Ayreon descreve um futuro distante, onde a tecnologia reina, e computadores feitos para servir ao homem gradualmente ganham o controle sobre seus criadores.

Ele então recita ao rei e sua corte:

– Vejo um mundo frio como gelo, onde todo o amor se foi. Eu vejo uma raça que paga o preço por tudo que fez… Eu vejo sombras de máquinas gigantes, espalhadas pela terra. Eu vejo um mundo onde nem reis, nem rainhas comandam, mas sim, “chips”. “Computadores”… é o reino dessas máquinas! É o fim de tudo! O fim apenas começou, a tecnologia venceu e não há como desfazer… não haverá para onde fugir, o dano é irreversível….

Ainda incólume, com a voz carregada, o menestrel continua:

– Eu vejo um jogo fora de mão, memórias apagadas… eu vejo um plano principal programado, onde homem será substituído. Eu vejo um planeta morrer no espaço, e lentamente, sumindo. Eu vejo o fim da humanidade… Tem de haver um jeito!

O alvoroço na corte é certo. As palavras do profeta causam pavor, receio, angústia naqueles que as ouvem, e todos ficam afetados. Seria ele a “semente do Diabo”, como muitos já afirmaram antes? Ou seria ele apenas um velho louco, insano pela cegueira que o assola a tantos anos?

Ayreon então decide cantar sobre as inúmeras guerras inúteis que irão acontecer, a fim de alertar a humanidade (ou aqueles poucos que o ouvem) sobre o quão pífios podemos ser, com o apertar de um único botão sendo o suficiente para exterminar os seres humanos…

“ Ouço o eco de milhões de gritos….
Fumaça, sangue e fogo.
Vejo um campo de batalha deserto,
Milhões de homens morrerão!
Ao desejo de apenas um homem
E a grande massa se ajoelhará…

Através das eras
Homens morrerão antes de seu tempo
Em uma guerra eterna
E enquanto o homem for ensinado
Que a guerra não é um crime,
O homem lutará para sempre.

E das cinzas,
Um senhor da guerra surgirá
E sua tirania atormentará a terra…
Seu reinado de terror,
Custará sacrifícios a muitos
O inferno na palma da sua mão…

E através dos séculos,
O homem será aprisionado
Em nome da liberdade!
E enquanto o homem viver,
Guerras serão financiadas,
Ou será que algum dia seremos livres?
Liberte-me!

O caminho para a ruína
Se encurta o tempo todo,
Enquanto a tecnologia evolui…
Porém, é necessário apenas um homem
Para cometer o maior crime,
E fazer o último movimento. “

Suas palavras deixam salões inteiros calados. Conforme menciona os motivos que levarão a humanidade a ser extinta, muitas emoções surgem. O menestrel não pode ver seus rostos, mas sabe que, pelo menos em alguns, algo despertou. Se era ira ou medo, não saberia dizer… Porém, as visões em sua cabeça não somem, e impregnadas como memórias, ele alerta sobre a destruição dos céus pelo homem. Sim, o céu! A morada dos deuses, que no futuro, será apenas escuridão… Poluição, fome, sede, presentes do homem para o planeta.

“Todas as árvores morreram
O solo está queimado e seco
Eu não consigo respirar…
Uma tempestade de fogo
Está rugindo nos céus…

Onde toda a vida selvagem
Foi extinta, de polo a polo
A caça por pele
Um pecado mortal,
Cobrou seu alto preço…

Os mares estão vermelhos, os céus estão cinzentos,
O solo está coberto de cascalho,
A terra está morta, o sol está fraco
Ouça as ondas…

Nós profanamos o ar,
E queimamos um buraco nos céus
Raios mortais
Do espaço sideral…
Causaram a morte da nossa raça!

Incólumes em uma encruzilhada
Uma escolha de vida ou morte
Tomaremos mais cuidado,
E limpamos o ar,
Ou teremos nosso último suspiro.”

Essas então seriam as 3 principais causas da destruição iminente da raça humana. Ayreon advertira a todos o que poderia acontecer, porém, ainda não estava em paz consigo mesmo. Estava atormentado, e de alguma forma, sabia que seu fim estava próximo e implorava… não, ordenada que seus torturadores do futuro concedesse à ele um último momento de esplendor em meio à tanto sofrimento, mas ninguém o ouve…

– Eu sinto um medo, lá dentro… o fim está próximo, eu não posso esconder, sangue é derramado e minha jornada não está completa! Ainda há tanto… eu anseio por ver, eu preciso tocar, eu quero ser, eu não posso acreditar…Isso é tudo que eu posso alcançar? Avise-me agora e deixe-me ir… deixe-me ir para as terras e praias longínquas… sem planos malígnos ou guerras futuras. leve-me em uma cavalgada mágica…

Mas ninguém o ouve. Ele continua seu monólogo:

– Alguma vez vocês se importaram em como eu poderia me sentir, enquanto vocês sonhavam com esse “acordo” onde só um é favorecido? Ó senhores do tempo, vocês não entenderiam… Minha vida nunca foi fácil, eu nasci para perder! Eu cansei dos seus sonhos do futuro! Concedam meu desejo, meu desejo é sua ordem!

Porém, os gritos do profeta despertaram a ira e inveja de outro profeta da corte… o mago de Arthur, o grandioso Merlin. Ele observara o comportamento do menestrel de longe, porém, chegara a hora de interferir e impedir Ayreon.

Em seus devaneios, Ayreon percebe que ele não foi o escolhido a receber as mensagens telepáticas do futuro, mas sim, as recebeu sem intenção dos executores do experimento. Quem sabe a cegueira que despertara seu sexto sentido tenha facilitado o recebimento das mensagens… e agora, atormentado, ele se força a cair nos encantos mágicos de Merlin

– Eu vago pelo vale dos pesadelos… e me acho no jardim dos sonhos. Lance seu encanto, eu sei que você está aí. Lance seu feitiço e silencie os gritos. Mas enquanto eu me equilibrio no limiar da vida, onde o tempo desaparece, eu curvo-me com medo… ao encanto do vidente… Eu vi medo em rostos corajosos, eu vi esperança em olhos desesperados! Levaram-me para lugares familiares… a céus cristalinos…

Ele sabia que seu fim estava próximo. Tudo que sentia era desespero.

– Eu falhei, eu fui esquecido…. eu fui desprezado e mal interpretado… eu perdi… minha vida me foi tomada… eu… eu desistiria se eu pudesse…

E então, Merlin, em um misto de orgulho e piedade, concede à Ayreon seu último desejo: um relance de sanidade, seus dias de outrora, onde ainda a mantinha….

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