceado, porém, sem jamais perder peso e mantendo a mesma linha de som das músicas anteriores.
Os “riffs” cadenciados de “Desperado” vem logo em seguida e convidam os ouvintes a “banguearem”. Pouco depois recebemos mais uma dose frenética de “blast beats” e levadas velozes de bateria acompanhados por vocais novamente urrados. O final da música se dá com o mesmo “riff” sujo e empolgante de abertura. A próxima faixa, “Culeros”, funciona com uma espécie de interlúdio e abre caminho para mais uma porrada sujíssima e certeira nos tímpanos, “Misas Negras (Sacrificio III)”, onde mais uma vez os integrantes demonstram que não estão para brincadeira. A décima quarta faixa do álbum é a ótima instrumental “Chinga Tu Madre”, que possui bons “riffs” e um competente trabalho de “cozinha”, especialmente de bateria. Dando continuidade, temos “Verga del Brujo / Están Chingados” onde novamente temos um ritmo denso e pesado, entretanto, mais estabilizado.
“Molestando Niños Muertos” tem um dos nomes mais abomináveis e vis para uma canção e é, pessoalmente, uma das minhas músicas favoritas do disco. Contando com guturais ainda mais furiosos, “riffs” estranhos e um “groove” matador, é uma ótima faixa. A sequência da terceira faixa do disco vem logo em seguida com a pesadíssima “Machetazos (Sacrificio II)”, certamente outra das mais pesadas do disco, contando com levadas violentíssimas de bateria, guturais grotescamente brutais e um trabalho estrondoso de guitarra. A penúltima faixa, “Castigo del Brujo”, é igualmente pesada e conta com “riffs” novamente intensos e graves, porém possui um ritmo mais moderado. “Cristo de la Roca”, por sua vez, encerra esse trabalho com sua levada cadenciada e suas guitarras sempre pesadas e encorpadas, que mutilam os tímpanos dos ouvintes pela última vez.
Narcotráfico, satanismo e música extrema combinados de forma brilhante e única. Isso resume bem o que é o Brujeria! “Matando Güeros” é um trabalho repulsivo, vil, sujo, cru e violentamente perfeito. Sua proposta antimusical e hedionda entrega para os seus ouvintes meia hora do mais genuíno Grindcore e Death Metal, executado com muita criatividade e brutalidade. O resultado é algo completamente único. Um marco para a música pesada como um todo e simplesmente uma obra indispensável a todos os amantes da música extrema!
♫ “Matando güeros – ¡¡Viva la raza!!
Matando güeros – ¡¡Estilo Pancho Villa!!
Matando güeros – ¡¡Satanas te cuida!!
Matando güeros – ¡¡Matando güeros!!” ♫
“¡¡¡VIVA MEXICO, CABRON !!!!”
Integrantes:
Juan Brujo (Juan Lepe) (Vocais)
Pinche Peach (Vocais adicionais/”Samples”)
Asesino (Dino Casares) (Guitarra)
Hongo (Shane Embury) (Guitarra/Baixo)
Güero sin Fe (Billy Gould) (Baixo)
Fantasma (Pat Hoed) (Baixo/Vocal)
Greñudo (Raymond Herrera) (Bateria)
Faixas:
1. Pura de Venta
2. Leyes Narcos
3. Sacrificio
4. Santa Lucía
5. Matando Güeros
6. Seis Seis Seis
7. Cruza la Frontera
8. Greñudos Locos
9. Chinga de Mecos
10. Narcos Satánicos
11. Desperado
12. Culeros
13. Misas Negras (Sacrificio III)
14. Chinga Tu Madre
15. Verga del Brujo / Están Chingados
16. Molestando Niños Muertos
17. Machetazos (Sacrificio II)
18. Castigo del Brujo
19. Cristo de la Roca