Você está treinando para aprender a tocar baixo mas, de vez em quando, bate uma preguiça??? Recomendo, como atividade motivacional, que busque alguma entrevista de Frank Bello, o baixista do Anthrax, e dê uma lida. Se a empolgação, a paixão desse sujeito, que já acumula mais de trinta anos de função, não lhe despertar o ânimo, talvez seja hora de repensar suas prioridades.
Frank é um profissional que, mesmo já tendo alcançado a consagração, não se furta de querer aprender cada vez mais: Como são as linhas do gênio da Motown, James Jamerson? Que tal experimentar um contrabaixo acústico? Toda hora uma ideia nova está pulsando em sua mente. E isso ocorre porque ele realmente ama o que faz e sabe que tomou as decisões corretas, quando, aos dezesseis anos, deixou de lado a possibilidade de investir em uma carreira no beisebol para atuar junto ao Anthrax, na posição de roadie, convidado por seu tio, o baterista Charlie Benante.
O relacionamento deste ítalo-americano com o instrumento chega à beira do fervor religioso, ao ponto dele definir uma santíssima trindade própria: Geezer Butler, Geddy Lee e Steve Harris. Esses três nomes saem de sua boca quase como se fossem um mantra e sempre interligados, sendo que Frank admite que, não tendo crescido com um pai, ele se espelhava em seus heróis do contrabaixo enquanto crescia. Menciona, inclusive, a música “Lone Justice”, de seu primeiro disco com o Anthrax, “Spreading The Disease”, como uma faixa onde é possível localizar traços de todas as suas três principais influências.
Mas Bello também cita, com frequência, o nome de Tom Petersson, do Cheap Trick, que alimentou nele o interesse pelo uso do baixo de oito cordas, e, por fim, o Kiss, que foi a banda que lhe despertou a vontade de estar em cima de um palco. Nesse ponto, porém, deve se dizer que sua presença de palco remete mais à figura de Steve Harris e – por sua movimentação intensa – era mais do que necessário que o Anthrax alcançasse logo os lugares mais amplos, pois do contrário não haveria espaço suficiente para Bello, Joe Beladonna e Scott Ian se mexerem como costumam. Quanto aos outros dois, não há informação do que fazem para manterem suas colunas inteiras, mas Bello diz que encontrou, na prática da Yoga, o segredo para alongar sua musculatura e prepará-lo para suas performances.
Apesar de toda a agenda frenética que o Anthrax demanda, Frank encontra tempo para algumas atividades paralelas. Ele já tinha, por um pequeno período, deixado sua banda principal e ingressado no Helmet, com quem gravou o álbum “Size Matters”, em 2004, onde teve que manter sua avançada técnica de três dedos em suspensão, para poder utilizar exclusivamente a palheta. Hoje, porém, ele consegue compatibilizar outros projetos sem afetar o andamento dos demais. Foi daí que vieram a criação do Altitudes & Attitude, onde ele canta e toca guitarra, ao lado de Dave Ellefson, do Megadeth, tendo lançado um EP em 2014, e suas participações no mundo cinematográfico, onde estreou, de forma muito discreta, fazendo o papel do cantor Richard Hell (ex-Television e Richard Hell & The Voidoids), no filme “Greetings From Tim Buckley”, de 2012.
Sua maior empolgação, porém, vem de suas clínicas, ensinando contrabaixo para crianças e jovens, “passando a tocha”, como diz. Tendo ele próprio sido um estudante de música no colegial, aprendendo os meandros do Jazz, Bello valoriza intensamente a colocação de uma boa melodia nas músicas, bem como a busca por definir o que deverá soar melhor para cada canção, mesmo que isso signifique manter-se nas cabeças de acorde.
Embora tenha utilizado os Fender JazzBass por algum tempo, durante os anos 90, Frank tem uma longa história com os modelos ESP, que lhe serviram no começo da carreira e para os quais retornou, tendo criado sua própria linha Signature, com instrumentos luxuosos, dotados de escala em 34”, captadores e marcações vermelhas, e corpo de Alder. Combinados com os cabeçotes Hartke que utiliza, ele obtém aquele som único, que lhe é peculiar. O som que fez com que ele se destacasse em um cenário – o Thrash Metal – onde baixistas precisavam abrir caminho entre os carregados timbres de guitarra e bateria para poderem surgir na música. Frank Bello elevou o seu nível e passou do status de influenciado para influência. Decerto que, para muitos, seu nome deve constar de alguma trindade na qual novos baixistas se espelham em busca da evolução.