Baixistas: Mark Mendoza (Twisted Sister)

Mark Glickman. Guarde esse nome. O sujeito, conhecido pela alcunha de “The Animal” é um indivíduo perigoso, de comportamento violento, sobre o qual incidem várias queixas pela agressão e espancamento de baixos inocentes. Estes pobres instrumentos indefesos, sem qualquer possibilidade de reação, eram submetidos a fortes golpes sequenciados, aplicados sobre seus corpos ou braços. Muitos não sobreviveram…

Decerto que Mark “The Animal” Mendoza não é um baixista comum. Vê-lo tocar era um espetáculo à parte dentro do show intenso que o Twisted Sister proporcionava. Esse americano, nascido no estado de New York em 1956, começou no instrumento aos doze anos de idade e teve, em sua carreira musical, o pleno apoio dos pais. Por um curto período ele tocou clarinete junto à banda do colégio, mas seu relacionamento com esse instrumento durou somente até o dia em que ele sofreu um empurrão de outro garoto e revidou quebrando o clarinete na cabeça do infeliz agressor. Foi expulso da banda, claro, mas pôde retomar o seu foco para as quatro cordas.

Embora admita que não tenha como explicar de forma mais precisa, Mendoza diz que optou pelo baixo por senti-lo como algo mais físico, havia mais sensação em seu manuseio. No começo, fez algumas poucas aulas para aprender os fundamentos e depois prosseguiu como autodidata e atribui essa queda pelo aspecto físico às suas influências, pois revela que nunca se interessou muito por bandas como Beatles, mas estava ligado em Cream, Vanilla Fudge, Humble Pie, Black Sabbath e Cactus, estudando as linhas de baixo de caras como Felix Pappalardi, Tim Bogert e Jack Bruce.

Sua primeira chance profissional aconteceu com a Dictators. Pela dica de um amigo, ele soube da vaga para baixista e que se tratava de uma banda que estava sendo gerenciada pelos mesmos empresários do Blue Oyster Cult. Mendoza escutou o último disco do grupo e detestou, mas aquela era uma oportunidade real de sair em turnês. Foi através da rotina do Dictators, fazendo shows frequentes e ganhando dinheiro de forma profissional, além do fato de não consumir drogas, que veio a aprovação de seus pais por sua carreira.

Essa relação familiar esteve no ápice de um dos momentos mais difíceis que ele enfrentou pois, já conhecendo o Twisted Sister, e amando o que eles estavam fazendo, Mendoza ficou extasiado com o convite para integrar o conjunto, em substituição ao baixista anterior. Acordo fechado, ensaios realizados e data do primeiro show marcada, esse período coincidiu com a época em que seu pai estava internado, gravemente doente. No dia anterior à sua morte, quando Mark foi lhe visitar, seu pai lhe fez prometer que independente do que houvesse, ele não deveria deixar de fazer o show, que seria dali a quatro dias. Mark argumentou que a banda iria compreender, mas seu pai levantou a voz e finalizou a questão. Um dia depois, ele faleceu. Mark ficou sem saber o que fazer, mas sua mãe disse-lhe que, se seu pai havia dito daquela forma, então era o que ele deveria fazer. E assim foi sua estreia com o Twisted Sister, rememorada como um misto de felicidade e amargor.

O baixista tem uma predileção pelos instrumentos G&L, utilizando os modelos L-2000, L-1000 e L-2500, e, como não poderia deixar de ser, aponta a qualidade da construção como um dos pontos fortes da marca, pois seus baixos costumam passar por tratamentos ásperos. A pegada do músico é tão agressiva que tornou-se tradição modificar a rítmica das bandas com as quais tocou. Dictators, Twisted Sister e Blackfoot – com quem ele atuou após o período de inatividade do Twisted Sister – tornaram-se mais pesados em função da condução de Mark.

O consagrado quinteto de Hard Metal americano foi o ápice de sua trajetória e Mendoza assumiu uma postura bem mais ativa após o retorno da banda. Já no começo, ele transmitia sua experiência em turnês para os demais, ajudando na transição dos clubes para a estrada. Na volta da formação clássica, ele assumiu, junto com o guitarrista Jay Jay French, a produção de tudo o que foi gravado e lançado, além de estender seu gerenciamento para as questões de som e iluminação de palco, acompanhando os detalhes enquanto os demais integrantes fazem outras coisas. Essa era a postura merecida para o músico que afirmou que “Love is for Suckers” nunca deveria ter sido um álbum da banda e sim um disco solo de Dee Snider.

As recordações de Mendoza sobre essa fase são as piores. Odiando todo o processo, ele lembra que o produtor do disco insistiu que ele gravasse com um baixo Steinberger com palheta. Os baixos desse modelo não tem headstock e são facilmente associáveis com a música eletrônica. Mark negou, mas depois de muito aborrecimento e insistência, cedeu e fez o serviço. Saindo e retornando algumas horas depois, o produtor não estava satisfeito, pois tudo estava perfeito demais, sem naturalidade. Mark convenceu-o a refazer do seu modo e, em um take só, gravou tudo, com seu próprio baixo e tocando com os dedos. O produtor afirmou ter ficado satisfeito, mas o simpático baixista disse que ok, se era assim que ele pensava, mas considerava o disco uma merda e se encontrasse com ele no meio da rua, faria-o perder os dentes.

Se você for baixista e encontrar com Mark Mendoza por aí, um conselho: não mostre seus contrabaixos para ele. Talvez eles não retornem inteiros…

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