Seu despertar é intrigante. Afinal, enquanto ele se apresenta diante de uma construção atmosférica pautada na sonoridade azeda e penetrante da guitarra, a voz levemente grave de Blake Red já vai lhe conferindo uma postura altiva, imponente, questionadora e, acima de tudo, rebelde. Não há frescor, não há delicadeza ou mesmo fragilidade. Aqui o que existe é força, empoderamento e uma identidade provocativa.
Não é de se assustar que, no instante em que o chimbal começa a rasgar o torpor com a sua postura aberta e suja, a canção se permita fluir para um ambiente inflamável, excitante, pulsante e incandescente. Misturando nuances de uma introspecção não associada ao senso de reflexão, mas, sim, no que tange a aquisição de uma tomada mais poderosa, a faixa vai transpirando, de maneira gradativa, o seu desenho estrutural que mostra ao espectador uma mistura equilibrada entre o rock alternativo da virada do milênio com o hard rock e sua libido padrão.
Destacando uma cenografia sombria que captura com certa facilidade a atenção do espectador, a faixa traz em si, também, pitadas marcantes do metal alternativo de maneira a fazer a audiência rememorar até mesmo a paisagem sônica de nomes como Halestorm. O interessante é que, aqui, as guitarras se comunicam abertamente entre as propostas de oferecer rispidez e menções de súplica.

A base fica responsável por uma postura mais inconsequente, imponente, agressiva e pé no peito. A solo, por outro lado, tem um caráter mais sofrido, agonizante e sofredor. Mesmo assim, quando interagem com o macro, elas causam a construção de uma atmosfera dramática que, curiosamente, atinge patamares de pungência.
Quase como se explorasse uma pegada anarquista, a canção, quanto mais se desenvolve, destaca a sua identidade não apenas questionadora, mas, principalmente, revoltante. Diante de uma ponte em que o ouvinte finalmente tem um acesso nítido e transparente à contribuição do baixo e seu groove encorpado para com a aquisição de consistência à paisagem sônica, Scorpion é uma canção em que Blake se utiliza de seu poder para chamar a atenção de todos aqueles que atacam inocentes.
A partir desse ponto, é possível perceber o apelo da vocalista. Ela coloca, na presente canção, uma postura de representatividade tamanha que não abrange apenas e tão somente o preconceito racial, mas todo o tipo de assédio moral. De intolerância religiosa a desaprovações relacionadas à opção sexual, Blake serve como porta-voz de toda uma comunidade que sofre nas mãos daqueles que oprimem, debocham e menosprezam. Por todos aqueles que, por estarem em posições privilegiadas, se acham maiores e melhores que os outros. Scorpion é um single que derruba esse palácio de cristal e o transforma em cinzas. Aqui, a realidade é a voz da razão que censura a negação.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/6TFB87dhPwgXWZ2hhTyRm2
Site Oficial: https://www.blakered.com/
Facebook: https://www.facebook.com/blakeredrocks/
Instagram: https://www.instagram.com/blakeredrocks/