Tempo estimado de leitura: 4 minutos
Em 1989, uma banda decidiu quebrar as barreiras impostas contra a comunidade latina e se fez valer de toda a cultura chicana, tocando música pesada e letras de teor agressivo, em espanhol. Brujeria nasceu assim tanto na contravenção que eles resolveram guardar suas identidades a sete chaves por muitos anos. O mundo não é mais o mesmo do começo dos anos 90. Apesar de ainda usarem máscaras e utilizarem seus codinomes, os integrantes do Brujeria são conhecidos pelos seus nomes reais. Mas foi com essa energia de quem desafia a sociedade, tão própria do cenário underground, que eles tocaram por aqui. A data não poderia ser melhor: 15 de novembro, a comemoração da revolta no país contra a monarquia. Contudo, a noite estava tranquila, e a rebeldia se valia de beber cerveja na calçada em frente ao Jokers.
Jailor – 21h20

Em uma noite assim, o desafio é sempre maior para a primeira banda. Nada que os integrantes do Jailor não tirem de letra. Quem já viu ao vivo, sabe a porrada que Flávio Wyrwa, Daniel Hartkopf, Alessandro Guima, Jefferson Verdani e Emerson Niederauer protagonizam no palco. O público ainda estava um pouco tímido, mas era possível ver os fãs do Jailor batendo a cabeça e cantarolando algumas das músicas. “Cada vez mais está havendo eventos de banda e o caralho a quatro de metal em Curitiba. E Curitiba é a capital mundial do metal, porra.”, disse o vocalista. Todo show que se preze tem alguém na plateia pedindo música. “Essa música é mais uma que não foi gravada ainda. Não é Jailbreak, cara, Jailbreak já gravaram”, respondeu Flávio ao anunciar “Army of Ghost”.
Setlist:
“Jesus Crisis”, “Human Unbeing”, “Never Ending War”, “Works Bleeding in Black”, “Army of Ghost”, “Stats of Tragedy”, “Six Six Sickness”.
Choke – 22h20

As cortinas estavam fechadas enquanto o som das guitarras do Choke ecoava pela sala. Mais uma parcela do público havia chegado e aguardava a banda começar oficialmente. “Quero agradecer a Quiat Produções por disponibilizar o show com essa qualidade, pro público perceber e ver que nossa cena em Curitiba é foda pra caralho. Não devemos nada pra ninguém.”, disse Ottavio Lourenço, vocalista do Choke. Quem assumiu a guitarra nesta noite foi Karim Serri, da Legacy of Kain.
Setlist:
“Fuck Off”, “Zero Future”, “Represent Acción”, “Slum Radio”, “Cannibal Holocaust”, “Politika Independiente”, “Dystopia”, “Alianzas y Parejas”, “Hit of Violence”, “Latino Revolution”, “Apocalyptic Carnival”
Enquanto isso…
Num canto da área VIP, o pessoal do Necrotério se preparava com figurino e maquiagem. E enquanto a terceira banda não começava o pessoal aproveitou para encontrar os conhecidos, tirar foto com as bandas.
Necrotério – 23h15

Verdade seja dita, quanto mais gente tem no lugar, mais graça tem a roda punk. Quanto mais se aproximava o horário do Brujeria, mais gente chegava. “Vamos fazer essa noite inesquecível porra”, disse o vocalista Mano. Com mais de 25 anos na ativa, o Necrotério é formado por Marcos Lima na guitarra, Emerson Lima na bateria, Ulisses “Mano” Rodrigues nos vocais e Johnny Benson no baixo. A banda chegou ao palco com aplausos e gritos do público.
Setlist:
“Elemental”, “Spectral Abominations”, “Tears, Anguish and Pain”, “Gory Days”, “Servant of Killing”, “Laceration of Emotions”, “El Carniceiro”, “Splattered Heads”, “Dying Inside of Death”, “Handcuffs”.
Brujeria – 01h24

O público já estava impaciente. Por conta de motivos alheios à produção e à vontade dos músicos, aconteceu um atraso na apresentação. Mas nada que tenha atrapalhado o show. Pelo contrário, o público foi se juntando cada vez mais em frente ao palco. Os integrantes do Brujeria já estavam no palco com as cortinas fechadas. A espera acabou. O clima de música mexicana invadiu o ambiente com a intro de “Cuiden a los niños”. E antes de chegar em “Amaricon Czar”, Juan Brujo puxou um “f*ck you Trump”, que o público inverteu para o presidente brasileiro. “Bem-vindo ao México, cabrones”, disse o vocalista.

A banda é muito expressiva, talvez pela cultura mexicana, que por si só é muito rica. E o Brujeria tem uma postura completamente irreverente no palco (e fora dele!). Eles trocam com o público o tempo todo e chamam pra participar, há uma provocação quase que constante. Se teve mosh pit? Ah, e como teve. “La migra”, “Brujerizmo” e “Matando Güeros” levaram os fãs à loucura e literalmente para o olho do furacão. Para a música “Consejos Narcos”, eles pediram a ajuda de alguém da plateia. Fã do Brujeria, Eduarda Osório subiu ao palco para segurar a placa que de um lado dizia “Si” e outro “No”. O show acabou, passadas um pouco as duas da manhã, com os gritos incessantes do público “Brujeria Brujeria”.

Setlist:
“Cuiden a los niños”, “La Ley de Plomo”, “Amaricon Czar”, “Hechando Chingasos (Greñudo locos II)”, “La Migra (Cruza la frontera II)”, “El Desmadre”, “Anti-Castro”, “Marcha de Odio”, “Brujerizmo”, “Ángel de la frontera”, “Consejos Narcos”, “Raza Odiada (Pito Wilson)”, “Matando Güeros”, “Marijuana”.