Criou o Death/Doom Metal. Criou o Metal Gótico. Tocou Rock Gótico. Flertou com o Synthpop ao lançar um álbum com fortes influências de Depeche Mode. Às vezes são comparados ao Metallica. Às vezes, ao The Sisters Of Mercy. Muitas bandas hoje em dia são comparadas a eles. Três de seus atuais integrantes tocam em bandas de Death Metal. Mantém praticamente a mesma formação desde a fundação em 1988.
O parágrafo anterior poderia estar fazendo referência a várias bandas ao mesmo tempo, mas todos estes fatos se referem a um único conjunto, o Paradise Lost. Ao longo de suas mais de três décadas de existência, a banda que sempre se manteve estável nas pessoas de Nick Holmes (vocais), Gregor Mackintosh, Aaron Aedy (guitarras) e Stephen Edmondson (contrabaixo) e que atualmente conta com os serviços do baterista finlandês Waltteri Wäyrynen conseguiu trabalhar sua criatividade e sua melancolia com tamanha perícia que sua ousadia sempre se mostrou sua principal marca registrada, ousadia essa que ensinou e ensina até hoje uma miríade de outros conjuntos em termos de música profunda, densa e lúgubre. Muito embora o Paradise Lost já tenha lançado 16 álbuns de estúdio e esteja em efervescente atividade, os clássicos dos anos 90 são os primeiros trabalhos que surgem na cabeça de qualquer um quando se pensa em Paradise Lost. Para tanto, das 10 músicas que foram escolhidas as melhores da banda em sufrágio feito entre os redatores da ROADIE METAL, somente uma foi lançada no século XXI; mais do que isso, as outras nove estão concentradas entre os lançamentos de “Gothic” (1991) e “One Second” (1997). Confira abaixo quais são estas 10 músicas e sinta-se livre para comentar, concordar ou discordar.
Comentários por Bruno Rocha
10ª Faith Divides Us – Death Unites Us (do disco Faith Divides Us – Death Unites Us, 2009) 40,5 pontos
Em 2009 o Paradise Lost completou a sua anti-metamorfose que levou a banda de volta ao seu Heavy Metal denso e negro dos anos 90, mas que não deixou de lado as experiências e aprendizados angariados durante a fase acessível. O ponto alto de “Faith Divides Us – Death Unites Us” é a sua faixa-título, música na qual o Paradise Lost alcançou um dos mais fortes níveis de melancolia e de miséria em sua respeitável discografia. A interpretação da atriz que tem seus cabelos cortados no clipe desta música é tão tocante que faz parecer singela a clássica cena de Carolina Dieckmann raspando seus cabelos na novela global Laços de Família.
9ª Eternal (do disco Gothic, 1991) 43 pontos
A faixa de nº 5 do clássico “Gothic” se destaca pelo contraste da beleza fria da orquestração que substitui o riff de guitarra em seu habitat natural e o refrão mortal que se segue. O reverb e o flanger nos quais o solo de Gregor Mackintosh são embebidos tão-somente reforçam a sensação de estarmos aprisionados em uma caverna mental na qual a luz é sufocada pela pressão das sombras.
8ª Say Just Words (do disco One Second, 1997) 54,5 pontos
A anti-metamorfose que este Escriba mencionou no comentário de “Faith Divides Us – Death Unites Us” é um contraponto ao período de transição pelo qual o Paradise Lost passou na segunda metade dos anos 90, quando o peso das guitarras e os vocais rasgados de Nick Holmes aos poucos renunciaram suas posições em favor de arranjos mais acessíveis e vocais limpos e melódicos. A marca registrada deste período é “Say Just Words”, o grande hit do Paradise Lost com seu ritmo animado, a reconhecível melodia de piano na introdução, o baixo com flanger na ponte antes do clímax e o refrão eficiente e grudento. Mesmo que o Paradise Lost hoje esteja de volta à sua faceta mais pesada, a presença de “Say Just Words” nos set-lists ao vivo ainda é e sempre será obrigatória.
7ª Forever Failure (do disco Draconian Times, 1995) 55 pontos
“Forever Failure” é um dos maiores exemplos do quanto a música do Paradise Lost pode esmigalhar qualquer barreira de frieza que exista na mente do ouvinte concentrado como se esta uma folha seca fosse. A inesquecível fala de Charles Manson na qual ele diz que não sabe o que arrependimento significa cujos alguns excertos nesta música foram incluídos complementa com rara precisão o sentimento da faixa.
6ª As I Die (do disco Shades Of God, 1992) 57 pontos
As influências de Post Punk e de Gothic Rock são um dos grandes diferenciais na criatividade de Gregor Mackintosh enquanto compositor, como se pode notar com extrema clareza nos arranjos de guitarras limpos e nas marcantes linhas de baixo de “As I Die”. Além disso, é aqui nesta faixa onde reconhecemos que o Paradise Lost não é só Nick Holmes e Gregor Mackintosh, pois a pegada precisa e a linha de baixo que Stephen Edmondson emprega em “As I Die”, bem como em várias outras músicas, são indícios suficientes para provar o quanto ele é um baixista subestimado.
5ª True Belief (do disco Icon, 1993) 61,5 pontos
Quando se pensa em duplas de guitarristas, na maioria das vezes lembramos de dois solistas, mas raramente nos damos conta do quão eficiente e marcante também pode ser uma dupla formada por um solista e um ritmista. Gregor Mackintosh nunca se importou em encaixar um solo de guitarra no local onde ele achasse mais apropriado e, para que ele possa fazer isso com a mais extrema confiança, Aaron Aedy não poderia ser um melhor parceiro de instrumento em seu papel de fornecer poderosas e seguras bases de guitarra. “True Belief”, um dos grandes clássicos do quinteto de Halifax, é um dos mais conhecidos exemplos de como o entrosamento entre Gregor e Aaron fazem da musicalidade do Paradise Lost ser tão distinta como ela é.
4ª Embers Fire (do disco Icon, 1993) 61,5 pontos
A introdução orquestrada com graves profundos prenuncia que a música que se seguirá será tão densa quanto. “Embers Fire” representa um ponto de inflexão na sempiterna transformação do Paradise Lost por ser a faixa de abertura de “Icon”, um álbum que mantém algumas características cruas e sujas de seus antecessores, mas que já traz consigo com muita força as características melódicas e acessíveis que seriam as guias da sonoridade da banda a partir de “Draconian Times”.
3ª Enchantment (do disco Draconian Times, 1995) 73,5 pontos
Por falar em “Draconian Times”, o álbum que na opinião deste redator é o mais perfeito de todos os tempos, eis aqui no degrau mais baixo do pódio a faixa de abertura do mesmo, a etérea, viajante e belíssima “Enchantment”, música esta que faz jus ao seu nome graças ao seu forte poder de encantamento que afetaria até mesmo o mais frio e incólume dos homens. Não se pode deixar de ressaltar que “Draconian Times” marcou a estreia do baterista Lee Morris, o mais criativo baterista que já passou pela banda, cujo cartão de visitas é sua sequência de viradas ao fim de “Enchantment”, uma das melhores que os ouvidos deste escritor já ouviram.
2ª Hallowed Land (do disco Draconian Times, 1995) 77,5 pontos
O sono pacífico de “Enchantment” é interrompido pela energia e rebeldia de “Hallowed Land”, faixa de nº 2 de “Draconian Times”, uma das músicas do Paradise Lost que mais podem agradar aqueles que não chegados no ritmo lento do Doom Metal. O solo de Gregor Mackintosh aqui é talvez o melhor de seu portfólio, se é que é possível escolher um único “melhor solo” de Greg.
1ª Gothic (do álbum Gothic, 1991) 94 pontos
O Paradise Lost pode se gabar de ser uma das poucas bandas da história a ter sido pioneiro de dois gêneros de Metal, a saber, o Death/Doom e o Gothic Metal. “Gothic”, o segundo álbum do Paradise Lost, é muito mais do que uma evolução em relação ao nauseabundo debut “Lost Paradise” (1989); é o pontapé inicial de um dos principais movimentos musicais dos anos 90, o Gothic Metal. A faixa-título, que merecidamente batizou o novo gênero, é uma fusão da lentidão e da agonia do Doom Metal com a beleza e sensibilidade das orquestrações e dos vocais femininos e com uma dose de psicodelia e lisergia que reside no solo inicial da música. “Gothic” se tornou por si só não somente uma bússola que outras bandas seguiriam e aperfeiçoariam ao longo daquela década, mas também a primeira prova cabal de que o Paradise Lost seria uma banda que jamais teria medo de ousar e de se reinventar.
Redatores responsáveis pela votação: Leandro Viana, Marcos Gonçalves, Alexandre Temoteo, Helton Grunge, Vitor Sobreira, Anderson Frota, Bruno Rocha, Daniela Farah, Renan Soares, Jessica Alves, Aline Costa, Jessica da Mata, Alexandre Veronesi, Pedro Henrique, Mauro Antunes, Maria Clara Goé, Gustavo Troiano, Giovani Turazi, Alessandro Iglesias, Caio Cesar, Jennifer Kelly, Rafael Sgroi e Carlos H. Silva.
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