Que a amizade é importante, nós já sabemos, agora os benefícios dela sendo escancarados e deixados claros para o ouvinte é o papel da banda Barão Vermelho com a faixa A Solidão Te Engole Vivo.
A faixa está presente no mais recente trabalho da banda chamado Viva (2019). Este álbum é o primeiro de inéditas que apresenta o Rodrigo Suricato assumindo os vocais principais e a guitarra da banda, o que ocorreu após a saída do ícone da banda e lendário músico Frejat.
A solidão é algo que pode nos ajudar muito às vezes, porém, assim como tudo na vida, tem que ser em uma dose moderada. Caso não seja, ela pode trazer um vício e, pior do que isso, pode tornar-se o próprio vício. O alerta da música é feito de forma positiva, mostrando as vantagens de andarmos com pessoas que agregam coisas boas em nossas vidas.
Escapar de qualquer perigo, escapar da solidão é importante para não deixarmos nossa vida ser corroída por problemas psicológicos graves como a depressão, por exemplo.
Falar sobre a solidão, sobre a tristeza, costuma ser um tabu difícil de mexer na dose certa. O Barão Vermelho foi cirúrgico ao apresentar o tema, pois soube ser suave ao falar da situação e focou muito mais no lado positivo das amizades do que no castigo de sua ausência.
Um trecho importante da música é quando ele diz que “Se for para levar na cara, amor e porrada, que seja de um amigo”, o que deixa claro que, quando temos amigos sinceros, a verdade tem que ser dita, por mais que doa. Isto fica claro porque, se for de um amigo, ele só dirá visando uma melhora da pessoa, não visando seu fracasso: amigo que é amigo deseja sempre o sucesso do outro.
A Solidão Te Engole Vivo resume a importância da amizade sincera em nossa vida, deixa claro o quanto doar-se por quem amamos ajuda a termos paz. Aliás, depressão é uma doença silenciosa. Estar perto de quem nos quer bem pode ajudar a enfrentar melhor os problemas e sair mais fácil da possibilidade de ser “engolido vivo” pela solidão. E, claro, estar perto dos amigos faz com que possamos enxergar quando os mesmos precisam de nós.
A banda, depois de 15 anos sem lançar um trabalho de autorais, o Barão Vermelho veio com tudo lançando um trabalho de 9 faixas autorais inéditas. A nova formação conta com: com Rodrigo Suricato (vocais, guitarra e violão), Guto Goffi (bateria), Maurício Barros (teclados) e Fernando Magalhães (guitarra).
O novo álbum não conta só com a novidade do Suricato na banda, conta também com o retorno como integrante fixo na banda do tecladista e vocalista Maurício Barros. O músico, fundador da banda ao lado do baterista Guto Goffi, acabou saindo da banda durante a turnê do álbum Rock N’ Geral (1987).
À época, o músico ficou insatisfeito com os caminhos que a banda estava trilhando e por sentir que sua voz não estava tendo tanto valor quanto merecia. O músico chegou a participar dos álbuns seguintes e de shows, mas sempre como músico convidado. Agora, além de voltar a tocar, a compor, a arranjar as músicas, ele cantou uma música também como voz principal (a faixa Castelos), deixando claro que seu retorno é para ficar e de forma triunfal, pois sua voz na faixa está impecável, lembrando o estilo mais raiz da banda.
Viva é o 13º álbum de estúdio do Barão Vermelho, levando em consideração só trabalhos de estúdio que contam com músicas inéditas para a banda (isso porque na contagem entra o Álbum, trabalho de 1996, que foi o trabalho do Barão Vermelho gravado de covers de outros artistas, mas é considerado inédito dentro de sua própria obra). Nesta contagem não entram coletâneas, discos Ao Vivo e nem trabalhos como Balada MTV (1999) e Barão Para Sempre (2018) que contam com novas versões de músicas de sucesso da própria banda.
É notável que Suricato trouxe novas influências à banda e talvez haja mais interferência de seu trabalho nesta obra do que interferência do Barão Vermelho mais raiz (se é que podemos definir assim) em sua forma de compor. Mas isso não é demérito algum, pois Rodrigo Suricato é um grande músico e um ótimo instrumentista.
Viva talvez seja a forma de o Barão Vermelho ainda se mostrar relevante no que diz respeito a trabalho autoral, uma vez que a banda poderia se esconder dentro dos próprios sucessos que, mesmo assim, continuaria fazendo shows e mais shows pelo país. Viva talvez seja o que a banda precisava para se manter na ativa, para se manter viva.
