A já tradicional banda BaRok Projekto, que traz em seu diferencial letras cantadas em esperanto, lançou em 6 de janeiro o EP Veko, que significa “o despertar”, com 6 faixas. O que se pode dizer sobre este novo trabalho? aqui, a banda se aprofunda nesse cenário caótico onde o Brasil é o resultado da invasão que começou em 1500 e que vem destruindo a terra e dizimando a população originária da Terra das Palmeiras – Pindorama, na língua TUPI. A arte da capa foi desenvolvida pelo artista Carlos Fides.
Analisando a temática lírica de cada uma das faixas, abrimos com “Kial ne?”, que reflete sobre a visão preconceituosa que temos dos povos indígenas, e do julgamento que fazemos ao ver que essas pessoas também usufruem da tecnologia e dos serviços que o sistema capitalista oferece, nos levando a pensar sobre o que une um povo e cria uma cultura. Nas palavras do guitarrista e vocalista Rafael Milhomem: “… a identificação de um indivíduo com a sua cultura vai além dos hábitos culinários ou de vestuário, está na sua história, no que é passado pela sua família, nas suas escolhas. Se eu como um sushi, por exemplo, eu não me torno um japonês. Não é porque uma pessoa nasce em uma aldeia indígena que ela não têm os mesmos direitos que os outros, não é porque ela usa um celular que ela não é indígena, você me entende?”
Já “Hejmo” é uma releitura de uma obra da poetisa Marjorie Boulton, que reflete sobre a destruição que uma guerra pode causar, não apenas em termos materiais, mas também nas vidas que são ceifadas, nos sonhos interrompidos, e em toda a estupidez que o ser humano é capaz de realizar por um pouco mais de lucro.
Existe um ditado que diz que no Brasil todos têm sangue indígena, alguns na veia outros nas mãos.
“Hibrida Batalanto” fala sobre um jovem que ouve o chamado ancestral de seu povo após ouvir a música “Praulan Forton”, e descobre que seu sangue é indígena. Essa descoberta faz com que ele reflita sobre o país em que vivemos e escolhe lutar pelos direitos dos injustiçados.
A quarta faixa, “Pindoramo Estis Invadita” foi inspirada no documentário Guerras do Brasil.DOC. Nas palavras do guitarrista e vocalista Muniz: “quando ouvi o Ailton Krenak relatando a guerra mais antiga do Brasil, percebi como nosso sistema nos engana e cria uma sensação de que o Brasil foi colonizado e não roubado dos povos originários. Todo o sangue que foi derramado nessa terra macula nossa história, nosso passado, não somos capazes de viver em harmonia com a terra, com outros seres vivos e muito menos com outros seres humanos. Isso tudo me deixa muito triste. Mas os povos originários ainda resistem e essa guerra ainda está longe de acabar, ainda temos chance de fazer diferente.”
Veko é um trabalho mais maduro e coeso, tanto em termos musicais como no sentido lírico, onde a banda demonstra sua intimidade com o estilo e o virtuosismo de suas composições. A tradicional mistura de Folk e Power Metal com música clássica está mais rica e mais pesada. As críticas sociais que foram apresentadas em seu EP anterior atingem agora um novo patamar, refletindo sobre tradições dos povos originários e o papel que seus guerreiros exercem para a sobrevivência da sua cultura em meio ao avanço tecnológico e a invasão de seu território. O trabalho é concluído com as faixas “Kial ne?” e “Hibrida Batalanto” em versão para karaokê.