Antes de começar a falar sobre British Lion- The Burning, quero vos lembrar que Steve Harris, o baixista e criador do Iron Maiden é totalmente responsável por este projeto.
Obviamente muita gente já sabe, mas basicamente é a forma moderna e jovial de Steve pensar fora da “caixa”; uma caixa que formatou seu sonho de sucesso durante quase 44 anos. O fato é que em plena década de 2010, este artista já com seus planos realizados na maior banda de heavy metal do planeta e pra lá de conhecido e reconhecido no âmbito mundial, parece que ter sentado com seus amigos e seus filhos a dizer que queria fazer algo novo que soasse como moderno e ao mesmo tempo falasse sua lingua.
Quando estive em Londres, visitando Steve NewLoopy House, mais um dos biógrafos das fases do Iron Maiden e também ex-Roadie da banda até 1982, ele afirmou que o British Lion ensaiava ali ao lado do Cart And Horses, e apontou para uma das casinhas da rua, numa verdadeira mostra que o projeto é um pouco do resgate de sua vida no East London, nos idos anos 70.
Quando o primeiro álbum “British Lion” foi lançado com o single This is My God deixou os fãs de boca aberta porque o vocalista era mediano e o som embora fosse “legal” não era exatamente o tipo de coisa que estávamos acostumados a vir do genial Harris. Mas os fãs não deixaram o preconceito tomar conta e começaram a acompanhar e admirar o trabalho alternativo daquele que é um dos maiores músicos do século XX/XXI na música pesada.
Assim que a banda começou a percorrer em tour por alguns países, tocou a alma de fãs e do próprio baixista, que sentiu-se mais perto de seu público, numa verdadeira troca de energia e olhar; só possivel em pequenos públicos de restritos palcos de casas de show. Com um grupo coeso e inclinado a fazer o melhor, o artista volta a lançar seu tão guardado novo material, aprimorado como Steve diz : ” Mais agressivo”. Richard Taylor, o vocalista tem tanta coisa para contar sobre sua vida, e é isso que reflete num novo trabalho cheio de histórias de sua vida.
Este novo disco “The Burning“, além de trazer o modernismo pop e a mescla instrumental da experiência dos músicos, nos surpreende mesmo com um som mais maduro e com elementos tão densos e cheios de variantes, que de alguma forma faz com que eles sejam possivelmente populares no meio do Rock, mas não expressivos.
Mas antes quero relembrar o trabalho anterior com músicas expressivas, tais como: “Us Against The World” que tem guitarras que lembram Maiden e vimos isso como influência. Obviamente as linhas de baixo tambem influenciam as cordas dos guitarristas David Hawkins e Grahame Leslie que harmonizam com o Fender bem trabalhado. Ainda no primeiro trabalho, tive a sensação de estar em contato com um pop moderno que migra discretamente para o velho hard rock em “The Lesson” que já me levou para outras dimensões e vocês devem achar que estou louca, mas esta música me lembra Opeth em alguns momentos.
Mas vamos falar de “Burning” que segundo Steve tem linhas mais “acrilicas” como em “City of fallen angel” que tem tanta energia, e a musica começa tão repentinamente, que eu realmente tenho vontade de colocar para tocar num carro de férias e sair por ai cantando. Parece até mesmo uma trilha sonora de filme hollywoodiano e os solos de guitarra intensos, combinavam bem à uma cena de ação!
A música título “The Burning” impressiona porque tem grandes guitarras e solos magnificos. Era mesmo essa explosão que a banda queria para essa nova fase, neste novo trabalho.
O disco tem a capa feita pelo artista brasileiro Gustavo Sazes (Machine Head, Kamelot, Amaranthe, Arch Enemy) que você vai conhecer melhor numa entrevista realizada pela Roadie Metal, informando como é o processo de produção do trabalho das capas das bandas. Ele já tem um antigo contato com o artista: ” Minha ligação com o Steve já vem de longa data porque eu trabalhei fazendo arte pros filhos dele, Lauren Harris e George Harris (The Raven Age)“.
Assim como deve ser o desejo de Steve, British Lion e o “fogo” entitulado de “The Burning” sucita o velho modelo ufanista sustentado por Harris e também por Bruce Dickinson, como nacionalistas expressivos nas letras de suas músicas. O simbolo máximo do orgulho britânico, o leão, que também representa tradicionalmente: Coragem, nobreza, realeza, força, imponência e bravura é antes de tudo um desejo que Harris deve ter para todos os seus projetos.
Senti que a música ” Father Lucifer” trazia de volta a veia metal com um super solo de guitarra, e várias nuances de bom rock n roll. A “Elysium” recorda me um tipo de som norte americano que leva à uma sinfônica canção de hard rock, tal como ouvir algo como Keane. A canção “Lightning” parece ser uma das mais bonitas e expressivas músicas trabalhadas no álbum e o baixo de Arry está mesmo estridente. A “Last Chance” me deixou confusa, um pouco pop ao mesmo tempo me levou às canções do UFO nos anos 70. Não há com fugir das sensações e influências que formaram artistas digamos, maduros. Mas tudo já estava posto na mesa desde que a banda lançou antecipadamente o curioso “Spitfire” que agradou muita gente.
Finalmente em o arranjo de “Bible Black” é um dos melhores do álbum, mas tudo linear demais. É uma grande banda, com um grande som? Não é tão mediocre como você possa achar, nem tão expressivo a ponto de se tornar uma banda preferida. Mas você precisa ouvi-los.
Entretanto, se você está preso aos conceitos de um artista de um estilo só, eu aconselho a continuar a ouvir o Iron Maiden e através de sua vastidão histórica de 4 décadas, esmiuçar a obra do grande baixista. E ainda assim você vai perceber o quanto ele mudou e de uma certa forma evoluiu nos acordes. Nem uma célula no nosso corpo é igual de um ano para outro, imagina a composição artistica?
Se você for maduro o suficiente para aceitar novas influências e se for fã de verdade do boss, vai ter que abrir sua cabeça e sua mente para ver um grande conjunto de influencias extremamente modernas e “de Pop/Hard Rock”, com um histórico denso e experiente que a banda pode apresentar, ainda que não há nada que nos arrepia os pêlos.

Data de lançamento: 17 de janeiro de 2020
Gravadora: Parlophone
Tracklist:
01. City of Fallen Angels
02. The Burning
03. Father Lucifer
04. Elysium
05. Lightning
06. Last Chance
07. Legend
08. Spit Fire
09. Land of the Perfect People
10. Bible Black
11. Native Son
Formação:
– Richard Taylor (vocal)
– David Hawkins (guitarra)
– Grahame Leslie (guitarra)
– Steve Harris (baixo)
– Simon Dawson (bateria)