A banda de death metal Avatar está fazendo sua primeira turnê pelo Brasil abrindo os shows de ninguém mais, ninguém menos, que Iron Maiden. Eles já tocaram em Curitiba e Ribeirão Preto, encerrando a turnê em São Paulo no domingo. O vocalista Johannes Eckerström concedeu uma entrevista para a Roadie Metal falando sobre as expectativas do show em São Paulo e suas experiências no Brasil até agora.
Redatora: Olá!
Johannes: Olá! Prazer em te conhecer
Redatora: Prazer te conhecer! Vocês já tocaram em Curitiba e Ribeirão Preto! Como está sendo a tour até agora?
Johannes: Está sendo muito bom! O primeiro show foi um sentimento que ainda não tivemos antes porque estar aqui pela primeira vez e estamos aqui pela primeira vez com o Iron Maiden. Nós nos sentimos muito jovens nesse primeiro show porque éramos os fãs de Iron e ficou muito forte dentro de nós. Estávamos muito nervosos, mas as pessoas foram extremamente boas conosco. E eu acho que tocamos bem. Segundo show, ainda garotos fãs, ainda nervosos, mas mais em controle de nós mesmos. Agora estamos mais ativos e nos sentindo em controle de nós mesmos, como Avatar, não como garotos inseguros. Está sendo incrível! Estamos aqui por duas semanas fazendo três shows, nós estamos diferentes, mas também podemos passar tempo nesse país de um jeito muito legal especialmente pela primeira. Na verdade, nosso baixista já veio para cá muitas vezes, ele passou a lua de mel aqui, ele tem amigos e familiares aqui, então temos pessoas aqui e coisas para fazer no intervalo dos shows. Toda essa experiência tem sido incrível!
Redatora: Ah! Que ótimo! Estão vocês estão prontos para São Paulo? Porque será um grande show no domingo.
Johannes: Ah, sim! Vai ser um show muito grande! A gente já tocou para um grande público, mas sempre em festivais, mas festivais tem uma energia diferente. Costuma ser mais tranquilo, mais leve. Em shows costuma ser mais forte pois é um evento que as pessoas estão especificamente para ver aquilo. É algo que você sente ser mais forte, esse foco, você sente ser mais importante do que um festival grande.
Redatora: E quando você toca em festivais, ou agora abrindo para o Iron Maiden, como é o sentimento em saber que não é 100% dos fãs que estão ali por vocês e que alguns talvez nem os conheçam?
Johannes: Eu gosto! Todos nós gostamos! É legal, é importante ver em sua arte e performance jeitos de ser o azarão e que algo que te deixa animado, que você deseja muito. Então, isso é incrível! Como no primeiro show foi uma sensação diferente, porque eu me senti um adolescente de novo, então estávamos inicialmente preocupados em ser aceitos porque somos muito fãs de Iron Maiden e essas coisas. Mas tem muitas coisas que hoje em dia não pensamos mais, mas, tirando isso, eu gosto! É como ir para uma luta e brigar por si mesmo e algo que está querendo provar é uma boa energia como você toca. Porque o motiva a ir em frente e ser mais e melhor expressando as músicas que fazemos. Então, eu curto nesse sentido de vitória no fim de tudo.
Redatora: Venho ouvindo coisas muito boas sobre os shows de vocês. Público ficando de boca aberta com a performance e eles falam muito sobre a presença de vocês com o visual, a maquiagem e a forma como vocês se apresentam. Você acha que isso é importante para vocês, principalmente na hora de tocar?
Johannes: Eu acho que depende da banda e sua expressão. Eu acho que é sobre ser honesto consigo mesmo e com a sua arte, mas acho que há um tempo e lugar para isso. Não é para todo mundo que pintar o rosto e sair por aí vai fazer sentido. Por exemplo, há alguns anos em Gotemburgo, Behemoth e Cannibal Corpse fizeram uma turnê juntos. E o Behemoth tocava antes. Eles tinham todo o cenário e tudo acabou se tornando uma missa negra. Era muito espiritual, era muito visual, com os rostos pintados, fumaça e luzes, era orquestral e perfeito. Não tinha como ser melhor. Não como você fazer melhor do que eles. Então o Cannibal Corpse veio e eles estavam usando camisetas pretas surradas, era tudo muito simples. Era bem limpo e também era perfeito, ninguém conseguiria fazer melhor. Era a melhor expressão da banda em um show. Se o Cannibal Corpse se vestisse como o Behemoth ia ficar estúpido e eles sabem disso. Então, o contexto importa, o que a arte importa. Uma arte de Michelângelo na Capela Sistina é fantástico, Van Gogh é fantástico, mas o segundo na Capela Sistina, eu não sei.
Redatora: E eu acho que combina muito com a sua banda. Parabéns!
Johannes: Obrigado!
Redatora: É a primeira vez de vocês em São Paulo. Seu baixista já veio para cá algumas vezes, mas vocês já tinham alguma expectativa? Eu sei que muitas bandas da Suécia já tocaram aqui, você chegou a ouvir algo a respeito ou algo que você está esperando para ver aqui? Eu sei que vocês foram a um jogo de futebol ontem, como foi essa experiência?
Johannes: Tem sido incrível! Eu acho que tinha boas expectativas! Eu estou apenas curtindo o fato de quando você vai para um país pela primeira vez, com certeza é exótico porque vocês têm mais palmeiras do que na Finlândia. E é inverno aqui, o que é estranho e tudo isso. É claro, a língua é diferente, é tudo novo. Mas é ótimo quando você vem a um país pela primeira vez e tudo é exótico. Eu estou me acostumando, mas, por exemplo, vocês têm prédios muito altos, as pessoas vivem em prédios altos, se você vai em outros lugares, esses prédios são bancos. Os pequenos detalhes que são coisas que eu não perceberei mais na próxima vez que vier. Eu nem consigo falar de uma coisa específica. Ah! Os amigos do Henrik prepararam para nós um churrasco tradicional brasileiro, mas fizeram no estilo vegano para nós. Eu não lembro agora o refrigerante de vocês, não é Coca Cola, eu pude experimentar. Acabamos fazendo essas pequenas coisas que você não deveria fazer, os melões aqui são mais gostosos que na Finlândia. E conseguimos alimentar alguns macacos e eu vi um Tucano. São todas essas pequenas coisas incríveis que são extra especiais quando você vem pela primeira vez. E o público acaba sendo o fator mais importante, a energia dos shows e a importância que o heavy metal tem no coração dessas pessoas, poder sentir isso, participar, é muita coisa. Olhar para a rua não é a mesma coisa que em casa, o solo é mais vermelho e não se parece com o de casa. Eu gosto dos pequenos, mundanos detalhes que é normal para você porque você vive aqui e pode apreciar isso, mas não pode apreciar que é diferente na Finlândia. E isso é bem legal!
Redatora: É incrível que vocês estão vivenciando tudo isso, muitas bandas vêm para cá, tocam e vão embora, sem ver nada. E vocês vieram no inverno, precisam voltar no verão porque é muito quente.
Johannes: Na verdade é tenho uma ótima história de Brasil e o calor que em 1995, Gotemburgo foi a sede mundial do campeonato, como se fosse uma mini olimpíadas, então tinha atletas do mundo inteiro e foi um verão bem quente. E alguns brasileiros que foram para lá falando que a Suécia era incrível, pessoas adoráveis, tudo muito organizado, uma bela cidade, mas não vá no verão, a Suécia é quente demais. Eu gostei do inverno daqui, mas eu gosto do meu frio na Finlândia quando podemos dirigir carros nos lagos porque a água está congelada e você pode pular na água depois da sauna.
Redatora: A banda tem mais de vinte anos e nos últimos dez anos vocês conquistaram muita coisa. Como você se sente com isso, fazendo tours pelo mundo, e grandes festivais e todas as coisas incríveis que vem acontecendo com o Avatar compara com o começo e as dificuldades?
Johannes: Nós topamos todas as experiências e curtimos tudo isso. Eu acho que nós somos as pessoas certar para esse trabalho porque nós somos bons em aproveitar esse sucesso, mas também somos bons em aproveitar nós mesmos e nos divertir em um dia ruim. Nós temos a mesma diversão quando tocamos para 10 pessoas. Foi divertido quando passamos fome e tivemos que comer apenas pão de forma e beber água da chuva basicamente e dormir no chão da van. Foi legal também porque tivemos a oportunidade de estar lá todos os dias. É claro que nos últimos 10 anos tem sido bem diferente no dia-a-dia, tem sido uma longa jornada porque muitos de nós crescemos juntos, aprendendo a tocar juntos e crescemos passo por passo. Eu estou nessa banda todos os dias da minha vida desde que eu tinha 15 ou 16 anos. No metal, costuma ser assim, em pequenos passos por um longo tempo, mas você consegue o tempo para crescer e um jeito saudável. A gente vê mega celebridades no mainstream que se envolvem com drogas e suicídio e a solidão que eles vivenciam e é terrível. Mas na banda nós somos uma família e temos uns aos outros o tempo todo para viver o bom e o ruim o que significa que podemos curtir tudo. E é claro que as pessoas percebem, sendo muito compensador e incrível saber que o que eu falo para as pessoas hoje é “obrigado por trazer tanto significado ao que a gente faz trazendo significado para você”. Nós somos compensados por pensar em nós mesmos, é uma profissão egoísta. Se pensar na minha família, é uma escolha egoísta muitas vezes fazer o que fazemos. E em muitos momentos é difícil justificar que é o que fazemos da nossa vida. Sabe? E temos o privilégio de estar na situação onde temos essa opção. Mas nessa jornada, nos tornou legítimo saber que o que fazemos significa algo para alguém e ter essa conexão com as pessoas, esse feedback, e fazer parte da vida dessas pessoas. Importa saber que a música, os shows te influência em algum level. E é incrível saber que podemos experimentar isso.
Redatora: Foi ótimo te conhecer! Muito obrigada por essa entrevista!
Johannes: Obrigado! Tenho um ótimo dia! Tchau!
O Avatar irá abrir o show do Iron Maiden no próximo domingo dia 4 de setembro no Estádio do Morumbi em São Paulo.