Black Sabbath – 40 anos de “Heaven and Hell”

A visão romântica do fã dificilmente recebe bem a notícia de mudança de formação em sua banda preferida. Por vezes se acerta, por vezes se erra. Em casos mais trágicos, toda a construção de um nome pode ser afetada, mas em outros, o nome, a marca, pode receber um upgrade. Não necessariamente, algo que a melhore, mas algo que aponte um novo caminho, algo que a transforme, sem alienar toda a história pregressa.

O Black Sabbath atravessou a década de 70 como um gigante. Criou álbuns fundamentais e influentes, mas os desgastes internos começaram a afetar o lado criativo. “Technical Ecstasy” e “Never Say Die!” são trabalhos que dividem opiniões. Algo precisava ser feito e a mudança veio através da saída de Ozzy Osbourne rumo a uma carreira solo.

Dificilmente alguém irá dizer que esse foi um fato de impacto negativo para as partes. Ozzy surgiu com o sensacional “Blizzard of Ozz” e revelou o nome de Randy Rhoads. O Sabbath, por outro lado, apostou em um cantor já consagrado. O americano Ronnie James Dio vinha das fileiras do Rainbow, onde deixou quatro álbuns – três de estúdio e um ao vivo – que não podem ser considerados menos do que clássicos.

A gênese de “Heaven and Hell”, porém, não foi isenta de percalços. Com a saída de Ozzy, Geezer Butler comunicou que também precisava se afastar. Nesse interim, o tecladista Geoff Nicholls assume o baixo, mas o problema mais agravante estava na relação entre Bill Ward e Dio. As bebedeiras do baterista chocaram de frente com o profissionalismo do cantor. O retorno de Butler, numa fase já avançada do processo de composição, foi uma das formas encontradas por Iommi para preservar a posição de Ward na banda.

Esses pormenores não afetaram o resultado. “Heaven and Hell” é um dos álbuns mais importantes já feitos e não há dúvida de que a produção de Martin Birch foi um dos fatores essenciais para o seu sucesso. Em um mundo onde bandas como Judas Priest e Scorpions se destacavam, o Sabbath repaginava o seu som, tornando-se menos Doom – mesmo considerando que essa nomenclatura não existia na época – e mais Heavy Metal.

Essa mudança já podia ser percebida na capa icônica, uma das mais famosas da banda e que se diferenciava do tipo de ilustração anteriormente utilizado. A comprovação ficava latente aos primeiros segundos da acelerada “Neon Knights” e as mudanças melódicas de sua ponte. Dio passeava por cima dos acordes e adentrava suavemente nos primeiros versos de “Children of the Sea”, antes de subir o tom.

“Lady Evil” é mais retilínea, mas nada poderia chegar ao grau de excelência e inspiração que trouxeram a faixa título ao mundo. Comandada pelo baixo de Butler, a canção avança em movimento constante até um primeiro solo de Iommi, quase etéreo, antes que o ritmo acelere e o clímax seja alcançado.

“Wishing Well” equipara-se ao que foi dito sobre “Lady Evil”, mas ambas são bem superiores a “Walk Away”, indiscutivelmente a canção mais fraca do disco. O que seria o antigo lado B, completa-se com “Die Young”, que replica parcialmente a força da faixa de abertura, mas intercala o andamento rápido com momentos quase acústicos.

“Lonely is the World” encerra o álbum com um quê de melancolia, o baixo de Butler novamente assumindo a dianteira e toques zepellinianos no final. “Heaven and Hell” conquistou posições importantes nos charts, que ocorreram simultaneamente ao retorno aos palcos. Houve uma resistência inicial das plateias, pois Ozzy sempre foi extremamente carismático, mas a soberania impositiva da nova formação – que logo sofreria outra mudança, com Vinnie Appice chegando para o lugar do dissidente Bill Ward – dobraria o mundo aos seus pés. O Black Sabbath estava vivo novamente e essa seria a primeira vez, entre tantas, em que esse fato seria reafirmado. 

Heaven and Hell – Black Sabbath
Data de Lançamento: 25/04/1980
Gravadora: Vertigo

Tracklist
1 Neon Knights
2 Children of the Sea
3 Lady Evil
4 Heaven and Hell
5 Wishing Well
6 Die Young
7 Walk Away
8 Lonely Is the Word

Formação
Tony Iommi – guitarra
Geezer Butler – baixo
Bill Ward – bateria
Ronnie James Dio – vocal

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