Nascido em 1973, o sueco Charles Petter Andreason tem mantido ininterrupta atividade desde que foi revelado ao mundo como integrante do Mercyful Fate, sob o nome artístico de Sharlee D’Angelo, na segunda encarnação da banda, quando foi convidado para substituir o baixista original, Timi Hansen. Sharlee galgou essa oportunidade através de seu amigo, o baterista Snowy Shaw, que já fazia parte da King Diamond Band e foi testado na banda do vocalista, atuando apenas nas apresentações ao vivo.
Desde então o músico, ao mesmo tempo que integrava a lenda dinamarquesa, começou a percorrer algumas das mais interessantes bandas que começavam a despontar pelo norte do continente europeu. Com o Mercyful Fate permaneceu até a segunda dissolução, após o álbum “9”, de 1999, e teve breves passagens pelo Power Metal do Sinergy e o Death Metal do Dismember, mas hoje ele acumula empregos. Integra o Black Thrash do Witchery desde o começo, bem como a experimentação Hard do The Night Flight Orchestra. Além desses, compõe o Stoner setentista do Spiritual Beggars desde o disco “Demons”, de 2005, e certamente sua entrada ali ocorreu por convite do guitarrista Michael Amott, que também é líder da banda de maior exposição dentro do currículo atual do baixista, o Arch Enemy, uma das principais forças do chamado Death Metal melódico.
Independente de qual seja a banda, contar com a presença de Sharlee na formação é um bonus que vai bem além da aptidão musical, pois o músico é do tipo que dá sangue no palco, com uma postura intensa e agressiva. Suas influências declaradas são baixistas lendários do Hard Rock e do Heavy Metal da virada entre os anos setenta e oitenta. Roger Glover, Glen Hughes, Peter Baltes (Accept) e Steve Dawson (Saxon), são citados com frequência, mas o topo do pódio pertence ao inigualável John Entwistle (The Who). Apesar de ser fã dos malabarismos de Entwistle, Sharlee ressalta as dificuldades – e a habilidade – que Dawson, Baltes, e também caras como Ian Hill (Judas Priest), Cliff Williams (AC/DC) e Francis Buchholz (Scorpions) tinham para manterem levadas simples dentro de suas bandas. Favorecer o peso da nota ao invés do groove – restringir-se, enfim – é algo que Sharlee considera tão impressionante quanto a exibição das habilidades técnicas, pois considera que é perceptível que esses baixistas estão, em favor da identidade de suas bandas, soando abaixo de suas próprias capacidades.
Essa forma de ver as coisas é coerente com a decisão tomada no começo da carreira de assumir o baixo ao invés da guitarra. Havia uma percepção de que, no mundo das seis cordas, a competição de técnica/velocidade, estava acirrada, e esse não era o seu foco. A sua orientação era para o ritmo e isso lhe abriu portas, pois todos queriam ser guitarristas, então não haviam tantos baixistas disponíveis no mercado.
Como instrumentista, Sharlee iniciou com os modelos Rickenbacker, inspirado por seus ídolos que também eram adeptos da marca, mas hoje ele é adeptos dos Ibanez, dos quais tem sua própria linha signature SDB2, de quarto cordas, ajustados para a sua afinação preferida, em Dó, na sequência C, F, Bb, Eb, e que regula em combinação com seus amplificadores Aguilar. No seu entendimento, essa configuração precisa ser revista quando ele toca com o Spiritual Beggars, pois os padrões de seu signature são mais afeitos ao extremismos, enquanto que os Beggars necessitam de algo mais vintage, permitindo-lhe recorrer a alguns de seus instrumentos mais antigos, com madeiras diferenciadas e timbres próximos ao do Fender Precision.
No que se refere aos choques de agenda decorrentes da presença em várias bandas simultaneamente, ele encara naturalmente: os momentos de estúdio são plenamente administráveis, mas as performances ao vivo são mais suscetíveis a conflitos de datas e, nessas ocasiões, não existem soluções além da possibilidade de ser substituido para um ou outro evento.
No momento de construção das músicas, a primeira coisa a ser observada é o que a bateria está fazendo; depois, as guitarras, sem necessariamente segui-las, mas podendo fazê-lo, desde que isso seja o mais adequado para o arranjo. Exibir a técnica, apenas porque a detém, seria correr o risco de arruinar a música. A sabedoria de encarar com serenidade esse tipo de conflitos faz sintonia com sua condição de apreciador de vinhos. O tempo matura o sabor das uvas e também a atitude dos melhores baixistas.